O surfista brasileiro Gabriel Medina ainda está curtindo a conquista de seu terceiro título mundial de surfe. Da Califórnia, ele conversou com a reportagem do Estadão e falou sobre o ano de muito sucesso em cima da prancha e de grandes mudanças em sua vida.
Em 2021 ele mudou de técnico, passou a viajar para as etapas com sua mulher, a modelo Yasmin Brunet, e teve seu nome envolvido em algumas polêmicas. Ele lembra que realizou um sonho com seu terceiro troféu e também reforça que está sendo um período de grande aprendizado em sua vida.
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Você sempre falou desse sonho de ser tricampeão mundial, como dois de seus ídolos, um o Ayrton Senna, no esporte em geral, e outro o Mick Fanning, no surfe. Foi do jeito que você sonhava?
Foi além do que eu sonhava. Até pelo formato, do jeito que aconteceu, porque tive de enfrentar o Filipe em melhor de três em uma final. Acho que foi especial também pelo jeito que surfei, pois consegui fazer manobras que nunca tinha feito numa final, dando "back flip", acertando os aéreos. Foi um dia perfeito na verdade. Realizei um sonho que parecia ser tão distante, mas se tornou realidade. Foi irado.
Neste ano você passou por muitas mudanças e até polêmicas. Olhando pra trás, como vê sua temporada?
Foi uma temporada de grandes desafios, fui testado várias vezes. É difícil passar por essas situações de competição, viagens... Problemas pessoais todo mundo tem. As pessoas criam notícias, gostam de falar, então foi um ano de responsabilidade e amadurecimento do meu lado. Aprendi bastante e continuo aprendendo. No meu dia a dia o que mais tento levar é fazer o bem, tenho meu trabalho, e procurei focar nisso e surfar mais, e deixar as pessoas falarem. Estou fazendo o que amo e estou fazendo bem, e ontem (terça-feira) fui recompensado por isso. Fico feliz de ter vivido cada processo que vivi. Estou aprendendo ainda e resolvi assumir minhas responsabilidades. Tudo tem um preço na vida. Estou feliz do jeito que estou vivendo, quero aprender mais e viver mais.
A questão da vacina contra Covid-19 gerou uma grande polêmica. Algumas pessoas começaram a achar que você era contra a vacina, mas você disse que não era o caso.
Esse ano a gente não parou quieto, viajamos o mundo inteiro seguindo os protocolos de distanciamento, a gente estava sempre numa bolha na praia e no hotel, a WSL fez um ótimo trabalho inclusive, mas agora tenho tempo para fazer as minhas coisas. Eu tenho diversos amigos que tomaram e sofreram efeitos colaterais. Quando eu não estava nas viagens, estava treinando e tipo já tinha outra viagem na sequência, então não queria atrapalhar isso. E eu estava sempre seguindo os protocolos. Agora tenho tempo de fazer tudo com calma. Na terça eu ganhei o título mundial, agora estou atendendo à imprensa e depois vou conseguir agendar e fazer o que tenho de fazer.
Foi a primeira vez que você não tinha seus pais na areia numa final, mas por outro lado tinha a Yasmin, que é sua família nova que está construindo. Como está sendo isso para você?
Sair da zona de conforto é difícil para qualquer ser humano. Mas todo mundo passa por esse processo. Para mim parecia bem distante, até eu assumir e seguir as minhas coisas e fazer do meu jeito. Sabia das responsabilidades, que podia dar errado ou certo, mas eu resolvi arriscar. Sempre fui motivado por desafios e não iria ser diferente agora. E está sendo irado, tenho aprendido pra caramba, estou fazendo coisas que não tinha tanto o costume de fazer, tenho aproveitado mais os lugares, as coisas simples da vida. Quando você vai fazendo o que você ama e fazendo o bem, a vida de devolve de um jeito ou de outro. Tem de viver e ser feliz.
A parceria com seu técnico Andy King continua na próxima temporada?
Ele é um cara muito especial. O Mick nos apresentou na Austrália e deu super certo. Começamos a trabalhar este ano e fechamos com chave de ouro. A intenção é continuar com ele, pois me ajudou bastante. Ele fala que é meu soldado, que está ali para o que eu precisar. Ele tem me ajudado bastante dentro e fora da água, sempre exige bastante de mim, treinando fisicamente ou dentro da água, com estratégias diferentes. Tem sido uma parceria irada que deu super certo. Este ano foi incrível.
Esse formato do WSL Finals podia ser cruel com você, que teve a melhor campanha disparado nas etapas anteriores. Mas no final você venceu, ainda mais contra alguém em ótima fase e que conhece Trestles super bem como o Filipinho. Como foi ter essa disputa neste formato?
Eu não tinha gostado desse formato. Até porque quando você está na posição de número 1 é o único que pode ser prejudicado, ainda mais pela diferença de pontos que cheguei. E ter de ganhar do Filipinho duas vezes ali é um teste gigante, pois ele é o melhor surfista em Trestles. Eu tive de confirmar duas vezes o título mundial. Foi incrível, a praia estava lotada e ainda era uma final brasileira. Foi perfeito.
Você agora é tricampeão mundial. Qual o próximo objetivo?
Então, na verdade eu mergulhei de cabeça nesse objetivo e fui até o final. Agora quero deixar a poeira baixar um pouco e parar para pensar. Esses últimos dez anos da minha vida têm sido muito intensos. Campeonato atrás de campeonato, disputa de título, pressão, viagem, então faltou tempo. Agora quero respirar, ter calma e traçar planos e objetivos. Profissionalmente, no surfe, esse era meu maior sonho. Como amo desafios, vou ter de criar outros.