Tópicos | Operação Fratelli

A Justiça poderá devolver aos investigados da Operação Fratelli todos os objetos apreendidos, inclusive computadores, arquivos e milhares de documentos contábeis. Em despacho de quatro páginas, o juiz Evandro Pelarin, do Fórum de Fernandópolis, interior paulista, fixou 9 de setembro como data limite para a devolução dos bens sob argumento de que ainda não foi apresentada denúncia criminal nem pedido de arquivamento dos autos pelo Ministério Público Estadual.

A Fratelli foi desencadeada em 9 de abril e desmontou a chamada Máfia do Asfalto - suposto esquema de propinas infiltrado em 78 prefeituras da região noroeste do Estado. Fraudes em licitações com recursos de emendas parlamentares teriam provocado prejuízo de R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Dezenas de prefeitos e ex-prefeitos, além de deputados estaduais e federais, são citados na investigação.

##RECOMENDA##

O principal alvo da missão é o empreiteiro Olívio Scamatti, preso em caráter preventivo. A operação teve duas frentes, uma sobre desvios de verbas federais, liberadas por convênio com ministérios, e outra de âmbito estadual, por envolvimento de servidores municipais.

O Ministério Público Federal denunciou 19 suspeitos perante a 1ª Vara Federal em Jales, também no interior paulista, referentes a acusações de desvios do dinheiro saído da União.

Uma eventual denúncia perante a Justiça estadual, referentes às verbas dos cofres paulistas, é de responsabilidade dos promotores do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), núcleo São José do Rio Preto. Passados quase 100 dias, isso ainda não ocorreu. O prazo considerado "razoável" para manter sob custódia para perícia computadores e documentos contábeis é 120 dias. Se nesse prazo não for proposta denúncia criminal os bens podem ser devolvidos.

O juiz Pelarin, da Justiça estadual, anotou: "Considerando a data da operação de busca e apreensão, dia 9 de abril, a quantidade de bens apreendidos e a necessidade de perícia em computadores, telefones e documentos em geral, e, por outro lado, o transcurso do tempo até aqui e a necessidade da posse dos bens por quem foi afetado (com as buscas), por razoabilidade, não tendo sido oferecida a denúncia nem apresentado pedido de arquivamento, fixo o dia 9 de setembro como data limite para devolução de todos os objetos apreendidos pelo Gaeco, MPF e Polícia Federal."

Os promotores do Gaeco João Santa Terra Júnior e Evandro Ornelas Leal consideram "natural a fixação de prazo pelo juiz para devolução dos bens". Eles destacam que a retenção dos itens recolhidos pelo MP estadual "ocorre apenas pela necessidade de se extrair os elementos de prova necessários para subsidiar futura ação penal". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Justiça Federal em Jales, interior de São Paulo, ainda não decidiu sobre pedido de sequestro de bens de suspeitos de envolvimento com a Máfia do Asfalto - grupo acusado de fraudar licitações em 78 municípios da região noroeste do Estado de São Paulo com recursos de emendas parlamentares. Há duas semanas o bloqueio foi requerido pela Procuradoria da República, que pede o sequestro de R$ 36,4 milhões, "montante apto a satisfazer a lesão causada aos cofres públicos", segundo o Ministério Público Federal em Jales.

Investigadores do caso temem que os alvos da Operação Fratelli, deflagrada há quase um mês, se desfaçam de seu patrimônio. Foram captadas correspondências por mensagens de texto de celular entre alguns integrantes da Máfia do Asfalto nesse sentido. O Grupo Scamatti & Seller, controlado pelos réus, estaria orientando clientes que adquiriram imóveis no Residencial Campo Bello a suspender os pagamentos das prestações.

##RECOMENDA##

O sequestro de bens visa garantir ressarcimento do prejuízo aos cofres públicos.

Os autos da Operação Fratelli revelam ligações próximas dos acusados com um núcleo extenso de políticos. São citados pelo menos dez deputados federais - como José Mentor (PT) e Edson Aparecido (PSDB) - e quatro estaduais de São Paulo, como Roque Barbiere (PTB), que, em 2011, denunciou esquema de venda de emendas parlamentares envolvendo "entre 25% a 30%" dos deputados paulistas.

O Ministério Público Federal em Jales pediu que a Justiça Federal determine o sequestro dos bens de 13 dos 19 denunciados. O pedido, classificado como urgente pelo Ministério Público Federal, foi protocolado dia 19 de abril. Passadas duas semanas, entretanto, a Justiça Federal em Jales ainda não se manifestou sobre a solicitação. Os réus respondem pela prática dos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica e fraude em licitação.

Fraudes em licitações

 

A Máfia do Asfalto é acusada de corromper agentes públicos e fraudar licitações para a contratação de serviços, especialmente de pavimentação e recapeamento asfáltico em 78 prefeituras da região noroeste do Estado. O valor dos desvios pode ter alcançado a cifra de R$ 1 bilhão. No dia 16 de abril, o Ministério Público Federal em Jales denunciou 19 investigados.

O procurador da República Thiago Lacerda Nobre, autor da denúncia criminal e do pedido de sequestro de bens, explicou que o valor dos convênios federais sob suspeita chega a R$ 36,4 milhões somente na região de Jales. "O pedido de sequestro dos bens tem como objetivo garantir que, em caso de condenação, esse dinheiro efetivamente retorne aos cofres públicos", ressalta.

"Notadamente quanto a eventual saldo em contas bancárias e aplicações financeiras, o risco é ainda maior, o dinheiro pode ser transferido, sacado ou utilizado para outros fins a qualquer momento", adverte o procurador.

O criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende Olívio Scamatti, afirma que o empreiteiro não cometeu fraudes e que não existem provas contra ele.

O criminalista Fábio Tofic Simantob, que defende o lobista Osvaldo Ferreira Filho, o Osvaldin, ex-assessor na Câmara e na Assembleia do deputado Edson Aparecido - atual chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB) - disse que seu cliente leva "uma vida modesta" na cidade onde reside, Uchôa (SP).

Por meio de sua Gerência de Imprensa e Comunicação, a Petrobras Distribuidora comunicou que não iria se pronunciar sobre o contrato em Mauá (SP). A Prefeitura de Mauá informou que o projeto e a obra são de responsabilidade da administração anterior (Oswaldo Dias, do PT).

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) suspeita de "eventual privilégio" e aponta "falhas comprometedoras" em procedimento de subcontratação pela Petrobras Distribuidora (BR Distribuidora) que favoreceu a Scamatti & Seller Infraestrutura Ltda, do Grupo Demop, apontado como carro chefe de suposto esquema de corrupção e licitações dirigidas que se alastrou por 78 municípios do Estado de São Paulo.

##RECOMENDA##

"Cabe esclarecer que o trânsito pesado de veículos e as fortes chuvas causam desgaste e deterioração do asfalto nas vias públicas o que justifica a constante necessidade de manutenção por parte do poder público", destaca a Secretaria de Comunicação Social da Prefeitura. "O contrato foi firmado com a BR Distribuidora e a obra realizada de acordo com o projeto e prazos estipulados."

Oswaldo Dias, ex-prefeito, não foi localizado. O criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende Olívio Scamatti, reagiu enfaticamente às suspeitas contra o dono da Scamatti&Sellero. "Está se tornando da maledicência enfadonho verificar a subjetividade com que são formuladas as acusações contra a Scamatti. Fala-se em privilégio, mas não se concretiza nada. Fala-se em falhas comprometedoras, mas quais são elas? É como se entrássemos no terreno da maledicência para supostamente fazer justiça, quando na verdade interesses mesquinhos de concorrentes podem estar por traz com o intuito de prejudicar quem sempre trabalhou bem e com seriedade." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Petrobras Distribuidora, subsidiária da Petrobras, repassou uma licitação de R$ 22 milhões que venceu na prefeitura de Mauá (SP) para a empresa Scamatti & Seller Infraestrutura (antiga Scamvias), de propriedade do empreiteiro Olívio Scamatti, acusado se ser o chefe da chamada Máfia do Asfalto. O serviço, feito em 2012, consistiu no recapeamento asfáltico em 60 quilômetros de ruas e avenidas do município.

A qualidade da obra está sob investigação do Ministério Público estadual. Os contratos que culminaram com a subcontratação da Scamatti & Seller passam por um pente fino do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Ao determinar à prefeitura, "em respeito aos princípios do contraditório e da isonomia", que informe sobre "a cessão de uso de prédio público" à empresa subcontratada, o conselheiro relator do caso, Edgard Camargo Rodrigues, apontou para "eventual privilégio ocultado das demais interessadas em participar, ou que participaram, do certame". Após a licitação, a Prefeitura cedeu um prédio municipal à Scamatti & Seller para que ela se instalasse na cidade para as obras.

##RECOMENDA##

O TCE suspeita de "eventual privilégio" e aponta "falhas comprometedoras" em procedimento de subcontratação pela Petrobras Distribuidora (BR Distribuidora) que favoreceu a Scamatti & Seller Infraestrutura Ltda, do Grupo Demop, apontado como carro chefe de suposto esquema de corrupção e licitações dirigidas que se alastrou por 78 municípios do Estado de São Paulo.

A BR foi contratada em 2012, por R$ 22 milhões, pela gestão Oswaldo Dias (PT) para obra de recapeamento de ruas da cidade de Mauá, na Grande São Paulo. No curso dos trabalhos, porém, a estatal do governo federal transferiu a obra para a Scamatti&Seller, controlada pelo empreiteiro Olívio Scamatti, preso há três semanas pela Polícia Federal como o cabeça das fraudes.

Os autos da Operação Fratelli - missão integrada da Polícia Federal e do Ministério Público - revelam ligações próximas de parlamentares petistas com Scamatti, entre eles o deputado José Mentor (PT-SP). A investigação aponta para um homem identificado por Marcos, que seria assessor do deputado. Ele teria se encarregado do repasse de uma obra da BR Distribuidora para o grupo de Scamatti.

O TCE ainda não julgou o contrato - a investigação está em fase preliminar, com manifestações das assessorias técnica e jurídica da corte de contas. A auditoria aponta que a Prefeitura de Mauá ainda cedeu um prédio para a Scamatti. Amparado nesses relatórios, o conselheiro de contas Edgard Camargo Rodrigues, relator, determinou à Prefeitura, "em respeito aos princípios do contraditório e da isonomia" que preste esclarecimentos sobre a "noticiada cessão de uso de próprio municipal à empresa subcontratada por configurar eventual privilégio ocultado das demais interessadas em participar, ou que participaram, do certame". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O deputado estadual Carlão Pignatari (PSDB) negou ontem categoricamente qualquer vinculação com as empresas de Olívio Scamatti, empreiteiro preso pela Polícia Federal sob acusação de chefiar a Máfia do Asfalto. "Não sou, nem nunca fui dono ou sócio de qualquer uma das empresas pertencente a família Scamatti", declarou o tucano. Pignatari disse que tem conhecimento de que chegou a ser investigado entre 2008 e 2010. "Porém, nada restou provado contra minha pessoa, pois não tenho qualquer envolvimento com o caso. O próprio Ministério Público não teve interesse em prosseguir com as investigações", afirmou o tucano.

Ele relatou que, no cargo de prefeito de Votuporanga, chegou a fechar contratos com a Demop. "Sim, porque esta sagrou-se vencedora de algumas das licitações a qual concorreu", disse o tucano por telefone. Sobre a testemunha protegida do Ministério Público, Carlão Pignatari afirmou: "Essa testemunha apenas disse imaginar uma situação que não é verdade, volto a insistir; não sou proprietário tampouco sócio de qualquer empresa da familia Scamatti".

##RECOMENDA##

O tucano contou que conhece e é amigo de infância de Scamatti. "A relação que temos é que o Olívio (Scamatti) e seu pai Pedro foram funcionários de empresas da minha família. Por isso, acabamos criando um vínculo de amizade, que dura mais de 30 anos. Desde agosto do ano passado, eu e o Olívio, por um problema pessoal, não nos falamos, mas mantenho amizade normal com seus irmãos e pais."

Pignatari é um dos vários parlamentares citados na Operação Fratelli. Integrantes de vários partidos aparecem nas escutas telefônicas realizadas pela Polícia Federal. O tucano, assim como outros parlamentares, não é alvo formal do Ministério Público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma testemunha protegida pelo Ministério Público de São Paulo afirmou que o deputado estadual Carlão Pignatari (PSDB) é sócio oculto da Demop, do empresário Olívio Scamatti, acusado de chefiar um esquema de fraudes em licitações para obras em cidades paulistas pagas com dinheiro de emendas parlamentares. O depoimento consta do autos da Operação Fratelli, deflagrada no início do mês.

A oitiva foi feita em 28 de julho de 2008 e o depoente é identificado nos documentos apenas como "testemunha A".

##RECOMENDA##

O depoimento foi tomado pelo promotor Gilberto Ramos de Oliveira Júnior, que então integrava o Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de São José do Rio Preto.

"É de se destacar também a notícia da existência de um outro envolvido que até o momento não foi pesquisado, qual seja, o sr. Carlos Eduardo Pignatari, que segundo noticia a testemunha ouvida às fls. 180/181 seria o real proprietário das empresas referidas nos autos", escreveram os investigadores do caso em junho de 2009.

Segundo eles, era necessário buscar os "elementos bancários e fiscais" de Pignatari para averiguar a veracidade das declarações da testemunha, "a qual", escreveram, foi "reforçada" por escutas telefônicas.

"Grande parte dos diálogos coletados são travados com o mencionado investigado (Carlão), que inclusive é apelidado pelos empresários como ‘padrinho’".

Pignatari chegou a ser alvo dos grampos quando não teve foro privilegiado - ele foi prefeito de Votuporanga entre 2001 e 2008 e assumiu mandato na Assembleia em 2011 -, mas em julho de 2010 os promotores desistiram de monitorá-lo.

Um mês antes, o promotor Paulo César Neuber Deligi escreveu em um despacho que corria no Gaeco de Rio Preto um "procedimento investigatório criminal sobre um grande esquema de fraudes em licitação", e que a investigação "teve início no ano de 2008, quando o então prefeito de Votuporanga, Carlos Pignatari, tornou-se suspeito de engendrar a criação de empresa em nome de terceiros para participar e vencer processos licitatórios na cidade".

"Muito embora fosse administrada por terceiros, era ele, Carlos, o principal beneficiário das divisas ilicitamente obtidas", escreveu Deligi. "Para tanto, teria se valido de pessoas de sua confiança, ex-empregados, como, no caso, Olívio Scamatti, que gerenciou por anos o frigorífico avícola de Pignatari".

Formalmente, a Demop não tem nem nunca teve Pignatari como sócio. O jornal O Estado de S. Paulo revelou em 21 de abril que a Demop era uma empresa pequena quando Carlão se elegeu prefeito e cresceu quando ele deixou o mandato. O capital social saltou de R$ 100 mil, em 1999, ano da fundação, para R$ 10 milhões em fevereiro de 2009. Carlão nega qualquer relação empresarial com a Demop e seu proprietário. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

"Vê se você resolve, eu tô no desespero", disse o deputado Vander Loubet (PT-MS) em telefonema ao empreiteiro Olívio Scamatti, preso pela Operação Fratelli, da Polícia Federal e do Ministério Público, sob acusação de chefiar organização criminosa que fraudou licitações em 78 municípios do interior de São Paulo com recursos de emendas parlamentares. A frequência e o conteúdo das conversas fazem com que a PF e a Procuradoria avaliem que, dos detentores de foro privilegiado citados na investigação, o caso de Loubet é o mais grave.

Para os investigadores, o apelo de Loubet mostra o poderio de seu interlocutor. Embora use linguagem cifrada e evite nomes, o petista diz na ligação ao controlador do Grupo Demop - principal beneficiário do esquema de corrupção que se espalhou pela região noroeste do Estado - que vai se encontrar com "o governador daquele Estado".

##RECOMENDA##

O contato entre o deputado e Scamatti foi interceptado pela PF no dia 12 de março, às 12h51. "(o governador) Chega hoje à noite e tá querendo conversar amanhã de manhã com nós, se você puder vir e, mais do que isso, o nosso amigo lá do Rio vai vir aqui também, vai almoçar comigo e se você estiver aqui pra tentar matar aquele negócio, que eu tô precisando resolver com ele aquilo, sabe, o diretor lá. Eu queria dar uma prensa naquele negócio lá, sabe?"

Parlamentares

Loubet é um dos deputados federais do PT e do PSDB citados na investigação que desarticulou a "Máfia do Asfalto", instalada em gestões municipais. São apontados Cândido Vaccarezza e José Mentor, ambos petistas por São Paulo, e Edson Aparecido (PSDB), atual secretário-chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Ao fazer o apelo "desesperado" a Scamatti, o petista Loubet diz: "Eu sei a situação, eu não sou de ligar, mas eu tô desesperado, rapaz, sabe o negócio lá... já venho empurrando, empurrando". O empreiteiro responde secamente: "Pode deixar".

Em ligação de 19 de fevereiro, às 12h17, o deputado e Scamatti falam sobre "liberação do transporte de asfalto". O petista diz que "vai estar amanhã com o ‘cara’" e pergunta ao dono da Demop se "tem alguma coisa que ele (Scamatti) queira que veja com ‘ele’". Cauteloso, Loubet não cita nomes. O empreiteiro responde que "precisa ver aquele negócio do processo lá que não anda, está travado com o pessoal dele". O petista diz "pra deixar que vai dar uma chorada pra ele amanhã".

Por meio de sua assessoria, o deputado disse que "é complicado se manifestar sem ter acesso à integra dos autos da investigação". Ele admitiu que conhece o empreiteiro, mas afirmou que "não tem nenhum tipo de relação política ou comercial com ele". Vander Loubet lembrou que Scamatti é de São Paulo e ele, do Mato Grosso do Sul. "Não recebi doação do grupo empresarial Scamatti." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministério Público Federal em Jales enviou nesta quinta-feira à Procuradoria-Geral da República cópia integral dos autos da Operação Fratelli. Os documentos contêm transcrições de interceptações telefônicas que citam pelo menos oito deputados federais.

A Procuradoria-Geral vai examinar a menção aos políticos para decidir sobre eventual abertura de investigação. Seis deputados são citados em conversas telefônicas de terceiros, empresários e lobistas, gravadas pela Polícia Federal: Arlindo Chinaglia, José Mentor e Cândido Vaccarezza, todos do PT, Aldo Rebelo (PC do B), hoje ministro do Esporte, Marco Feliciano (PSC) e Otoniel Lima (PMDB).

##RECOMENDA##

Outros dois parlamentares caíram no grampo indiretamente, demonstrando proximidade com o empresário Olívio Scamatti, apontado pela Procuradoria da República como chefe de quadrilha: Vander Loubet (PT-MS) e Edson Aparecido (PSDB-SP), hoje chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin. Eles não estavam sob monitoramento, nem sob investigação, mas seus contatos com Scamatti fazem parte dos autos da Operação Fratelli.

Dois deputados estaduais, Roque Barbiere (PTB) e Gilmaci dos Santos (PRB), estão na lista de parlamentares citados. O primeiro caiu no grampo dizendo que poderia arrumar emenda de R$ 250 mil para um lobista. O outro empregou o filho de Osvaldin na Assembleia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O empresário Olívio Scamatti, apontado como líder da "máfia do asfalto", esquema de fraudes em 78 municípios do interior de São Paulo, foi preso na manhã desta quinta-feira pela Polícia Federal. A ordem de prisão contra Scamatti e outros 12 suspeitos de integrarem a quadrilha foi decretada pela Justiça Federal a pedido da Procuradoria da República. Ele já havia sido preso no último dia 9, por decisão da Justiça Estadual, mas no início desta semana o Tribunal de Justiça revogou aquela ordem de prisão.

O Ministério Público Federal também investiga o caso porque identificou desvios de verbas federais, direcionadas para prefeituras da região noroeste do Estado. No dia 9, promotores de Justiça de São Paulo e procuradores da República haviam deflagrado a Operação Fratelli, para desmontar um esquema de fraudes em licitações de contratos para pavimentação pública. Nesta terça, 16, o procurador da República Thiago Lacerda Nobre requereu a prisão preventiva do grupo.

##RECOMENDA##

Relatório da Operação Fratelli, desencadeada na semana passada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, mostra que o grupo acusado de fraudar licitações em prefeituras da região noroeste do interior paulista cita o uso de emendas do deputado e líder do governo Dilma Rousseff na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT). Os documentos transcrevem telefonemas de Gilberto da Silva, o Formiga, apontado como "lobista do PT" na região de São José do Rio Preto. Frequentemente, ele faz menção a Chinaglia e declara o apoio que teria prestado a dois ex-assessores do parlamentar petista, candidatos em 2012 na eleição municipal de Ilha Solteira, cidade do interior.

O relatório da operação também cita outro deputado do PT, José Mentor (SP). Segundo a investigação, ele é próximo de um dos integrantes do grupo sob investigação, Jair Émerson Silva, o Miudinho. Mentor recebeu doação de R$ 550 mil, na campanha de 2010 da empreiteira Demop, controlada pelo empresário Olívio Scamatti, denunciado como chefe da quadrilha que se infiltrou na gestão de 78 prefeituras.

##RECOMENDA##

Um grampo de 1.º de outubro, às 16h30, pegou Gilberto contando a um aliado sobre suposto encontro com Chinaglia e Toninho do PT, ex-assessor do petista por oito anos que foi eleito vereador de Ilha Solteira. "Deixa eu falar um negócio para você, o Toninho e o Arlindo estiveram comigo sábado à tarde, rapaz do céu, se você vê o que ele tem do chão preto, já tá tudo na mão, é pra colocar, ele tem uns compromissos."

No dia seguinte, às 9h46, Gilberto caiu no grampo com "Roberto", de Mirassolândia. Ele diz que se reuniu com Toninho do PT. "Ele (Toninho) disse que dá para pôr um monte de recurso lá." Gilberto completa que "a gente tem um monte de prefeitura na mão" e diz que possui "estrutura física e jurídica, acesso em Brasília". Afirma que no fim de semana "carregou o Arlindo para todo lugar na região". "O Arlindo vai ter cinquenta milhões de reais em emendas extraparlamentares prometidos pela presidente Dilma porque ele é líder dela na Câmara dos Deputados", diz o lobista. "Isso dá pra colocar num monte de cidade." Ele relata que "o deputado lhe falou que em cidade pequena pode ser colocada emenda de R$ 130 mil ou até R$ 140 mil e daí foge de licitação". "Dá pra arrumar em um monte de lugar vai ser possível arrumar as emendas."

"Gilberto Formiga presta serviços a Olívio Scamatti, especialmente no que tange aproximação do empreiteiro a diversas administrações municipais, por meio de financiamento de campanhas eleitorais ou mesmo na intermediação de liberação de emendas parlamentares através de sua atuação como lobista do PT", assinala um trecho dos autos da Fratelli, datado de 20 de setembro de 2012. "É consectário lógico que as emendas provisionadas aos municípios constituirão o reforço financeiro, a posteriori, dos empresários que financiaram, às escuras, campanhas eleitorais." Segundo a operação, Gilberto "é um hábil articulador nos bastidores da administração pública".

Além dos deputados petistas, o chefe da Casa Civil do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Edson Aparecido, também é citado pelo relatório da operação. Ele mantém estreita ligação com empreiteiro da Demop, apontado como chefe da quadrilha. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Ministério Público Federal em Jales denunciou nesta terça-feira, 16, um grupo de 19 integrantes de uma organização criminosa que corrompia agentes públicos e fraudava licitações para a contratação de serviços, especialmente de pavimentação e recapeamento asfáltico, para a prefeitura de Auriflama, no noroeste do Estado. Essa é a primeira de uma série de denúncias a serem apresentadas ao longo dos próximos meses pelo Ministério Público Federal, a partir das provas obtidas ao longo das investigações da Operação Fratelli, deflagrada no último dia 9.

Fraudes semelhantes ocorreram em cerca de 80 municípios da região, e o valor dos desvios pode ter alcançado a cifra de R$ 1 bilhão. Os denunciados nesta ação penal vão responder pela prática dos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica e fraude em licitação.

##RECOMENDA##

O núcleo empresarial Scamatti, liderado por Olívio Scamatti, dono da empreiteira Demop, de Votuporanga, se desdobrava em pelo menos 31 empresas distintas, algumas delas apenas de fachada, segundo a denúncia da Procuradoria. Os quadros societários variavam, mas eram compostos sempre por membros da família Scamatti.

A existência dessas diversas empresas foi um dos principais instrumentos utilizados para facilitar a prática dos crimes, segundo a denúncia da Procuradoria. Na verdade, tratava-se de um único grupo empresarial pertencente aos Scamatti, subdividido em várias empresas apenas com o objetivo de praticar crimes. As empresas participavam dos processos licitatórios, mas não havia uma concorrência real, já que pertenciam todas ao Grupo Scamatti. "Eram simulacros de licitações", define o procurador da República Thiago Lacerda Nobre, autor da denúncia.

Prefeito denunciado

As obras de recapeamento de vias eram realizadas com verbas federais dos Ministérios das Cidades e do Turismo. O dinheiro era destinado à região por meio de emendas de parlamentares ao Orçamento da União, o que era definido no Congresso.

As emendas em si não são alvo da investigação do Ministério Público Federal no momento, mas sim os processos licitatórios realizados para definir as empresas que receberiam essas verbas federais para tocar obras no noroeste do Estado.

Como as licitações eram direcionadas, as obras eram superfaturadas, e os lucros divididos entre os integrantes do esquema, segundo a denúncia, inclusive sendo utilizados para corromper agentes públicos.

Um dos 19 denunciados no caso da Máfia do Asfalto em Auriflama é o ex-prefeito José Jacinto Alves Filho, o Zé Prego. No dia da deflagração da Operação Fratelli, a Polícia Federal apreendeu R$ 160 mil na casa de Zé Prego.

Esquema

Embora o Grupo Scamatti esteja no centro do esquema, a Procuradoria avalia que não é possível ignorar a participação, na fraude, de outras pessoas estranhas ao núcleo familiar, como agentes públicos - o ex-prefeito Zé Prego e os servidores públicos municipais Vanessa Camacho Alves e José Voltair Marques, integrantes da Comissão de Licitação de Auriflama à época dos fatos.

Também contribuíam para o esquema contatos com outros empresários. Para além das empresas "familiares" os Scamatti contavam com o auxílio de empresas parceiras como a Miotto & Piovesan Engenharia e Construções Ltda.

A Miotto & Piovesan participava de diversos procedimentos licitatórios junto das empresas dos Scamatti, mas em muitos casos apenas para estampar um aspecto de legalidade e competição aos certames. A Procuradoria anota que chama a atenção o fato de que a empresa utiliza o mesmo telefone de uma das empresas dos Scamatti, a Mult Ambiental Engenharia Ltda.

Para a Procuradoria, esse fato, por si só, já demonstra que, em vez de concorrer com os Scamatti, a Miotto & Piovesan na verdade agia em conluio com o grupo. Os donos da Miotto & Piovesan, Valdir Miotto e Maria das Dores Piovesan Miotto, também foram denunciados.

Além de Olívio Scamatti, foram denunciados seus quatro irmãos, Dorival Remedi Scamatti, Mauro André Scamatti, Pedro Scamatti Filho e Edson Scamatti; a mulher de Olívio, Maria Augusta Seller Scamatti; e o irmão de Maria Augusta e cunhado de Olívio, Luiz Carlos Seller.

Todos eles figuravam no quadro societário de empresas do grupo e não só tinham conhecimento das fraudes como também atuavam diretamente para que elas pudessem ser efetuadas.

Fora do núcleo familiar, o Grupo Scamatti contava também com o auxílio de Humberto Tonanni Neto, funcionário dos Scamatti e responsável por contatos com prefeitos e assessores. Ele tinha pleno conhecimento, inclusive participação, em negociações para pagamentos de propina.

Outro funcionário do grupo cujo papel é considerado fundamental é Valdovir Gonçalves, o Nenê. Ele atuava diretamente no esquema de corrupção, seja na parte das licitações, entregando propostas e representando empresas ou efetuando pagamento de propina.

Irregularidades em licitações

Também tinha atuação semelhante à de Humberto e Valdoir o funcionário Jair Emerson Silva, o Miudinho ou Jairzão. Ele chegou inclusive a visitar prefeituras para contatos políticos. Por sua vez, outro funcionário dos Scamatti, Osvaldo Ferreira Filho, o Osvaldim, não só tinha conhecimento do esquema como também era bastante próximo de Olívio: sempre acompanhava o chefe em viagens e é extremamente articulado no âmbito político. Conseguiu emplacar o filho, Osvaldo Ferreira Neto, num cargo na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Outros personagens que merecem destaque por sua participação na fraude são Ilso Donizete Dominical, responsável pela contabilidade das empresas do grupo, uma espécie de braço direito e conselheiro contábil de Olívio Scamatti e que chegou a figurar no quadro societário de empresas do grupo, e Gilberto da Silva, o Zé Formiga. Espécie de lobista, ele atuava como um dos interlocutores políticos do grupo, articulando a liberação de verbas junto a políticos para diversos municípios do noroeste paulista.

Notícias de irregularidades em licitações na região já eram objeto de investigação do Ministério Público do Estado de São Paulo desde 2007. Em dezembro de 2012, ao identificar o possível envolvimento de verbas federais nas fraudes, o procurador da República Thiago Lacerda Nobre, lotado na Procuradoria da República no Município de Jales, determinou a instauração de inquérito policial, e as investigações passaram a ser feitas pela Polícia Federal.

O deputado estadual Roque Barbiere (PTB), citado na Operação Fratelli - investigação do Ministério Público sobre desvios de verbas públicas na região de São José do Rio Preto (SP) -, admitiu que recebeu em seu gabinete, na Assembleia Legislativa, o empresário Olívio Scamatti, dono da empreiteira Demop, preso anteontem. Ele, contudo, negou taxativamente que tenha recebido propina para ajudar na conclusão de uma obra em Birigui (SP).

"O único contato que eu tive com esse povo aí da Demop foi na mudança do governo estadual. O José Serra (PSDB) havia autorizado um obra no perímetro urbano de Birigui, uma estrada de oito quilômetros e meio. Quando ele deixou o governo, faltava concluir a obra, mas o Geraldo (Alckmin) entrou e mandou revisar todos os contratos, aquelas coisas quando muda governo. Os empresários ficaram preocupados e me procuraram."

##RECOMENDA##

A obra custou cerca de R$ 70 milhões aos cofres públicos. "É a coisa mais linda que se pode imaginar, a obra mais importante da história de Birigui", disse Barbiere.

A Operação Fratelli - desdobramento da Operação do Dia Nacional de Combate à Corrupção, que alcançou 14 Estados e levou 92 suspeitos para a prisão - monitorou Olívio e outros empresários do interior paulista.

O deputado Barbiere caiu no grampo indiretamente, conversando com os empresários sob suspeita. "Aparentemente, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) dizia que não ia concluir a obra. Essa empresa, a Demop, me procurou dizendo que o governo ia paralisar as obras." "Fui atrás do Saulo (de Castro Abreu, secretário dos Transportes do Estado) para que concluíssem os trabalhos. Foi aí que tive contato com esse pessoal, a Demop e uma outra empresa do Paraná cujo nome não me recordo. A obra foi feita a meu pedido. O interlocutor político era eu."

Barbiere disse que recebeu Olívio "duas ou três vezes" em seu gabinete. "Corri atrás do complemento da obra. Olívio e os empresários do Paraná me procuraram, sabiam que eu tinha arrumado a obra para a cidade. Eu era o pai político da obra."

Legislativo. O presidente da Assembleia, Samuel Moreira (PSDB), afirmou, em nota, que "até o momento não há elementos que justifiquem medidas" por parte do Legislativo em relação a Barbiere e ao deputado Itamar Borges (PMDB), que também caiu nos grampos. Ele prometeu arrumar um convênio para Olívio Scamatti.

"As investigações estão na fase inicial e vêm sendo conduzidas pelas autoridades competentes", sustentou Moreira, que disse acompanhar "com atenção o desenrolar dessas apurações".

Promotoria. Há um ano e meio parada no Ministério Público estadual, a investigação sobre a denúncia feita por Barbiere em 2011 sobre venda de emendas parlamentares deve ser retomada no fim do mês. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando