Há alguns anos era difícil encontrarmos, na sociedade, mulheres empreendedoras. O papel de criar e gerir o próprio negócio estava restrito aos homens. A figura feminina ficava de fora desse contexto. O preconceito que as mulheres sofreram, ao logo do tempo, foi um dos causadores dessa restrição. No entanto, grande parte desse cenário ficou para trás e muitas delas superaram essas dificuldades.
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Brasil, atualmente, as mulheres estão buscando destaque no mercado empresarial assim como os homens. E, de fato, o quadro do empreendedorismo feminino mudou. Segundo o Sebrae, dos 21,1 milhões de pessoas que estão tomando conta de empreendimentos em estágio inicial ou com menos de 42 meses de existência no País, 49,3% são mulheres. Esses dados são da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010).
Para o orgulho nacional, a pesquisa revela que as brasileiras são umas das que mais empreendem no mundo. Segundo o estudo, a Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA) brasileira é de 17,5%. Esse percentual está acima da média histórica do Brasil (13,38%). A TEA é composta pela proporção de pessoas com idade entre 18 e 64 anos, que estão à frente de novas empresas.
O empreendedorismo feminino está crescendo em todo o mundo. Esse movimento se acentuou nas últimas décadas, especialmente devido à expansão do acesso à formação educacional de nível técnico e superior. Hoje, além dos tradicionais afazeres domésticos, elas querem se dedicar aos próprios negócios. Segundo o Sebrae, grande parte dos empreendimentos criados por mulheres são em pequenos negócios, nas empresas familiares e como profissionais liberais. A instituição também aponta que a figura feminina tem como principais características o conhecimento de mercado, a atenção ao planejamento e a capacidade para enfrentar os desafios do dia a dia.
Empreendedora da beleza
Mulher e beleza geralmente são sinônimos. E quando se juntam em um empreendimento, parece que as semelhanças se expandem ainda mais. Rosinha Leão, 43 anos, é um exemplo puro dessa mistura. Desde jovem, ela está envolvida com esse ramo. “Com 16 anos eu trabalhava num escritório e, ao mesmo tempo, vendia bijuterias”, conta Rosinha. No entanto, aquele tipo de comércio não expressava o objetivo de vida dela. “Eu queria algo mais. Também não queria trabalhar para ninguém”. Mais tarde, em um encontro com a sogra, veio o despertar para os negócios. “Fui almoçar com a minha sogra e vi o trabalho dela. Era com depilação. Na época, era muito caro. Passei um tempo aprendendo algumas técnicas e foi aí que descobri o que eu queria de verdade”, relata.
A empreendedora foi colocando em prática o que ela sabia sobre o serviço. “Fiz depilação em algumas amigas e elas adoraram. A clientela cresceu e eu comecei a atender nas residências das clientes”. O sucesso do trabalho foi tanto que ela começou a atender no salão de depilação da sogra. Ela conta que passou 10 anos no local e sempre estava atenta aos desejos dos clientes. “Escutava o que os eles queriam, e já começava a pensar em novos serviços”. Após esse período de trabalho, Rosinha resolveu investir em capacitação de técnicas de beleza. Daí por diante, ela abriu o próprio salão de estética, que até hoje fica localizado no bairro do espinheiro, no Recife. “O número de clientes aumentou consideravelmente, por issotive que contratar pessoas para trabalhar comigo. Procurei colocar vários serviços de beleza”, conta ela. O sucesso continuou firme, e a empresário investiu em outro salão, no mesmo bairro, incorporando ao negócio mais novidades do segmento. Ao todo, ela emprega atualmente mais de 20 pessoas. “Ainda tenho que administrar todo mundo. Mas, nem por isso, deixei de colocar a mão na massa”, revela.
A empreendedora já está firmada no mercado de beleza e se destaque no cenário empresarial. Inclusive, no início deste ano, ela foi uma das finalistas da edição estadual do Prêmio Mulher de Negócios. De acordo com Rosinha, ser uma mulher empreendedora é algo especial. “Ser mulher já é emocionante. É muito gratificante ver o resultado do nosso esforço”. Ela também destaca que para empreender, tanto o homem quanto a mulher, têm que ter coragem. “Eu acho que a vida é um risco. Empreender é um risco. Mas temos que ter confiança para realizarmos os nossos sonhos”, frisa Rosinha.
Tecnologia, mulher e empreendedorismo
As mulheres também estão por dentro dos avanços tecnológicos. É o caso da professora de biologia Vancleide Jordão. Com várias especializações, a professora conheceu o mundo tecnológico, mais especificamente a robótica, no ano de 1994, quando trabalhou em uma empresa do ramo. Foi um amor incondicional, que mais a frente se tornou um empreendimento. “A robótica surgiu na minha vida e eu gostei muito. Comecei trabalhando com pilhas e sucatas e logo viajei o mundo todo em eventos tecnológicos”, conta a professora.
Além de educadora, Vancleide se tornou uma empreendedora. Junto com outra professora de biologia, Vanja Jota, há cinco tiveram uma ideia. “A gente via a demanda de profissionais querendo trabalhar com tecnologia. Mas não bastava só computador. As crianças também precisavam brincar e estudar ao mesmo tempo. Assim criamos a Divertec, que é um espaço onde nós ensinamos a teoria da robótica e depois praticamos”, relata Vancleide.
A Divertec, que fica localizada no bairro de Casa Amarela, no Recife, se tornou um espaço educacional e de lazer, que atraiu a atenção de muitos estudantes. “Nós também temos brinquedos educativos, que fazem as aulas ainda mais prazerosas”, explica Vancleide. E não são apenas estudantes que frequentam a empresa, de acordo com a professora, profissionais fazem capacitação em robótica no local, que representa mais um dos serviços prestados no empreendimento. Atualmente, a Divertec já possui mais de mil clientes, além de prestar serviço em escolas que se interessam por tecnologia.
“A nossa alma educadora precisa investir na alma empreendedora. É ter coragem de realizar o que se pensa”, exalta Vancleide. A professora também conta que no mundo da tecnologia também há preconceito contra as mulheres, mas, ela explica como superar essa dificuldade. “A mulher sempre vai encontrar preconceito. No entanto ela tem que se capacitar e buscar especialização para se destacar”, aconselha a professora.
Perfil empreendedor
De acordo com Isabel Noblat, gerente de educação e orientação empresarial do Sebrae, “as mulheres são mais focadas do que os homens. Elas buscam oportunidades e fazem mais coisas ao mesmo tempo”. A gerente, no entanto, afirma que existem características comuns entre homens e mulheres, como planejar e acompanhar. Mesmo assim, Isabel destaca outro diferencial feminino. “A mulher tem uma capacidade muito grande de se adequar a mudanças. E esse é um forte diferencia.”, diz gerente.