Prefeito de Jaboatão dos Guararapes – segundo maior colégio eleitoral de Pernambuco – o tucano Elias Gomes concedeu, nesta sexta-feira (22), uma entrevista exclusiva ao Portal LeiaJá. Durante a conversa, o gestor enalteceu a atitude do PSDB de recuar na abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e elogiou a ação assinada conjuntamente pelos partidos de oposição pedindo que a petista seja responsabilizada por algumas irregularidades, entre elas as pedaladas fiscais. Além disso, o tucano destrinchou sobre as pretensões do PSDB em Pernambuco para 2016 e sugeriu medidas para que a presidente Dilma drible a crise econômica nacional.
Elias Gomes cumpre o segundo mandato à frente da gestão em Jaboatão dos Guararapes. Ele já foi prefeito do Cabo de Santo Agostinho por três vezes, deputado estadual e administrador do Distrito Estadual de Fernando de Noronha. Confira a entrevista na íntegra:
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LeiaJá (LJ) - O PSDB recuou no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e decidiu protocolar uma Ação Conjunta contra a petista. Foi uma ação mais sensata?
Elias Gomes (EG) - A oposição deve aumentar a vigilância na apuração das irregularidades e não precipitar esta questão de impeachment. Não é que não possa ter ocorrido irregularidades por parte do PT, mas é que não chegou a ela de forma direta e um impeachment não pode ser algo leviano e inconsistente. Acredito que o PSDB acertou em intensificar o embate político, a oposição e as apurações das irregularidades em todas as frentes; apresentando as deficiências do governo, responsabilizando Dilma pelos erros da economia e fazendo com que o PT assuma as responsabilidades por todo esse conjunto de medidas que contrariam os trabalhadores e consumidores.
LJ - Líderes de movimentos antigoverno avaliam o recuo do impeachment como uma “covardia” do senador Aécio Neves. Como o senhor avalia esta opção de ter voltado atrás?
EG - A sociedade tem mais liberdade para pregar teses que sejam apenas movidas pelas emoções. A população dizer ‘impeachment já’ é absolutamente legitimo, porém um senador e um partido político de representação no Congresso tem que seguir o que prevê a lei e a constituição. O texto diz que é necessário ter provas claras de que o governante infringiu a lei, com a caracterização clara e jurídica. Sabe-se que integrantes do partido feriram a lei, mas é preciso ter provas contundentes de que a presidente Dilma tenha operado e se envolvido diretamente, embora até a gente acredite que sim, mas é preciso ter provas. O PSDB está em busca do fato concreto. É uma questão de tempo. O da sociedade é um o do Congresso é outro.
LJ - A mudança pode interferir de alguma forma o relacionamento do PSDB com esses movimentos?
EG – Acredito que não. O PSDB quando ouviu esses movimentos disse que iria estudar e definir o posicionamento a luz da Lei. Eles vão compreender que o PSDB, embora não peça o impeachment, tem intensificado a oposição derrotando o governo em muitas questões, apurando os desmandos na Petrobras, encaminhado outras CPIs como foi a do BNDES – que o governo conseguiu derrotar, mas a oposição está se articulando para reapresentar. Então é cada qual no seu papel. Ocupação nas ruas: movimentos sociais, foram eles que ocuparam as ruas, não foi o PSDB; apuração, CPI e denúncia são com o PSDB.
LJ - O Congresso Nacional tem aprovado medidas que promovem um reajuste fiscal no país, para tentar driblar a crise econômica apesar das perdas dos direitos de algumas categorias. Como prefeito, como o senhor avalia estas mudanças e a situação econômica do país?
EG – Primeiro é dizer que a gente chegou a esse nível de dificuldade porque a presidente levou o país a essa pancarrota quando reprimiu o preço do reajuste dos combustíveis, para fazer política e tirar proveito eleitoral; gastou além do que podia, comprometendo a saúde fiscal da união; retardou as concessões para obras de infraestrutura como rodovias, portos e aeropostos, limitando o restringindo tudo isso; e só fez aumentar os gastos, entre eles, os ministérios. São 39 quando se pode governar com 20, por exemplo. O governo só fez gastar e não cuidou do equilíbrio financeiro e a responsabilidade do ônus dessas medidas é o governo e a gente tem que denunciar isso.
LJ – Qual seria a melhor forma de driblar este cenário?
EG - Em dezembro percebi que havia uma enorme dificuldade da presidente organizar os ministérios e assumir o seu segundo mandato. Achava de bom senso que a presidente Dilma reconhecesse as limitações na base de apoio com o PMDB enfrentando ela na Câmara e no Senado. Ela devia ter procurado a oposição para o entendimento de um programa mínimo para o Brasil. E como contrapartida ela adiantaria o mandato dela em dois anos. Isso seria um entendimento, um pacto, para o Brasil sair desta sangria. Não foi feito, caberia ao governo fazer isso, mas por ganância, vaidade e disputa do poder pelo poder perdeu-se a oportunidade de se fazer uma construção nacional e a transição do pós-PT. As derrotas continuam e é melhor ela cair na real, fazer o entendimento e encurtar o mandato. Seria um gesto estadista e ela seria altamente reconhecida pela história. Se a oposição fosse chamada para um pacto desses seria irrecusável, com certeza.
LJ - Em Pernambuco, o PSDB está passando por alguns processos de reestruturação com a eleição de novas comissões municipais e filiações, a exemplo do que aconteceu em Jaboatão. Isso é positivo para a legenda tendo em vista a aproximação de um novo pleito em 2016?
EG - Faz parte de uma estratégia nacional do PSDB. A eleição de 2014 demonstrou que no Nordeste somos vulneráveis e a designação era de crescer. Estamos fazendo isso, reforçando o partido. Estamos fazendo aquilo que precisa para o momento. Não estamos discutindo 2016 apenas, mas preparando o partido para projetos futuros nacionais e locais.
LJ - No próximo dia 14 a legenda vai renovar a direção estadual, o senhor pretende disputar o cargo de presidente do PSDB de Pernambuco?
EG - Alguns companheiros estão me perguntando para fazer questões como essa, mas não irei entrar para ser mais uma nesta disputa que desune ou divide. Vou procurar ser uma voz que ouça a todos e procure conciliar. Nesses próximos dias, vamos ter várias conversas com todos os companheiros mais representativos do partido. O que a gente tem que fazer é acabar com essa história de lançar nomes e dizer: ‘eu quero, eu quero, eu quero’. Minha missão é de ouvir e unificar o partido para uma construção coletiva, não acredito em partido que tem dono. Partido significa conjunto, forças. Devemos ter projetos para 2016 e 2018. Não me antecipo, não coloco um nome como prioridade para agora.
LJ - Desde a morte do deputado Sérgio Guerra, Bruno Araújo assumiu a legenda. De que forma o senhor avalia a liderança dele?
EG - Substituir Sérgio Guerra é uma tarefa muito difícil, especialmente num ano de eleição e porque Sérgio era ao mesmo tempo uma figura nacional que se dedicava a macro política, mas também se dedicava a micro política. Bruno procurou cumprir sua tarefa, mesmo tendo outras atribuições e evidentemente conciliou tudo isso. Esse gesto dele não disputar a reeleição foi magnânimo, agora vamos conversar e ponderar qual o projeto para o futuro e quem pode substituí-lo.
LJ – Apesar de dizer que não discute 2016, o senhor tem anunciado a pré-candidatura de alguns vereadores. Como tem se pautado para disputar da sua sucessão em Jaboatão?
EG - Não lancei, elas surgiram. Isto é natural. O PSDB considera que tem legitimidade para governar a segunda cidade com o maior colegiado do estado, na medida em que o PSB, como aliado importante, comanda a prefeitura do Recife. Antecipar campanha é tirar o foco do que é fundamental: concluir o governo. Tenho um ano e meio ainda pela frente. Não tenho candidato, não anteciparei e vou agora consolidar o projeto. Após isso, naturalmente podemos fazer um sucessor.