Tópicos | Auxílio-Emergencial

Em 1993, o vendedor Joel Theodoro Lopes, então com 32 anos, assassinou sua companheira, Iolanda Melo, com um espeto de churrasco e ateou fogo no corpo, encontrado dias depois abandonado em um local ermo da cidade de Guapó (GO). Procurado e condenado pela Justiça, ele sumiu do mapa sem deixar rastros. Não adquiriu bens, nem forneceu dados pessoais a quem quer que fosse. Até que, 27 anos depois, Lopes solicitou ao governo federal o auxílio emergencial, o benefício criado para ajudar vulneráveis durante a pandemia de covid-19 - e foi atendido.

Lopes recebeu R$ 3,9 mil em oito parcelas do auxílio (cinco de R$ 600 e três de R$ 300) em 2020. Neste ano, também foi contemplado com a nova rodada do benefício, e recebeu mais quatro parcelas de R$ 150 até ser capturado pela polícia em 19 de agosto, no município de São João da Boa Vista (SP). Uma quinta parcela foi enviada para depósito dois dias antes de sua prisão.

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O auxílio emergencial acabou sendo uma peça-chave para a família de Iolanda, com ajuda do grupo de inteligência da Polícia Civil do Distrito Federal, descobrir o paradeiro de Lopes. Não só o auxílio emergencial estava vinculado ao município de São João da Boa Vista, mas também o telefone celular necessário para confirmar o cadastro no sistema do governo ainda era usado por ele.

O episódio está longe de ser um caso isolado. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), 25.891 beneficiários do auxílio em 2021 estão com mandado em aberto e são procurados pela Justiça. Os dados foram obtidos a partir de cruzamento com o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O resultado foi enviado às polícias e unidades regionais da CGU. Dos foragidos, pelo menos 300 foram capturados, mas o número pode ser maior porque os mandados de prisão são cumpridos por autoridades locais.

"O resultado dos cruzamentos foi encaminhado ao Ministério da Cidadania, gestor do programa de auxílio emergencial, para análise quanto à pertinência do cancelamento dos benefícios desses foragidos, à luz do entendimento consolidado de que as pessoas que possuem mandado de prisão em aberto não fazem jus ao benefício", diz a CGU.

O Ministério da Cidadania afirma que as recomendações de órgãos de controle são analisadas, mas diz não ter detalhes sobre o cancelamento ou não desses benefícios. O auxílio de 2021 aproveitou o cadastro realizado no ano passado, ou seja, os 25.891 já recebiam a ajuda em 2020. No ano passado, a CGU mapeou mais de 27 mil foragidos contemplados. Os números mostram que pouca coisa mudou de lá para cá.

Embora o próprio auxílio tenha servido de ajuda para descobrir o paradeiro do criminoso, a jornalista Talita Melo de Carvalho, neta de Iolanda, questiona o critério de concessão. Nas investigações, foi detectado que Lopes usava o dinheiro até mesmo para pedir entrega de comida. "Ele estava recebendo auxílio emergencial. Qual é o critério? Por que ele não caiu (na avaliação)? Qual é o processo de aprovação para receber um auxílio desse?", questiona Talita.

Investigação

A prisão de Lopes é o desfecho de uma busca iniciada pela tia-avó de Talita ainda nos anos 1990, mas que, segundo a jornalista, não contou com muito empenho da polícia à época. Depois de convencer Iolanda a sair de Brasília, onde morava com a família, para Goiânia (GO), Lopes a assassinou, levou consigo joias que a então companheira comercializava e falsificou sua assinatura para vender o carro.

"Minha mãe e minha tia-avó começaram uma saga para encontrá-lo. Minha avó imprimiu vários cartazes com uma foto que achou, contratou detetive particular... Ela se esforçou muito e juntou tudo que pesquisou numa caixa. Tirou cópia do processo, de tudo. Ficaram mais um tempo tentando encontrar, e a polícia nunca achou. Então, arquivaram o caso", conta ela.

Talita tinha pouco mais de um ano quando sua avó foi assassinada. Só depois que completou 20 anos, porém, é que soube a verdade sobre como o caso. "Passamos a vida inteira com meus familiares falando que ela tinha morrido do coração. Há uns seis anos, me contaram a história e fiquei com isso na cabeça. Até assimilar, demorou um pouco. Então, comecei a ver muitos casos de feminicídio, (pensava que) minha vó morreu assim, e esse cara está aí. Foi aí que eu perguntei para minha tia-avó, e ela falou que tinha a caixa", diz ela, que tem hoje 29 anos.

Procurado, o Ministério da Cidadania listou uma série de ações integradas com outros órgãos para coibir fraudes, pagamentos indevidos e estruturar uma "trilha de auditorias". Segundo a pasta, mais de 15 bancos de dados são utilizados para aferir se uma pessoa é elegível ou não ao benefício, entre eles o BNMP. "Essas informações alimentam o banco de dados de processamento da Dataprev, que faz mensalmente um novo processo de verificação da elegibilidade ao benefício", diz a nota. A Cidadania, porém, não esclareceu se os beneficiários com mandado em aberto, apontados pela CGU, tiveram os repasses suspensos.

Até agora, o governo recuperou R$ 5,1 bilhões pagos indevidamente - devolvidos de forma voluntária pelos beneficiários. O auxílio já pagou mais de R$ 337 bilhões em ajuda a vulneráveis.

O advogado que acompanhou Lopes após a prisão informou que não atua na defesa do vendedor, a quem conheceu com outro nome, e disse que não se manifestaria sobre o caso.As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A possibilidade dos cofres públicos repassarem uma quantia mensal à população virou assunto no debate político na cidade de São Paulo. A sequência do pagamento do auxílio-emergencial, que será extinto pelo governo federal em dezembro, é referência de grande parte dos candidatos que tentam a eleição para governar a maior cidade do país a partir de janeiro de 2021.

Embora algumas promessas de campanha especulem pagar valores variáveis entre R$ 100 e R$ 745, a capital paulista oferece um benefício de renda complementar desde 2011. A então prefeita Marta Suplicy (sem partido), assinou o Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima Municipal, que paga de R$ 140 a R$ 200 a famílias pobres com renda individual de R$ 175 por mês. A regra para receber o auxílio, que tem duração de dois anos, é ter filhos com menos de 16 anos na escola com freqüência de 85% nas aulas, além da manutenção regular da carteira de vacinação.

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Candidato à reeleição, o prefeito Bruno Covas (PSDB) aposta na ampliação do projeto existente e ressalta a criação do cartão-merenda que atende 770 mil crianças na ausência de alimentação escolar durante a pandemia. Líder das pesquisas de opinião, o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos) cita a proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tentar angariar fundos e renegociar as dívidas da cidade com Brasília (embora só fosse possível com alteração na Lei de Responsabilidade Fiscal) para propor a manutenção do pagamento do auxílio. Ambos os políticos não detalharam valores da renda mensal à população de São Paulo.

Outros quatro postulantes ao cargo na prefeitura da capital paulista citam a renda básica aos moradores como pauta no primeiro ano de governo. Terceiro colocado nas prévias eleitorais, Guilherme Boulos (PSOL) tem o Renda Solidária em seu plano para gerir São Paulo. De acordo com o candidato, o programa deve contemplar um milhão de famílias que receberiam entre R$ 200 e R$ 400 mensais de auxílio. Já o ex-secretário municipal de transportes da cidade, Jilmar Tatto (PT), aposta no aumento de R$ 40 no valor de quem já é amparado pelo Bolsa-Família, podendo variar para R$ 100 no decorrer do mandato. O petista também afirma que vai buscar a renegociação dos débitos municipais com a União.

A candidata Vera Lúcia (PSTU) alega que é possível pagar até um salário mínimo (R$ 1.045) do benefício que o governo federal pagou em cinco parcelas de R$ 600 no início e reduziu para três pagamentos de R$ 300 em alguns casos. Já o ex-governador do estado Márcio França (PSB) fala em liberar crédito monetário para que pequenos e médios empresários gerem vagas de emprego. Segundo ele, a medida contribui para diminuição do impacto ao fim do auxílio-emergencial.

De acordo com a Prefeitura, o atual Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima Municipal contempla 12,8 mil famílias. O valor do repasse representa apenas R$ 17 milhões do orçamento de quase R$ 70 bilhões da cidade.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nessa quarta-feira (7) que é "zero" a possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial para 2021. "Não haverá prorrogação do auxílio até junho de 2021. Não existe articulação para isso", afirmou a jornalistas.

Segundo ele, o benefício a 67,7 milhões de desempregados, informais e beneficiários do Bolsa Família acaba em dezembro deste ano, sem possibilidade ser prorrogado. Guedes chamou de descabidas informações sobre uma possível extensão da ajuda.

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"A posição da presidência da Câmara é a mesma", escreveu o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na sua conta no Twitter ao compartilhar uma reportagem sobre a fala do ministro.

Mais cedo, o Ibovespa, da B3, a Bolsa paulista, descolou de Bolsas internacionais e passou a cair por causa de informações de que o governo estava pensando prorrogar o benefício. Os juros futuros também bateram máxima. Depois do desmentido de Guedes, o Ibovespa virou e passou a subir.

O auxílio emergencial foi criado originalmente para durar três meses (tendo como base os meses de abril, maio e junho). Depois, o governo prorrogou por duas parcelas (julho e agosto) por meio de um decreto. Para essas prestações, cada parcela foi de R$ 600. Depois, em mais uma prorrogação, até dezembro, o benefício foi reduzido para R$ 300. Ao todo, o pagamento de todas as parcelas do auxílio emergencial está estimado em R$ 321,8 bilhões neste ano.

Novo programa

Uma definição sobre o financiamento do programa social do governo Jair Bolsonaro que poderá substituir o Bolsa Família deverá a ocorrer uma semana após a eleições municipais, segundo a previsão da equipe econômica.

Apesar das discussões técnicas seguirem em curso tanto no Congresso quanto no Ministério da Economia, é consenso que a solução para o impasse do Renda Cidadã, anteriormente chamado de Renda Brasil, é um decisão política que não será tomada agora sob o risco de afetar interesses políticos dos parlamentares aliados do governo envolvidos no debate.

Integrantes do governo garantem que, apesar de esperar o "timing político", está descartada qualquer solução para o programa que fure o teto de gastos, regra que limita o avanço das despesas à inflação. Entretanto, o Executivo afirma que, neste momento, não há como indicar como abrirá espaço no orçamento para bancar o programa.

A decisão, segundo fontes, é do próprio presidente Jair Bolsonaro, que já comunicou a equipe que sem encontrar uma solução para o financiamento do Renda Cidadã dentro do teto o programa não sairá. Sem indicar uma fonte de recursos, o governo deverá iniciar o ano com o Bolsa Família.

Ainda segundo fontes do governo, Bolsonaro se irritou com a discussão sobre o futuro do Renda Cidadã porque, a pouco dia das eleições, viu no debate o uso político do programa e determinou adiar a apresentação.

Na definição de um integrante do Executivo, "a onda da eleição está engolindo todo mundo" e parlamentares neste momento estão focados em sua bases eleitorais e, portanto, longe de Brasília para votar o programa social de Bolsonaro.

De acordo com fontes, o Renda Cidadã já existe tecnicamente, mas falta a decisão política. Até a ala política der o ok, a Economia segue buscando o modelo de financiamento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A renovação do auxílio emergencial para a população de baixa renda poderá ter um impacto adicional de até R$ 100 bilhões. Uma das opções que entrou na mesa é reduzir o público-alvo do auxílio nas próximas parcelas até chegar ao número de beneficiários previstos para o novo Renda Brasil, o futuro programa social do governo que vai substituir o Bolsa Família.

O presidente Jair Bolsonaro tem ouvido lideranças políticas e quer bater o martelo sobre os valores e anunciar até terça-feira da semana que vem a prorrogação do auxílio. Os estudos estão sendo feitos pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que terá até segunda-feira para apresentar os cálculos das propostas em discussão para que Bolsonaro defina as parcelas.

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De acordo com uma fonte que acompanha as negociações, há três propostas em discussão. Uma alternativa seria a edição de um decreto e uma medida provisória (MP) para oferecer mais uma parcela de R$ 600 (setembro) e duas de R$ 300 (outubro e novembro). Outra, é a edição de uma MP com mais quatro parcelas de R$ 300 (setembro a dezembro). E a terceira via seria reduzir o público-alvo do auxílio emergencial ao longo das próximas parcelas até chegar ao número previstos para o Renda Brasil.

Atualmente, o Bolsa Família atende 14 milhões de famílias. A ideia é que o Renda Brasil contemple cerca de 21 milhões de famílias. Hoje, mais de 66 milhões de pessoas recebem o auxílio emergencial de R$ 600, criado como ajuda extra a desempregados, informais e beneficiários do Bolsa Família para fazer frente à pandemia.

O governo já destinou R$ 254,4 bilhões para o pagamento do auxílio emergencial, num total de cinco parcelas (de abril a agosto). A despesa mensal do auxílio está em R$ 51,5 bilhões, e todos os gastos do governo para combater a pandemia e seus efeitos estão sendo bancados com o aumento do endividamento do País.

Ontem, Bolsonaro afirmou que o governo busca um "meio-termo" entre os R$ 600 pagos atualmente e os R$ 200 defendidos nas últimas semanas. "Os R$ 600 pesam muito para a União. Não é dinheiro do povo porque não está guardado, é endividamento. E se o País se endivida demais, acaba perdendo sua credibilidade para o futuro. Então, R$ 600 é muito", declarou Bolsonaro. "O Paulo Guedes ou alguém falou, na Economia, em R$ 200. Eu acho que é pouco, mas dá para chegar no meio-termo e buscamos que ele (auxílio) venha a ser prorrogado por mais alguns meses, talvez até o fim do ano, de modo que nós consigamos sair desta situação, e fazendo com que os empregos formais e informais voltem à normalidade."

Segundo Bolsonaro, o assunto foi tratado em um café da manhã ontem com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio da Alvorada. O presidente não informou se Maia apoia a proposta.

A prorrogação do auxílio é uma forma de dar tempo ao Congresso para aprovar o Renda Brasil, programa em estudo para substituir o Bolsa Família. Como mostrou o Estadão, a equipe econômica quer atrelar esse debate a uma revisão de gastos sociais considerados ineficientes. (Colaboraram Julia Lindner e Lorenna Rodrigues). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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