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O longa-metragem escolhido para representar o Brasil na premiação do Oscar 2020 estreia hoje nas salas de todo o país. Premiado no Festival de Cannes, na França, no último mês de maio, “A Vida Invisível” chega às telonas brasileiras repleto de elogios da crítica especializada e do público. Dirigido pelo cineasta pernambucano Karim Aïnouz o drama, além de estar entre os preferidos a concorrer ao maior prêmio do cinema mundial, foi aclamado no exterior e vendido para entrar em cartaz nas sessões de mais de 30 países.

Baseado na história do livro “A vida invisível de Eurídice Gusmão” (2016), escrito por Martha Batalha, Aïnouz apresenta uma reverência às mulheres de uma geração que não se deixaram levar pelas pressões da sociedade dominante e do machismo que tentava controlar o ímpeto da juventude feminina nas décadas de 1940 e 1950. A história traz duas irmãs Guida (Julia Stockler) e Eurídice (Carol Duarte) com características de personalidade próprias, entretanto como cúmplices e muito próximas. Vista como inconsequente, Guida abandona tudo para seguir com Yorgus (Nikolas Antunes), o grande amor da sua vida, para o exterior. Enquanto isso, Eurídice alimenta o sonho de estudar música em Viena, na Áustria, para se tornar pianista.

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Forçada a não realizar seus desejos, Eurídice casa-se com Antenor (Gregório Duvivier), um cidadão comum do período. Grávida, Guida retorna ao Brasil e seu pai, Manuel (Antonio Fonseca), em uma atitude rigorosa vigente nas famílias tradicionais da época, a expulsa de casa sustentando uma mentira que pode separar as duas irmãs para sempre.

Para ter um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira em cena, o cineasta Karim Aïnouz teve que mudar o fim da história do livro que inspirou seu longa-metragem. A atriz Fernanda Montenegro surge no papel de Eurídice idosa, para fechar a história com o brilho peculiar de seus mais de 60 anos de carreira. Na trama, o momento é de descobertas emocionantes e corrigir desmandos do passado.

Em paralelo à campanha para que “A Vida Invisível” figure entre os finalistas do prêmio do Oscar em 2020 na categoria Filme Internacional, os produtores também tentam encaixar Fernanda Montenegro entre as indicadas na premiação às atrizes coadjuvantes. Vale a torcida!

"Dei à luz um varão". "Melhor para ele". Este eloquente diálogo entre uma mãe e sua vizinha faz parte do melodrama "A vida invisível de Eurídice Gusmão", em que Karim Ainouz denuncia o patriarcado no Brasil.

Em seu terceiro longa-metragem apresentado em Cannes, Ainouz volta à temática que mais o emociona: as mulheres, uma forma de homenagear sua mãe, que o educou sozinha, e a sua avó que viveu 108 anos e a quem consagrou seu primeiro trabalho.

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Baseado no romance homônimo de Martha Batalha, "A vida invisível de Eurídice Gusmão" narra a trajetória de duas irmãs cariocas nos anos de 1950, cujos sonhos são soterrados pelo peso de uma sociedade machista.

O destino traça caminhos muito distintos para Eurídice e Guida, mas as duas almas gêmeas compartilham a frustração de não poderem se realizar e a dor incomensurável de viverem separadas no Rio.

Eurídice, determinada a ser pianista, lutará durante anos para ser aprovada em um conservatório, embora seu pai e seu marido não sejam capazes de entender por que uma mulher não quer ficar em casa para cuidar da família. Guida é atingida pela desgraça ainda muito jovem, precisando formar uma família menos convencional.

O filme marca a estreia das protagonistas, Carol Duarte e Julia Stockler, no cinema.

- Dar esperanças -

"O livro de Batalha me marcou", explicou à AFP Karim Ainouz após a projeção nesta segunda-feira de seu filme na competição na seção "Um certo olhar".

"Minha mãe era solteira e, jovem, eu me dei conta de como foi duro para ela. Eu tinha a impressão de que as coisas haviam mudado nos últimos 30 anos para as mulheres, mas com tudo que está acontecendo agora politicamente no mundo e no Brasil vejo que regredimos", acrescentou.

No Rio de Ainouz nos anos 1950, uma mãe solteira não pode sair do país com seu filho pequeno porque a autorização do pai é indispensável. Uma jovem esposa que não quer se precipitar em ter filhos vive constantemente com medo que seu marido a engravide. Uma esposa já mais velha se cala quando o patriarca da família humilha sua filha.

O filme se trata de uma "denúncia do patriarcado e do dano que pode causar", resume Ainouz. "Mas quero evitar apresentar as personagens como vítimas e explorar suas possibilidades de resistência", afirma.

"Isso é o mais importante do cinema de hoje em dia: mostrar que é preciso resistir e dar esperanças".

Potente em sentimentos, o filme reforça visualmente seu caráter melodramático com uma grande densidade de cores e uma atuação mais característica do teatro.

Sua inspiração: as primeiras telenovelas dos anos 1970. "Tenho recordações maravilhosas daquelas séries, de seus atores que vinham em sua maioria do teatro. Mas até agora eu sentia um certo pudor na hora de retomar seu estilo: tem que ser muito cuidadoso para não fazer um filme sem graça".

Ainouz diz ter perdido o medo a deixar os sentimentos aflorarem.

"As telenovelas têm a força de chegar a um grande público e não é coincidência que se goste tanto delas no Brasil", conclui.

Foi divulgado, na manhã da segunda-feira (10), o trailer de Praia do Futuro, novo filme de Karim Aïnouz. O longa é um dos representantes brasileiros no Festival de Berlim e será exibido nesta terça (11).

A história gira em torno de Donato (Wagner Moura), um salva-vidas da Praia do Futuro, em Fortaleza. Ele comete um erro durante o resgate de um indivíduo que estava se afogando, e não consegue lidar com o fracasso. Donato conhece um amigo da vítima, o alemão Konrado (Clemens Schick), e resolve ir para Berlim recomeçar a vida. 

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No elenco também está o ator pernambucano Jesuíta Barbosa, que participou de Tatuagem e Amores Roubados. Karim também já dirigiu os filmes Madame Satã e Céu de Suely.

Berlim dá boas-vindas nesta quarta-feira (5) às estrelas do cinema mundial que chegam para assistir a 64ª Berlinale, que abrirá nesta quinta-feira (6) com a exibição de The grand Budapest Hotel, do americano Wes Anderson, e onde competirá um filme do Brasil. O representante brasileiro na disputa pelo Urso de Ouro, Praia do Futuro, é uma coprodução do Brasil e Alemanha, dirigido por Karim Ainouz e protagonizado por Wagner Moura. Filmado em 2012, o filme chega aos cinemas apenas no dia 1º de março.

Filmado em Fortaleza e na capital alemã, o longa conta a história da busca de um jovem por seu irmão que deixou a família para morar na Alemanha. Já o filme do diretor texano Anderson, que concorre ao Urso de Ouro, tem sido descrito como "uma comédia dramática" com personagens excêntricos, e no qual atuam Adrian Brody, o inesquecível pianista de Roman Polanski, Jude Law, Bill Murray, Edward Norton, Tilda Swinton e Lea Seydoux, entre outros.

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Lea Seydoux, que venceu o prêmio de melhor atriz do último festival de Cannes junto a Adele Exarchopoulos por Azul é a cor mais quente, do francês Abdellatif Kechiche (Palma de Ouro) também protagoniza La belle & la bête, adaptação para o cinema do clássico conto de fadas A Bela e a Fera, do francês Christophe Gans, junto a Vincent Cassel, que será exibida fora de competição.

Anderson, autor de sucessos como O fantástico Sr. Raposo e Três é demais, competiu em 2012 em Cannes com Moonrise Kingdom, uma história de amor entre duas crianças, na qual atuavam Edward Norton, Bill Murray e Tilda Swinton. Outros artistas esperados para a competição são Catherine Deneuve, Forest Whitaker, George Clooney, Bruno Ganz, Matt Damon e Uma Thurman.

"Todos somos indígenas"

A edição deste ano terá seção dedicada ao cinema indígena, com filmes de ficção, documentários e curtas-metragens focados em histórias de povos indígenas. O diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, expressou sua satisfação ao apresentar a segunda edição de Native: uma viagem pelo cinema indígena.

"A Berlinale segue com seu compromisso com o Cinema Indígena", declarou, ao fazer referência ao "choque de culturas que podemos sentir em muitos dos filmes da Berlinale este ano (...) tanto nas selvas brasileiras como nas paisagens da Nova Zelândia". "Entre o culto dos antepassados ​​e o celular há um grande abismo em que indígenas e não-indígenas podem se perder e, talvez, retornar às raízes para que possam tirar-nos deste pântano", acrescentou.

Kosslick explicou que nos filmes indígenas convidados para a Berlinale, "Há um encontro entre pessoas com passados ​​diferentes, com estruturas arcaicas que lutam para manter a paz com o mundo de hoje, com protagonistas que tentam definir a si mesmos e seu modo de vida". Será exibido durante a Berlinale A terra dos homens vermelhos, do chileno-italiano Marco Bechis, filmado em 2008 e que narra a luta dos indígenas brasileiros da etnia Guarani-Kaiowa para defender seus direitos.

Também serão projetados Feriado, do equatoriano Diego Araujo, e os curtas-metragens Filhos da Terra, do peruano Diego Sarmiento, e Só posso te mostrar a cor do seu compatriota Fernando Rodríguez Vilchez. O diretor do festival concluiu sua apresentação dos filmes indígenas citando o diretor australiano Warwick Thornton australiano: "Somos todos índios, tudo que temos a fazer é dar uma olhada para o passado distante".

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