Na noite desta quinta-feira (1°) o cantor e compositor Tico Santa Cruz, integrante da banda Detonautas, marcou presença em uma roda de debate do projeto Juventude E-NovAção, na Paróquia Anglicana do Bom Samaritano em Boa Viagem. O evento realizado pela ONG Visão Mundial, considerada a maior organização humanitária do mundo, propôs uma discussão sobre a interminável crescente do número de jovens negros assassinados no país. O bate-papo contou ainda com a participação do deputado estadual Ossesio Silva (PRB-PE) e Vanessa Barboza, representante da Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil (ANNEB).
Um dos idealizadores do encontro, Reinaldo Almeida frisou a seletividade dos dados sobre a violência entre jovens no país, cobrando medidas efetivas de origem política. “Não é qualquer jovem que tem morrido no Brasil. Os jovens vítimas de assassinato têm cor e classe: são rapazes, negros e moradores da periferia. E isso nos convoca, como organização de direitos, a mobilizar a sociedade pra chamar a atenção pra essa pauta e pra exigir dos governantes que tomem providências”, afirmou o diretor de operações da Visão Mundial.
##RECOMENDA##Ossesio Silva, que é líder da Frente Parlamentar de Combate ao Extermínio a Juventude Negra na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), defendeu que o momento atual é de evolução no enfrentamento ao racismo e à violência contra jovens negros no Estado. “Eu acho importante ouvirmos a sociedade, mas posso afirmar que vivemos um momento de progresso no combate ao racismo em nosso Estado, com a nossa Frente Parlamentar lutando para a criação de várias políticas públicas que possam beneficiar os mais vulneráveis”, salientou o deputado do PRB.
Referência para milhares de jovens, Tico Santa Cruz também destacou a urgência para que o racismo e os crimes de ódio sejam combatidos com maior veemência pela classe política e por todos os demais segmentos da sociedade. No debate, o músico falou que a luta não é exclusiva da população negra, partindo de seu próprio exemplo. “Muita gente pergunta o que eu, um ‘cara’ branco e de classe média, tenho a contribuir com esse debate. Sabe? Eu já tive do outro lado, um dia. Já reproduzi preconceitos dos quais hoje me arrependo porque as minhas experiências de vida me fizeram enxergar o quão errado eu estava. E se a minha música me fez ter alguma visibilidade, obter conquistas, o mínimo que eu posso fazer é usá-la pra endossar essa luta, que não é só da população negra, mas de todos nós”, declarou.
Confortável em dialogar com o público num templo religioso (e ainda cantar, lá, algumas músicas do Detonautas ao final), Santa Cruz elogiou o engajamento da igreja no debate, mas ressaltou que os esforços das instituições precisam ser intermitentes. “Eu acredito que o papel da igreja também é o de fazer essa reflexão, abrir as suas portas pra que todas as pessoas possam pensar juntas. Mas precisamos ocupar os espaços e os espaços precisam estar abertos para debates que envolvam os jovens pobres, negros e toda a população em risco”, considerou o músico. Na mesma toada segue Vanessa Barboza, que faz parte de uma organização ainda pouco conhecida no Estado, mas que já começa a dar frutos. Ciente da força que tem a igreja para o protagonismo de grandes mudanças sociais, ela busca cada vez mais alianças com jovens negros e negras evangélicos para que o comodismo e a passividade social não se instale nos templos. “Nós estamos nessa luta para que as igrejas sejam também um lugar de igualdade, de justiça social e racial”, concluiu.
[@#galeria#@]