Centenas de defensores dos direitos dos homossexuais participaram de um ato neste sábado sob um forte esquema de segurança em Kiev, capital da Ucrânia, durante a primeira parada gay organizada nesta ex-república soviética onde a homofobia é latente. "Este pode ser considerado um dia histórico", comemorou Elena Semionova, porta-voz dos organizadores. "Somos cidadãos e queremos nossos direitos respeitados", declarou à AFP.
O desfile, organizado numa rua bem distante do centro da cidade de Kiev, sob a proteção de centenas de policiais, durou apenas 20 minutos, de acordo com um correspondente da AFP. Os ativistas, incluindo gays e lésbicas de Alemanha, Dinamarca, Suécia, Noruega e Holanda, agitavam bandeiras com as cores do arco-íris. Um deles declarou: "O homossexualismo não é uma doença".
A delegação alemã presidida pelo vice-prefeito de Munique, Josef "Hep" Monatzeder, desfilou sob o lema: "Munique saúda a sua cidade-irmã Kiev". O anúncio da parada provocou uma onda de críticas na sociedade ucraniana e uma forte oposição da Igreja Ortodoxa neste país com entre um e dois milhões de homossexuais em uma população de cerca de 45 milhões, de acordo os organizadores.
As autoridades locais anunciaram que receberam mais de 500 reclamações de cidadãos ucranianos denunciando a ideia de uma parada do orgulho gay em Kiev, enquanto sessenta membros do Parlamento ucraniano assinaram uma petição pedindo a proibição de todos os desfiles de homossexuais na Ucrânia em maio e junho. A justiça ucraniana proibiu na quinta-feira os ativistas dos direitos dos homossexuais de liderarem uma parada do orgulho gay no centro de Kiev, oficialmente por causa das celebrações dedicadas ao Dia da Cidade.
Assim, os ativistas decidiram se reunir em um local distante do centro, que foi comunicado aos participantes e jornalistas apenas na manhã deste sábado, por razões de segurança. Os organizadores recomendaram que os participantes não usassem sinais específicos ou roupas chamativas, optando por roupas confortáveis e sapatos baixos para que pudessem correr em caso de ataque contra a parada.
E de fato, cerca de 500 ativistas anti-gays tentaram parar a marcha, gritando "gays, vão embora na Ucrânia", mas foram afastados pelos policiais. Dois militantes religiosos que passaram pelos cordões de isolamento foram detidos. No total, doze pessoas que protestavam contra o desfile foram detidas pela polícia.
A homossexualidade, que era punida por lei na URSS, continua a ser estigmatizada na Ucrânia, ex-república soviética, onde a Igreja Ortodoxa tem forte influência. Em maio de 2012, uma parada gay na Ucrânia havia sido cancelada por seus próprios organizadores, devido aos temores de confrontos violentos com opositores.
Na Rússia, onde os homossexuais também são malvistos, ativistas homossexuais tentaram organizar neste sábado - apesar da proibição por parte das autoridades - uma parada perto da sede do Parlamento russo em Moscou, mas foram detidos pela polícia. Trinta pessoas - ativistas gays, mas também opositores ao desfile - foram detidos, indicou à AFP um porta-voz da polícia de Moscou.
O ativista russo Nikolai Baïev lamentou esse novo fracasso e elogiou as autoridades ucranianas por permitirem uma parada do orgulho gay em Kiev. A Ucrânia "é, naturalmente, um país muito mais progressista do que a Rússia", disse à AFP. Na Rússia, onde a homossexualidade era considerado um crime até 1993 e uma doença mental até 1999, qualquer manifestação organizada por ativistas gays está proibida desde 2006.