A Polícia Federal (PF) instaurou inquérito para apurar o vazamento de questões das provas do vestibular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no Triângulo Mineiro. O processo seletivo foi cancelado após a confirmação, no fim de semana, de que pelo menos uma candidata ao curso de Medicina teve acesso antecipado às questões dos exames. A PF e o Ministério Público Federal (MPF) vão apurar se outros candidatos também participaram da fraude.
A suspeita de vazamento foi encaminhada ao MPF por um cursinho pré-vestibular do município no início do mês. Os professores desconfiaram da aluna, que frequentava plantões de aulas e fazia perguntas muito direcionadas de cada disciplina. Após a realização das provas da primeira etapa, a suspeita ficou ainda mais forte porque as questões apresentadas pela candidata eram muito parecidas com as que constavam nas provas aplicadas no início do mês.
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O procurador da República Cléber Eustáquio Neves acionou a PF, que resolveu esperar a segunda etapa para confirmar a suspeita. Segundo a UFU, na noite de sábado (23), após a realização das primeiras provas da segunda etapa, o MPF e a PF confirmaram a fraude e as provas de domingo nem chegaram a ser aplicadas. "A gente precisava esperar essas primeiras provas para confirmar que ela teve acesso às questões", contou Neves. Na manhã de domingo (24), a PF realizou buscas na casa da suspeita e encontrou anotações com as questões do exame. A aluna, que já havia tentado entrar no curso de Medicina em outros processos mas foi reprovada, confessou a fraude e contou que recebeu as questões de um conhecido que trabalha há cerca de 30 anos no setor administrativo da universidade.
Ela negou que tenha pago para receber as informações, mas a PF vai apurar se outros candidatos também tiveram acesso antecipado às questões. Até esta segunda-feira, o acusado do vazamento, cujo nome não foi revelado, não havia sido encontrado. "Se ele não aparecer, nós vamos pedir a decretação de sua prisão", informou o procurador. Os dois - e outros envolvidos que porventura venham a ser descobertos durante as investigações - devem responder em liberdade, mas podem ser condenados a dois anos de prisão. O funcionário, que estava a um ano de se aposentar, também vai responder processo por improbidade, além de procedimento administrativo que pode causar a perda do emprego. "Existe a possibilidade de outras pessoas terem recebido as questões, mas a investigação ainda está no início", ressaltou Neves.
Segundo a UFU, um novo vestibular deve ser realizado em setembro. De acordo com a universidade, todos os 17.085 candidatos que participaram do processo seletivo têm garantida a inscrição para as novas provas. Eles disputam 1.523 vagas em 43 cursos de graduação nos campi de Uberlândia, Monte Carmelo, Ituiutaba e Patos de Minas, nas regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba. Desse total, 4.548 candidatos haviam sido classificados para a segunda etapa, que seria realizada no domingo (24), mas foi cancelada por causa do vazamento.