Quando pensamos em Horto Dois Irmãos logo vem a cabeça dos recifenses o encontro mágico com os animais, a flora e o contato ambiental que se espera ter em um zoológico. Porém, o que muitos não sabem, é que o horto chama-se Parque Estadual Dois Irmãos, e desenvolvem diversas outras atividades durante o ano que vão além da simples exposição dos animais.
Por exemplo, dentro de uma área de 384,42 hectares - sendo 14 ocupados pelo Zoológico do Recife - funciona o Centro Vasconcelos Sobrinho de Educação Ambiental (CEA), a Cidade das Crianças, o Zoo Aquário e as conhecidas trilhas ambientais, que levam os visitantes ao encontro com a natureza e com uma vasta reserva da Mata Atlântica de Pernambuco.
O CEA foi fundado há 40 anos pelo professor e pesquisador Petrônio Machado Cavalcanti, com o objetivo de divulgar estudos em Ciências Biológicas, Veterinária, Zootecnia e áreas afins. Dentro do centro, que envolve tanto a comunidade acadêmica (estudantes e professores da Fafire, da Universidade Federal e Rural de Pernambuco entre outras entidades recebem aulas orientadas no espaço) como a comunidade em geral, está incluída o Museu de Animais Taxidermizados – técnica conhecida popularmente como “empalhamento” de animais mortos –, aberto diariamente aos visitantes, das 8h às 17h.
“Com o passar dos anos, os animais empalhados vão se desgastando, as aves perdem as penas e não podemos ficar com esses animais neste estado expostos para a população. Estamos trabalhando para melhorar o museu e para dar um diferencial aos visitantes na área de educação ambiental”, afirma a bióloga Taciana Lauriano, coordenadora do CEA.
Foi devido a esse desgaste, ao longo do tempo, que o centro conta, atualmente, com apenas 100 animais empalhados, número bastante reduzido do quantitativo inicial: 1.500. “Acho que a estrutura em si do zoológico poderia melhorar tanto para os animais que vivem fora do seu habitat, quanto para os visitantes que, em muitos aspectos, não tem um atrativo certo. Seria bom ter uma melhorada em toda a estrutura presente no parque”, afirma a bióloga Ariana Melo. As espécies presentes no centro estão divididas entre animais oriundos da Caatinga (como a ave-carcará, a paca e o gavião-real) de Mata Atlântica (como o macaco mico-leão dourado e a coruja).
O fluxo de visitas de escolas públicas e particulares é bastante intenso durante a semana, e o parque recebe uma média de quatro a cinco escolas por dia. Mesmo com essa favorável quantidade de visitantes, o espaço Cidade das Crianças, que facilmente abrigaria atividades como contação de histórias, oficinas de arte e teatro ao ar livre, está em desuso.
Apesar de ter um espaço com uma estrutura considerável, as festividades acontecem isoladas e em datas comemorativas, como o Dia das Crianças (12 de outubro), na Semana do Meio Ambiente e na Semana do Índio (perto do Dia do Índio, em 19 de abril), e o parque recebe anualmente o grupo de índios da etnia Funiô, que durante os sete dias ficam acampados no parque. “Eles mostram para a população como funciona o cotidiano de seu povoado, sua cultura e os materiais artesanais que são fabricados por eles. É sempre um sucesso”, comenta Nichele Caroline, que realiza as trilhas ecológicas do parque.
O parque, que não tem um cronograma fixo de atividades voltadas para a cultura, não faz parte da programação de nenhum festival cultural da cidade, como o Treze de Maio e o Dona Lindu. Inclusive, o parque tem um teatro que está esperando verbas para poder funcionar. “Os visitantes precisam encontram algo novo no parque, um atrativo a mais, para que as visitas sejam realizadas constantemente e não somente em algumas datas do ano”, comenta a professora e freqüentadora Márcia Lira, de 30 anos.
VIDA AQUÁTICA NO PARQUE - Uma das atrações mais esperadas pelos visitantes é poder entrar no Zoo Aquário, que funciona a 10 anos no parque – mas há cerca de dois meses está fechado para manutenção. O aquário habita um tubarão da espécie Tubarão-Lixa, que tem mais de dois metros de comprimento. “O local não comporta mais essa espécie, estamos trabalhado e estudando uma forma de transferir o tubarão para outro local, sem que ele sofra tanto o impacto da mudança”, afirma o biólogo responsável pelo aquário, Alex Zanotti. Ele explica que o local também não é adequado para este tipo de tubarão, e que as espécies mais apropriadas seriam o tubarão focinho de porco e o tubarão bambu.
ENTREVISTA PERFIL – SILVINO PINTO
O engenheiro químico Silvino Pinto fotografa o Parque de Dois Irmãos a mais de 30 anos, e com seu acervo de fotos está na sua terceira exposição no parque. Fazendo com isso um trabalho de divulgação e levando a cultura para jovens e crianças que visitam o zoológico, Silvino presta um imenso serviço de educação ambiental para a sociedade por meio da sua fotografia.
Leia Já- Como nasceu sua vontade de fotografar, tendo em vista sua formação em engenharia?
Silvino Pinto: Minha vontade de fotografar vem desde o meu tempo de adolescência, quando iniciei com as câmeras mais simples daquela época. O encontro da engenharia com a fotografia consolidou essa relação, desde que a primeira me deu condições financeiras de estudar e comprar equipamentos e livros para o aprendizado (autodidata) da segunda.
Leia Já - E porque o zoológico é o centro da sua inspiração?
Silvino Pinto: O zoológico também foi sempre parte da minha vida, como fonte de entretenimento e de contato com a natureza. Os animais sempre me atraíram. Morava relativamente próximo ao Horto e visitava sempre o local de bicicleta com os amigos.
Leia Já- Como o senhor concilia as duas profissões? Existe dias certos para ir ao parque e horários para capturar as imagens?
Silvino Pinto: Conciliar foi fácil, pois na engenharia a fotografia é um ferramenta muito importante. Trabalhei bastante tempo de minha vida em uma empresa multinacional e por isso visitei lugares fora do Brasil e no sudeste do nosso país, quando a fotografia foi muito importante, pois registrava minhas viagens do ponto de vista da tecnologia e de culturas diversas.
Minhas idas ao parque, de início, foram sempre nos períodos que dispunha de tempo, pois o início é sempre difícil e o tempo de lazer durante muito tempo de minha vida foi bastante exíguo. Com o passar dos anos, me aposentei e aí sim voltei a frequentar o Horto intensamente, apaixonado que sou pela explosão da natureza que existe no local.
Leia Já - O senhor fotografa o parque há trinta anos. Qual foi a foto mais inusitada e qual a mais difícil de se fazer durante este tempo?
Silvino Pinto: Inusitadas e de grande dificuldade não sei especificar, pois com o advento da fotografia digital, hoje tenho um acervo de milhares de fotos. Muitas vezes levei anos para conseguir a foto de uma determinada espécie de ave, por exemplo, o caso de um socó boi, de um tipo de fungo que fiz uma foto e nunca mais ele voltou a aparecer (espero até hoje) e às vezes é difícil fazer fotos das grandes serpentes se alimentando com animais vivos.
Você tem que dominar suas emoções e capturar a melhor imagem que puder. Na boa fotografia o detalhe é que faz a diferença. O inusitado muitas vezes surge do seu conhecimento e da sua capacidade de conhecer aquilo que você quer fotografar com profundidade.
Leia Já- Como surgiu a ideia de fazer uma exposição com suas fotos no CEA, dentro do zoológico?
Silvino Pinto: Na verdade essa é a terceira exposição que faço no zoológico. A idéia partiu dos técnicos, biólogos e veterinários que conhecem meu trabalho e me convidaram a expor.