Setor de limpeza tenta evitar danos à saúde causados pelo contato com o óleo. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)
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Uma lona preta improvisada de frente para o mar, alguns recipientes de óleo de cozinha e muita boa vontade. É apenas disso que estudantes e trabalhadores do bairro do Janga, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife, dispõem para limpar os corpos dos voluntários que tiveram contato direto com o óleo que se alastra por toda a região Nordeste, há pelo menos 55 dias. Sob o sol forte, os responsáveis pelo setor de limpeza das áreas atingidas tentam evitar as graves consequências que a substância tóxica pode causar à saúde de outras pessoas.
A estudante Isabel Alexandrino resolveu ajudar na limpeza dos voluntários porque percebeu que a atividade é de grande dificuldade para quem está sujo. “O material é muito grudento, temos que esfregar bastante, às vezes em regiões do corpo que a pessoa não alcança. Não sabemos direito quais os riscos do contato dele com a pele”, coloca. Sob a lona vizinha, uma pequena fila de homens e mulheres têm seus corpos higienizados pela desempregada Talita Cardoso. “Eu vim porque queria ajudar, mas não sabia como. A gente não conhece ninguém: chegamos e pegamos nas pessoas, mas acho que é um trabalho de humanidade. Não tem isso de nojo do outro, o mundo precisa disso”, opina.
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Um dos responsáveis pela montagem do ponto de apoio aos voluntários no Janga, o empresário Joel Petri pinga algumas gotas de óleo de cozinha sob uma bucha e tenta remover uma mancha de óleo do braço de um rapaz. “Eu costumo dizer que o nordestino é ‘madeira de lei que o cupim não rói’. Somos um povo acolhedor, unido e estamos aqui para mostrar pro mundo todo a atitude que a gente tem que tomar, tanto pela natureza quanto pelo próximo, que é nosso irmão”, comenta.
Riscos
Segundo a presidente do Conselho Federal de Química (CFQ), Sheylane Luz, hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA) presentes no petróleo bruto e seus derivados pertencem a um grupo de compostos orgânicos semi-voláteis que estão entre os compostos mais tóxicos do óleo nesse estado e podem causar sérios problemas de saúde, como câncer. Sheylane ressalta ainda que, a intoxicação por HPAs pode ocorrer por diferentes vias, como a pele ou a ingestão das substâncias. Assim, a entrada no mar para limpeza é desconselhada mesmo com uso de luvas e botas. “Por possuírem baixo peso molecular, alguns HPAs podem ser solubilizados em água, aumentando os riscos de contaminação, ou seja, apenas indivíduos devidamente treinados e com equipamentos e vestimentas seguras podem manusear esses compostos”, informa.
Óleo de cozinha é aliado na hora de remover as substâncias tóxicas. (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)