O governo do Vêneto anunciou os resultados da investigação de uma comissão externa especial que analisou casos de mortes e contaminações por uma superbactéria nos departamentos de Terapia Intensiva Neonatal (TIN) e de pediatria do hospital Donna Bambino no bairro de Borgo Trento, em Verona, na Itália.
Segundo as informações, que constam em um documento de 52 páginas, a presença da bactéria Citrobacter koseri nos locais foi considerada "um evento epidêmico" desde a abertura da estrutura, em abril de 2017, até o dia 17 de julho de 2020 - quando encerrou-se a análise e coletas de dados.
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Nesse período, foram constatados que nove recém-nascidos "desenvolveram uma patologia invasiva causada pela Citrobacter koseri" e, entre eles, cinco tiveram graves lesões cerebrais, sendo que quatro morreram.
"Estamos diante de uma infecção hospitalar com uma das bactérias mais terríveis que existem. Pode acontecer que nos hospitais existam infecções temporárias restritas, que somem, mas essa é uma história rastreável por meses, se não por anos", disse o governador da região, Luca Zaia, nesta quarta-feira (02).
A superbactéria é localizada em comida ou água contaminada. Além de recém-nascidos, ela ataca pessoas com imunodeficiência e bebês nascidos prematuramente, podendo causar danos no sistema nervoso, sepse e meningite.
O relatório integral não foi tornado público, mas alguns jornais locais conseguiram ter acesso aos documentos.
Segundo reportou o jornal "Il Post", a comissão revelou que o primeiro caso foi detectado em novembro de 2018, mas que durante todo o ano de 2019 não foram relatos casos pelo hospital. No entanto, neste ano, já há um aumento "considerável" nas notificações, muito provavelmente, pelo "aumento nas atividades de rastreamento".
"Nos primeiros cinco meses de 2020, foram afetados 33,6% dos recém-nascidos e, em alguns momentos, conforme relatos verbais, o índice de pessoas atingidas foi de 75% dos internados", diz o relatório.
O "Corriere del Veneto" diz que os pesquisadores não conseguiram definir de onde surgiu a contaminação, mas apontaram que o mais provável - conforme análises químicas realizadas - é que o departamento "se deparou com uma contaminação ambiental que levou a disseminação do patógeno".
Prova disso, sempre conforme o relatório, é que análises realizadas em junho deste ano mostraram a contaminação de torneiras usadas pelas equipes da TIN. Ainda não está claro se os funcionários usavam outros tipos de sanitização e se os visitantes do local também tinham acesso às torneiras contaminadas.
Outro ponto importante destacado pelos investigadores, é que a Azienda Opedaliera Universitaria Integrata Verona (AOUIV), que administra a rede sanitária do qual o Donna e Bambino fazem parte, nunca comunicou os casos da doença nem para o governo da região ou para a agência sanitária local. Segundo eles, as primeiras denúncias só apareceram para o público após a divulgação da imprensa, especialmente, do jornal "Arena", de Verona.
Os resultados da comissão, liderada pelo professor de Higiene e Saúde da Universidade de Pádua, Vincenzo Balda, serão entregues para a Procuradoria de Gênova - que foi quem primeiro recebeu a denúncia.
Em abril de 2019, Francesca Frezza denunciou o hospital após seu recém-nascido ficar doente. A menina foi transferida para outra unidade, o hospital Gaslini, mas não resistiu à infecção. Na autópsia, ficou constatado que a bactéria foi a responsável pela morte.
- Comissão interna: Além da equipe externa, também foi criada uma comissão interna, com membros da agência sanitária local para analisar o caso. No dia 12 de junho, toda a área obstetrícia do hospital foi fechada para desinfecção, sendo reaberta nesta terça-feira (1º/9).
Em entrevista à ANSA, Zaia ainda afirmou que deu ordem para que o relatório fique disponível tanto para a Secretaria de Saúde do Vêneto, como para a AOUIV, para a Procuradoria e também para os familiares das crianças afetadas.
Da Ansa