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A vida de um estudante do ensino médio se resume a uma rotina pesada, focada na preparação visando a conquista de uma vaga em Instituições de Ensino Superior (IES). Esse jovem, ainda no tempo escolar, é submetido a uma série de obrigações e escolhas ligadas à carreira profissional que podem, com o tempo, construir uma realidade de exaustão. Nesse ponto, conciliar a vida social com os estudos se torna um dos maiores desafios. Entender essa dinâmica e as pressões atreladas a eles pode contribuir para uma melhoria na saúde mental e física do vestibulando.

Nos anos finais do ensino médio, os estudantes acabam vivenciando uma rotina muito parecida: sair de casa logo cedo, encarar um trânsito intenso em direção à escola e conciliar com outras atividades como estágio, cursinhos pré-vestibular e revisão dos conteúdos. Com as obrigações, a volta à casa se estende para a noite, que ainda deve ser administrada com um sono regular.

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Eduardo Mota, 17 anos, tem seu dia a dia repleto de atividades. Estudante de uma escola integral na Região Metropolitana do Recife, o aluno passa a manhã e tarde na instituição. À noite, o pré-vestibular complementa a preparação do vestibulando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“Passo o dia fora de casa, mas quando retorno tenho que revisar todos os assuntos discutidos no dia. Preparo uma xícara de café e fico acordado até a hora que consigo resolver todas as questões pendentes. No outro dia, tenho que acordar cedo para ir à escola. É cansativo”, explica o estudante que ainda relembra as brincadeiras tiradas por seus amigos, por estar sempre cochilando durante os intervalos das aulas.

Dados do Censo da Educação Básica de 2017, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontam a média de horas-aula que estudantes do ensino médio têm diariamente nas escolas. De acordo com os números, alunos da rede privada passam mais tempo dentro do espaço escolar totalizando 5,5 horas. Já na rede pública, a média é de 4,9. “Para passar nos exames, é necessária uma preparação que vai além da escola. Há uma cobrança de conteúdos muito grande. Para isso, acabamos entrando em pré-vestibulares e ainda desenvolvendo uma rotina de estudos em casa”, pontua Eduardo. O jovem nos finais de semana se divide entre o trabalho em um lava-jato e a revisão de conteúdos.

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Com a rotina pesada, a exaustão física e psicológica é uma consequência para esses jovens que passam o dia fora de casa. Os fatores ainda podem contribuir no desenvolvimento outros problemas como a falta de preocupação com a alimentação correta e equilíbrio do sono. De acordo com a doutora em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento, Tatiana de Paula, o estresse dessa fase pode ser um grande fator de predisposição de comportamentos de risco. “Esse jovem sobrecarregado poderá reagir de forma negativa à essa pressão, com o desenvolvimento de depressão, ansiedade e outros problemas a exemplo da automutilação”, alerta Tatiana.

Essa realidade de sobrecarga é presente, também, no dia a dia do jovem David Nattan, 17 anos. “O que ocasiona isso são diversos fatores, entre eles a necessidade de uma boa colocação na sala de aula, a escolha de uma profissão e carreira de sucesso, além de, claro, conquistar a vaga numa boa universidade. Com toda essa situação, este ano tem sido um dos mais difíceis em minha vida. É muita pressão, tanto pela escola quanto pela família”, lamenta o estudante.

“O que você vai ser quando crescer?”

A pergunta é instituída desde os primeiros anos da escola. Seja a família, amigos e professores, esses atores sociais têm colocado em pauta a carreira profissional diariamente como uma necessidade de definição logo cedo. Essa pressão, quem vem da infância, acaba sendo intensificada nos anos finais do ciclo escolar. Supostamente, o jovem deve estar preparado para encarar as responsabilidades do ensino superior.

“Eu ainda não sei o que vou fazer profissionalmente. Fico numa cobrança muito grande, pensando muito na minha família. Ficar parado depois do ensino médio não é uma coisa bem vista socialmente. É esperada uma aprovação grande logo depois do terceiro ano. Não sei se estou preparado para isso. Essa situação me deixa muito desconfortável”, explica Victor Matheus, estudante de 16 anos de uma escola pública em Paulista, município da RMR. Ele ainda lembra que os amigos de classe, em sua maioria, já escolheram uma carreira a seguir.

Para Tatiana, esse processo de escolha logo na juventude pode deixar o estudante em uma situação que pode sobrecarregar as escolhas, tendo em vista a grande pressão que poderá ser instituída nesse processo precoce. “Ele poderá escolher erroneamente um curso, muito pela pressão do momento. É necessário que essa escolha seja realizada com calma. Uma boa alternativa é ir tentando entender a dinâmica de cada área e buscando conhecer os espaços de aprendizagem de cada uma delas”, acrescenta.

A especialista ainda traça como esse fato influencia negativamente na figura do jovem, que atrelado à pressão cotidiana dos estudos pode ter um agravamento da sobrecarga. “É costume da família cobrar desse estudante a escolha da profissão, ainda cedo. Essa relação é atribuída até a questão de status de determinada função. Hoje, o estudante além de estar preocupado com a sua formação na escola, deve estar atento às questões profissionais desde cedo”, explica.

Além da rotina e pressão por escolha de carreira, esse estudante tem as avaliações bimestrais que formam a sua nota no ano escolar. “É tanta cobrança em relação às notas que é impossível não se preocupar ou não se sentir mal quando não atende a determinada expectativa. Acho que a pressão ela ocorre independentemente de qualquer coisa. Mas acredito que no terceiro ano é algo muito pior. A direção espera sempre resultados melhores e melhores... Os professores, por vezes, terminam estimulando isso também”, afirma Laryssa Geovanna, de 17 anos.

Todos esses problemas encarados pelo dia a dia de um estudante podem ser contornados. O cansaço provocado pela rotina esbarra em uma problemática que preocupa profissionais da saúde. Tatiana explica que o processo pode ser revertido: é preciso, além de tudo, manter uma calma e não ir "com muita sede ao pote".

A especialista ainda afirma que todo o processo deve ser acompanhado pela família, que precisa oferecer ao estudante apoio e respiro, além de investir na promoção de outras atividades que possam, com o tempo, auxiliá-lo na ocupação da mente e no processo de retirada de sobrecarga emocional.

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