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A agenda de política econômica do governo de Michel Temer, a trajetória de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e, principalmente, a eficácia das medidas de ajuste fiscal no País para corrigir o crescimento da dívida pública estão entre os fatores que a agência de classificação de risco Fitch Ratings vai avaliar nos próximos meses no Brasil para determinar sua nota de crédito, disse a diretora para América Latina, Shelly Shetty.

A crise política e a crise econômica levaram o Brasil a ter três rebaixamentos da nota soberana em cerca de um ano, disse a diretora na conferência anual de ratings soberanos da Fitch na quinta-feira (15), em Nova York. "Olhando para frente, ainda vemos riscos de piora dos ratings da América Latina", disse ela, citando além do Brasil problemas em outros países da região, como Equador, Argentina e Bolívia. Ela destacou como uma questão comum em várias economias da região a piora fiscal, com a dívida dos governos em alta, além de piora do ambiente político em vários mercados.

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A América Latina está entrando em seu segundo ano de contração econômica e deve ter retração na casa de 1% este ano. Ao todo, seis países da região estão em recessão e a expectativa é que o Brasil volte a crescer em 2017, mas ainda em ritmo abaixo da tendência. "No Brasil, houve intensa contração do investimento por conta das incertezas políticas e econômicas", afirmou Shelly.

"A capacidade de resposta da política econômica e a credibilidade das ferramentas macroeconômicas serão críticas para determinar a trajetória do rating", disse Shelly, destacando que a análise vale não só para o Brasil, mas para outros países com situação mais complicada na América Latina. "Perspectivas de crescimento do PIB e trajetória da dívida são outros fatores."

"Vamos olhar a agenda de política econômica de novos governos na região", ressaltou a diretora da Fitch, citando Brasil, Argentina, Peru e República Dominicana. No caso brasileiro, Shelly destacou que um ponto que será especialmente monitorado é a eficácia do ajuste fiscal. "Vamos olhar como os desafios na política têm impacto na implementação e execução de políticas econômicas."

A coordenação política do governo se reunião na manhã desta quinta-feira (10) para discutir o rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P). Diferentemente do que acontece após essas reuniões, não houve pronunciamentos, no entanto o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deve falar com a imprensa ainda nesta tarde.

Em nota divulgada na noite dessa quarta (9), Levy reafirmou o compromisso do governo com a consolidação fiscal. “O governo entende que o esforço fiscal é essencial para equilibrar a economia em um ambiente global de incerteza e, juntamente com iniciativas microeconômicas, aumentar a produtividade do país e criar as condições para a retomada do crescimento na esteira do fim do boom das commodities”, disse.

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“O projeto de lei orçamentária para 2016 incorpora importante disciplina nas despesas discricionárias e esforços de gestão para reduzir as despesas obrigatórias.  O processo para se garantir a meta de superávit primário de 0,7% do PIB em 2016 será completado nas próximas semanas com o envio de propostas na área de gastos e receitas discutidas com o Congresso Nacional, em paralelo nos próximos meses a ações legislativas de caráter estrutural para aumentar a eficiência, previsibilidade e produtividade da economia”, explicou também em nota.

Participaram da reunião a presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Nelson Barbosa (Planejamento), Edinho Silva (Comunicação Social), Eduardo Braga (Minas e Energia), Gilberto Kassab (Cidades), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Também estiveram presentes os líderes do governo, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o deputado José Guimarães (PT-CE) e o senador José Pimentel (PT-CE).

A agência reduziu a nota de crédito do Brasil de BBB- (que representa grau de investimento médio) para BB+ (categoria de especulação). Ontem (9), após o anúncio do rebaixamento, Levy afirmou, em nota, que “o governo brasileiro reafirma seu compromisso com a consolidação fiscal”.

Com informações da Agência Brasil.

O Ministério da Fazenda divulgou nota na noite desta segunda-feira (24) criticando a decisão da agência Standard & Poor's (S&P) em rebaixar a nota de crédito do País. De acordo com o documento, a avaliação da agência de rating é "inconsistente com as condições da economia brasileira" e "contraditória com a solidez e os fundamentos do Brasil". O ministério afirmou que, embora a S&P tenha alegado que uma das razões para o rebaixamento foi o crescimento econômico do País, o Brasil teria crescido 17,8% no período da crise internacional, iniciada em 2008. "É uma das maiores taxas acumuladas de crescimento entre os países do G-20. No ano passado, o País cresceu 2,3%, desempenho superior à maioria dos países deste grupo", informou a nota.

A Fazenda também se defendeu da avaliação fiscal feita pela S&P, julgando-a não procedente. O ministério argumentou que o Brasil tem feito um dos maiores superávits primários do mundo nos últimos 15 anos. "Em 2013, cabe salientar, fizemos um superávit primário de 1,9% do PIB, suficiente para reduzir o endividamento público, tanto bruto (de 58,8% do PIB para 57,2% do PIB) quanto líquido (de 35,3% do PIB para 33,8% do PIB)", relatou o documento. A nota ainda classificou como equivocada o questionamento da S&P em relação à suficiência do Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil. O ministério destacou que o Brasil tem estado entre os cinco maiores receptores mundiais desse tipo de investimento e citou os US$ 65,8 bilhões que entraram no País nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro deste ano. Para a Fazenda, a economia brasileira tem baixa vulnerabilidade externa, pois possui o quinto maior volume de reservas internacionais no G-20.

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"Não se justificam também as suposições quanto à trajetória do investimento no Brasil", respondeu o documento, que citou o programa de infraestrutura que deve mobilizar US$ 400 bilhões nos próximos anos. "Vale destacar que o investimento cresceu 6,3% em 2013 (o segundo maior do G-20), em linha com a média de expansão da última década", acrescentou a nota. Por fim, o ministério ressaltou que a agência manteve a condição de grau de investimento da nota brasileira, com perspectiva estável. A Fazenda listou as razões que levaram a S&P a manter essa avaliação, citadas pela própria agência em nota distribuída à imprensa no início da noite desta segunda-feira.

"Independentemente de quaisquer avaliações, reafirmamos nosso compromisso com o cumprimento da meta de superávit primário de 1,9% do PIB neste ano, com a continuação da consolidação fiscal neste e nos próximos anos, com a prioridade ao investimento e com a promoção do crescimento sustentável de longo prazo", concluiu o documento.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa, disse nesta segunda-feira (24), que o governo considerou "natural" e "encarou com tranquilidade" a decisão da agência Standard & Poor's de rebaixar, nesta segunda-feira, a nota de crédito soberano do Brasil em um nível, passando de "BBB" para "BBB-". Ele justificou que as empresas têm "outros interesses" ao tomar esta decisão e cita que isto não reflete a situação real do País de hoje.

Para o senador Costa, "o Brasil permanece na condição de país de baixo risco de investimento e continua com seus pressupostos econômicos bastante sólidos". Ele acrescenta ainda que esta decisão "reflete um cenário que não é mais um cenário de hoje, e sim um cenário de uma verdadeira de enxurrada de avaliações negativas, de pessimismo, e que não leva em consideração o que está acontecendo nesses primeiros meses do ano, quando temos aí o crescimento do emprego, crescimento do PIB, que deve ser confirmado nos próximos dias, crescimento industrial, e continuamos com a inflação sob controle".

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As declarações do senador foram dadas no Planalto, após reunião com a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, sobre a pauta do Congresso nesta semana. Tentando desdenhar da decisão da empresa de classificação de risco, o senador Humberto Costa acrescentou ainda que "essas agências ainda tem explicações a dar para o mundo, porque foram essas agências que indicavam os investidores que aplicassem em bancos e empresas americanas na época em que houve aquela bolha e que várias empresas e bancos quebraram e com eles muitos acionistas".

Sugerindo que a decisão tem interesses econômicos e até eleitorais, o líder do PT afirmou também que "é óbvio que essas notas não são uma coisa absolutamente inocente", que não são "imparciais". Para ele, "essas agências também refletem interesses de especuladores".

Questionado a quem interessava, neste momento, rebaixar a nota do Brasil, o senador respondeu: "eu acho que, nesse momento, se trava um grande debate no ano eleitoral". Obviamente, que a oposição se sente bastante confortável com isso, quando jornais estrangeiros se manifestam sobre a situação do Brasil, do ponto de vista que não é uma forma inocente".

De olho na alta dos juros, os investidores estrangeiros aumentaram a compra de títulos públicos do País, ajudando a mitigar o ritmo de crescimento do déficit externo em fevereiro. Esse movimento, porém, tende a perder força com o rebaixamento da nota de crédito do País, depois que a agência de rating Standard&Poor's informou nesta segunda-feira (24) que os papéis do governo são menos confiáveis.

Dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que no primeiro bimestre do ano passado os estrangeiros compraram US$ 304 milhões em títulos de renda fixa no País. Nos dois primeiros meses deste ano, o valor cresceu para US$ 5,9 bilhões - sendo US$ 2,6 bilhões somente em fevereiro. Com isso, o rombo do País com o exterior fechou o mês passado em US$ 19 bilhões, abaixo do previsto pelo mercado. Segundo o BC, o déficit deve atingir US$ 80 bilhões no final deste ano, ante uma projeção anterior de US$ 78 bilhões. Em 2013, o déficit foi de US$ 81,4 bilhões.

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No acumulado de 12 meses até fevereiro, o buraco ficou em 3,69% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior desde fevereiro de 2002, quando atingiu 3,94%. Para especialistas, o aumento dos juros e a retirada total do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), em junho de 2013, foram decisivos para o maior ingresso de capital estrangeiro em portfólio, que ajudou a frear o crescimento do déficit externo. Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, defende que esses não foram os únicos motivos. "Não teríamos esse nível de ingressos se não houvesse confiança no País", afirmou.

Ingresso - A piora da classificação brasileira pela S&P, hoje, deve, segundo especialistas, afetar o movimento de ingresso de recursos no Brasil. O mercado, no entanto, não fala em fuga de capitais, mas em desaceleração de ingressos. A mudança também aumenta as chances de prolongamento do processo de aperto monetário e parte dos investidores começa a apostar em uma alta de 0,5 ponto porcentual na taxa básica (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 1 e 2 de abril. Até então, as expectativas eram de um ajuste menor, de 0,25 ponto porcentual.

Bruno Rovai, economista do Barclays, explica "que a alta taxa de juros do Brasil", que passou de 7,25% ao ano em abril de 2013 para 10,75% em fevereiro deste ano, foi um importante atrativo. Ele concorda, porém, que outros fatores também influenciaram. "Houve uma série de indicadores de atividade que diferenciaram o Brasil de outros emergentes, como os dados de comércio do primeiro bimestre e o IBC-Br (indicador de atividade do BC), que veio melhor que o esperado no fim do ano passado", disse. Mauro Schneider, economista-chefe do CGD Securities, faz avaliação semelhante. "Há indicações de que os juros tiveram influência, mas não podemos descartar outros elementos", observou.

Revisões - A deterioração nas estimativas do déficit externo, de acordo com dados divulgados pelo Departamento Econômico do BC, foi determinada pelas expectativas em relação à balança comercial, cuja previsão, para o ano, caiu de US$ 10 bilhões para US$ 8 bilhões.

Ao mesmo tempo em que aumentou a projeção para o déficit nas contas externas, a instituição manteve inalterada as expectativas de ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED) em US$ 63 bilhões. A diferença maior entre o IED e o déficit vai exigir que o País cubra a diferença, de US$ 17 bilhões, com recursos de outras fontes, normalmente de investimentos estrangeiros em ações e renda fixa, também chamado de capital especulativo.

 

A decisão da agência Standard&Poor's de rebaixar a nota de crédito do País comprova os erros cometidos pela presidente Dilma Rousseff na condução da economia. A avaliação permeou a reação de líderes de oposição nesta segunda-feira (24). O presidente do PSDB e pré-candidato tucano à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), disse que o rebaixamento é resultado de erros em série.

"Infelizmente aconteceu o previsto e o País teve sua nota de crédito rebaixada pela Standard & Poor's. A decisão coroa uma temporada de equívocos cometidos pelo governo da presidente Dilma Rousseff na área econômica, mas não só nela", afirmou, em nota, o tucano.

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Para Aécio, a revisão do rating tende a encarecer o crédito para o País no mercado internacional e "afetar ainda mais as perspectivas de desenvolvimento". "O histórico de manipulações contábeis, o descuido com a boa aplicação dos recursos públicos, a leniência com a inflação, a ineficácia na realização dos investimentos necessários para destravar o país, em contrapartida aos exorbitantes gastos correntes, explicam, com sobras, a indesejada decisão."

Segundo o presidenciável tucano, o rebaixamento comprova a perda na confiança no Brasil. "Tamanho retrocesso não é obra que se constrói ao acaso. É fruto de desacertos diários de um governo que, até hoje, mais prejudicou do que ajudou o Brasil", avaliou o senador.

Deputados - Líderes partidários na Câmara dos Deputados engrossaram as críticas. "Evidente que o Brasil economicamente não caminha bem. Não tem uma gestão de qualidade que olhe para o médio e longo o prazo. É uma gestão que provoca uma desorganização econômica no País. Coloca por água abaixo todo o trabalho que tivemos nos últimos 20 anos, com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a estabilidade econômica", disse o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).

O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), disse não ter sido surpreendido com o rebaixamento da nota do Brasil. "Vejo com tristeza, mas sem surpresa, pela gestão sofrível da presidente Dilma à frente do governo", afirmou ele. O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que trava uma batalha com o Palácio do Planalto e derrotou o governo em votações importantes, desta vez não quis abrir mais uma frente de polêmica. "Não quero me pronunciar por enquanto".

Já o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), disse que o rebaixamento reflete a estagnação da economia brasileira. "Dilma e Mantega estão colhendo o que plantaram. A presidente está esfacelando a credibilidade econômica do País."

No Senado, o presidente do Democratas, senador Agripino Maia (RN), disse que se trata de um sinal de alerta. "O país é rebaixado em função dos macronúmeros, alguns bons outros ruins, mas na soma o resultado é negativo. Acendeu a luz amarela em matéria de investidores estrangeiros do Brasil, no momento em que estamos deficitários deles", completou.

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, sócio da Tendências Consultoria Integrada, afirmou nesta noite de segunda-feira (24), ao Broadcast, serviço de notícia em tempo real da Agência Estado, que o rebaixamento do Brasil pela Standard & Poor's (S&P), anunciado hoje, sinaliza que sem medidas corretivas por parte do governo, principalmente na questão fiscal, o País pode perder o grau de investimento. "Foi menos mal, porque o Brasil ainda não perdeu o grau de investimento, mas fica sinalização forte que isso pode ocorrer caso não sejam tomadas medidas corretivas pelo governo, principalmente nas questões fiscal e de crescimento", disse. "Se governo não der sinais fortes de que está havendo uma correção de rumo, pode haver novo rebaixamento pela frente", completou.

Loyola considerou o anúncio da S&P já esperado e antecipado pelo mercado, mas avaliou a decisão como negativa, pois poderá afastar novos investimentos. "Os investidores tomam em consideração essa classificação de risco nas decisões", afirmou.

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Para o ex-presidente do BC, a mudança na perspectiva do rating da dívida do Brasil de "negativa" para "estável", também anunciada pela S&P, tira o horizonte de um novo rebaixamento em 2014, mas não alivia a pressão sobre o País. "Antes de um possível novo rebaixamento, a S&P deverá observar o desenrolar da política econômica nos próximos meses e nas eleições. Mas não dá para ficar tranquilo, porque é difícil, mas não impossível, um novo rebaixamento sem mudança na perspectiva de rating", concluiu.

Alerta - Como a agência de risco S&P rebaixou a nota de crédito do Brasil para BBB- com perspectiva "estável", em vez de "negativa", a reação do mercado "pode não ser tão dura", afirmou hoje José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista-chefe da gestora Opus. Ainda assim, uma depreciação no câmbio e uma elevação nos juros pagos pelas empresas brasileiras nos mercados internacionais deverão ocorrer. "Aumenta o mau humor", comentou José Márcio.

O fato de a nova nota ter perspectiva "estável" é importante porque evita a possibilidade de o Brasil perder o "grau de investimento" num prazo mais curto. "A perspectiva estável garante que haverá mais um alerta antes de perder o grau de investimento", disse José Márcio.

O economista se disse pouco surpreso com a decisão da S&P, dado que já considerava em suas projeções o rebaixamento. Os motivos também não são novidade. As incertezas sobre a política fiscal e os impactos da crise do setor elétrico nas contas públicas são os esperados destaques. Nesse quadro, o problema, segundo José Márcio, é que a meta de superávit primário de 1,9% do PIB, anunciada pelo governo, é muito difícil de ser atingida.

No caso dos efeitos sobre as empresas, o rebaixamento deverá elevar as taxas de juros no mercado internacional para todas as empresas. No entanto, a Petrobras tem um caso "muito específico", dada sua forte relação com o governo. "É muito possível que a Petrobras seja rebaixada", disse José Márcio.

Questão fiscal - Para o economista-chefe do Banco J.Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, o rebaixamento do rating do Brasil pela agência de classificação de risco S&P é decorrência da questão fiscal brasileira. Segundo ele, a S&P via o Brasil com "uma situação estruturalmente mais desafiadora do ponto de vista das contas públicas".

Para Kawall, o cenário em que o Brasil cresce menos do que já cresceu, na faixa dos 2%, dificultou uma trajetória fiscal saudável, em função do aumento das despesas. "Isso coloca desafios para a trajetória, já que o País está crescendo menos de que crescia no governo Lula", citou. "Além disso, nos últimos anos tivemos sinalizações de menor comprometimento do governo no cumprimento da meta fiscal."

Apesar de o governo ter anunciado recentemente uma meta fiscal para 2014 considerada "factível" por alguns analistas, com membros da equipe econômica sinalizando maior comprometimento com as contas públicas, Kawall acredita que esta ação foi tardia e não mostrou, para a S&P, uma "mudança qualitativa de postura". "Entre os problemas que chamaram a atenção está também, sem dúvida, a questão do setor elétrico", acrescentou o economista.

No entanto, apesar de a S&P ter rebaixado o rating em moeda estrangeira de longo prazo do Brasil de BBB para BBB-, o País não perdeu o chamado "grau de investimento". Além disso, a perspectiva do rating do País passou de "negativa" para "estável", o que foi bem visto por Kawall. "A decisão tira a dúvida sobre se o downgrade poderia ocorrer com perspectiva negativa. Já sabemos que é estável e que, no curto prazo, não há risco", comentou.

Na prática, diz o economista, a tendência é de que não ocorra novo rebaixamento no curto prazo, o que mantém o Brasil na faixa de grau de investimento e, em tese, minimiza os efeitos negativos sobre o mercado financeiro. Ainda assim, Kawall prevê certo "mau humor" para os mercados amanhã.

 

 

Uma combinação de fatores, que inclui a piora das contas fiscais e das contas externas, fez a Standard & Poor's (S&P) rebaixar nesta segunda-feira (24), o rating soberano do Brasil, de acordo com a diretora responsável por Brasil na agência de classificação de risco, Lisa Schineller, em uma teleconferência para comentar a decisão.

A deterioração nos indicadores do Brasil vem ocorrendo nos últimos anos e minou a credibilidade do governo na condução da política fiscal, destacou Lisa na teleconferência. "A credibilidade do governo para a condução da política fiscal se deteriorou", disse ela. "Políticas econômicas mais consistentes, no lado fiscal, dando maior clareza nas contas, na trajetória da dívida", destaca Lisa, seriam fatores que ajudariam na melhora do rating brasileiro, que ficou com perspectiva "estável".

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Em ano eleitoral, a diretora da S&P destaca que a capacidade do governo brasileiro de fazer ajustes em sua política fica ainda mais complicada. Lisa disse que será difícil o Brasil conseguir alcançar a meta de superávit primário de 1,9% este ano.

O Brasil vai continuar com crescimento baixo nos próximos anos, se expandindo menos que seu potencial. Para 2014, a S&P prevê expansão de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Em meio a esta projeção, as perspectivas para as contas fiscais também continuam fracas, disse ela.

Lisa lembrou que a S&P colocou a nota brasileira em perspectiva negativa em junho do ano passado e pouco mudou no País desde então. Os indicadores externos, por exemplo, continuaram a se deteriorar, destacou na teleconferência.

Um dos principais fundos de índices (ETF, na sigla em inglês) do Brasil sentiu rapidamente o baque do anúncio do rebaixamento do rating brasileiro nesta segunda-feira (24). O iShares MSCI Brazil Index, mais conhecido pela sigla EWZ, virou completamente após a notícia e, depois de subir mais de 1% durante o pregão, perde mais de 1,5% no after market.

De acordo com as cotações da Bolsa de Nova York, o ETF brasileiro era negociado às 19h (de Brasília) com queda de 1,57%. O desempenho pode ser uma amostra do comportamento da Bolsa de Valores de São Paulo amanhã.

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A tendência de queda observada na última meia hora é completamente contrária ao movimento observado no pregão tradicional, antes da decisão da S&P, quando o ETF terminou com valorização de 1,18% em um movimento que acompanhou o Ibovespa. Em São Paulo, o principal índice da bolsa brasileira terminou o dia em alta de 1,29%.

Segundo os gestores, entre os papéis com maior peso no fundo de índice brasileiro estão Itaú Unibanco (7,96% da carteira), Ambev (7,91%), Petrobras (5,97%), Bradesco (5,78%) e Vale (5%).

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não quis comentar no início da noite desta segunda-feira (24), a decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor's de rebaixar o rating de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil de "BBB" para "BBB-".

Mantega chegou ao Ministério da Fazenda após participar de uma reunião com banqueiros e a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto.

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A inadimplência média nas operações de credito livre voltou a subir em outubro, ao passar de 5,3% em setembro para 5,5% no mês passado. Segundo dados apresentados hoje pelo Banco Central (BC), o nível de calote dos empréstimos voltou ao patamar verificado nos meses de dezembro de 2009 e janeiro de 2010, quando a inadimplência estava, igualmente, em 5,5%.

Segundo o BC, a alta da inadimplência em outubro ocorreu especialmente nas operações para empresas, cujo índice subiu de 3,8% para 4,0% de um mês para o outro. Nas operações para pessoas físicas, a taxa subiu, mas em ritmo menor, de 7,0% para 7,1%.

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