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Reunindo forças contrárias à flexibilização do Estatuto do Desarmamento, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, liderou um ato, nesta segunda-feira (23), para pressionar a reprovação do Projeto de Lei 3722/12 que versa sobre o assunto e está pronto para entrar na pauta de votação do plenário da Câmara dos Deputados a qualquer momento. A mobilização- que aconteceu no Palácio do Campo das Princesas, no Recife - foi endossada por diversas autoridades nacionais, entre elas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso (PT).

Observando o Estatuto como uma conquista da sociedade durante os últimos 30 anos, Paulo Câmara destacou a importância das forças políticas e sociais marcharem juntas pela “manutenção das conquistas”. “O Estatuto do Desarmamento fez com que os estados e municípios tivessem condições de enfrentar, com mais base, o desafio da violência pública. Sou testemunha de um esforço que Pernambuco fez nos últimos anos [para reduzir a violência]. Tivemos êxito, nos últimos nove anos, apesar dos anos de 2014 e 2015 que não têm sido satisfatórios nesta redução”, reconheceu.  

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Criticando a atual conjuntura política nacional, o governador observou a necessidade de reafirmar as políticas públicas e ampliar o diálogo entre os poderes "contra essa lei maluca". “É um momento para ter disposição ao diálogo, à transparência e ao trabalho. Isso vale para a segurança pública e todas as áreas que enfrentamos dificuldades. Pernambuco não vai abrir mão de buscar o diálogo, de propor alternativas e avançar nas políticas públicas”, garantiu Paulo Câmara que também é vice-presidente nacional do PSB. 

Sob a ótica do presidente do Senado, dizer que a flexibilização reduz a violência no país “é uma falácia, um engodo e uma mentira”. “O cidadão de bem armado será sempre surpreendido pelo bandido. Ela agrava a perspectiva dele ser a vítima”, asseverou Calheiros. Segundo dados repassados pelo peemedebista, atualmente a cada uma hora cinco brasileiros morrem e com a flexibilização a tendência é que esse número aumente e não reduza.  Renan deixou claro que no Senado, ele vai tentar barrar o projeto. “A sociedade não vai de forma nenhuma permitir que isso [a aprovação] aconteça”, completou. 

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Defensor ferrenho da manutenção do Estatuto do Desarmamento, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, destacou que a proposta de flexibilização é uma “insanidade”. Durante seu discurso, o representante do Governo Federal contou que na última semana foi interpelado por ministros da Justiça de outros países que compõem a OEA sobre o assunto e disse que não acreditava na aprovação “desse retrocesso”. 

“A força humanística do Brasil é mais forte do que o retrocesso. Neste ato vejo que não errei na resposta dada aos ministros. Estão aqui agentes de vários partidos, pessoas que muitas vezes se digladiam nas trincheiras políticas, mas quando toca o som da luta por valores maiores sabem estar juntos”, observou. “Esta é a chance que temos de dialogar contra a insanidade. Armas não são instrumentos de defesa, mas de ataque em qualquer circunstância”, acrescentou. 

Referência no país quando o tocante é segurança, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Beltrame, declarou que a revogação de algumas medidas do Estatuto é irracional. “Particularmente não consigo entender o motivo racional para aprovar isso. O cidadão de bem tem vergonha de andar armado, então vamos nos canalizar para melhorar a segurança do país inteiro. Temos que desarmar as pessoas”, argumentou o secretário. Ele fez questão de parabenizar o Estado pela iniciativa de tratar de um assunto tão delicado quanto à revogação do Estatuto.  

O PL 3722/12 permite, entre outras coisas, a redução de 25 para 21 anos da idade mínima para que um cidadão possa comprar armas. Pela proposta já aprovada nas comissões da Câmara, deputados e senadores poderão andar armados e pessoas que respondem a inquérito policial ou processo criminal também poderão ter posse e porte de arma de fogo.

Ainda não há previsão se o texto será votado pelo plenário da Câmara neste ano. "Isso está nas mãos do presidente Eduardo Cunha", informou o deputado federal Raul Jungmann (PPS). Um dos parlamentares pernambucanos que tem defendido da manutenção do Estatuto, Jungmann pontuou ainda que a flexibilização é impulsionada pela industria bélica brasileira, segunda maior do Hemisfério Sul. "A industria bélica financia esse propósito, visando apenas desregulamentação do mercado. Essa desregulamentação pode aumentar os lucros, mas vai aumentar também as mortes", alertou.

 

O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que o Estado não realiza patrulhamento dentro de estações da Supervia, apenas no entorno delas. "Nunca teve patrulhamento em estação de metrô nem de trens", disse ele. A declaração de Beltrame contraria a informação da Supervia de que o Estado é responsável pela segurança dentro das estações e vagões e atua dentro das dependências da concessionária por meio do Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer). Beltrame comentou o esfaqueamento sofrido pelo estudante Pedro Arthur Britto Santa Cruz, de 18 anos, dentro de um trem da SuperVia no último sábado, 30.

"O que o Estado faz são patrulhamento fora das bases da SuperVia. O que se pode fazer são os convênios que a gente faz do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis). A solução disso (do episódio de esfaqueamento) é prender e buscar a solução (do crime). A segurança pública tem que fazer a segurança do cidadão em lugares públicos. Nunca teve policiamento em estação do metrô nem dentro de trens", afirmou o secretário.

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A SuperVia, por outro lado, costuma informar que os agentes do GPFer atuam dentro de estações e vagões. "A concessionária esclarece que a segurança pública no sistema ferroviário é atividade típica e exclusiva do Governo do Estado, que atua nas estações e trens por meio do GPFer (Grupamento de Policiamento Ferroviário). Esta é uma das determinações do contrato de concessão. A Secretaria Estadual de Segurança Pública tem auxiliado no reforço das rondas ao longo do sistema", informou a concessionária no último sábado, quando questionada sobre o esfaqueamento do estudante.

Após um arrastão no dia 5 de março, a concessionária disse, em nota, que policiais militares realizavam patrulhamento dentro da Estação de trem de Madureira - o que segundo o secretário, não é feito - quando foram acionados diante da informação de um assalto em um trem em Bento Ribeiro. "Os policiais do GPFer operam diretamente na malha ferroviária e as outras unidades são empregadas no entorno das estações", afirmou a SuperVia à época. Nesta terça-feira, 2, a Supervia informou inclusive que, em acordo com a PM, o efetivo do GPFer foi aumentado de 50 para 90 policiais.

Sanção

Já o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, depois de lembrar o caso do esfaqueamento do estudante durante cerimônia de entrega de sedes definitivas de sete Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), na comunidade Chapéu Mangueira, em Copacabana, afirmou que vai sancionar "imediatamente" o projeto de lei, votado nesta terça-feira, que criminaliza o porte de armas brancas, como facas, no Estado. "É uma discussão que a gente vem pedindo para as casas legislativas desde o ano passado", destacou.

Nesta manhã, foi preso na casa da avó em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Michael Douglas Gonçalves da Silva, de 19 anos. Segundo a Polícia Civil, ele roubou e esfaqueou Pedro Arthur Britto Santa Cruz. Contra ele, foi cumprido um mandado de prisão temporária por tentativa de latrocínio. A prisão do suspeito havia sido decretada após solicitação da 24ª Delegacia de Polícia (Piedade) junto ao plantão Judiciário.

Já o estudante recebeu alta médica nesta terça-feira. Ele estava internado no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, zona norte, e passou por cirurgia. Segundo a família, Pedro pode ficar com sequelas motoras. Ele levou três facadas no ombro e no braço esquerdo e está sem sensibilidade em três dedos da mão.

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