O termo doula é usado para classificar as mulheres que dão auxílio físico e emocional às mães antes, durante e depois do parto. Diferente dos médicos e parteiras, as doulas não executam nenhum procedimento médico. Seu acompanhamento é feito através de massagens, indicações de posições confortáveis na hora do parto, relaxamentos e tudo que torne a gestação em um momento de autoconhecimento e o mais prazeroso possível.
Este ano, em Maio (29), foi apresentada no auditório do Paço Municipal de João Pessoa uma reformulação no programa Doulas Comunitárias Voluntárias. Com a reforma, o acompanhamento que só acontecia no momento do parto, na Maternidade Cândida Vargas, poderá ser feito desde o pré-natal. E também poderão contar com uma roda de diálogos, um momento de aproximação entre profissionais de saúde, gestantes e mães.
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Algumas das leis sancionadas pelo governo da Paraíba em Março do ano passado (2016) foram em resposta às manifestações de muitas mulheres que buscaram seus direitos, não só na Paraíba, como em outras cidades do país. Afirmam que as maternidades e estabelecimentos de saúde que realizam atendimento obstétrico, sendo da rede pública ou privada, são obrigadas a permitir a presença dessas profissionais durante o pré-natal, o trabalho de parto, parto, pós-parto e sempre que solicitado pela parturiente. Essa presença não deve ser confundida com o direito a acompanhante. As maternidades particulares não podem fazer nenhuma cobrança adicional em relação à presença das doulas no período de internação e nem proibir a entrada de seus instrumentos de trabalho.
Para evitar a frieza dos hospitais e estar com pessoas desconhecidas em um momento tão especial, a professora Renata Escarião optou por um parto em casa, acompanhado por duas doulas e realizado por uma parteira. "Esse trabalho emocional é essencial. Minhas doulas me acompanharam durante a gravidez inteira" relatou Renata.
Devido a algumas complicações, seu parto não pode ser feito em casa, e por isso teve que enfrentar o preconceito de enfermeiras e, como a lei ainda não tinha sido sancionada, não foi permitida a entrada de suas doulas na sala de parto. "Elas não poderiam entrar na sala na hora do parto porque não faziam parte da equipe. Minha irmã é doula, entrou comigo como acompanhante, mas como doula o trabalho dela foi essencial para me acalmar, porque eu comecei a entrar em pânico por estar em um hospital. Não era o que eu queria, sofri preconceito porque algumas enfermeiras ficaram tripudiando porque eu vinha de uma tentativa de parto normal em casa. Minha irmã sabia que o que eu estava passando toda mulher passa, então ela usou toda experiência que tinha pra me tranquilizar, pra me ajudar e me dar segurança. E meu filho nasceu com ela ao meu lado", contou Renata.
Também ressalta a importância que o acompanhamento na hora do parto - principalmente em hospitais - tem para que a vontade da mulher seja respeitada, e que a cesariana passe a ser uma ação em último caso, apenas para facilitar o procedimento. "Fazer valer essa vontade da mulher hoje se transformou em uma luta, em um movimento mesmo. Sem dúvida isso faz parte do movimento das mulheres de fazer valer sua vontade, sua dignidade, para evitar a violência obstétrica", desabafa Renata, deixando claro que essa relação entre mulher e doula não é só uma questão de bem-estar, é um cuidado e um respeito com o desejo da mulher.
Heloa Aires foi uma das doulas que acompanhou Renata. Ela conta que foi depois de seu parto acompanhado por uma doula que decidiu continuar nesse universo de partos. "Fiz um curso de formação para doulas em 2013 e comecei atuando em hospitais, depois atendendo partos em casa com a parteira". Heloa já está trabalhando na área há quatro anos e afirma que com muitas mulheres consegue ter afinidades que se transformam em amizade, já que compartilham de momentos tão íntimos na vida de uma mulher. E para Renata não foi diferente: "uma relação que vai desde a gestação, o parto, o pós-parto e é para a vida toda", relatou.