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O fechamento da fronteira com o Brasil determinada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no dia 21 de fevereiro, está impactando a economia de Pacaraima (RR), cujo o comércio atende a população do sudeste do país vizinho, em especial de Santa Elena de Uairén, a 17 quilômetros de distância.

O empresário Fabiano Coelho de Moraes, dono de um laboratório clínico e de uma farmácia em Pacaraima relatou à Agência Brasil que já demitiu duas pessoas por causa da baixa procura no comércio. “A situação é a mais crítica. Do nada, cortaram tudo. Há muito estoque de mercadoria e o pagamento dos boletos dos fornecedores estão em atraso. Não temos como pagar”, contou, ao assinalar que a situação de supermercados e vendas com produtos perecíveis é ainda mais crítica.

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Os comerciantes e a população de Pacaraima também perderam acesso aos postos de combustíveis na Venezuela. Não há postos na cidade fronteiriça brasileira e para conseguir abastecer diretamente o carro precisam ir até a capital Boa Vista, a 215 quilômetros. O preço do combustível vendido em toneis em Pacaraima chega a R$ 8 o litro, cinco vezes mais caro do que o valor pago na Venezuela (R$ 1,5).

Apesar do fechamento da fronteira, alguns venezuelanos conseguem atravessar a fronteira dos dois países por dois caminhos menos fiscalizados pela polícia venezuelana para se abastecer e retornar ao país. Mas há um contingente que não tem meios de voltar e acaba sendo atendido pela Operação Acolhida, do Exército brasileiro e pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Na cidade, cerca de 700 venezuelanos dormem em dois abrigos da Acnur e há mais de mil pessoas nas ruas. A presidente da Associação Cultural Canarinhos da Amazônia, que atende a 238 famílias (80 crianças) reconhece o trabalho do Exército e da Acnur, mas assinala que a distância da cidade, no extremo norte do Brasil, e a proximidade com a Venezuela em conflito político e em situação social precária é muito preocupante. “Estamos ilhados aqui. O Brasil precisa nos ver com outro olhar”.

De acordo com o IBGE, 95% da renda de Pacaraima depende das transferências federais e do estado de Roraima. A população, estimada em 15 mil habitantes, tem renda per capita de R$ 13,5 mil ao ano - e salário médio mensal de 1,8 salário mínimo.

O Ministério das Relações Exteriores informou à Agência Brasil que mesmo com a fronteira fechada com a Venezuela, o consulado em Santa Elena tem conseguido trazer brasileiros que procuram o serviço diplomático. Nos últimos dois dias, mais de 90 brasileiros conseguiram deixar a Venezuela e regressar pela divisa de Pacaraima graças ao Itamaraty.

Balanço divulgado pela Polícia Federal revela que entre 2015 e 31 de agosto deste ano, 75.560 venezuelanos procuraram a PF em Roraima para regularização da situação migratória. Do total, 46.761 venezuelanos solicitaram refúgio, 14.935 pediram residência e 13.864 aguardam atendimento.

Os dados também indicam que do ano passado pra cá, entraram 154.920 venezuelanos somente pela cidade de Pacaraima (RR), mas 79.402 já deixaram o Brasil.  Cerca de 5,2 mil estão em abrigos de Boa Vista e dependem atualmente de ajuda do governo federal. Outros 1.507 foram direcionados ao processo de interiorização.

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A Organização Internacional de Migração (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) revelam que 2,3 milhões de venezuelanos estão vivendo fora de seu país e mais de 1,6 milhão já deixaram o país desde 2015.

Interiorização

Desde abril deste ano, mais de mil venezuelanos já foram beneficiados com o processo de interiorização, que leva imigrantes que entram por Roraima para outras cidades do País. O processo de interiorização não é obrigatório e só participam os venezuelanos que querem residir em outras cidades brasileiras.

Neste mês, este processo deve ser intensificado, com 400 pessoas sendo transferidas por semana. De acordo com a Polícia Federal, para esta semana estão programados voos para o Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

 

Com informações do Governo do Brasil

A maioria dos moradores qualifica Pacaraima como uma cidade pacata e receptiva com migrantes de qualquer origem. Fora das comunidades indígenas, é difícil achar um pacaraimense de nascimento. Moradores de diferentes cidades e histórias escolheram a sede do município pela tranquilidade do lugar, por razões familiares, pela oportunidade de empreender no comércio ou para atuar na área pública.

É o caso do professor Agamenon Santos, nascido no Maranhão, onde se formou em pedagogia, e morador de Pacaraima há 19 anos. Ele chegou à cidade para trabalhar na rede de ensino.
 “Vim pra Pacaraima recém-formado. Sou professor concursado. Aqui construí minha família. O município me ofereceu oportunidades e eu vi a cidade crescer”, informou Agamenon, hoje secretário municipal de Educação.

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Pároco da cidade, padre Jesus Lopes Fernandez Bobadilla vive há nove anos em Pacaraima. Por ser da Espanha, ele escolheu o local pela facilidade da língua, já que se fala muito espanhol no município.

“Pacaraima é uma cidade com gente muito boa, gente de bem. Não é uma cidade amaldiçoada pela violência como alguns dizem. É um povo trabalhador, um povo bom, uma cidade super tranquila e amena”, afirmou o padre.

Socorro Maria Lopes é natural de Manaus (AM) e também vive em Pacaraima desde 2009, atraída pela qualidade de vida. Desde que chegou, atuou no serviço público como secretária municipal de Assistência Social e assessora pedagógica na Secretaria de Educação.

Segunda ela, a cidade sempre foi muito tranquila. “Até três, quatro anos atrás a gente andava na cidade a qualquer hora. Podíamos sair de madrugadinha, caminhando e chegar tarde. Dormíamos com portas e janelas abertas”, acrescentou.

Os moradores também revelam que a relação com Santa Elena de Uairen, primeira cidade venezuelana depois da fronteira, sempre foi de parceria e dependência. A cidade vizinha é destino comum dos brasileiros para abastecer veículos com combustível mais barato e fazer compras de produtos importados com menos incidência de impostos.

“Pacaraima e Santa Elena sempre foram cidades que se ajudaram. Problema de crise lá se ajuda aqui. Problema aqui se ajuda lá. Era uma região de fronteira normal. São duas comunidades fortemente ligadas e costumavam se proteger e se resguardar. Era uma coisa só. A gente só via divisão quando passava pelas bandeiras da fronteira”, destacou Socorro Maria Lopes, formada em letras e línguas aplicadas.

Integração

De Santa Elena também saem muitos venezuelanos todos os dias para utilizar o comércio ou serviços públicos de Pacaraima, principalmente a educação. Na Escola Estadual Cícero Vieira Neto, a única de ensino médio em Pacaraima, de 900 alunos matriculados, 230 são venezuelanos. Muitos deles vivem em Santa Elena e cruzam diariamente a fronteira para estudar.

Mariangel Del Carmen Polido Carvajal, 16 anos, estuda em Pacaraima há um ano e meio. “Penso que a educação aqui é melhor que lá. O índice de estudo é mais alto, porque tem professores e um conteúdo mais avançado que nossa educação”, comentou a estudante.

Filha de um brasileiro com uma venezuelana, Gabriela Olinda Lima estuda em Pacaraima desde a creche e quer continuar no país. “Sempre morei em Santa Elena e estudei no Brasil. Provavelmente, vou estudar medicina em Boa Vista.”

Segundo o diretor administrativo da escola, coronel Júlio César, os alunos venezuelanos estão bem adaptados, porque essa relação existe há muito tempo. “Com exceção de alguns venezuelanos que chegaram agora com o fluxo migratório, a maioria está bem adaptada e fala bem o português. Não existe um choque cultural, porque essa adaptação não é de hoje.”

Diretora pedagógica da escola, Maria de Jesus disse que o atendimento a alunos estrangeiros ocorre desde que a escola foi inaugurada, em 2001. “As salas de aula são heterogêneas. A língua estrangeira da escola é o espanhol. Temos dois ônibus que fazem o transporte desses alunos. Eles são tratados de igual para igual, tanto que nunca tivemos conflitos dentro da escola”.

Muitos dos alunos venezuelanos não foram às aulas na última semana, depois da repercussão dos conflitos envolvendo brasileiros e imigrantes. A intenção da maioria dos alunos da Venezuela é construir a carreira no Brasil, pelo menos enquanto durar a crise no país vizinho.

Este é o desejo de Elian Eduardo Guadarismo, 16 anos. Sua família tem um restaurante em Santa Elena, mas o movimento caiu muito depois da crise venezuelana. Seus pais só não se mudaram ainda para o Brasil por medo do preconceito. Entretanto, Elian já está decidido a continuar por aqui. “Quero estudar direito no Brasil. Na Venezuela não tenho futuro”, concluiu o jovem.

Uma cidade pacata e de migrantes. É assim que muitos classificam Pacaraima, pequeno município do norte de Roraima, que se tornou nos últimos dias palco de tensão e conflito em torno da questão migratória. O pequeno município tem chamado a atenção para sérios problemas causados pelo abandono social e pela intolerância de alguns contra imigrantes venezuelanos.

A cidade ganhou visibilidade nacional e internacional quando começou a receber levas de venezuelanos fugindo da fome, da insegurança e das doenças causadas pela grave crise político- econômica que aflige o país de origem. O conflito ocorrido há uma semana retomou as atenções de todo o mundo para a cidade.

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Não é a primeira vez que Pacaraima se torna o epicentro de uma tensão. Por estar situada inteiramente em área indígena (Reserva São Marcos), Pacaraima é o único município do Brasil que não tem seu perímetro urbano regularizado, característica que também atraiu para a cidade alguns contratempos.

Entre 2005 e 2009, o entorno de Pacaraima foi palco de protestos organizados por arrozeiros e outros moradores da região contrários à demarcação contínua da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol, que alcança a área leste do município. A demarcação estabeleceu que os fazendeiros e não índios deixem as terras indígenas, determinação que gerou conflitos na área.

Muitos fazendeiros foram para outros estados, mas o assunto ainda divide opiniões no município, inclusive entre lideranças indígenas. A solução para delimitar a área do município e desmembrá-la das reservas indígenas ainda é acordada entre a prefeitura, integrantes do governo federal e representantes dos índios.

De acordo com o professor João Carlos Jarochinski, um dos coordenadores do Programa de Mestrado em Sociedade e Fronteira Universidade Federal de Roraima (UFRR), o debate gira em torno da possibilidade de assegurar um espaço urbano de Pacaraima para a população não indígena.

“Pacaraima sempre foi uma área tensa por outros aspectos. O primeiro ponto que chama a atenção é que você não tem uma definição jurídica do município, o que, do ponto de vista de propriedade, é bastante problemático e dificulta a própria intervenção do Estado na área, na construção de espaços e de uma estrutura urbana mais adequada”, afirmou Jarochinski.

Focos de tensão

Por estar localizada na fronteira e em um estado rico em minérios e outros recursos naturais, ao longo de seus 23 anos de história Pacaraima enfrentou algumas situações relacionadas ao garimpo e ao combustível, recurso do qual depende da Venezuela, onde é possível abastecer pagando em média R$1,40 pelo litro da gasolina. O único posto de gasolina que abastece a cidade é venezuelano e muitas vezes está fechado.

“A migração sempre ocorreu ali e sempre teve atividades que beiravam a ilicitude. É um município que pouco oferece à população. Nele, você tem contrabando de combustível da Venezuela para o Brasil, uma atividade de alto risco, e a questão do garimpo. É uma área de base, de assistência para o garimpo, que, inclusive, se desenvolve de forma bastante efetiva na Venezuela”, completou o professor.

A questão energética também gera uma certa tensão na fronteira, uma vez que dois terços da energia de Roraima é fornecida pela Venezuela. Se há qualquer empecilho de ordem diplomática, como o recente embargo dos Estados Unidos aos pagamentos estrangeiros à Venezuela, entre eles os recursos brasileiros pagos pela energia vinda da Venezuela, a tensão recai sobre os moradores das áreas de limite entre os dois países.

“O próprio aspecto de ser fronteira gera um quadro de tensão, ainda mais que a gente tem uma ideia muito negativa de fronteira, sempre associada a assuntos negativos, como criminalidade, o que impacta na própria ideia de exclusão da comunidade”.

Perfil

Cercada por muitas serras e mais de 50 comunidades indígenas, a sede de Pacaraima tem cerca de seis mil habitantes e outros seis mil espalhados em vilas e aldeias de índios de diferentes etnias. Situada no ponto mais alto de Roraima, a 920 metros de altitude, a cidade tem um clima fresco e agradável, bem diferente da capital Boa Vista, a pouco mais de 200 km de distância.

A aglomeração em torno do garimpo foi um dos fatores que motivou a formação da então Vila BV-8, em meados da década de 20, além da presença do Exército na área para controlar o fluxo na fronteira. O município foi criado oficialmente com o nome de origem indígena em 1995.

Hoje, a principal fonte de renda da cidade é o serviço público e o comércio, que vive momentos de boom e crescimento, outros de instabilidade e dependente de oportunidades ou crises que atravessam a fronteira. A atividade agropecuária também tem participação importante na economia da região, com a criação de gado de corte, produção de polpa de cupuaçu, mandioca, farinha e milho, bases da alimentação indígena.

Segundo o secretário municipal de Agricultura, Turismo e Meio Ambiente, Marcelo da Silva, a cidade também tem potencial para desenvolver o turismo ecológico e cultural.

Para Marcelo, o objetivo é dar uma fonte alternativa de renda para os indígenas e, desse modo, diminuir a dependência de atividades agropecuárias que geram mais impactos ambientais, além da disseminação da diversidade ambiental e da tradição indígena fortemente presente na região.

Renda e aspectos sociais

Conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o salário médio dos trabalhadores formais em Pacaraima é de R$ 1,8 mil. Quase metade da população (46,5%) tem renda mensal inferior a um salário-mínimo e apenas 4,3% é ocupada.

O Produto Interno Bruto (PIB) per capita (soma de todos os bens dividida pelo número de habitantes) é de R$ 12,3 mil. O índice de desenvolvimento humano (IDH) municipal é de 0,650, valor considerado médio pelas Nações Unidas, em uma escala que vai de 0 a 1.

Os dados mais recentes do IBGE mostram ainda que a taxa de mortalidade infantil é 14,5 a cada 100 mil nascidos vivos, índice considerado baixo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Apenas 21% do município tem esgotamento sanitário adequado e na educação, 93% das crianças de 6 a 14 anos estão escolarizadas.

Exatamente uma semana depois dos protestos que culminaram em atos violentos entre brasileiros e imigrantes venezuelanos, os moradores de Pacaraima, cidade do norte de Roraima que faz fronteira com a Venezuela, fizeram nova manifestação neste sábado (25). Segundo moradores da cidade, desta vez participam do protesto imigrantes venezuelanos e indígenas brasileiros que pedem apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e investimentos do governo federal na cidade.

O local do manifesto foi novamente a rua principal do comércio de Pacaraima, ponto de maior movimento da cidade. Também houve foco de protesto nas imediações da rodoviária, na BR-174, porta de entrada dos venezuelanos recém-chegados ao município brasileiro. Não há relatos de nenhum incidente.

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Para quem chega da Venezuela, a rua do comércio de Pacaraima é praticamente a primeira a ser vista pelos visitantes. É nela que ficou marcada a imagem dos últimos anos de centenas de famílias venezuelanas perambulando, pedindo ajuda ou simplesmente sentadas à beira do caminho.

Nessa rua teve início o protesto de moradores na semana passada contra a agressão a um comerciante idoso assaltado e espancado por assaltantes venezuelanos. A manifestação avançou pela rodovia, onde grande parte dos imigrantes ficava aglomerada, e culminou em atos violentos entre brasileiros e venezuelanos que estavam em situação de rua.

Enquanto a Polícia Civil de Roraima ainda investiga o que aconteceu no último sábado, o fato tornou-se um marco na história de Pacaraima. Em apenas uma semana, o clima mudou na cidade, e o drama dos imigrantes que ali se instalaram ganhou páginas de jornais do mundo todo.

Há nove anos vivendo em Pacaraima, o padre espanhol Jesús López Fernández de Bobadilla relata que os desdobramentos do conflito entre brasileiros e venezuelanos representam um dos maiores desafios de sua vida. O pároco da cidade avalia que não se pode confiar na aparente calma da cidade, porque ainda há omissão do poder público e um clima de intolerância contra estrangeiros.

“Aparentemente há uma calma, mas é uma calma fictícia, falsa, enganosa. Não confio nada nela porque a violência continua no espírito das pessoas. Sempre digo que compreendo este vulcão que lança sua lava, mas não se justifica. Em alguns dias, não mudou nada. A raiva, a ira contra venezuelanos continuam. Aparentemente está oculta, mas a qualquer momento vai reaparecer. Isso vai depender das ações que a partir de agora o governo federal e as polícias mantiverem”, analisa.

O padre lamenta que a ação violenta tenha desembocado em pessoas inocentes, como crianças. Ele ressalta também que faltaram medidas que pudessem evitar o crescimento da xenofobia. “Essa ira deveria ser dirigida contra a passividade das autoridades. Confio em que o bom juízo e a cidadania voltem e cesse a violência dos dois lados. Porque, também da parte dos venezuelanos, há violências. Não cumprem nossas leis, há muito roubo, prostituição, drogas. E isso tudo desencadeia [violência]”, diz.

Desde a intensificação do fluxo migratório de venezuelanos para Pacaraima, o pároco da cidade atua na assistência social aos estrangeiros mais necessitados. Além de auxiliar na acolhida das famílias peregrinas, a paróquia oferece diariamente um café da manhã para os refugiados. Ali também são doadas roupas e outros itens de necessidade básica.

“Não houve medidas paliativas para conter essa violência por parte das autoridades ou foram muito escassas. De todo dinheiro que chegou aqui em favor dos venezuelanos, por que não destinou uma parte também para as necessidades dos pobres brasileiros? Essa é uma queixa que está no ar, na rua, e eu compartilho também. Houve também falta de integração de todas as instituições, a Igreja Católica incluída, para favorecer esta parte dessa população que se queixou”, comenta.

Segundo o representante da Associação Comercial de Pacaraima, João Kleber Soares, os protestos do fim de semana passado começaram de forma pacífica devido à revolta da população de Pacaraima com a agressão cometida contra o comerciante idoso na semana passada e os impactos negativos da migração venezuelana sobre a cidade.

Soares relata que pelo menos 80% dos comerciantes da cidade foram vítimas de assaltos, furtos ou arrombamentos desde 2015. Alguns dos casos foram registrados inclusive depois dos conflitos que motivaram a expulsão e fuga de milhares de venezuelanos de Pacaraima na última semana.

O comerciante conta que a manifestação estava tranquila até que alguns venezuelanos em situação de rua teriam se ofendido e reagido contra a passeata. Imagens feitas por Cléber também mostram brasileiros agredindo os venezuelanos com paus, pedras e ateando fogo nos locais de acampamento dos refugiados.

“Nós não pudemos julgar a pessoa por onde ela nasce e tampouco condenar ninguém. A manifestação que eu vi lá não foi contra venezuelano, nem pra expulsar quem quer que seja. A manifestação foi em busca dos direitos dos cidadãos brasileiros, que também são seres humanos”, afirma Soares.

Os moradores relatam que a força policial não está intimidando os atos criminosos e que o reforço no policiamento não foi suficiente para dar sensação de segurança. Muitos ainda temem que a situação não se resolverá tão cedo, por causa da disputa política em torno do problema. “Existe aí uma disputa de poderes entre a esfera federal e a esfera estadual, que estão em campanha [eleitoral]”, relata Soares.

Entre diferentes perfis de moradores, profissionais e autoridades da cidade ouvidos pela reportagem, é unânime a sensação de que o problema da segurança tem se agravado na região. Uma autoridade policial relatou à Agência Brasil que têm ingressado no país muitas pessoas com antecedentes criminais e falta filtro do serviço de inteligência da fronteira, principalmente do lado venezuelano.

Os principais flagrantes na fronteira da cidade são descaminho, contrabando, tráfico de armas e drogas. Há ainda a confirmação de que integrantes de dois grandes grupos do crime organização – Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho – continuam atuando na região, aliciando imigrantes e alimentando o tráfico.

Questionado sobre esta questão pela Agência Brasil, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em visita a Pacaraima, disse que o ministério reforçou os recursos e o contingente de policiais que atua na região. Ele disse que o governo está adotando medidas para agilizar a interiorização dos imigrantes para evitar que eles fiquem expostos na fronteira.

“Infelizmente, esse processo de aliciamento das grandes facções não acontece só aqui em Roraima, mas evidentemente estamos preocupados com isso. Daí o reforço que estamos fazendo na Polícia Federal e também na Força Nacional é a reposta que damos a esta situação”, declarou o ministro.

A chegada de venezuelanos a Pacaraima (RR), município com pouco mais de 12,3 mil habitantes, mudou a rotina da cidade. Nas poucas ruas, a impressão é de que se fala mais espanhol do que português. É comum encontrar, nas lojas do centro, trabalhadores venezuelanos. Há casos em que todos os funcionários vieram da Venezuela.

Com hotéis e ruas repletas de observadores estrangeiros, autoridades e jornalistas, a cidade está sob os efeitos da repercussão dos conflitos de cinco dias atrás, quando moradores atearam fogo a barracas e pertences de imigrantes. A reação foi motivada pela suspeita de que um assalto foi provocado por venezuelanos.

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A presença dos imigrantes na cidade divide a opinião dos moradores. Para alguns, gera prejuízos, outros observam pelo lado do apoio humanitário e econômico, pois os  venezuelanos podem colaborar para o crescimento do país.

Os comerciantes afirmam que não houve queda nas vendas, mas permanece o clima de medo. À noite, carros da Força Nacional e da Polícia Militar fazem ronda. Para amenizar o constrangimento, moradores e comerciantes tentam manter a rotina, enquanto há os que promovem atos públicos, como carreatas da paz.

Experiência própria

Uma das mercearias mais movimentadas da principal rua comercial de Pacaraima é comandada pelo artesão brasileiro Oracy Cardoso, 53 anos. Nascido no Nordeste, mas em Pacaraima desde jovem, o comerciante defende os imigrantes do país vizinho, onde passou 18 anos de sua vida.

Nos anos 1990, Oracy decidiu sair do Brasil para vender seu artesanato. Só voltou a Pacaraima em 2015, quando a economia venezuelana começou a se agravar. “O que eu ganhava lá já não pagava as necessidades, não valia a pena”, conta.

Com o dinheiro do artesanato, Oracy conseguiu voltar a Roraima. Em Pacaraima, passou um ano pedindo ajuda na rua, depois foi trabalhar com coleta de lixo reciclável até que, há dois anos, conseguiu abrir sua mercearia.

Ao analisar o episódio do último sábado (18),  Oracy é categórico. “Isso foi se alastrando, como uma bola de neve descendo da montanha. Poderia ter sido evitado com uma triagem boa, com documentos de ‘nada consta’ criminal de venezuelanos e brasileiros. Aqui entrou de tudo e tinha que ter sido feito isso.”

No momento em que conversava com a Agência Brasil, Oracy foi cumprimentado por um grupo de venezuelanos que o agradeceram por doações. Evangélico, o artesão  atribui sua generosidade às dificuldades que viveu não só na Venezuela, mas também no Brasil.

“Vejo [os venezuelanos] como seres humanos que precisam de ajuda. Eles não estão aqui porque gostam do Brasil, é por necessidade, estão fugindo da fome”, disse.

Insegurança

Do outro lado da rua, o comerciante Donizete Cardoso, 51 anos, concorda com Oracy. Para ele, o conflito poderia ter sido evitado.  “Poderia ter evitado isso, desde que a segurança tivesse agido com mais rigor. De início foi um ato pacífico, mas infelizmente acabou em violência.”

Donizete é de Rondônia e vive há dois anos em Pacaraima, atraído pelo comércio da região de fronteira. Mesmo estando há pouco tempo na cidade, percebeu mudanças na segurança do município.

“Aquela tranquilidade de sair com a família, estar tranquilo em casa com as portas abertas, hoje não podemos mais, porque com o fluxo grande de venezuelanos que veio pra cá acabou (sic), a criminalidade aumentando muito”, afirmou o comerciante. Há 15 dias, a mercearia dele foi arrombada pelos fundos. Os suspeitos eram venezuelanos. “Levaram o que puderam”, contou.

Segundo a prefeitura, Pacaraima registrou este ano mais de mil ocorrências criminais. A delegacia do município informou que 65% dos crimes registrados foram praticados por venezuelanos.

Apesar da sensação de insegurança, Donizete reconhece que a presença dos imigrantes é importante para o desenvolvimento da cidade. Segundo ele, um possível fechamento da fronteira com a Venezuela o levaria a encerrar seu comércio.

Emprego

Sem dados estatísticos precisos, é possível observar que os venezuelanos estão entre os principais consumidores e também representam papel importante na mão de obra de Pacaraima. Um exemplo é o da psicopedagoga Roseandra Mata, que está há quatro meses no Brasil e desde o primeiro dia trabalha em uma farmácia.

No mesmo comércio, também trabalha Yolanda Salazar, de 26 anos. A jovem, que tem formação de educadora infantil, mora em Santa Elena de Uairen e cruza a fronteira todos os dias para trabalhar.

Yolanda Salazar segue a rotina há dois anos. Segundo ela, foi a alternativa que encontrou para garantir a renda e cuidar dos três filhos. Para economizar, pensa em morar em Pacaraima. Do salário mensal de  R$ 800, R$ 140 são gastos com transporte.

 “Eu agradeço a Pacaraima por abrir suas portas, mas também entendo a situação, porque estou há dois anos trabalhando aqui e não havia visto uma coisa como a que estamos vendo nos últimos três, quatro meses. É uma situação horrível. Creio que devemos mudar para outro país para dignificar, não para deixar em desonra nosso país”, disse a jovem, referindo-se ao aumento da insegurança no local.

Após os conflitos em Pacaraima (RR), em que venezuelanos foram atacados, tiveram barracas e pertences queimados por moradores, caiu o movimento de imigrantes na fronteira entre Roraima e Santa Elena de Uairen, na Venezuela. Na cidade, o número de imigrantes também diminuiu e nos arredores da rodoviária, onde houve a tensão, tudo está vazio.

Nos últimos dois anos, a Polícia Federal registrou a entrada de quase 130 mil venezuelanos no Brasil por Pacaraima. Até o fim de junho, cerca de 70 mil imigrantes haviam saído por via terrestre ou aérea e não constavam registros de pelo menos 58 mil venezuelanos.

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Vazio

A entrada do Posto de Recepção e Identificação montado pela Operação Acolhida está praticamente vazia: desapareceram as longas filas de venezuelanos à espera de uma permissão para residência ou refúgio no Brasil. No local há poucos interessados que são atendidos de forma imediata.

Pelos dados do posto, eram aproximadamente 700 atendimentos diários para registro e vacinação. Desde o último fim de semana, pouquíssimos têm aparecido no posto.

A ausência de venezuelanos é observada ainda nas ruas e no comércio de Pacaraima, antes lotados de  imigrantes sem abrigo. Muitos ficavam perambulando, enquanto outros se transformavam em vendedores ambulantes. O local onde houve os conflitos está vazio.

No último sábado (18), um grupo de brasileiros agrediu com paus e pedras e ateou fogo a venezuelanos que estavam acampados em frente à rodoviária. O conflito começou após um comerciante ter sido assaltado e espancado, supostamente por imigrantes.

Perfil

No Centro de Triagem do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), o fluxo continua estável, uma vez que os solicitantes de documentação já tinham senha de atendimento há alguns dias. De acordo com os agentes, os reflexos do incidente do último sábado serão observados nas próximas etapas da Operação Acolhida, nas próximas semanas.

O ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, deve visitar hoje (23) o centro de triagem e os outros serviços emergenciais de assistências aos imigrantes.

Nos últimos dois meses, o centro atendeu quase 8 mil pessoas, uma média de 126 por dia. Segundo dados do Acnur, entre os imigrantes recém-chegados a Roraima, mais de 60% solicitam refúgio, 39% pedem residência temporária e 2% requerem apenas a emissão de CPF. Mais de 70% querem ir para outras regiões do país, principalmente Boa Vista.

Casos de pessoas envolvidas em situações de perigo, como tráfico de pessoas, aliciamento, abuso sexual, violência de gênero e outro tipo de criminalidade são apurados durante as etapas da Operação Acolhida.

Os solteiros representam mais da metade dos imigrantes, 27% estão em união estável e 15% são casados. Considerando o nível educacional, 58% completaram o ensino médio, 13% são universitários e outros 13% têm o ensino fundamental.

Durante a triagem é avaliada ainda a identificação de pessoas em situação de vulnerabilidade extrema. O relatório do Acnur mostra que cerca de 5% apresentam necessidades específicas - entre eles há pessoas com deficiência, grávidas, idosos desacompanhados, famílias monoparentais, portadores de doenças graves e crianças separadas dos pais.

Casos de pessoas envolvidas em situações de perigo, como tráfico de pessoas, aliciamento, abuso sexual, violência de gênero e outro tipo de criminalidade são apurados durante a Operação Acolhida.

O clima de tensão em Pacaraima se mantém. A fronteira continua aberta, porém a população local responsabiliza os venezuelanos, mesmo que indiretamente, pela insegurança. Nesse domingo (19), Vanderbegue Ribeiro, um dos manifestantes que chegaram a fechar vias no sábado (18), participou com outros brasileiros de uma "carreata da paz". O comércio fechou. Eles exigiram das autoridades o controle de entrada dos venezuelanos. "Queremos apoio do governo, tanto federal quanto estadual."

Na Rua Suapi, uma das principais do município, o trabalhador autônomo e morador da fronteira Ari Silva afirmou que a revolta do fim de semana ocorre ainda pela intensa movimentação do tráfico de drogas na localidade. "Não estamos revoltados com os imigrantes, mas com a criminalidade que essa desorganização social trouxe à nossa cidade." Outros falam em superlotação de serviços de saúde e em abandono pelos governos local e federal.

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OAB

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, que esteve em Roraima na semana passada, também relatou o clima de revolta na fronteira. Ele defendeu que todos os Estados brasileiros devem dividir a responsabilidade para preservar moradores de Roraima e imigrantes venezuelanos, "antes que aconteça uma tragédia". "A população de Roraima está se revoltando porque a criminalidade está crescendo e o Estado não tem recurso. O que era uma questão humanitária agora tem forte conotação de segurança." (COLABORARAM RICARDO GALHARDO, ANA PAULA NIEDERAUER E CYNEIDA CORREIA, especial para a AE) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Depois do tumulto registrado no último sábado, 18, na cidade de Pacaraima (RR), na fronteira do Brasil com a Venezuela, o governo pretende enviar 60 homens da Força Nacional de Segurança para o local. Eles deverão seguir só na segunda-feira, mas já estão de sobreaviso.

O presidente Michel Temer convocou uma reunião na manhã de hoje, no Palácio da Alvorada, para discutir a situação na fronteira. Participam os ministros da Segurança, Raul Jungmann, e do Gabinete Institucional, Sérgio Etchegoyen.

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A situação em Pacaraima é de tensão, um dia depois de moradores terem tentado expulsar os venezuelanos, após um assalto violento a um comerciante local, cometido supostamente por quatro imigrantes. No tumulto, um acampamento improvisado foi queimado e bombas caseiras foram lançadas nas ruas e praças.

Assustados, vários venezuelanos atravessaram a fronteira de volta a seu país. Em nota, o governo de Roraima voltou a pedir o fechamento temporário da fronteira.

Após os tumultos ocorridos neste sábado, 18, em Pacaraima (RR), na fronteira do Brasil com a Venezuela, perto de 1.200 imigrantes venezuelanos deixaram o País, informou há pouco ao Estadão/Broadcast o comandante da base local da Operação Acolhida, coronel Hilel Zanatta. O posto de recepção onde são realizados os procedimentos de controle de passaporte e vacinação chegou a ser fechado entre as 11h de ontem e as 8h de hoje, para garantir a segurança do pessoal interno.

"Calculamos que foram cerca de 1.200 pessoas", informou. Na conta, entram perto de 500 venezuelanos que estavam no posto de recepção e mais perto de 400 que, pelo fluxo normal, chegariam ao País ao longo da tarde. Além desses, há perto de 300 imigrantes que viviam nas ruas de Pacaraima e, por questão de segurança, cruzaram a fronteira de volta.

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Parte dessas pessoas, porém, já retornou ao Brasil na manhã deste domingo. "A situação está se normalizando", disse o coronel. "O fluxo está um pouco menor em relação aos demais dias, mas a recepção e a triagem estão funcionando normalmente."

Ele explicou que muitas das pessoas que passam pela fronteira estão com passagem comprada para outros países, como Argentina, Chile e Paraguai. Outras não solicitam a acolhida na fronteira porque já têm contato em outros pontos do Brasil.

O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da Venezuela informou neste domingo (19), em nota, ter tomado conhecimento de casos de violência envolvendo cidadãos brasileiros e venezuelanos ocorridos nos últimos dias na cidade de Pacaraima, em Roraima, que fica na fronteira entre os dois países.

De acordo com a chancelaria venezuelana, foram solicitadas ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil (MRE) "garantias correspondentes aos nacionais venezuelanos e medidas de resguardo e segurança de seus familiares".   

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Segundo informações, moradores de Pacaraima expulsaram venezuelanos de barracas e abrigos, inclusive ateando fogo, depois que um comerciante local foi assaltado e espancado. Os incidentes ocorreram entre a noite de sexta-feira (17) e ontem (18), sábado.

Na nota, o governo da Venezuela expressou "preocupação pelas informações que confirmam ataques a imigrantes venezuelanos, bem como desalojamentos massivos de nossos compatriotas, acontecimento que viola normas do direito internacional, além de vulnerar seus direitos humanos".     

A escalada de violência na região é tema de uma reunião convocada pelo presidente Michel Temer, no Palácio da Alvorada, na manhã deste domingo (19).

Participam os ministros Joaquim Silva e Luna (Defesa), Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), Raul Jungmann (Segurança Pública), Moreira Franco (Minas e Energia) e Rossieli Soares (Educação).

O Itamaraty está sendo representado pelo secretário-geral das Relações Exteriores, Marcos Galvão. O chanceler Aloysio Nunes cumpre agenda na Bolívia.

O Ministério da Segurança Pública confirmou hoje o envio de efetivo extra da Força Nacional para Pacaraima, onde as equipes já desenvolvem operação de apoio à Polícia Federal. A previsão é que o reforço chegue amanhã (20) à cidade.

O governo da Venezuela também ofereceu apoio para coordenar ações com as autoridades brasileiras e criticou o que chamou de "violência alimentada por uma perigosa matriz de opinião xenófoba, multiplicada por governos e meios a serviço dos inconfessáveis objetivos do imperialismo".

Ainda de acordo com a chancelaria venezuelana, funcionários do consulado em Boa Vista foram instruídos a se deslocarem de forma imediata a Pacaraima, a fim de avaliar a situação e garantir a integridade dos venezuelanos.  

A cidade de Pacaraima, em Roraima, viveu uma tarde de tumulto ontem após uma manifestação resultar em atos de agressão e destruição de acampamentos de venezuelanos que vivem na cidade, na fronteira com a Venezuela. Bombas caseiras foram jogadas em praças e nos abrigos improvisados nas ruas. Alguns venezuelanos foram expulsos e deixados do outro lado da fronteira, enquanto seus pertences foram queimados. Eles reagiram, formando uma confusão generalizada, que deixou um rastro de destruição pelo município.

A situação fez o presidente Michel Temer convocar uma reunião de emergência na manhã deste domingo com os ministros Raul Jungmann (Segurança Pública) e Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucional) para debater o tema. O Exército cercou a área ainda ontem.

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A revolta começou após assalto a um dos moradores da cidade, o comerciante Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos. Ele teve a casa invadida e foi espancado. O roubo teria sido praticado por quatro venezuelanos na sexta-feira. Atingido na cabeça, ele foi levado para uma hospital da capital, Boa Vista. Seu estado de saúde é estável.

"Alguns imigrantes atravessam a fronteira para cometer crimes. Eles renderam a família toda e o espancaram. Precisamos que as autoridades tomem providências", afirmou Vanderbegue Riberio, brasileiro e um dos organizadores da manifestação. Outro brasileiro, Almir Bueno, que vive na fronteira, disse que a criminalidade aumentou. "Com a tentativa de latrocínio desse comerciante, a população se revoltou, queimaram barracas, jogaram bombas no local chamado de 'favelão', onde havia vários venezuelanos", diz.

Controle

O ministro Jungmann disse, ontem, que "a situação está tensa, mas se estabilizou e está sob controle". O ministro requisitou um avião da Força Aérea para transportar uma equipe de reserva da Força Nacional, de Brasília, para reforçar a segurança local.

Por meio de nota, o governo federal informou repudiar "atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade". O governo mantém no local uma força-tarefa, composta pelas Forças Armadas, organismos internacionais, organizações não governamentais e entidades civis.

Ainda no texto, a força-tarefa afirma que busca conter os ânimos dos manifestantes e que um reforço de seu efetivo foi mandado para a fronteira. "A força-tarefa deslocou parte de sua equipe médica para o Hospital Délio de Oliveira Tupinambá para apoiar eventuais casos, em consequência da manifestação".

Jungmann disse ainda que, para evitar maiores problemas, o Exército está reforçando a segurança do perímetro do acampamento legalizado, também em Pacaraima. Ao mesmo tempo, a Polícia Federal devolveu os venezuelanos que estavam em situação irregular. O governo quer evitar novos confrontos e o patrulhamento na cidade foi aumentado.

Auxílio

O governo de Roraima enviou reforços para o hospital de Pacaraima, com profissionais de saúde e medicamentos. Além disso, pediu aumento no efetivo policial. Em nota, o governo do estado criticou o governo federal. "A solução para a crise migratória só acontecerá quando o governo federal entender a necessidade de fechar temporariamente a fronteira, realizar a imediata transferência de imigrantes para outros estados e assumir sua responsabilidade de fazer o controle de segurança fronteiriça e sanitária." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Moradores do município de Pacaraima (RR), que fica na fronteira com a Venezuela, expulsaram venezuelanos de barracas e abrigos e atearam fogo a seus pertences, num princípio de revolta contra a presença deles na cidade.

A população local realizou neste sábado (18) um ato em frente ao Comando Especial de Fronteira do Exército, que fica na cidade, contra a presença de refugiados do país vizinho. A manifestação pacífica culminou com os episódios de violência.

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Nessa sexta-feira (17), um comerciante local foi assaltado e espancado em casa supostamente por quatro venezuelanos, provocando revolta nos moradores. Também irritou a população a falta de uma ambulância para socorrer o comerciante, que ao final foi atendido no hospital local e encontra-se em estado estável.  

O prefeito da cidade, Juliano Torquato, que está fora do estado, disse que a situação ainda não está controlada e que, segundo sabe, venezuelanos continuam a ser perseguidos para fora de Pacaraima.

“Lamentamos muito que isso esteja ocorrendo, mas não foi por falta de aviso. Ficamos tristes pelo lado dos venezuelanos, a gente sabe a situação difícil deles, mas infelizmente entram [no Brasil] essas pessoas que não tem boas intenções”, disse Torquato à Agência Brasil.

O governo de Roraima informou, em nota, ter enviado reforços da Polícia Militar para conter os ânimos, bem como profissionais de saúde e medicamentos para suprir as necessidades do hospital de Pacaraima. O texto também afirma ser “preciso que o Exército Brasileiro garanta a ordem na fronteira com a Venezuela”.

Na nota, o governo de Roraima voltou a reivindicar o fechamento da fronteira com a Venezuela e uma maior atuação do governo federal para lidar com a crise humanitária. Neste mês, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou uma liminar (decisão provisória) que havia sido pedida para fechar a fronteira entre os dois países. Procurada, a Polícia Federal não informou como está a situação na fronteira do Brasil, em Pacaraima.

A Força-Tarefa Logística Humanitária, composta pelas Forças Armadas e integrada por organismos internacionais, organizações não governamentais e entidades civis, divulgou nota em que diz prestar apoio aos atendimentos no hospital local e que “repudia atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade”.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em conjunto com a Superintendência Federal, reforçou a fiscalização contra a febre aftosa em todo país, mas principalmente na região de Pacaraima (fronteira com a Venezuela), em Roraima. A ação teve início após a confirmação de um foco de contaminação da doença em Tame, na Colômbia. O local fica a 1,2 mil quilômetros (km) do Brasil.

"Apesar do risco, que se sabe que há, com o caso confirmado, a população pode se tranquilizar porque as providências estão sendo todas tomadas. Toda a parte do sistema de vigilância está operando e está trabalhando para aplacar qualquer tipo de risco da doença entrar no país", disse o superintendente federal de Agricultura, Plácido Alves.

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O caso de febre aftosa foi confirmado na Colômbia com risco de haver contágio na Venezuela. “De Tame ao Brasil existe a região Amazônica, com várias barreiras naturais, o que torna mais difícil a propagação. Há 1,2 mil quilômetros transitáveis, com tráfego intenso na fronteira com a Venezuela, por isso o estado de atenção", explicou o superintendente.

Na fronteira entre Brasil e a Venezuela, estão distribuídos oito técnicos do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) e uma equipe do governo estadual de Roraima para fiscalizar os veículos que pretendem entrar no país. Todos os produtos de origem animal estão proibidos. "Estamos fiscalizando principalmente carnes, além de queijo e leite, produtos mais baratos, que as pessoas costumam trazer para o Brasil", disse Plácido Alves.

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