Depois de nove meses no calor do útero e ligados à mãe pelo cordão umbilical, os filhos nascem. Este é o primeiro contato com um mundo novo e também a primeira "separação" da mãe, com quem esteve unido diretamente por cerca de 270 dias.
A ligação da mãe com o filho começa desde o desejo, de acordo com a psicóloga Fernanda Farias, da Clínica de Ensino Consultoria e Gestão (CPPL), e apesar do corte, o bebê ainda se sente parte da mãe, e deixar de ser apenas um, só é possível ao longo dos anos, em um processo de construção.
##RECOMENDA##Seja na volta ao trabalho, no primeiro dia na escola, a relação entre mãe e filho deve ser dialogada. Mesmo que no início a criança não compreenda as palavras, ela precisa entender as ações e contar com o apoio de pessoas ao redor dela, um ambiente cheio de acalanto e afeto para que ela possa descobrir o outro. "O bebê nasce e acha ainda que ele e a mãe são uma coisa só. A separação de fato se dá na medida em que as coisas vão acontecendo. Esse jeito de entender o que a criança está solicitando e de cuidar, fazer o denguinho, é resultado da formação da família", explica a psicóloga.
Para a enfermeira, Mariana Portela, de 28 anos, mãe de Arthur de apenas 11 meses, o retorno ao trabalho foi difícil, depois de cinco meses de licença maternidade. “Eu tinha plantões noturnos e ele ainda mamava. Eu passava os intervalos desmamando e angustiada porque sabia que ele estava sentindo falta também”, explicou a enfermeira que já chegou a passar 48 horas longe de casa por conta do trabalho.
Hoje em dia, ela mudou o ritmo para poder ficar perto do filho, que fica com a avó enquanto Mariana passa 24 horas fora de casa. "Passo o dia mantendo contato com minha mãe, que é meu braço direito e minhas pernas na criação do meu filho, fico tranquila porque sei que ele fica em boas mãos", relata.
Outro passo importante na vida dos filhos é ir para a escola, outro período de separação da mãe, o ápice, segundo a psicóloga Fernanda Farias. "Estranhar a separação é saudável. Uma criança que vira as costas e segue tranquila é tão estranha quanto uma que não consegue parar de chorar. A mãe tem que conversar sempre e dizer a verdade: que no fim do dia eles se encontrarão em casa", diz.
A pequena Yasmin teve seu primeiro dia na escola antes de completar dois anos. Uma experiência que precisou de adaptação, depois de ter sido tão sonhada, segundo a mãe da menina, a biomédica Monnyk Ferreira, 25. "Ao chegar à porta da escola ela simplesmente se agarrou ao meu pescoço, iniciava aí o 'drama da separação', até pensei em desistir. Mas certa de ser uma conquista de independência vencemos os primeiros meses da batalha e a partir deste momento compreendi que não há vitória sem sacrifício", conta.
Mesmo na fase adulta, a relação entre mãe e filha, costuma ser próxima, mas não vital como é o caso dos bebês. A jornalista Chris Huggins, 43, convive com a saudade da filha Mariana, 24, que mora em Paris há quase um ano, onde foi estudar. A distância é compensada pelo orgulho da filha, que se aperfeiçoa na engenharia de produção. "Esta é a segunda vez que ela mora fora do país então foi mais fácil. Já sabia que poderia suportar a distância. Só de saber que ela está na Europa, conhecendo vários países, fazendo várias amizades, entres brasileiros e estrangeiros, aprendendo uma nova língua e se aperfeiçoando na profissão, fico muito orgulhosa."
Além disso, o filho mais novo, Gabriel, 16, mora com a jornalista e é quem dá um consolo nos momentos de saudade. "Nós morremos de saudade dela, ele mata a minha e eu a dele. Ainda bem que ele ainda está aqui ao nosso lado e trazendo amigos em casa, não deixando a saudade tomar conta do espaço", conta.