Tópicos | ditadura do Judiciário

Um dia após as delações dos ex-executivos da Odebrecht estremecerem o mundo político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à condução das investigações da Lava Jato. Em entrevista a uma rádio baiana, divulgada nas redes sociais, ele se colocou favorável a apuração dos fatos, mas voltou a questionar os vazamentos constantes “feitos de dentro da sala do juiz” e disse que o país não pode ficar subordinado a ditadura de “um pequeno grupo” do Judiciário.

“Estamos sendo governado lá de Curitiba, não tem sentido isso. Não está correto paralisar o país por conta de uma investigação. Não dá para um procurador passar uma 1h30 dando uma entrevista coletiva acusando o PT de organização criminosa, sem nenhuma prova. Mas vou enfrentar tudo isso. Na hora que julgarem algum crime meu, quero ser julgado. E se não encontrarem, que peçam desculpas”, argumentou. 

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“O que não é possível é vazamento acontecer de dentro da sala do juiz. E tudo é vazado e maneira muito seletiva. Cada autoridade tem seu jornalista preferido, e os advogados de defesa são os últimos a saber. Não podemos ficar subordinados a uma ditadura de um pequeno grupo do Poder Judiciário. Não é possível”, acrescentou o ex-presidente, dizendo que a sociedade está sendo “induzida pelo ódio”.

Mesada ao irmão de Lula

O ex-presidente aproveitou a entrevista também para se defender das acusações em benefício ao seu irmão, Frei Chico. Segundo o ex-diretor da Odebrecht, Alexandrino Alencar, a empreiteira pagava uma mesada a Frei Chico a pedido de Lula. 

"Eu nunca dei um real para meu irmão Frei Chico. Ele é mais velho do que eu, ele que me colocou na política. E agora inventam que a Odebrecht dava R$ 5 mil pra ele por mês? Ora, isso é problema deles. Acusam uma reforma em um sítio que não é meu... O mesmo com o apartamento do Guarujá, que não é meu. Mas a Globo passou três anos dizendo que era meu. Como que agora vai mudar?", indagou.

Na pauta de votação do Plenário do Senado, o fim do foro privilegiado tem dividido a opinião dos parlamentares e gerado discussões acaloradas sobre a harmonia dos três Poderes. Em conversa com o LeiaJá, para a série Entrevista da Semana, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) expôs duras críticas contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 10/2013, que versa sobre o assunto, e declarou ser contrário ao texto porque “é uma loucura” e “mostra que o país está num caminho de idiotização impressionante”. 

Para o petista, a alteração constitucional não preza pelo “equilíbrio dos Poderes”. “Hoje qualquer julgamento [de autoridades com o foro] é pelo Supremo Tribunal Federal [STF], ninguém vai dizer que o Supremo Tribunal Federal passa a mão na cabeça. Até passa muito na dos tucanos, mas não na nossa do PT. Imagina o grau de instabilidade política se um juiz de 1ª instância puder prender um ministro na fase de inquérito ainda, quando só existem suspeitas? É a ditadura do Judiciário no nome disso. Rui Barbosa dizia que a pior ditadura é a do Judiciário”, argumentou Lindbergh ao afirmar que nunca assinaria o pedido de urgência para a tramitação da matéria.  

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Indagado se a postura estaria relacionada ao seu nome constar na nova lista encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF para a abertura de inquéritos contra autoridades envolvidas no esquema de corrupção da Lava Jato, o senador negou e disse que o caso dele já foi arquivado uma vez e será novamente “até porque o STF é sempre muito duro com o PT”.  

“A questão não é essa. É pensar no sistema funcional. Essa tese de equilíbrio dos Poderes não fomos nós que criamos é uma das bases do sistema democrático que vem lá de trás. A gente dar peso a apenas um Poder em relação aos outros é uma loucura. Estamos acabando o país, este país está completamente parado e vamos ter um grau de instabilidade política gigantesca. Qualquer juiz de qualquer lugar querer prender o ministro da Casa Civil é um escândalo. Isso mostra que o país está num caminho de idiotização impressionante”, disparou.

Para reforçar a discordância do assunto, Lindbergh lembrou a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em março de 2016, por ocasião da 24ª etapa da Lava Lato. Segundo o senador, a ação “foi feita arredio da Lei”. O petista também apontou que têm movimentos, como o Vem Pra Rua que levará o assunto para manifestações marcadas em todo o país no próximo domingo (26), defendendo o fim do foro privilegiado “como se fosse a solução” para a corrupção, mas de acordo com ele “é preciso fazer este debate com menos superficialidade”.

Temer tem uma “verdadeira quadrilha em volta”

Lindbergh também conversou com o LeiaJá sobre as críticas que ultimamente têm pesado contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB) advindas, inclusive, da base aliada. Segundo ele, a conjuntura está dando um novo fôlego aos partidos da oposição e é um reflexo de que a gestão peemedebista “não se sustentará” até 2018. 

“O governo tem uma verdadeira quadrilha em volta. É um governo sitiado, chantageado por Eduardo Cunha, um verdadeiro desastre. Isso mostra que não temos uma elite, temos uma classe dominante que embarcou numa canoa furada como esta. Afastaram a presidente da República e colocaram o país nesta situação”, destacou. “Muita gente que acreditou em toda aquela tese de é só tirar a Dilma que Temer entraria, a economia voltaria a funcionar e os empresários reconquistariam a confiança está vendo o tamanho da crise que estamos entrando”, emendou.

Para o senador, um reflexo da dificuldade de Temer é visto no Congresso Nacional. Apesar da tentativa de apressar a aprovação de propostas que beneficiem o governo, as principais pautas que são as reformas estão enfrentando resistência até dos aliados. 

“Você vê aí a reforma da Previdência, no dia 15 houve manifestações grandes em todo o país e acho que ele não vai conseguir aprovar a reforma da Previdência. Se ele não conseguir aprovar, o governo cai. Cai por vários motivos, um deles é o aprofundamento da crise econômica. Só estão sustentado ele por causa das reformas e se ele não conseguir entregar as reformas ficará muito fragilizado, como já está pelas ameaças do Eduardo Cunha”, salientou. 

Lindbergh Farias esteve no Recife esta semana para lançar sua pré-candidatura à presidência nacional do PT e defender também que o partido esteja unificado para “enfrentar o governo Temer” e dar sustentação a postulação de Lula em 2018.

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