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Crianças nascidas de mães yazidis violentadas por jihadistas do Estado Islâmico não serão consideradas parte da etnia curda, anunciou ontem o Conselho Espiritual Supremo dos curdos.

O futuro de crianças nascidas de estupros provocou um debate na comunidade, que reconhece como membros apenas filhos de pai e mãe yazidis. A partir de agora, elas não poderão fazer parte do grupo, que vive no norte do Iraque. (Com agências internacionais)

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O julgamento de uma alemã do Estado Islâmico acusada de crimes de guerra e de assassinato por deixar uma menina yazidi morrer de sede começou nesta terça-feira (9) na Alemanha.

Os advogados que representam a mãe da vítima, incluindo a anglo-libanesa Amal Clooney e a prêmio Nobel da Paz Nadia Murad, consideram este julgamento como "o primeiro no mundo pelos crimes cometidos pelo EI contra os yazidis", minoria religiosa perseguida e submetida no Iraque pelos jihadistas a partir de 2014.

O julgamento começou em Munique nesta terça.

A acusada, apresentada como Jennifer W., de 27 anos e que pode ser condenada à prisão perpétua, havia partido da Alemanha para se unir ao EI em setembro de 2014, segundo a acusação.

Entre junho e setembro de 2015, patrulhava, armada e equipada com um colete cheio de explosivos, para a polícia moral em Fallujah e Mossul, duas cidades iraquianas. Esta força velava pelo respeito das regras de trânsito e vestimenta fixadas pela organização.

- Presa graças ao FBI -

Nessa mesma época, ela e seu marido compraram uma menina de cinco anos e sua mãe, ambas da minoria yazidi, para explorá-las como escravas, segundo a acusação.

"Um dia que a criança estava doente, molhou seu colchão. O marido da acusada a castigou, prendendo-a sob um sol a pino, deixando-a morrer de sede de maneira atroz", explicou a Procuradoria em um comunicado.

"A acusada deixou seu marido fazer isso e não fez nada para salvar a menina", acusou.

Para o advogado da defesa, Ali Aydin, interrogado por "Der Spiegel", "a questão é, na realidade, saber se minha cliente teria podido fazer algo".

Segundo a imprensa alemã, Nora B., a mãe da vítima que vive refugiada na Alemanha, disse aos investigadores que a acusada interveio apenas quando já era tarde demais. Desidratada, a menina morreu.

Jennifer W. foi detida pelos serviços de segurança turcos em janeiro de 2016 em Ancara, quando tentava tramitar sua documentação na embaixada da Alemanha. Alguns dias depois foi extraditada para seu país de origem.

Foi colocada em detenção provisória em junho de 2018, após ser detida quando tentava chegar a territórios controlados pelo EI na Síria.

Segundo "Der Spiegel", foi durante esta última tentativa de chegar à Síria que a mulher contou sua vida ao motorista que a conduzia no Iraque. O motorista era um informante do FBI, e o carro estava repleto de microfones. A Procuradoria usou essas gravações para processá-la.

- 'Excessivo, mesmo para o EI' -

Nessa viagem, a mulher lhe teria contado sobre a morte da menina yazidi.

Em um comunicado conjunto, os advogados alemães da parte civil, Clooney e Murad, ex-escrava sexual do EI, reivindicam que Jennifer W. seja condenada por crimes contra a humanidade, tráfico de seres humanos e tortura.

As duas mulheres, que não estão em Munique nesta terça, lideram uma campanha internacional para fazer reconhecer os crimes contra os yazidis como genocídio.

"Este caso é importante para todos os sobreviventes yazidis. Cada sobrevivente com quem pude me reunir espera o mesmo: que os culpados sejam julgados (...) Este é, portanto, um grande momento para mim, para toda a comunidade yazidi", destacou Nadia Murad.

Na gravação do que disse Jennifer W., a mulher, segundo Der Spiegel, parece consciente da gravidade dos maus-tratos infligidos à menina. "Era excessivo, mesmo para o EI", teria dito.

De acordo com a revista, o grupo Estado Islâmico castigou fisicamente o marido da mulher por isso. O jornal Süddeutsche Zeitung noticiou que o homem, identificado como Taha Sabah Noori Al-J., estaria na zona fronteiriça turco-iraquiana.

O príncipe Tahseen Said Ali, líder dos yazidis, uma minoria iraquiana perseguida pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), faleceu na Alemanha após uma longa doença, informaram fontes oficiais.

Ele morreu no hospital KRH Siloah em Hannover, aos 85 anos, informou o responsável de assuntos yazidis da região curda iraquiana, Khairi Buzani. Seu filho declarou à imprensa local que ele será enterrado na região curda do norte do Iraque.

Tahseen Said Ali foi nomeado príncipe aos 11 anos, após a morte de seu pai, que já ocupava o cargo. O primeiro-ministro da região curda, Nechirvan Barzani, expressou suas condolências à família nesta segunda-feira.

A fé yazidi apareceu no Irã há 4.000 anos, derivada do chamado zoroastrismo, e ao longo do tempo integrou elementos do islamismo e do cristianismo. Dos 1,5 milhão de yazidis no mundo, cerca de 550.000 viviam antes de 2014 em locais remotos no norte do Iraque, onde o príncipe Tahseen nasceu.

Em 2014, o Estado Islâmico tomou o norte do Iraque e o reduto yazidi de Sinjar, perto da fronteira com a Síria. O EI matou milhares de homens e meninos yazidis e sequestrou as mulheres e meninas para transformá-las em "escravas sexuais".

O ataque fez com que 360 mil yazidis fugissem para outras partes do Iraque, incluindo a região curda, e outros 100 mil deixaram o país. A Alemanha é o lar da maior comunidade yazidi no exterior.

Segundo as Nações Unidas, as ações do EI podem ser consideradas genocídio e estão investigando o grupo jihadista no Iraque. Nadia Murad, uma yazidi raptada pelo EI que escapou e mais tarde ganhou o Prêmio Nobel da Paz por seu ativismo contra a violência sexual, tornou-se um símbolo poderoso para a sua comunidade.

Murad visitou Sinjar há um mês, assim como Bagdá e a cidade curda de Erbil, para chamar a atenção para a situação de milhares de garotas yazidis que foram sequestradas e continuam desaparecidas.

A minoria yazidi, à qual pertence Nadia Murad, que recebe nesta segunda-feira (10) o prêmio Nobel da Paz, tem sido uma das mais vulneráveis no Iraque, e foi particularmente afetada pelas atrocidades cometidas pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

Assim como milhares de mulheres e meninas de sua comunidade, Nadia Murad foi reduzida à condição de escrava sexual pelo EI em 2014, antes de conseguir escapar. Ela milita para que a perseguição contra os yazidis seja reconhecida como genocídio.

No mundo inteiro, os yazidis somam um milhão e meio, e um terço desta comunidade se encontra no Iraque. Outras comunidades estão estabelecidas na Turquia, na Geórgia e na Armênia, sem contar a diáspora no Ocidente, segundo o site do Vaticano.

Vivendo em cantos remotos das montanhas do Curdistão, os yazidis, comunidade de língua curda, seguem uma religião, cujas origens remontam ao mazdeísmo, nascido no Irã há quase 4.000 anos, e ao culto de Mitra. Com o tempo, incorporaram elementos do Islã e do Cristianismo.

Os yazidis oram a Deus em direção ao sol e veneram sete anjos, sendo o mais importante deles Melek Taus, ou Anjo-Pavão. Eles pronunciam suas orações em curdo e não têm nenhum livro sagrado.

A tradição yazidi proíbe o casamento fora da comunidade e até mesmo em seu próprio sistema de castas. As crenças e práticas dos yazidis - como a proibição de comer alface e vestir a cor azul - são considerados por seus críticos como satânicas.

Os muçulmanos ortodoxos consideram o pavão uma figura demoníaca, e os yazidis foram rotulados como "adoradores do diabo".

Como iraquianos não-árabes e não-muçulmanos, têm sido uma das minorias mais vulneráveis do país. Milhares de famílias fugiram do Iraque em razão da perseguição do governo de Saddam Hussein, em particular para a Alemanha.

A Constituição iraquiana de 2005 reconheceu o direito desta comunidade de praticar seu culto e reservou a ela assentos na Assembleia Nacional e no Parlamento autônomo curdo.

Em agosto de 2007, enormes caminhões-bomba destruíram quase inteiramente duas aldeias yazidis no norte do Iraque. Mais de 400 pessoas foram mortas nas explosões.

Em agosto de 2014, o destino dos yazidis mudou, quando o EI conquistou os arredores do Monte Sinjar, reduto desta comunidade no norte do Iraque. Em poucas horas, milhares de pessoas fugiram pelas montanhas áridas, procurando refúgio no Curdistão iraquiano. Outras centenas, talvez milhares, morreram no ataque, ou durante a fuga nas montanhas.

Segundo a Anistia Internacional, os jihadistas executaram homens e sequestraram centenas, talvez milhares, de mulheres, que foram vendidas como noivas para combatentes, ou reduzidas à condição de escrava sexual.

Dos 550.000 yazidis no Iraque antes da perseguição jihadista, quase 100.000 deixaram o país, e outros foram para o Curdistão.

Desde agosto de 2014, especialistas da ONU pediram à comunidade internacional uma ação urgente para impedir "um potencial genocídio" contra os yazidis. Em setembro de 2017, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução proposta pelo Reino Unido para ajudar o Iraque a reunir provas dos crimes atribuídos ao EI.

E, em agosto de 2018, os investigadores da ONU começaram a recolher no Iraque as provas dos massacres e de outras atrocidades cometidas pelo EI.

Além da minoria yazidi, dezenas de milhares de cristãos iraquianos, a maioria seguidores da Igreja Católica Caldeia, também fugiram em agosto, após a ofensiva do EI, que detém muitas cidades e vilas cristãs da planície de Nínive (norte).

O Canadá receberá neste ano 1.200 refugiados yazidis do Iraque, perseguidos pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), anunciou nesta terça-feira o ministro de Imigração, Ahmed Hussen, assinalando que 400 deles já haviam chegado ao país.

"Nossa operação está em curso e os refugiados que sobreviveram ao EI começaram a chegar ao Canadá nos últimos meses", disse Hussen à imprensa. "Nosso governo vai instalar no Canadá cerca de 1.200 sobreviventes muito vulneráveis, assim como os membros de suas famílias", indicou.

No outono boreal passado, o Parlamento canadense havia adotado uma resolução que previa a chegada ao país, em quatro meses, de yazidis que escaparam de perseguições do EI no norte do Iraque, qualificadas como "genocídio" por Ottawa.

A atenção do Canadá está voltada para "as mulheres e meninas", assinalou Hussen. "Nossos esforços mostraram que o EI também aponta deliberadamente para os meninos, enquanto tentaremos ajudá-los a se reinstalarem aqui", acrescentou. O custo da iniciativa foi avaliado em 28 milhões de dólares canadenses (US$ 23 milhões).

Desde a chegada de Justin Trudeau ao governo, em novembro de 2015, o Canadá recebeu mais de 40.000 refugiados sírios. Os yazidis que já chegaram ao país foram submetidos a controles de segurança e biométricos exaustivos, assim como a exames médicos, disse Hussen.

Trata-se de uma minoria curda adepta a uma religião pré-islâmica. Não são árabes, nem muçulmanos, e o EI os considera como politeístas hereges. Desde o avanço do EI, dezenas de milhares de yazidis se refugiaram no monte de Sinjar, onde permaneceram durante dias sem água e alimentos.

Milhares de homens foram massacrados, enquanto as mulheres eram raptadas e muitas vezes submetidas à escravidão pelos extremistas. A ONU qualificou estes ataques como "tentativas de genocídio".

O Parlamento Europeu decidiu nesta quinta-feira atribuir o Prêmio Sakharov 2016 de direitos humanos às yazidis Nadia Murad e Lamiya Alji Bashar, resgatadas das mãos do grupo extremista Estado Islâmico, informaram fontes coincidentes antes do anúncio oficial do premiado.

Os grupos parlamentares socialista e liberal propuseram os nomes destas duas mulheres, que se converteram em símbolos da comunidade yazidi depois de viver um inferno durante seu sequestro pelo EI.

Este grupo extremista sequestrou milhares de jovens no Iraque para convertê-las em escravas sexuais.

Outras duas personalidades também estavam na disputa do prêmio que reconhece a defesa dos direitos humanos: o jornalista opositor turco Can Dündar e o líder histórico dos tártaros da Crimeia Mustafa Dzhemilev, exilado em Kiev desde que a Rússia anexou em 2014 esta península do Mar Negro, controlada até então pela Ucrânia.

O presidente da Eurocâmara, Martin Schulz, e os líderes das difrentes bancadas políticas concordaram nesta quinta-feira em conceder o prêmio às duas mulheres, informaram diversas fontes à AFP.

Os eurodeputados reconhecem desde 1988 o compromisso na defesa dos direitos humanos com o prêmio, que tem o nome do cientista soviético dissidente Andrei Sakharov. A cerimônia oficial está marcada para 14 de dezembro em Estrasburgo, nordeste da França.

O blogueiro saudita Raef Badaoui, preso em seu país por "insultos", recebeu em 2015 o prêmio.

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