Mesmo com a atual crise de popularidade do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), o PT do Rio permanecerá no governo estadual por cerca de, pelo menos, mais 60 dias - a próxima data provável para o desembarque, ainda incerto, deverá ser entre fim de outubro e início de novembro. A oposição manifestada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi decisiva para que o grupo ligado ao senador Lindbergh Farias, pré-candidato a governador, recuasse da intenção de deixar a administração fluminense em 6 de outubro. A data chegara a ser fixada como objetivo pelos seguidores do parlamentar, mas acabou abandonada diante das resistências da Direção Nacional petista, defensora da proposição de deixar o Executivo em conjunto com Cabral, no fim de dezembro.
Há pelo menos um mês seguidores de Lindbergh e o comando do PT nacional, tendo à frente o presidente Rui Falcão, protagonizam uma disputa em torno de quando sair do governo fluminense. O grupo de Lindbergh até tentou que a Executiva Regional se reunisse em 4 de agosto para marcar uma data para que o Diretório Regional petista decidisse pela saída do governo, mas desistiu - houve pressões de Falcão sobre o presidente regional, Jorge Florêncio. Dez dias depois, aconteceu nova tentativa. O senador se reuniu com algumas das principais lideranças do partido no Estado, na residência da deputada federal Benedita da Silva. Ali, fechou-se um acordo que se esperava definitivo.
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O acerto, também aceito pelos deputados Luiz Sérgio e Edson Santos, estabelecia uma data para decidir a saída (6 de outubro), um limite para o movimento (o PT deixaria o governo, mas não faria oposição) e um padrinho para ele (o ex-presidente Lula, a ser consultado). "Sintonia com Lula" foi uma das expressões mais faladas na reunião. Lindbergh insistiu na necessidade de o PT deixar a administração Cabral, mas repisou que antes conversaria com o ex-presidente sobre a iniciativa. Só depois, com o aval do ex-presidente, a proposição iria à Executiva Regional. Tudo acertado, a ação travou em Lula. Em encontro com Benedita, em São Paulo, ele manifestou sua contrariedade.
"Que pressa é essa?", perguntou o ex-presidente, lembrando que o governo federal investiu muito no Rio. Lula mandou um recado para Lindbergh: que tentasse combinar com o próprio Cabral um prazo para saída. Dias depois, em conversa telefônica com o próprio senador e pré-candidato, o ex-presidente pediu cautela. "Vamos conversar. Acho que você está muito apressado. Vai devagar", afirmou, segundo interlocutores de ambos no PT fluminense.
Embora não tenha imposto nada, Lula defende o mesmo que o comando nacional petista: que o partido fique no governo do Rio até dezembro. O objetivo é não romper com Cabral e deixar aberta a possibilidade de dois palanques para o governo federal no Estado. Por trás dessa postura, está o temor da direção do PT de que uma ruptura com o governador fluminense cause retaliações do PMDB nacional ao governo da presidente Dilma Rousseff e prejudique sua campanha à reeleição. Para Lindbergh, contudo, a permanência no governo fluminense, com a saída simultânea à do governador, em dezembro, é péssima. Com ela, avaliam, o PT não se diferenciaria de Cabral, que vive um vácuo de popularidade, e correria riscos. Um seria a perda de apoios. Outro, acabar levado a apoiar a candidatura de Luiz Fernando Pezão, vice-governador, à sucessão estadual.
Recuo
A posição de Lula está em sintonia com Cabral - um amigo e parceiro de seu segundo governo (2007-2010). Há cerca de 20 dias, os dois, que se falam por telefone, conversaram em São Paulo. Em encontro com deputados estaduais petistas, há mais de um mês, o governador disse querer o apoio do PT e afirmou que a aliança deve ser discutida somente em junho de 2014 - prazo final para as convenções, o que quase inviabilizaria uma candidatura própria do partido.
Diante da oposição de Lula, Lindbergh e seu grupo fizeram nova pausa. Desistiram da data de 6 de outubro para saída do governo e agora começam a conversar com as várias facções do partido no Rio. Semana passada, por precaução, negaram quórum a uma reunião da Executiva Regional, para evitar uma eventual votação surpresa que fechasse o caminho do senador para que o partido deixe o governo. Querem combinar com as tendências a data entre fim de outubro e início de novembro para a saída. Se o conseguirem, pretendem que a Executiva Regional a aprove - mesmo que Lula não goste.