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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se irritou ao ser questionado por jornalistas sobre uma eventual proposta para instituir uma moeda única no Mercosul.

"Não existe moeda única, não existe essa proposta, vai se informar primeiro", declarou Haddad, homem de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no comando da economia brasileira, na última quinta-feira (5).

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Dois dias antes, o embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli, disse que havia discutido com o ministro da Fazenda a criação de uma moeda comum no Mercosul, mas não única.

"Não significa que cada país não tenha a sua moeda, significa uma unidade para integração e aumento do intercâmbio comercial", afirmou.

A diferença entre uma moeda comum e uma moeda única é que a primeira não necessariamente substitui as divisas existentes em cada nação do bloco.

*Da Ansa

Defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último sábado, e já proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a criação de uma moeda única na América Latina é vista com ceticismo por especialistas. Ainda que a adoção de uma política monetária unificada em diferentes países possa resultar em uma maior eficiência, aumentando o potencial de crescimento dos mercado envolvidos, colocar uma medida dessas seria muito difícil dadas as discrepâncias econômicas entre países como Brasil e Argentina.

Por outro lado, analistas admitem que o sistema financeiro está mudando, criptomoedas ganharam força com as sanções implementadas contra a Rússia após a invasão da Ucrânia e os mercados passaram a buscar alternativas para não depender do dólar.

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Para o economista José Júlio Senna, do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), o primeiro desafio para criar uma moeda única, seja no Mercosul, seja na América do Sul, seria a determinação política. Na zona do euro, o projeto de unificação monetária tem suas raízes no pós-II Guerra Mundial, quando os países europeus buscaram uma reaproximação, e ganhou força com a reunificação alemã. "Sem motivação política forte, essa ideia não anda. Onde está a determinação aqui? Quem vai empurrar isso politicamente?", questiona.

DESAFIOS

Além da determinação política, os países enfrentariam o desafio de convergir suas economias: inflação e dívida precisam estar em patamares próximos para a adoção de uma moeda comum. Isso porque existiria também um único Banco Central com ferramentas reais para controlar a inflação. Hoje, enquanto o Brasil registra inflação de 11,3% nos últimos 12 meses, na Argentina, é de 55,1%

"A ideia de uma integração econômica mais profunda é atraente, o problema é que não fizemos ainda o dever de casa. Nem nacionalmente e nem regionalmente", diz o embaixador Marcos Azambuja, conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

A economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, destaca que os países têm arcabouços econômicos diferentes que dificultam uma convergência. A Argentina, por exemplo, não tem um BC independente, explica. "Antes de uma moeda única, os países precisam ter fluidez de mercadorias e mão de obra. Aí poderíamos começar a discussão de união monetária."

Ex-secretário de comércio exterior e sócio da BMJ Consultoria Associados, Welber Barral afirma que o processo de unificação de moedas seria complexo, assim como foi na zona do euro. Ele pondera que a ideia "não é ruim", pois permitiria uma certa independência do dólar, algo que a China também vem tentando e que ganhou relevância com a guerra na Ucrânia. "O mundo das moedas está mudando. O que vai ser não sabemos. Vamos ter de pensar em modelos de moedas escriturais, de criptomoedas, de compensação entre Bancos Centrais, antes de pensar que você vai ter conta corrente ou pagamento numa moeda comum."

De acordo com o pesquisador da Universidade Harvard Hussein Kalout, as criptomoedas podem ser "o futuro" das transações financeiras e de comércio entre os países, mas será muito difícil fugir do padrão dólar. "Especialmente tendo em consideração que boa parte das reservas brasileiras estão em dólar."

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que a ideia de uma união monetária entre Brasil e Argentina ainda é embrionária, mas avaliou que a eventual criação de uma moeda única na América do Sul poderia ser positiva para "todo mundo". Ele destacou que não sabe os fundamentos que baseiam a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro.

Inicialmente, Mourão evitou opinar sobre a intenção do presidente brasileiro e do presidente da Argentina, Mauricio Macri, dizendo que não participou do encontro no país vizinho. "Eu não estava nesta reunião, então não tenho dados pra te dar uma avaliação coerente sobre isso aí. A criação de uma moeda única, o Paulo Guedes (ministro da Economia) é quem entende mais disso aí", respondeu.

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Depois, ao ser questionado se a iniciativa poderia representar um avanço na relação bilateral entre os dois países, Mourão disse que, se for factível, poderia ser um "baita avanço".

"É óbvio que se houver possibilidade de ser factível isso, é um baita de um avanço, né? Você vê: a União Europeia tem sua moeda única, que é o euro. Se nós chegarmos aqui na América do Sul a um passo desse, acho que seria bom pra todo mundo", opinou.

Indagado se o Mercosul deve ser fortalecido, respondeu que sim. "Isso sempre. É o nosso entorno próximo", justificou.

Sobre o fato de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ter se posicionado contra a ideia da moeda única, Mourão ponderou que a iniciativa ainda é "uma coisa embrionária". "Quais são os fundamentos? Eu acho leviano, por exemplo, de minha parte dizer 'isso não serve, isso não presta'. Eu não sei quais são os fundamentos", reagiu.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a ideia apresentada nesta quinta-feira (6) na Argentina pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a empresários argentinos e brasileiros, de criar uma moeda comum entre os dois países que se chamaria "peso real".

No Twitter, Maia questionou a ideia: "será? Dólar valendo R$ 6,00? Inflação voltando? Espero que não", disse o deputado. Entre as interações com o post do presidente da Câmara, a maioria dos internautas criticou o posicionamento de Maia por duas vias. Há quem acuse de "fake news" a informação, embora o próprio presidente Jair Bolsonaro tenha falado sobre o "sonho de uma moeda única, como aconteceu com o euro lá atrás e pode acontecer aqui com o peso real"; e há quem apoie a ideia, acreditando que isso impulsionaria a economia dos dois países.

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Maia tem utilizado a rede social para tecer críticas ao governo e enviar recados. Na noite de ontem, o presidente da Câmara retuitou um post da jornalista Andréia Sadi no qual ela afirmava que o projeto de lei que prevê acabar com a multa para crianças fora da cadeirinha em automóveis não deve ser aprovado.

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