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Um incêndio destruiu um apartamento alugado por duas sindicalistas no bairro Abranches, em Curitiba, na terça-feira, 3. As moradoras, que tinham viajado a Brasília para a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não estavam no imóvel. Entre as suspeitas para a motivação, estão os crimes de intolerância política e homofobia. A polícia também investiga furto qualificado, já que um veículo e duas televisões foram levados do local, e incêndio criminoso.

Documentos, livros, bandeiras e outros objetos que faziam referência ao Partido dos Trabalhadores (PT), à luta sindical e a movimentos progressistas foram amontoados e queimados dentro do apartamento das dirigentes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc), Loide Ostrufka e Juliana Mildemberg. Uma perícia no imóvel apontou previamente sinais de arrombamento e de incêndio causado por ação humana.

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"Queimou tudo, tudo que tinha no meu quarto se perdeu. Todas as roupas, livros, materiais, documentos de pesquisa. No quarto da Loide também muita coisa se perdeu, algumas roupas dela ainda ficaram pelo caminho. O importante é que estamos bem. O que é material a gente constrói novamente", afirmou Juliana em uma rede social. As sindicalistas estão organizando uma vaquinha virtual para ajudar com o prejuízo.

De acordo com o delegado Geraldo João Celezinski, do 4º Distrito Policial de Curitiba, responsável pela investigação, há indícios consistentes de motivação política e homofobia.

"Por que só queimar fotografias pessoais em que estavam uma das moradoras e a companheira dela e não as outras? Por que queimar bandeira? Independentemente da posição política do autor, estamos considerando essas hipóteses (de motivação política e homofobia)", explicou o delegado ao Estadão. Ele contou que o veículo levado era da companheira de uma das sindicalistas, que não mora no local.

Celezinski disse que o incêndio não teve proporções maiores porque alguém na vizinhança percebeu a fumaça e acionou o Corpo de Bombeiros. "Ainda não temos detalhes sobre as causas do incêndio. O Instituto de Criminalística tem 30 dias para mandar o laudo. A priori é para ser criminoso, tanto que estamos investigando com essa natureza. Também temos 30 dias para concluir a investigação, mas se não conseguirmos até lá vamos pedindo prazo para conseguir mais pistas", afirmou.

Ainda conforme o delegado, os investigadores chegaram até imagens de câmeras de segurança do entorno do imóvel incendiado e estão trabalhando para tentar identificar possíveis suspeitos e precisar o horário em que ocorreu o incêndio. As moradoras não relataram ter sofrido ameaça recente.

Em nota, o PT informou que está adotando medidas jurídicas sobre o incêndio no apartamento das diretoras sindicais, que são filiadas ao partido. O comunicado trata o caso como "provável crime de intolerância política". "É inadmissível que esse tipo de violência e intolerância sejam realizadas por uma parcela da população que defende atos antidemocráticos e a instauração de um golpe no País. Esse tipo de crime deve ser investigado e os responsáveis devem ser punidos". Também em nota, o Sismuc repudiou o caso e afirmou que está prestando amparo às vítimas.

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Um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) assassinou um jovem de 28 anos e deixou outras quatro pessoas feridas durante comemoração pela vitória do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na noite de domingo (30), em Belo Horizonte. 

Pedro Henrique Dias Soares, de 28 anos, foi morto na garagem de casa, no bairro Nova Cintra. O suspeito, de 36 anos, que não foi identificado, atirou em mais duas mulheres de 47 anos, uma de 40 anos e uma criança de 12 anos. Dentre as feridas, a mãe e uma amiga.

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O caso é investigado pela polícia como crime de motivação política, que informou que o suspeito estava sob efeito de álcool quando decidiu sair com duas pistolas em “busca de traficantes” e, em seguida, “atirou aleatoriamente” ao sair de casa. 

O criminoso foi preso em flagrante sob acusação de homicídio e tentativas de homicídios. A defesa alega surto psicótico, não cunho político. 

O assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, militante petista, não pode ser enquadrado como "crime político", de acordo com a legislação penal brasileira, afirmam especialistas em Direito Penal ouvidos pelo Estadão, ainda que, na visão deles, a motivação do crime teria sido política. Nesta sexta-feira (15), a Polícia Civil do Paraná indiciou o agente penal federal Jorge Guaranho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), por homicídio qualificado por ter matado Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), há uma semana, durante a festa de 50 anos da vítima. O tema da comemoração remetia ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

As autoridades descartaram motivação política e imputaram duas qualificadoras - motivo torpe e causar perigo comum. Com elas, a pena varia de 12 a 30 anos de reclusão. A primeira está ligada à "discussão por motivo vil", enquanto a segunda tem relação com o fato de oito pessoas estarem presentes no local do crime e, assim, poderiam ter sido atingidas pelos disparos efetuados por Guaranho.

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Segundo a delegada Camila Cecconello, não há provas suficientes de que Guaranho queria cometer um "crime de ódio contra pessoas de outros partidos". Para ela, o crime não foi motivado por divergências políticas, mas em razão de uma alegada humilhação sofrida por Guaranho por ter sido atingido por terra durante a discussão com Arruda. Os juristas ouvidos pelos Estadão divergem a respeito dos apontamentos das autoridades.

De acordo com especialistas em Direito Penal, no atual texto legal, o crime político ocorre apenas quando coloca em risco a segurança do estado democrático de direito, tipificação criada a partir da revogação da Lei de Segurança Nacional em 2021. Segundo eles, a lei não define a divergência política como hipótese para crime político, ou seja, não é uma espécie de crime à parte. No caso de um crime de homicídio, a divergência política se torna apenas um objeto para configurar a motivação do crime, o que indica a necessidade de um texto mais claro para crimes desse espectro, apontam os juristas.

Para os especialistas ouvidos pelo Estadão, é inegável a motivação política para o assassinato. A discussão permanece aberta apenas na definição da qualificação subjetiva do caso - se enquadrado como "torpe" (relacionado à desqualificação vil da vítima) ou "fútil" - que implica desproporcionalidade.

Para o professor de Criminologia e Direito Penal da USP Mauricio Dieter, não se trata de um crime político, mas houve uma motivação política contemplada na qualificadora motivo torpe. "A motivação é vil, baixa", afirmou. "O motivo torpe é todo motivo que desmerece ontologicamente o sujeito. Se estou fazendo isso, estou dizendo que a opinião política do sujeito autoriza que ele seja eliminado, isso, me parece, é um motivo torpe."

Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e doutor em Direito, Marcelo Mayola corroborou a tese. "Em síntese, e salvo melhor juízo, de fato estamos diante de um homicídio qualificado pelo motivo torpe, sendo este a própria motivação política, qual seja a intolerância própria da extrema direita bolsonarista."

O ex-ministro da Justiça e professor titular sênior da USP Miguel Reale Júnior disse que a motivação política, porém, levaria a uma qualificadora de crime "fútil". "É muito mais um motivo fútil, que, por ter divergência política, ele vai lá e mata a pessoa. Se tira o ato político do adversário, não haveria crime. Se não fosse a festa tendo por mote o Lula, o sujeito não teria ido lá matar o outro. A motivação é essa, a homenagem em torno da figura do Lula", afirma.

Para ele, a inserção da motivação política no inquérito é importante "para passar a mensagem". "A lei penal tem uma função educadora, de mostrar que o motivo pelo qual ele fez esse ato, um motivo fútil, tem de ser recriminado, para passar a mensagem de que não se pode admitir que se destrua o outro por divergência de caráter político", disse.

"O que há de problemático, é que ela (delegada) quer tirar o cunho político para estabelecer que o sujeito voltou porque foi humilhado. O que ela quer é atender interesses políticos de tirar o fato da caracterização de motivação política, para dizer que foi por motivo torpe, vingança, por se sentir humilhado", afirmou o jurista.

Na visão da polícia, a intenção de Guaranho era provocar os participantes da festa, não efetuar os disparos quando chegou ao local. Segundo Camila, "parece mais uma coisa que acabou virando pessoal entre duas pessoas que discutiram, claro, por motivações políticas".

Professor de Direito Penal na Escola de Direito da PUC-RS, Alexandre Wunderlich disse que a tendência é por uma classificação mais objetiva do crime político. "Por exemplo, quando se ensina que os crimes políticos podem ser considerados como todos os delitos que atentem contra a ordem política, social ou jurídica interna ou externa do Estado, tem-se um conceito indeterminado", disse.

Agora o relatório da Polícia Civil segue para o Ministério Público, que, como titular da ação penal, fica incumbido do oferecimento da denúncia. O órgão pode pedir mais diligências, concordar ou discordar das conclusões da polícia e apresentar outras motivações para o crime. Em nota, o MP afirma que vai analisar o processo e trabalhar na peça de acusação.

Para entender

O crime com motivação política tem por motivação questões, divergências ou antagonismos políticos. Praticar uma agressão contra outra pessoa por divergência ideológicas, por exemplo, não é por si só um crime político - porque pode não ter essa repercussão de risco em relação à democracia - mas pode ter uma "motivação" política, por ter o fundamento, a razão da sua prática, na divergência de natureza política. 

A Polícia Civil do Paraná divulgou neste domingo (17) um  comunicado para justificar a decisão de ter indiciado por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e perigo comum o policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho pelo assassinato do guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda, tesoureiro do PT. O crime ocorreu no sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR).

Segundo nota, a corporação descartou o indiciamento por crime político por não haver previsão legal.

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"A qualificação por motivo torpe indica que a motivação é imoral, vergonhosa. A pena aplicável pode chegar a 30 anos. Não há nenhuma qualificadora específica para motivação política prevista em lei, portanto isto é inaplicável. Também não há previsão legal para o enquadramento como “crime político”, visto que a antiga Lei de Segurança Nacional foi pela revogada pela nova Lei de Crimes contra o Estado Democrático de Direito, que não possui qualquer tipo penal aplicável. Portanto, o indiciamento, além de estar correto, é o mais severo capaz de ser aplicado ao caso", argumenta. 

As conclusões do inquérito foram apresentadas na sexta-feira (15) pela delegada-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, Camila Cecconello. O policial penal federal foi indiciado por homicídio duplamente qualificado – por motivo torpe, vil e socialmente reprovável e por causar perigo comum, uma vez que expôs terceiros a riscos, “inclusive a esposa da vítima, que poderia ter sido atingida”.

A delegada argumentou que não havia - até aquele momento - evidências suficientes para afirmar que a morte do guarda municipal foi um “crime político”. De acordo com a apuração policial, Guaranho se dirigiu à festa de temática petista na qual Marcelo Arruda comemorava seu aniversário de 50 anos, para fazer “provocações” de cunho político, tocando, em alto volume, músicas em alusão ao presidente Jair Bolsonaro. 

“Estão claras a provocação e a discussão em razão de opiniões políticas, mas falta provar que o retorno dele [Guaranho] ao local foi por esse motivo, uma vez que a esposa disse que ele se sentiu humilhado [após a discussão]. Por isso, é difícil afirmar que foi crime de ódio”, disse a delegada ao comentar a dificuldade em enquadrar o caso como crime político.

O policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, preso como principal suspeito de matar o ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, no Paraná, já respondeu a um processo por desacato à autoridade. A informação, divulgada pelo jornal O Globo, desmente o relato feito pela família, que negou que o homem tenha histórico de violência ou brigas. 

Antes de ser policial penal federal, Guaranho passou pelas forças militares do Rio. Nascido em Magé, ele exerceu a função de policial militar entre março de 2007 e agosto de 2008, quando deixou a corporação para integrar o Corpo de Bombeiros do estado do Rio. 

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A confusão na qual Jorge se envolveu, dessa vez com dois policiais militares, também ocorreu numa festa, em 2018, em Guapimirim, no estado do Rio de Janeiro; um caso que foi posteriormente arquivado. De acordo com o registro de ocorrência, dois PMs foram a uma casa na Estrada do Limoeiro, em Guapimirim, na Baixada Fluminense, para averiguar uma denúncia de perturbação do sossego. 

No local, os policias foram recebidos por Guaranho, que se apresentou como policial federal, apesar de sua função ser policial penal federal. Na ocorrência, está registrado que o homem passou a ofender o capitão identificado como Jorge: "Oficial de merda, capitão de merda". O sargento Maia também foi desacatado, segundo os policiais: "Praça baba-ovo e praça merda", diz o texto do registro. 

Diante dos xingamentos, os PMs deram voz de prisão a Guaranho. Os policiais relataram que ele se negou a os acompanhar, que estava muito "arredio" e "muito alterado", e que teve que ser algemado e colocado na viatura "fazendo o uso necessário progressivo da força".

O presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou pessoalmente pela primeira vez sobre o assassinato de um dirigente do PT em Foz do Iguaçu. Junto a apoiadores e à imprensa na manhã desta segunda-feira (11), o mandatário criticou a forma como está sendo divulgada a morte de Marcelo Aloizio de Arruda, que foi assassinado a tiros no sábado (9), na sua festa de aniversário, por um policial penal bolsonarista.  

"Vocês viram o que aconteceu ontem, né? Uma briga de duas pessoas lá em Foz do Iguaçu. 'Bolsonarista não sei o que lá'. Agora, ninguém fala que o Adélio é filiado ao PSOL, né? A única mídia que eu tenho é essa que está nas mãos de vocês aí", disse Bolsonaro a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada. "Agora, o que eu tenho a ver com esse episódio em Foz do Iguaçu? Nada. Você desconta qualquer ato de violência. Eu já sofri isso na pele”, continuou, de acordo com o UOL. 

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Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre o caso na entrada do Palácio do Planalto. O presidente reclamou de quem, segundo ele, busca associá-lo ao ato de Jorge Guaranho. 

"Quando o Adélio me esfaqueou, ninguém falou que ele era filiado ao PSOL", disse Bolsonaro, em referência a Adélio Bispo, que desferiu uma facada no presidente durante a campanha de 2018. "Agora, o que eu tenho a ver com a com esse episódio [de Foz do Iguaçu]?", questionou. 

Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro na campanha de 2018, foi filiado ao PSOL. Porém, de acordo com a investigação federal, o autor do atentado contra o mandatário planejou e executou sozinho o crime. Foi considerado inimputável por ter doença mental e cumpre medida de segurança em um presídio federal. 

LeiaJá também: ‘Bolsonaro cobra investigação de morte e culpa esquerda’

A ativista Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, reclamou, neste sábado (27), do silêncio do Estado brasileiro sobre a morte da vereadora. Marielle faria 40 anos hoje. Ela e o motorista Anderson Gomes foram assassinados no Rio de Janeiro em março de 2018. Mônica defende que o assassinato seja considerado um crime político. 

 "Eu vivo esse silêncio, que é uma violência para mim e toda sociedade, por meio de uma contagem pública que faço de todos esses dias. Na data de aniversário da Marielle se completam exatos 500 dias sem a minha mulher. 500 dias sem uma resposta do Estado Brasileiro", disparou, em entrevista ao blog do jornalista Jamil Chade. 

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Na avaliação de Mônica, o silêncio sobre quem mandou matar a vereadora "diz muito" e é reflexo da seletividade da Justiça. "Até agora o presidente da República não se manifestou sobre o crime e seu ministro da Justiça ignorou meus pedidos de audiência. Por qual motivo será que isso ocorre?", questionou. 

"Um caso tão importante e emblemático quanto esse se arrasta por mais de um ano enquanto outros são resolvidos em tempo recorde. A minha dor pela perda de minha companheira hoje é proporcional a minha vergonha da Justiça brasileira", acrescentou, dizendo ainda que "é enorme". 

Indagada se acredita no envolvimento de pessoas do alto escalão no crime, ela foi clara: "Eu vivo num país que não precisa ter provas, basta ter convicção. Minha convicção é de que obviamente existe alguém poderoso politicamente responsável por tudo isso." 

Mônica ainda disse que não medirá esforços para cobrar soluções diante do assassinato de Marielle e para descobrir a efetiva motivação do crime.

“Mesmo que seja dramático, angustiante e sofredor, temos que enfrentar porque ele enfrentou muito mais”. Essa foi uma das principais falas de Ednaldo Bezerra da Rocha, ao descobrir nesta terça-feira (3), a forma como morreu seu irmão Ezequias Bezerra da Rocha. O laudo, que comprova a morte da vítima por tortura, foi exposto pela Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara (CEMVDHC), na Casa Civil, no bairro das Graças.

Na primeira versão para o caso do geólogo Ezequias Bezerra, ele teria falecido aos 28 anos de idade em 12 de março de 1972. Ele teria sido levado à prisão e ficado em uma cela ao lado da sua esposa. Posteriormente, tinha sido liberado do cárcere por companheiros de militância conforme alegou o delegado da Delegacia de Segurança Social na época, Redivaldo Oliveira Acioly.

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No entanto, um dia após o relato de soltura da vítima, um corpo foi encontrado na barragem do Bambu, Engenho Massauassu, Escada, mas com identidade desconhecida. O corpo estava com os pés e mãos amarrados de cordas e envolto com uma rede também de cordas com uma pedra de 30 quilos atada ao corpo, além de outros registros de agressões e tortura. Na época, a família não fez o reconhecimento.

Já em 1991, após a localização do laudo datiloscópico (contendo impressões digitais) houve a comprovação que o corpo era de Ezequiel. Este mesmo laudo foi obtido através da Comissão da Verdade e após 41 anos da morte de Ezequias à família e os pernambucanos podem, de fato, descobrir a causa da morte da vítima. “Foi uma coisa muito forte tomarmos conhecimento deste laudo datiloscópico”, contou uma das relatoras da CEMVDHC, Nadja Brayler, acrescentando ter ficado impressionada ao conseguir as informações. “Para nossa surpresa, recebemos o laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) de forma detalhada”, completou. 

Segundo a relatora, na época que o laudo foi elaborado, em 1991, o corpo não foi entregue para a família. “A auditoria militar para encobertar o fato solicitou a prisão de Ezequias quando ele já estava morto”, disse, frisando a colaboração do arquivo público do IML e contando a atuação de Bezerra na sociedade. “Ele teve uma participação nos movimentos estudantis, mas ele não era um militante de frente, ele não militava”, relembrou.

Também presente na coletiva, o coordenador-geral da CEMVDHC, Fernando de Vasconcelos Coelho, comentou como a força política cometia as torturas e manobravam o poder com total segurança de não serem descobertos. “Era uma política de segurança. Não era uma ação individual não”, contou alegando o envolvimento de muitas pessoas nos casos investigados.

Além de ser exposta a comprovação da morte do geólogo, dois outros pontos foram tratados no evento. Com a comprovação da tortura, os relatores solicitarão à Justiça a retificação do atestado de óbito. A outra reivindicação é pela morosidade da União em relação à execução do processo. “O processo até chegar ao Supremo Tribunal Federal demorou mais de 20 anos. Depois que ganhamos em todas as instâncias, o processo voltou para a fase de execução da sentença, o que tem sido extremamente tumultuada por conta da União que através de seus advogados, tentam discutir matérias que estão totalmente blindadas pela sentença transitada e julgada”, disse Frederico Barbosa, um dos advogados da família, avaliando a atitude dos juristas como uma atitude maldosa. 

“Durante este período, alguns irmãos de Ezequias já morreram e a demora deste processo é uma verdadeira tortura para os familiares, que além de ter tido o sofrimento de perder o irmão, e de inclusive ser um desaparecido político, ainda hoje a União procrastina o resultado deste processo”, criticou outro advogado da Família, Marcelo Santa Cruz. 

Já Ednaldo Bezerra, irmão da vítima, de forma contida, agradeceu ao trabalho da Comissão da Verdade e contou ficar surpreso com o laudo apresentado. “Nós pensávamos que já tinha esgotado todas as provas da prisão dele, mas eis que apresentam agora este documento. Creio que o próximo passo seria encontrar o corpo para a família poder enterrá-lo”, espera o irmão da vítima.

A Comissão da Verdade Dom Hélder Câmara analisa outros 51 casos de crimes políticos. Neste ano, além do caso de Ezequias, as investigações das mortes de Padre Henrique, Odijas Carvalho e Anatália de Souza Alves também foram reveladas. 

Depois de exatamente um mês da agressão sofrida pelo médico e ex-prefeito de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife, João Lemos (PCdoB), foram divulgadas as imagens do ato nesta sexta-feira (2). No vídeo, é possível visualizar quando a vítima recebe vários socos e fica imobilizada.

Lemos foi agredido por Délamo Meira, irmão de Meira, rival político do ex-prefeito na cidade. Na época, o ex-gestor contou ao LeiaJá que foi surpreendido enquanto jantava com o ex-vereador Alamar Dias (PR) por volta das 18h, no empório do posto BR, do bairro de Aldeia. 

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Nesta sexta (2), João Lemos contou como anda o caso na justiça e afirmou que há possibilidades de o agressor ser preso. “Segundo o meu advogado a delegada pediu a preventiva dele (de Délamo) e seguiu para justiça. A juíza pediu então um parecer da promotoria. Caso a promotoria acompanhe o raciocínio da delegada terá chance dele ser indiciado e preso”, disse.

De acordo com o médico foi solicitado também o parecer do IML, mas como já forma divulgadas as imagens da câmara de segurança do estabelecimento onde ocorreu o fato, ela acredita não ser necessário outras comprovações. “Uma coisa é o IML outra coisa são as imagens. Uma fita daquela não precisa de mais nada. Estou esperando o parecer do promotor e acho que ainda hoje saberei se ele despachou”, antecipou.

Já sobre o ocorrido, apesar de não estar com sequelas graves, o ex-prefeito disse ainda sentir dores e estar de atestado médico. “Do ponto de vista físico, eu passei por muita dificuldade para trabalhar e ainda sinto dores nas mãos, mas o pescoço melhorou. Ainda estou com trauma. Estou dormindo a base de rivotril e tenho viajado nesses dias”, contou.

Confira o vídeo abaixo:

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O médico e ex-prefeito da cidade de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife (RMR), João Lemos (PCdoB) foi agredido na noite dessa terça-feira (2), na estrada de Aldeia, km 6 pelo irmão do ex-candidado a prefeito da cidade, nas últimas eleições, Délamo Meira. Segundo Lemos, ele foi surpreendido enquanto jantava com o ex-vereador Alamar Dias (PR) por volta das 18h no empório do posto BR do bairro. A agressão que possivelmente tenha motivações políticas está sendo investigada pela polícia de Camaragibe.

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O ex-prefeito contou que encontrou com o ex-vereador no posto de gasolina e resolveu tomar uma sopa. Logo após o agressor chegou. “Esbarrei com uma pessoa meio alta de barbas grisalhas que me perguntou se eu estava o conhecendo. Eu disse que não, claro que não e ele não teve demora e foi logo me esbofeteando e eu caí. E as pessoas gritaram não faz isso Délamo Meira. No momento veio na cabeça meus filhos porque ele já matou muita gente”, relembrou.

O acusado de cometer a agressão é irmão do ex-candidato à Prefeitura de Camaragibe, Demóstenes Meira, e segundo Lemos é seu rival político. “Eu sempre tive desavença com Meira. Eu já disse: tu tem teu caminho e eu tenho o meu, e nessa última eleição eu fiquei fora, não apoiei ninguém nem Meira, nem Jorge Alexandre (PSDB)”, afirmou.

Lemos disse ainda que não esperava essa atitude e tomará as providências necessárias. “Para mim foi um surpresa isso ocorrer. Mas como ele já fez isso várias vezes em Camaragibe, dessa vez não vai ser igual. O País está vivendo um momento importante onde as pessoas estão clamando nas ruas e a Justiça e a imprensa vão nos ajudar. Não vou parar, vou em frente”, desabafou.

Providências – Após a agressão, João Lemos se dirigiu à Delegacia de Camaragibe e vez um boletim de ocorrência. Posteriormente passou por exames e por alguns especialistas como neurologista, ortopedista e um clínico geral. “Depois fui ao IML e prestei queixa na delegacia. A polícia já solicitou o sistema de câmeras do local. Isso não pode continuar assim. Há dois meses ele desacatou o vice-prefeito Bosco e ele não fez nada. Depois desacatou o secretário de Administração da cidade e ninguém falou por receio, mas dessa vez eu não calei”, expôs.

Devido o ocorrido, o ex-prefeito afirmou já estar conversando com seu advogado e disse estar usando colete a prova de bala por segurança. “Ele me ameaçou várias vezes. O filho dele me puxou pela perna e bateu minha cabeça várias vezes dizendo que naquele momento eu ia apanhar, mas disse que ia me matar”, contou acrescentando que o acusado é capitão aposentando e não poderia andar armado, mesmo assim colocou a mão na cintura querendo intimar.

Prefeito de Camaragibe – De acordo com a assessoria de imprensa do atual prefeito da cidade, Jorge Alexandre, logo após agressão o tucano colocou a disposição o chefe da guarda municipal e coronel da polícia, Paulo Carneiro para auxiliar nas investigações.

Recurso – Recentemente, no dia 17 de junho a juíza Maria do Carmo Costa Soares, titular da 127ª Zona Eleitoral de Camaragibe,  negou, recurso impetrado pelo candidato Demóstenes Meira, para abrir processo de cassação contra o prefeito Jorge Alexandre (PSDB) por abuso de poder econômico durante a campanha eleitoral em 2012. Mas ainda não se sabe se a agressão tem haver com essa decisão judicial.

Veja em anexo o documento:

O vereador Marcos Antônio Santos do Nascimento (PRP), 39 anos, foi assassinado na noite dessa quarta-feira (5), logo após sair da sessão plenária da Câmara de Vereadores, na cidade de Catende, Zona da Mata Sul do Estado.  Segundo informações do advogado da família, Erivaldo Melo, no momento do crime por volta das 22h30, o parlamentar estava acompanhando do filho de apenas 10 anos.

O advogado afirmou que as primeiras notícias repassadas foi que o vereador, conhecido também como "Marcos Animal", estava em seu carro quando apareceu uma pessoa, aproximou-se da janela e pediu que ele abrisse. Marcos Antônio baixou o vidro da porta do carro e foi alvejado duas vezes por tiros. Após o ato, a pessoa fugiu a pé e pegou um veículo que estava numa rua próxima ao local do crime. “Logo após a sessão ordinária da Câmara que sempre ocorre às quartas-feiras, houve esse atentado que infelizmente ele chegou a falecer. Ele chegou a ser socorrido por dois vereadores, foi levado a um hospital local, mas chegou sem vida”, contou.

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O jurista explicou também que o crime já está sendo investigado por um delegado da 1ª Delegacia de Homicídio da Capital. ”Na realidade nós estamos tomando as primeiras medidas. Um inquérito foi instalado e foi designado um delegado especial do Recife, Dr. Alfredo Jorge para acompanhar o caso. Nós já estamos com algumas informações, mas não podemos revelar”, ressaltou.

Segundo Melo o vereador não tinha nenhum inimigo pessoal e era uma pessoa bem relacionada na cidade. “Ele não exercia nenhuma atividade perigosa. Então, no primeiro momento pode haver vínculo com a atividade política. Uma coisa é certa: pela forma que foi praticado não foi assalto. A pessoa não disse nada, aproximou-se e disparou. A pessoa estava realmente querendo matar”, opinou.

Para o advogado, como o vereador fazia parte da oposição do atual prefeito da cidade, Otacílio Cordeiro (PSB), a violência pode ter motivações políticas. “Ele não era envolvido com atividades que implicassem nesse risco, então, só restou à atividade política. Não há outra linha de investigação, apenas a repercussão da atividade. Ele vinha fazendo algumas denúncias e era da oposição, na minha concepção é isso. Eu não vejo por outra razão”, argumentou Erivaldo Melo.

O enterro do vereador Marcos Antônio está marcado para as 16h no cemitério da cidade.

SDS – A Secretaria de Defesa Social do Estado (SDS) confirmou por meio de nota que já designou um delegado e que a Polícia Civil informou que recolheu o veículo do parlamentar para ser periciado. Além disso, testemunhas serão intimadas para serem ouvidas.

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Após 45 anos da morte do Padre Antonio Henrique Pereira Neto com um crime que chocou religiosos e a sociedade pernambucana, a Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara (CEMVDHC) oficializou na manhã desta segunda-feira (22), que o assassinato do sacerdote teve motivação política.  A comprovação do caso foi divulgada por membros da comissão na Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos, no bairro da Madalena.

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Durante a coletiva de imprensa, o relator da CEMVDHC, Henrique Mariano divulgou trechos de relatórios com informações que comprovam a causa do assassinato. Um dos indícios informados por Mariano foi o uso de escuta clandestina na época, aos telefones do Mosteiro de São Bento e da residência do Padre Antônio Henrique antes e depois de sua morte.

A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara apresentou quatro nomes envolvidos no assassinato do sacerdote. São dois jovens na época que pertenciam ao Comando de Caça ao Comunista (CCC) - Rogério Matos do Nascimento e Jerônimo Gibson Duarte. As outras pessoas envolvidas foram dos investigadores da Polícia: Rivel Rocha e Humberto Serrano de Souza.

Outra comprovação da motivação política foi ter sido encontrado o nome do Padre Henrique nos documentos do Equipo Docentes da América Latina (Edal). A instituição tinha como missão proporcionar cursos de conscientização política e social. Outras informações acessadas vieram do relatório do Serviço  Nacional de Informações (SNI) que foram fornecidas pela Comissão Nacional da Verdade. Este último documento mostra que houve uma manipulação das conclusões finais do processo que iria indiciar as quatro pessoas envolvidas no crime.

Também foram apresentadas pela CEMVDHC que o promotor do Ministério Público de Pernambuco na época, foi submisso e subjulgado pelo Ministério da Justiça (MJ) que interferiu através de seu consultor jurídico Leonardo Grego nas confusões das alegações finais, que foram oferecidas pelo então promotor do caso. Com isso, houve a interrupção do processo que fez com o crime prescrevesse no ano de 1989.

Na coletiva, a irmã do Padre Antonio Henrique, Isaíras Padovan, também estava presente e relembrou que após sua morte foi procurada em sua residência por Jerônimo Gibson que ofereceu dinheiro para a família dela entregar Dom Hélder Câmara e silenciar sobre a morte do sacerdote. Ela contou ainda que a mãe do padre foi ameaçada de morte. “Nunca tivemos dúvidas que o crime foi político, só que não tínhamos provas para mostrar. Espero que a comissão torne isso público e que possam aprofundar mais e esclarecer mais coisas”, anseia.

De acordo com o relator Henrique Mariano não há dúvidas que o crime teve relação política. “Esses documentos comprovam a motivação política contrariando a versão até então existente. Então, na própria Comissão Judiciária de Inquérito que foi criada pelo governador do Estado na época, Nilo Coelho, concluiu que o crime era considerado comum, sem associá-lo a interesses políticos, fato não verdadeiro comprovado nos relatórios”, afirma Mariano. 

O relator reafirmou também que a atividade do padre era vista pelo Regime Militar como uma ação política por ser contra a opressão da Ditadura Militar e por ele ministrar aulas der consciência política e social. Ainda de acordo com Henrique Mariano as investigações terão continuidade e em breve o consultor jurídico do Ministério da Justiça, Leonardo Grego será convidado a participar de uma sessão pública para esclarecer alguns fatos.

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