A cada três bolsas de sangue coletadas pelo Hemopa, uma é utilizada por alguém em tratamento contra o câncer. Os pacientes oncológicos representam, em média, 30% da demanda por sangue. Portanto, a doação de sangue tem relevância determinante para o bom andamento do tratamento desses pacientes em quase todas as etapas.
A própria natureza do câncer, em vários casos, e os tratamentos de radioterapia e/ou quimioterapia exigem muitas vezes transfusão de sangue para a reposição das células sanguíneas para correção de anemias, plaquetopenias e para manter a boa coagulação do sangue. “Principalmente nos tipos de câncer onco-hematológicos, como as leucemias agudas, por exemplo, quando é feita a quimioterapia, as taxas de hemoglobina, leucócitos e plaquetas baixam muito, e para que eles possam continuar fazendo o tratamento, precisam receber transfusões frequentemente. Outros tipos de câncer também têm essa necessidade transfusional durante o tratamento”, explica a hematologista Iê Bentes Fernandez, do Centro de Tratamento Oncológico.
##RECOMENDA##O consumo de plaquetas em um hospital oncológico é 70% maior do que em outro hospital, onde as hemácias normalmente são mais usadas nas transfusões. Por isso é necessária uma mobilização constante e com o maior número possível de doadores.
O administrador David Leon Serruya, de 64 anos, sabe bem a importância da doação de sangue, tanto para quem doa quanto para quem recebe. Ele doou sangue pela primeira vez aos 18 anos, para ajudar um parente. Depois disso, se tornou um doador de carteirinha, fazendo a coleta de sangue a cada três meses. Atualmente, é ele quem precisa receber o sangue doado por outras pessoas.
David foi diagnosticado com câncer retal e metástases no fígado e pulmão há dois anos. O primeiro ano de tratamento foi sem problemas, mas a partir de julho de 2021 a medula óssea foi afetada e a produção de células sanguíneas diminuiu. Foi quando David começou a fazer transfusões de sangue.
Ele faz controle das taxas de hemácias e sempre que é necessário faz transfusão de sangue. “Já fiz mais de 20, em dois anos de tratamento. Sempre peço aos amigos e familiares para doarem sangue nessas ocasiões, porque é importante para ajudar a manter o estoque de sangue. Infelizmente, nem sempre as pessoas estão disponíveis, por isso as campanhas de doação ajudam, e hoje tem a facilidade das redes sociais para conseguir mais doadores”, avalia David Serruya.
A campanha Junho Vermelho foi criada em 2015 pelo Ministério da Saúde para chamar a atenção da sociedade para essa necessidade real que depende da solidariedade de cada pessoa. Além disso, em 14 de junho é comemorado o dia mundial do doador de sangue.
A covid-19 também trouxe dificuldades para os hemocentros em todo o Brasil, devido ao baixo número de coletas de sangue. O número de doações diminuiu, em média, 20% durante a pandemia. No Pará, graças às campanhas, o comparecimento de doadores teve uma queda de 11%, menor do que a média nacional, conforme informações do Hemopa.
Novos doadores
O principal desafio continua sendo conscientizar a população sobre a importância e a necessidade de colaborar com esse trabalho, realizando a sua doação de sangue. E hoje o principal alvo é o público jovem, que são os principais multiplicadores da iniciativa.
De acordo com levantamento do INCA (Instituto Nacional do Câncer), entre 2019 e 2021, apenas 29% dos doadores estavam na faixa etária de 18 a 29 anos. A importância de o grupo mais jovem se tornar doador frequente é grande, uma vez que os doadores habituais estão atingindo a faixa etária limite para realização do procedimento, que é de 69 anos de idade.
No Pará, o Hemopa é o responsável por coordenar as ações de captação de doadores e distribuição do sangue doado. Para isso, o hemocentro possui postos de coleta em nove municípios do interior paraense, que funcionam como polos de distribuição para as cidades de todas as regiões. É constante o esforço para manter o estoque do banco de sangue em nível satisfatório para atender uma rede hospitalar composta por mais de 200 unidades em todo o Estado.
Segurança
A cada doação são coletados no máximo 450ml de sangue. Antes de efetivar a doação, cada doador voluntário passa por uma triagem com a realização de exames específicos para a eventual detecção de doenças transmissíveis, além do processo de fracionamento dos componentes do sangue.
É possível também realizar exclusivamente a doação de plaquetas – diferente da doação de sangue normal, o sangue é retirado com a ajuda de um equipamento que separa as plaquetas e devolve ao doador os outros componentes sanguíneos, de forma concomitante e segura.
Para doar sangue e plaquetas, é preciso:
•Estar bem de saúde.
•Portar documento de identidade com foto.
•Ter entre 16 e 69 anos.
•Pesar mais de 50 kg.
•Não ser portador de doenças crônicas.
•Não ter recebido transfusão de sangue e outros componentes no último ano.
•Ter repousado, pelo menos, 8 horas antes da doação.
•Não estar em jejum; não ter consumido alimentos gordurosos nem bebidas alcoólicas.
•Para doar plaquetas, por aférese, é necessário já ter doado sangue anteriormente, ter disponibilidade de tempo (o procedimento dura, em média, 90 minutos) e não estar fazendo uso de ácido acetilsalicílico (AAS).
•O intervalo entre doações de sangue é de 90 dias para mulheres e 60 dias para homens. A doação de plaquetas pode ser feita até duas vezes por mês
Por Dina Santos, do CTO, especialmente para o LeiaJá.