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Como anunciado pelo presidente da Fundação Cultural Palmares, Sergio Camargo, a marca da instituição vai ser alterada por fazer alusão ao machado de Xangô. Nesta quinta-feira (26), o gestor informou sobre o novo edital com a imagem de uma lâmpada – símbolo de boa ideia - saindo de uma cabeça branca.

Com inscrições abertas desde a terça (17), Camargo novamente adotou uma postura controversa para reforçar o concurso que vai remover o símbolo candomblecista da fundação destinada à preservação da cultura afro-brasileira.

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Apesar da imagem de divulgação possuir as tradicionais cores do Brasil, o gestor optou em compartilhar a versão do material com a cabeça branca em seu perfil no Twitter.

Ele escreveu que público-alvo da instituição "não se restringe a povos de terreiro. Há também pequenos produtores de cultura, comunidades quilombolas, além do cidadão negro de bem".

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 O projeto vencedor será premiado com R$ 20.000 e o informe do edital destaca que o concurso segue a laicidade do Estado e busca por mais democracia.

Autodeclarado "antivitimista e inimigo do politicamente correto", o presidente da Fundação Palmares acrescentou em uma publicação seguinte que "a expressão afro-brasileiros não faz sentido", pois somos "apenas brasileiros"; e continuou: "Afrodescendente consegue ser pior ainda!".

Nesta sexta (19), ocorre a abertura da exposição coletiva “Os da Minha Rua: Poéticas de R/existência de artistas afro-brasileiros” no Museu da Abolição (rua Benfica, nº 1150, Madalena). O projeto vai reunir obras de mais de dez artistas afro-brasileiros contemporâneos que vêm das mais diversas regiões do pais.

O objetivo do projeto é levantar questões importantes sobre as culturas africana e afro-brasileira, além de questionamentos sobre a posição da negra e do negro na sociedade brasileira. Uma segunda opção que as pessoas irão encontrar na exposição são, a oficina/performance ministrada por Moisés Patrício, entre os dias 16 e 19 de outubro, e um curso de arte, realizado por Rosana Paulino, no sábado (20).

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Confira os artistas presentes: Ana Lira (Pernambuco), Dalton Paula (Goiás), Edson Barrus (Pernambuco), Izidoro Cavalcantti (Pernambuco), José Barbosa (Pernambuco), Maré de Matos (que nasceu em Goiás e vive em Pernambuco), Moisés Patrício (São Paulo), Priscila Rezende (Minas Gerais), Rosana Paulino (São Paulo), Renato Felinto (Ceará)

Serviço

Os da Minha Rua: Poéticas da R/existência de Artistas afro-brasileiros I

Abertura, 19 de outubro, ás 19:00h

Com a Curadoria de Joana D´Arc

Museu da Abolição – Rua Benfica, nº 1150, Madalena, Recife-PE

09:00 ás 17:00 (Seg a Sex) 13:00 ás 17:00 (Sábados)

Pietro Papaleo

A Grande Mesquita de Porto Novo é uma joia da arquitetura afro-brasileira em Benin, com seus muros multicoloridos e o minarete que recorda o campanário de uma igreja, mas, como o restante do centro histórico, corre um grande risco de desaparecer.

"Em cada traço se parece com uma igreja porque os antigos escravos tinham experiência construindo igrejas no Brasil", explicou Moubarak Mourchid, chefe da unidade para o patrimônio da municipalidade de Porto Novo, capital administrativa de Benin.

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A partir do final do século XVIII, Porto Novo se converteu em um dos pontos de chegada dos antigos escravos libertados, que decidiram voltar ao país de seus ancestrais.

Suas ruas recordam as de Salvador, na Bahia, e conservam a história deste "período afrobrasileiro", crucial para a história do continente africano.

"Os escravos se converteram ao Islã como uma demonstração de rebeldia em relação a seus donos", explica Moubarak Mourchid.

"Ao voltar à África Ocidental, atuaram como artesãos, aplicando as técnicas de construção que haviam aprendido no Brasil. Depois a foram transmitindo de geração em geração", contou o historiador.

No entanto, não há qualquer prédio classificado como Patrimônio Mundial da Unesco, nem mesmo a Grande Mesquita, lamentou Mourchid.

"Primeiro deve ser reconhecida como patrimônio nacional pelo Estado. Mas não há vontade política", explicou.

Mas, sem apoio, o patrimônio está desaparecendo.

A Casa do Patrimônio de Porto Novo, inaugurada em 2009, é considerada um imenso progresso para a preservação dos bens arquitetônicos na África.

Lá, um pequeno grupo de apaixonados tentam lutar contra a erosão do tempo, os danos que gera a temporada de chuvas e os proprietários pouco escrupulosos que deixam que as casas venham abaixo.

Em 2009, Richard Hounsou, diretor de Cultura e Patrimônio da cidade, registrou que,m em Porto Novo, havia 450 edifícios de estilo afrobrasileiro, mas atualmente restam apenas 400.

Prova de riqueza

Ali Moubarak vive em um desses imponentes prédios de três andares. Ali recebe os visitantes que vêm para ver o edifício vestido com uma túnica branca.

A casa é dividida em dois. A partir do pátio é possível ver o interior como uma casa de bonecas. "Ela foi construída por meu avô em 1910. Ele era enfermeiro, foi uma pessoa importante", explica Moubarak.

Na época em que foi construída, a casa era uma forma de mostrar a sua riqueza. "Ele tinha quatro ou cinco esposas" e "não sei quantos netos", diz, sorrindo.

"De acordo com a lei local, todos nós somos herdeiros e é o mais velho que decide", explica.

A família foi empobrecendo com o passar do tempo e as paredes da casa começaram a descascar. Atualmente, Moubarak perdeu as contas de quantas pessoas vivem ali, entre primos e os filhos destes.

Em um dos quartos há uma lavanderia e noutro uma oficina de costura.

No terceiro andar, em um quarto deslumbrante, com molduras de gesso no teto e paredes pintadas com motivos florais, há um baú esculpido e um espelho antigo que em breve servirão como lenha para o aquecimento.

A cidade de Porto Novo se ofereceu para restaurar o lugar e Moubarak aceito, mas ainda precisa da permissão dos outros herdeiros espalhados entre Cotonou e a França, e que parecem pouco interessados na herança de seus antepassados.

Para alguns, o melhor seria esperar que a casa venha abaixo para vender o vasto terreno e construir novas e mais rentáveis ​​casas.

Na área, uma dessas casas está sendo restaurada. Todas as paredes, que foram construídas com uma mistura de areia e argila revestida com cimento calcário foram cobertas de cimento, mas mantendo "a forma e os motivos da época".

"Custaria duas vezes mais utilizar os materiais antigos", explicou Mourchid, que supervisiona a obra e que prometeu abrir uma escola de artesanato no Benin, com a cooperação do Brasil.

"Além dos problemas relacionados com o dinheiro, acontece que perdemos a técnica de construção", explicou ele. As casas ameaçam tornar-se poeira e com elas as memórias dos escravos libertos.

Em sua casa de paredes em tons pastéis no bairro de Campos, coração de Lagos, Yewande Oyediran é uma das últimas pessoas a preservar a cultura brasileira trazida por ex-escravos há mais de um século.

Afundada em uma grande poltrona, a octogenário evoca seu bisavô, João Esan da Rocha, natural do estado de Osun, no sudoeste da Nigéria, capturado em 1850 e levado para a América do Sul como um escravo, tendo sido libertado anos mais tarde.

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Foi assim que o "frejon" (conhecido como feijão de coco no Brasil), um prato feito a partir de grãos de feijão e leite de coco, degustado principalmente durante a Semana Santa, se tornou um prato muito popular em sua família e nas casas de muitos outros da etnia yoruba, no sul da Nigéria.

"Eu não espero a Sexta-feira Santa para comer frejon, eu cozinho e como ao longo de todo o ano", afirma.

Mas esta cultura está se perdendo. Poucas pessoas ainda falam o português em Lagos, e os edifícios da época, que ainda guardam o requinte das fachadas sob a pintura descascada, estão em ruínas.

Uma casa de 1895, nas cores rosa e bege e com janelas ornadas com grades de ferro forjado, ainda está de pé, bem como a catedral católica, não muito longe. Mas a mesquita de Shitta, construída em 1892 no mesmo bairro e inspirada nas igrejas coloridas da Bahia, foi destruída.

Apenas o carnaval anual de Lagos, muito colorido, e alguns nomes de família, tais como Cardoso, Almeida, da Costa, da Silva ou Gonçalves, existem para lembrar os laços históricos entre a Nigéria e o Brasil.

40 casas ainda de pé

Também é possível constatar alguma influência afro-brasileira nas construções da cidade costeira de Badagry, cerca de sessenta quilômetros de Lagos, de onde partiram milhares de escravos nigerianos para Salvador.

A partir de 1850, os escravos libertos, convertidos ao catolicismo em sua maioria, começaram a voltar para a Nigéria, trazendo com eles novas crenças e novas influências culturais e arquitetônicas.

Entre os ex-escravos, muitos tornaram-se políticos e empresários ricos, que queriam mostrar seu novo status social. Desta forma, construíram edifícios impressionantes.

O avô da sra. Oyediran foi o primeiro milionário da Nigéria, segundo a lenda.

Lagos passou por uma verdadeira metamorfose ao longo das décadas para se tornar a cidade mais populosa da África, com cerca de 20 milhões de habitantes, e seu patrimônio arquitetônico tem sido negligenciado.

As "fracas" tentativas de preservação da herança afro-brasileira têm "sido dificultadas pela falta de recursos e corrupção", afirma um funcionário do ministério do Turismo, que pediu anonimato.

"Os filhos dos proprietários destes edifícios não ajudam. Muitos deles não têm ideia do valor histórico dos edifícios em que vivem", acrescentou.

Guia turístico, Abiola Kosoko lamenta que a maioria dos edifícios antigos afro-brasileiros foram demolidos para dar lugar a grandes edifícios sem charme, mas mais rentáveis.

"Há algumas décadas, contávamos com cerca de 900 destes edifícios na ilha de Lagos, (nos subúrbios de) Epe, Badagry e Ikorodu. Menos de 40 ainda estão de pé hoje", disse ele.

"Mesmo o carnaval, que atraía muitos turistas estrangeiros, perdeu o seu esplendor", especialmente por causa das gangues locais, que semeiam a confusão, lamenta Dayo Medeiros, cujos ancestrais foram escravos no Brasil.

Uma das casas de estilo afro-brasileiro desabou recentemente no subúrbio de Lagos, explica Kosoko, que é bisneto de um antigo rei de Lagos e que escreveu um livro sobre a história da cidade.

"Ninguém tentou preservá-lo. Eles deixaram a construção de um andar, uma jóia arquitetônica, desintegrar-se", lamenta.

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