Os manifestantes sudaneses acolheram com entusiasmo, neste domingo, o acordo alcançado para formar um conselho civil-militar de transição, que poderia pavimentar o caminho para o governo civil exigido nos protestos.
O acordo responde às reivindicações de milhares de pessoas que protestam há três semanas em frente ao quartel-general do exército em Cartum para exigir a transferência de poder para os civis.
Agora, eles esperam o estabelecimento efetivo do Conselho Conjunto anunciado no sábado, antes de decidir se devem ou não continuar com as manifestações. "Estou feliz com os resultados das discussões", disse Ahmed Nadji. "Mas estamos aguardando o anúncio da composição do Conselho".
"O que aconteceu é um passo em direção à implementação de uma autoridade civil", considerou Mohammed Amin. "Quando o governo civil for formado, poderemos dizer que estamos no caminho certo".
Para outra manifestante, Sawsan Bashir, "o acordo é um passo em direção à estabilidade do país". "Mas só vamos deixar de protestar quando um governo civil for formado". Segundo os ativistas, o Conselho será composto por 15 membros, oito civis e sete militares.
A atual agitação faz parte do movimento de protesto iniciado em 19 de dezembro para denunciar, a princípio, o aumento do preço do pão em um país muito empobrecido. Depois passou a exigir a saída do presidente Omar al-Bashir, finalmente deposto e detido em 11 de abril pelo exército.
Após a saída de al-Bashir, no poder por quase três décadas, os manifestantes mantiveram a pressão sobre o Conselho de Transição Militar, que tomou conta do país, para entregar o poder para os civis.
"Nós acordamos um conselho conjunto entre civis e militares", disse à AFP Ahmed al Rabia, representante dos manifestantes que participou das negociações.
O Conselho Conjunto, que substituirá o Conselho Militar liderado pelo general Abdel Fatah Al-Buhran, constituirá a autoridade suprema do país e será responsável pela formação de um novo governo civil de transição para gerir os assuntos da vida cotidiana e abrir o caminho para as primeiras eleições pós-Al-Bashir.
"Agora estamos em consultas para determinar a porcentagem de representantes civis e militares no conselho", acrescentou Rabia.
Os ocidentais e os países africanos pediram que o Conselho Militar de Transição, que permaneceria no governo por dois anos, transferisse o poder para uma autoridade civil.
Tendo julgado que a derrubada de Al-Bashir e sua detenção não foram "um golpe", o chefe do principal partido da oposição, Sadek Al Mahdi, advertiu no sábado que "o regime deposto ainda pode tentar dar um golpe de Estado".
Ele também pediu que seu país se junte "imediatamente" ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu mandados de prisão contra Al-Bashir por genocídio e crimes de guerra e contra a humanidade em Darfur, região oeste do país em conflito. Al Bashir sempre negou essas acusações.
O país, com cerca de 40 milhões de habitantes e cujas reservas de petróleo diminuíram em três quartos desde a independência do Sudão do Sul em 2011, enfrenta especialmente uma grave escassez de moeda estrangeira.