Tópicos | Pastor Anderson

Aos 61 anos, Flordelis dos Santos de Souza está nas manchetes dos jornais por um crime, mas sua fama é muito anterior. Antes de frequentar o noticiário policial, a pastora lançou discos de música gospel, fez turnês nos EUA e Europa, recebeu homenagens. Já foi tema de filme, focado em torno de sua vocação missionária, de um livro pouco lisonjeiro (Flordelis: A Pastora do Diabo, que a acusa de capitalizar em cima da adoção de dezenas de crianças). Mais recentemente, se tornou protagonista de uma produção que foca o assassinato do seu marido, Anderson do Carmo (Flordelis: Questiona ou Adora), da Globoplay.

A cantora, pastora evangélica e ex-deputada federal foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, ocorrido em 16 de junho de 2019 na garagem da casa em que a família morava, em Niterói, região metropolitana do Rio. O julgamento, iniciado às 9h da última segunda-feira (7), acabou às 7h20 deste domingo (13).

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Nascida na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio, Flordelis começou cedo a cantar em cultos evangélicos, ambiente em que desenvolveu fama e influência. Perdeu o pai e o irmão em um acidente de carro quando tinha 14 anos. Completou o ensino médio e trabalhou como balconista em uma padaria e professora de educação infantil. Também acompanhava a mãe, Carmozina Motta, em uma rotina evangélica, da qual participava cantando e tocando guitarra. Logo começou a realizar cultos.

Desde o início dos anos 1990, ainda no Jacarezinho, acolheu dezenas de crianças e adolescentes pobres, ainda que sem processos formais de adoção na Justiça. Certa vez, quando já vivia com Anderson, foram 37 menores, conforme relata, fugidos de uma chacina na Central do Brasil, no centro da cidade. Mas já na adolescência foi chamada de "a missionária do tráfico", por resgatar menores da marginalidade.

Aos 30 anos, recém-separada do primeiro marido e com três filhos biológicos (Simone, Flávio e Adriano), Flordelis conheceu Anderson, que na época tinha 14 anos e também era morador da comunidade. De início, ele se envolveu com Simone, que tinha 11 anos.

Diferentemente dos jovens que Flordelis acolhia, Anderson não tinha problemas com drogas nem crimes. Nascido e criado na comunidade, vivia com os pais e estava concluindo o ensino médio no Colégio Pedro II, tradicional escola federal no bairro de São Cristóvão. Também era jovem aprendiz no Banco do Brasil.

Na época, Flordelis e sua mãe já tinham aberto uma igreja, no Jacarezinho. Anderson se tornou líder do grupo de jovens. Não muito depois, e apesar da pouca idade, se tornou uma espécie de administrador da casa de Flordelis, visto como um líder pelos demais.

Dentre os jovens que ela acolheu, um deles - Wagner Andrade Pimenta, o Misael - passou a gravar os cultos ministrados por Flordelis e a fazer cópias em CD e DVD para vender nas igrejas por onde passavam. A parceria de Anderson e da cantora se consolidou enquanto ela pregava e ele transformava em dinheiro as pregações, que vendia pelas ruas.

Juntos, Flordelis e Anderson fundaram a Comunidade Evangélica Ministério Flordelis, em 1999, no Rocha, zona norte do Rio. Anderson era presidente da instituição. No início dos anos 2000, o ministério foi transferido para São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. A igreja chegou a ter cinco filiais.

Em 2007, com a influência florescendo nas igrejas evangélicas que criou, Flordelis fundou o Ifam (Instituto Flordelis de Apoio ao Menor). Seu trabalho de acolhimento estava ficando cada vez mais conhecido enquanto sua carreira como cantora decolava. Ela lançou quatro álbuns independentes -,

Com a carreira como pastora e cantora gospel em franca ascensão, a carioca foi tema do filme Flordelis - Basta uma palavra para mudar, que marcou o auge de sua fama. A produção teve a participação de atores famosos, como Marcello Antony (interpretando Anderson), Ana Furtado, Leticia Sabatella, Alinne Moraes, Bruna Marquezine, Reynaldo Gianecchini, Cauã Reymond e Deborah Secco. Eles doaram seus cachês à causa de Flordelis. O dinheiro arrecadado foi investido na construção de um centro de reabilitação para jovens e na compra de uma casa para a pastora.

Um ano depois do filme, graças a articulações de Anderson, Flordelis assinou com a gravadora evangélica MK Music, do senador Arolde de Oliveira, e lançou "Fogo e Unção". Além de produzir o álbum, Oliveira se tornou padrinho político dela.

Já em 2012 foi a vez do CD "Questiona ou Adora’', seu maior sucesso, com mais de 80 mil cópias vendidas e um disco de platina. Entre 2014 e 2018, lançou outros dois discos de estúdio, dois EPs (extended play) e um DVD. A partir daí, lotou shows no Brasil e no exterior - foram dez apresentações nos EUA e Canadá -, aliando música e pregação.

Flordelis afirmava ser mãe de 55 filhos, a maioria afetivos, e a desburocratização da adoção foi a bandeira que a elegeu deputada federal, pelo PSD, em 2018, na onda bolsonarista. Foi a quinta mais votada no estado, com 196.959 votos, feito importante para quem havia tentado vaga de vereadora em São Gonçalo, em 2004, recebendo pouco mais de 2 mil votos.

Em 2016, pelo PMDB, ela havia tentado concorrer à prefeitura de São Gonçalo e chegou a figurar como pré-candidata. Mas o principal nome da coligação foi o então prefeito Neílton Mulim (PR), que concorreu à reeleição e terminou em terceiro lugar.

Nenhum dos projetos de Flordelis como deputada teve grande impacto nem foi aprovado. Um dos textos define regras para o armazenamento de dados de clientes por operadoras de cartão de crédito e débito. Outro institui um sistema nacional para localização de pessoas desaparecidas e bens subtraídos.

Um terceiro reconhece os direitos do nascituro, inclusive os gerados por meio de estupro. Outro obriga a exibição de mensagens de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes por emissoras de rádio e TV antes e após a transmissão de conteúdo sexual.

Em Brasília, Flordelis estava sempre com o marido, que chegou a conseguir um crachá para circular no plenário da Câmara dos Deputados. Anderson fazia as articulações. Conseguiu que ela fosse recebida pela primeira-dama Michele Bolsonaro, no Palácio da Alvorada e pelo então presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Também foi do pastor a articulação de um seminário sobre adoção na Câmara dos Deputados, realizado pouco mais de duas semanas antes de sua morte.

O mandato de Flordelis como deputada foi cassado em agosto do ano passado, quando o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou, por 16 a 1, parecer nesse sentido. Depois, acabaria presa, na espiral que tragou o seu sucesso a partir do assassinato de Anderson.

A ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza disse neste sábado, 12, em interrogatório no Tribunal do Júri que o pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho de 2019, a agrediu por um período de seu relacionamento, mas, depois parou e se limitou a um comportamento agressivo na "área sexual". Em linha com a estratégia da defesa, de atribuir a Anderson um comportamento abusivo com filhas e netas, Flordelis disse que desconfiava dos casos de assédio após o assassinato, mas não podia acreditar e só depois soube do que, segundo os advogados, ocorria.

"Ele (Anderson) me batia. Depois, ele parou com essa prática de me bater e se tornou uma coisa, assim, muito doída, sofrida. Ele voltou a ficar agressivo na área sexual. Meu marido só sentia prazer se me machucasse. Ele só chegava às vias de fato (orgasmo) se me machucasse", disse Flordelis, chorando, durante o julgamento realizado no Fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

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A ex-deputada detalhou que Anderson o enforcava durante o ato sexual. Segundo ela, em uma das relações, chegou a desmaiar. A ré disse ainda estranhar o fato do marido voltar rapidamente a um estado de carinho após a violência sexual. "Depois que ele fazia essas coisas, simplesmente me chamava para deitar no peito dele e voltava ser carinhoso, como se nada tivesse acontecido", detalhou.

Flordelis disse que não entendia o comportamento sexual de Anderson. Atribuía-o aos problemas de infância e à "falta de apego familiar" de Carmo.

Estratégia

Aos jurados, a abordagem da defesa tem sugerido que o crime se restringiu a um grupo pequeno de filhos. Incluiria a suposta mandante, Simone dos Santos, o executor e réu confesso, Flávio dos Santos, e Lucas dos Santos, que ajudou na compra da pistola usada no assassinato. Segundo a defesa, o crime veio em reação aos abusos sexuais de Carmo.

O Ministério Público e o assistente de acusação questionam essa narrativa. Afirmam que houve envolvimento de Flordelis e um grupo maior de filhos, que inclui os interrogados neste sábado. Flordelis e os filhos foram orientados a não responder perguntas da acusação, somente indagações da defesa e dos jurados, vocalizadas pelo juízo.

Questionada pela advogada de defesa, Janira Rocha, por que não denunciou as agressões de Carmo nem pediu ajuda, Flordelis disse que se sujeitava ao comportamento violento de Anderson porque aprendeu assim na igreja e com a mãe. Esta sempre teria sido uma esposa submissa e a aconselhava nesse sentido, para "conversar com calma depois".

A ex-deputada endossou ao menos dois supostos episódios de abuso, com uma filha, Kelly, e com a neta Rayane dos Santos, também interrogada neste sábado. Ao fim do depoimento, que durou uma hora, Flordelis disse ter ficado chocada quando constatou, após o crime, que suas roupas íntimas eram idênticas às da filha Simone dos Santos, que também teria sido abusada por Carmo. Simone é atendida por outro grupo de advogados e tem disposição de confessar o mando do crime. Ela tem câncer.

Em seu depoimento, Rayane dos Santos, neta de Flordelis e sua assessora parlamentar na Câmara dos Deputados, disse que eram "hábitos de seu avô", o pastor Anderson do Carmo, "passar a mão, dar tapas na bunda e apertar o bico do peito".

Rayane disse que, em uma manhã de 2019, no apartamento funcional de Flordelis, em Brasília, ela acordou com Carmo deitado em cima de seu corpo, a alisando. Quando a mão do pastor chegava perto de sua vagina, detalhou, ela teria pedido que parasse.

Ele, então, disse que iria trabalhar e deixou o cômodo. A jovem também disse não ter contado a ninguém por medo de perder a posição no gabinete de Flordelis, em suas palavras, uma oportunidade dada por Carmo.

Choro

Para Flordelis, os jurados perguntaram se o choro era verdadeiro, ao que ela disse que sim, e se ela via com normalidade o fato de filhos afetivos se relacionarem. A ex-parlamentar disse que não via com bons olhos, mas que não podia impedir relações entre seus filhos, o que a investigação da Polícia Civil apontou como fato corriqueiro.

Após cinco dias de depoimentos de testemunhas, o interrogatório de Flordelis, três de seus filhos e uma neta começou na manhã deste sábado às 10h30 e deve avançar pelo dia, inclusive com início da etapa de debates entre Promotoria e defesa.

Foi a primeira vez em que Flordelis falou na presença dos sete jurados que julgam o caso no Tribunal do Júri. Ela e os filhos são acusados de homicídio triplamente qualificado cometido, homicídio duplamente qualificado tentado - por suposta tentativa de envenenamento de Carmo - falsificação de documento e associação criminosa armada.

No quinto dia do julgamento da pastora, cantora e ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, no fórum de Niterói (Região Metropolitana do Rio), nesta sexta-feira, 11, as sete últimas testemunhas de defesa da ré acusaram o pastor Anderson do Carmo (marido e de cujo assassinato a pastora está sendo acusada) de praticar assédio e abuso sexual contra filhas e netas afetivas, além de outras condutas reprováveis.

Duas netas de Flordelis, filhas biológicas de Simone dos Santos Oliveira e André Luiz de Oliveira, que também são réus nesse mesmo processo - Lorrayne dos Santos Oliveira e Rafaela dos Santos Oliveira - prestaram os depoimentos mais fortes contra a vítima.

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Rafaela contou que, em uma noite durante um período de férias em 2018 ou 2019, estava deitada no quarto que dividia com a mãe e outros quatro familiares. Foi quando alguém entrou, sentou-se em seu colchão, aos seus pés, e começou a passar as mãos pelo seu corpo. As outras pessoas estavam no quarto. Aparentemente dormiam.

"Senti uma mão subindo pela coxa e não conseguia reagir. Quando abri o olho vi o Niel (apelido do pastor Anderson) de blusa regata branca sentado", narrou a testemunha. "Ele subiu a mão pelas minhas coxas e introduziu o dedo, eu fechei a perna e virei para a parede."

Segundo Rafaela, quando ela girou o corpo, a cama de madeira fez barulho. Sua mãe despertou e identificou o pastor, que se assustou e se levantou. Anderson foi embora.

"Era época de férias, e eu não tinha aula no dia seguinte, então fiquei em casa, mas passei o dia fugindo da minha mãe, para não conversar sobre o que tinha acontecido. Quando ela perguntou se tinha acontecido algo na noite anterior, eu disse que não tinha acontecido nada", concluiu.

A irmã dela, Lorrayne, afirmou não ter sido vítima de abuso semelhante. Mas acusou o pastor de tentar leva-la a um motel, com o pretexto de almoçarem, em uma tarde em que estavam a caminho da igreja. Ela se recusou e não houve desdobramentos, segundo contou aos jurados. Lorrayne narrou outras supostas condutas reprováveis do pastor. Disse já ter sido alvo de tentativa de agressão por ele. Flordelis teria interrompido essa briga.

Lorrayne foi questionada pelo MP sobre a razão de não ter relatado os supostos abusos de Anderson à Polícia Civil, durante o interrogatório. Disse que, até a morte do pastor, não considerava a conduta do pastor abusiva. Ela afirmou ter tomado consciência de que se tratava de abusos pela advogada Janira Rocha. Ela assumiu como uma das advogadas de defesa de Flordelis após o crime.

Para o advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação, a afirmação de Lorrayne de que a conduta do pastor só foi considerada inadequada depois de sua morte contradiz a suposta tese da defesa de que o comportamento abusivo dele teria sido causa do crime. "Essa tese foi derrubada pela afirmação da Lorrayne", afirmou Máximo ao fim do depoimento.

O advogado Rodrigo Faucz, um dos advogados de defesa, afirmou que "ficou bem clara a conduta de predador sexual do pastor". "Não há nenhuma prova concreta de que os réus cometeram o homicídio", afirmou

O julgamento recomeça às 10h deste sábado, com a oitiva dos cinco réus - Flordelis, Simone, André, Marzy Teixeira da Silva (outra filha afetiva de Flordelis) e Rayane dos Santos Oliveira, neta de Flordelis. Depois haverá debates entre a defesa e a acusação, e o julgamento pode terminar no domingo.

Durante a investigação da Polícia Civil, Lorrayne foi acusada por um mototaxista de ter jogado três celulares no mar. Os aparelhos seriam de Anderson, de Flordelis e de Flávio, filho do casal já condenado por disparar os tiros que mataram o pastor. Interrogada pelo Ministério Público, Lorrayne admitiu ter ido até a praia de Piratininga, em Niterói, com o motorista, mas negou ter dispensado qualquer celular. O telefone de Anderson desapareceu. Nunca foi localizado pela polícia.

O julgamento da ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza, apontada como mandante da morte do marido, pastor Anderson do Carmo, entra na reta final neste fim de semana. Na noite desta sexta-feira (11), a última testemunha começou a ser ouvida. 

 É o 24º depoimento colhido desde segunda-feira (7): 13 foram indicações da acusação e 11 das defesas dos réus.

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A previsão inicial era de que 30 testemunhas seriam ouvidas, mas algumas foram posteriormente dispensadas. Neste sábado (12), devem se iniciar os interrogatórios individuais de cada um dos cinco réus. 

Flordelis e mais quatro suspeitos de envolvimento no caso são julgados pelo Tribunal de Júri de Niterói, conforme decisão tomada em setembro do ano passado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). Apenas crimes dolosos contra a vida podem ser submetidos ao Tribunal de Júri, que é composto por sete indivíduos selecionados mediante sorteio entre cidadãos previamente alistados e sob juramento. 

Cantora gospel e pastora em seu próprio ministério, Flordelis se elegeu deputada federal em 2019 pelo Partido Social Democrático (PSD) com grande apoio dos fiéis. Ela foi a mulher mais votada no estado do Rio de Janeiro. Após a conclusão da investigações em torno da morte de Anderson, ela teve seu mandato cassado. As investigações também implicaram parte de sua família, composta ao todo por mais de 50 filhos, dos quais três são biológicos e os demais adotivos ou classificados como afetivos. 

Anderson foi morto a tiros na noite de 16 de junho de 2019, logo após chegar na casa da família no bairro de Pendotiba, em Niterói (RJ). Em um primeiro momento, Flordelis sustentou se tratar de uma tentativa de assalto. No entanto, o inquérito policial concluído em agosto de 2020 indicou ter ocorrido um homicídio e apontou a então parlamentar como mandante. O motivo do crime teria sido a disputa por poder e pelo controle financeiro na família. 

Devido à imunidade parlamentar, a deputada não poderia ser presa no curso das investigações. Por outro lado foram presos o filho biológico do casal Flávio dos Santos, acusado de ser o autor dos disparos, e o filho adotivo Lucas dos Santos, que seria o responsável pela compra da arma. Posteriormente, com a conclusão do inquérito, foram presos os outros dois filhos biológicos - Adriano dos Santos e Simone dos Santos -, três filhos adotivos - Marzy Teixeira, André Luiz de Oliveira e Carlos Ubiraci Silva - e a neta Rayane dos Santos. Eles foram acusados de envolvimento no crime ou de tentarem atrapalhar a investigação. 

Com a repercussão das conclusões do inquérito policial, Flordelis foi expulsa do PSD e sua cassação foi aprovada na Câmara dos Deputados em agosto de 2021 por 437 votos contra sete. Sem foro privilegiado, ele foi presa dois dias dpeois. 

No julgamento em curso, caberá ao Tribunal de Júri dar a sentença de Flordelis, André Luiz de Oliveira, Marzy Teixeira, Simone dos Santos e Rayane dos Santos. Os trabalhos são presididos pela juíza Nearis Arce. Outros acusados de envolvimento no crime já foram julgados anteriormente. Flávio dos Santos e Lucas dos Santos foram condenados por homicídio triplamente qualificado e outros crimes.

  Já em abril desse ano, o Tribunal de Júri condenou por uso de documento falso Adriano dos Santos e mais duas pessoas sem parentesco com a família: o ex-policial militar Marcos Costa e sua esposa Andrea Maia. No mesmo julgamento, Carlos Ubiraci Silva foi absolvido da acusação de homicídio, mas condenado por associação criminosa a uma pena de dois anos, dois meses e 20 dias. Como estava preso desde agosto de 2020, ele obteve a liberdade condicional em maio. 

Júri

As testemunhas ouvidas no primeiro dia do julgamento já indicavam um julgamento longo. A delegada de polícia Bárbara Lomba, por exemplo, falou por mais de 4 horas. Ela presidiu a primeira fase das investigações que resultaram na prisão de Flávio dos Santos e Lucas dos Santos.  Inicialmente havia a expectativa de que o julgamento se encerrasse em três dias, mas ele vem se estendendo não apenas pelos longos depoimentos, mas também por um tumulto ocorrido ontem (10) e por atrasos no início de algumas sessões. Além disso, em momentos distintos, Flordelis e Marzy passaram mal e demandaram paralisações para atendimento médico.  No atual ritmo, o veredito não deve sair antes de domingo (13). Com o fim dos depoimentos das testemunhas, serão realizados os interrogatórios individuais dos cinco réus e, em seguida, as falas finais da acusação e da defesa. Só então os jurados tomam sua decisão. Durante todo o julgamento, eles ficam isolados em um hotel e incomunicáveis, sem acesso a telefone. 

A acusação é conduzida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), tendo como assistente advogados que representam a família do pastor. Eles reiteram as conclusões do inquérito policial, no qual é apontada a motivação financeira do homicídio e a ocorrência de outras tentativas de assassinar o pastor, com a adição de veneno nas comidas e bebidas da vítima. 

Entre os reús, Simone dos Santos Rodrigues chegou admitir no curso do processo que deu dinheiro à Marzy para matar Anderson. Ela disse que desejava se livrar de absusos sexuais cometidos pelo pastor, mas não acreditava que a irmã teria coragem de atender seu pedido. Marzy, por sua vez, já alegou que teve sozinha a ideia de tirar a vida de Anderson e fez uma proposta à Lucas, que teria recusado, impedindo o plano de seguir adiante. Ela se declarou inocente. 

Flordelis também alega inocência e sua defesa argumenta que o crime foi resultado da reação de Simone ao comportamento de cunho sexual da vítima. A advogada que representa a ex-deputada, Janira Rocha, busca mostrar aos jurados que Anderson tinha um perfil de abusador. Além disso, na quinta (10) ela chegou a pedir a exumação do corpo do pastor, para que fosse analisada a alegação da acusação de que houve tentativas de envenenamento. O pedido, no entanto, foi negado pela juíza Nearis dos Santos.

A pastora, cantora e ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, que está sendo julgada no fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, teve uma crise de choro e precisou ser retirada do auditório durante o depoimento da terceira testemunha de defesa, o desembargador Siro Darlan, pouco antes das 17h desta quinta-feira, 10. Até as 18h30 ela não havia retornado ao auditório.

Aos prantos, enquanto era amparada por advogados de defesa, ela pronunciou algumas palavras: "Me perdoa, doutor Siro, obrigada por tudo. Sou inocente, estou envergonhada", disse a pastora. O desembargador, que estava a poucos metros dela, não se manifestou.

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Darlan foi juiz da 1ª Vara da Infância e Adolescência do Rio de Janeiro de 1990 até 2004, quando foi alçado a desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, cargo que ocupa até hoje. Durante os 14 anos em que foi responsável pelas causas cíveis ligadas a crianças e adolescentes em todo o município do Rio, teve bastante contato com Flordelis, com quem continuou convivendo socialmente depois. Em seu depoimento, ele teceu elogios à conduta dela até 2004.

"Quando assumiu a 1ª Vara, encontrei mandado de busca e apreensão do juiz anterior contra uma mulher negra e favelada que então tinha sob sua guarda cerca de 25 crianças, todas elas (morando) num pequeno barraco da favela do Jacarezinho (zona norte do Rio)", afirmou o desembargador. "Mandei cumprir essa ordem de busca e apreensão, porque até então ninguém sabia quem eram essas crianças e em que circunstâncias elas estavam. Mas os oficiais de justiça não conseguiam cumprir, porque a favela já era tomada pelo tráfico. Nesse ínterim fui procurado por dois empresários que me indagaram como podiam ajudar Flordelis para que ela deixasse de ser perseguida", narrou.

"Respondi: ‘Primeiro ela tem que dizer ao Judiciário onde recolheu crianças, regularizar a documentação delas. Depois ela tem que abrigar crianças num espaço adequado’. Eles perguntaram: "Quanto tempo o senhor nos dá pra tomar essas providências?" Eu: ‘30 dias’. Trinta dias depois, os empresários me convidaram para visitar uma casa na avenida Paulo de Frontin, no Rio Comprido (região central do Rio), e foi uma boa surpresa ver que em parte nossas exigências havia sido cumpridas", relembrou Darlan.

"O essencial, que era acolhimento, tratamento digno, as crianças tinham. Nem todas as exigências foram cumpridas, mas elas estavam muito bem cuidadas, bem tratadas, e essa senhora estava fazendo o que o Estado, o município nunca havia conseguido: uma família substituta. Até 2004, a família estava pelo menos tratando as crianças com dignidade e respeito. Depois mudei de cargo", afirmou. Darlan relatou que a regularização documental das crianças não foi cumprida, durante sua gestão como juiz, mas que nenhuma outra família reclamou a ausência delas, então a princípio se tratava de crianças abandonadas.

O desembargador não foi questionado sobre o crime em si, até porque não o testemunhou. Disse que, dois dias antes, o pastor Anderson havia ligado para ele e convidado para uma reunião, para debater projetos de lei relacionados aos direitos de crianças e adolescentes que Flordelis pretendia apresentar na Câmara dos Deputados.

"Mas eu estava iniciando uma viagem pela França e combinamos de conversar dali a 30 dias. Dois dias depois eu soube do desastre", afirmou, referindo-se à morte do pastor. "Quando eu o conheci ele era um acolhido, uma das crianças abrigadas pela Flor. Depois eles se casaram e ele virou o CEO, o gerentaço do projeto ‘família Flordelis’. A Flor era a grande protagonista, mas o Anderson era quem comandava, era muito inteligente. Ela era tímida, sequer falava comigo, falava de cabeça baixa", narrou.

O julgamento continua na noite desta quinta-feira, com a oitiva de outras testemunhas de defesa.

A nora da ex-deputada e pastora evangélica Flordelis dos Santos de Souza, Luana Vedovi, testemunha de acusação no julgamento do assassinato do pastor Anderson do Carmo, afirmou em depoimento na manhã desta quarta-feira, 9, que a ex-parlamentar disse que teria quebrado o celular da vítima e jogado os destroços no mar.

Segundo Luana, a ré confidenciou a ela e a dois filhos -, o marido, Wagner de Andrade, conhecido como Misael, e Daniel dos Santos -, ter destruído e descartado o aparelho. O objetivo seria apagar vestígios do crime.

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Uma das principais provas do processo, uma mensagem com o plano de matar o pastor encontrada no iPad dele, foi citada pela testemunha no decorrer do depoimento. Segundo Luana, ela teria confrontado Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, acusada de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada, sobre a mensagem. A cunhada então teria contado que a própria Flordelis teria redigido o texto e pedido para que ela enviasse para Lucas César dos Santos - filho adotivo do casal e a primeira opção da ex-deputada para executar o marido.

Segundo Luana, na semana da morte do pastor, Flordelis a convocou com o marido para uma reunião na casa da família. Com receio de a polícia ter instalado escutas na casa, Flordelis escreveu um bilhete com a mensagem: "Ainda bem que quebramos o celular do Niel e jogamos no mar".

"Eu chamei a Marzy. E perguntei que história era essa no iPad do pastor. Queria entender. A Marzy chorou e começou a se abrir comigo. Ela (Marzy) explicou que a mãe, Flordelis, estava na cama escrevendo a mensagem e pediu para a Marzy enviar a mensagem para o Lucas. Por algum motivo não apagaram a mensagem. E a mensagem ficou no iPpad dele. Ele chegou em casa e viu", contou Luana no terceiro dia de julgamento, em Niterói.

O pastor teria confrontado Flordelis sobre o plano de assassinato encontrado no iPad. Segundo Luana, a ex-deputada teria pagado Marzy para assumir a autoria da mensagem.

"Quando o Niel (Anderson do Carmo) descobriu e foi questionar a Flor, a Marzy disse que ela deu um dinheiro, mandou assumir e sumir. Ela já tinha assumido o sumiço de um dinheiro do cofre da família antes", contou.

Flordelis achava que morte de Anderson resolveria problemas

A nora de Flordelis afirmou ainda no julgamento que Marzy estava convicta de que a morte de Anderson "resolveria todos os problemas da família".

"Ela falou: ‘matar o Niel vai resolver o problema de todo mundo’. Marzy estava com a mente feita de que matar o Niel iria resolver os problemas da casa dela", disse.

Logo após a morte do pastor Anderson, Luana e o marido, Wagner, teriam desconfiado da participação de Flordelis. Eles se lembraram da existência da mensagem com o plano de matá-lo e decidiram ir atrás do celular do pastor para fotografar a prova.

Ela contou que ela e o marido decidiram procurar a delegacia após fotografarem o texto com o plano do assassinato.

"Na segunda-feira, na hora do enterro, meu marido ficou com a mensagem do iPad na cabeça. Ele chegou para o (Márcio) Buba (amigo da família que ficou com o celular da vítima) e perguntou onde estava o celular do pastor. Depois do enterro, o Buba foi lá em casa. O Mizael achou a mensagem no bloco de notas do pastor. Enviou para o e-mail, bateu foto do celular. Nesse meio tempo, a Flor já estava ligando para pedir o celular do pastor", contou.

A pastora, cantora e ex-deputada federal Flordelis, que está sendo julgada pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, ocorrido em junho de 2019 em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, passou mal durante o terceiro depoimento do segundo dia da sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri no fórum de Niterói, segundo um de seus advogados de defesa, Rodrigo Faucz.

"Ela não estava se sentindo bem. Tivemos de retirá-la. Ela ficou um pouco fora, tomou remédios, continuava não se sentindo bem, mas fez questão de voltar para o julgamento, porque não queria aparentar que estava fugindo. Ela ficou debilitada, mas ficou até o final", disse Faucz.

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De acordo com ele, a ré teve queda de pressão, formigamento no braço e dores na coluna.

Flordelis ficou cerca de uma hora fora do plenário.

O advogado reafirmou estar confiante na absolvição de sua cliente. "Não existem provas contra ela", repetiu Faucz, ao final do segundo dia de julgamento.

Responsável pelas investigações do assassinato do pastor Anderson do Carmo, a delegada Bárbara Lomba afirmou em depoimento nesta segunda, 7, que provas do crime teriam sido queimadas no quintal da casa onde a família morava, em Pendotiba, Niterói.

Segundo Lomba, primeira testemunha ouvida no julgamento, os policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói, onde era lotada à época do crime, encontraram apenas cinzas no terreno da casa da família durante as buscas por pistas do assassinato.

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Ao depor no primeiro dia do julgamento da ex-deputada e pastora evangélica Flordelis dos Santos de Souza, acusada de ter ordenado o assassinato do próprio marido, a policial também contou que os celulares da vítima, da ex-parlamentar e de Flávio dos Santos, filho biológico da ex-parlamentar, autor dos disparos contra Anderson, desapareceram.

Um dos advogados de defesa de Flordelis, Rodrigo Faucz, tentou contestar um aspecto da investigação da Polícia Civil, envolvendo as tentativas fracassadas de envenenar Anderson do Carmo. O defensor mostrou que, segundo o inquérito, a pastora fez pesquisas sobre venenos, na internet, em 2019, depois que, em 2018, o pastor fora internado em decorrência de tentativas de envenenamento.

Faucz disse que não faria sentido pesquisar sobre meios de envenenamento depois de supostamente já ter envenenado o alvo.

"Vai ver ela (Flordelis) queria envenenar mais alguém", ironizou Bárbara Lomba. Segundo ela, o fato de ter havido pesquisa posterior não invalida a acusação de envenenamento.

Apesar da afirmação da delegada, após o depoimento da policial o advogado de Flordelis demonstrou confiança na absolvição de seus clientes no caso.

"Não tem nada que acuse diretamente a Flordelis e os demais. O que eles (a acusação) têm são apenas achismos, indícios não comprovados. Com isso, vai ser muito difícil eles conseguirem provar a responsabilidade dos meus clientes. Inexiste prova, até porque não foram eles (que cometeram o crime)", afirmou.

A promotoria perguntou à ex-titular da especializada se Flordelis, ao depor na delegacia, teria relatado ter sido agredida pelo pastor. Segundo Bárbara, a ex-deputada disse que a relação com o marido era excelente. A ex-deputada teria dito que nunca sofreu nenhum tipo de intimidação.

Acusações

Vestida com uma camiseta branca, calça jeans, óculos e chinelos, Flordelis começou a ser julgada na manhã desta segunda-feira, 7, no Tribunal do Júri de Niterói, na região metropolitana do Rio. Denunciada como mandante do assassinato a tiros do marido, o pastor Anderson do Carmo, Flordelis é julgada ao lado de três filhos- dois adotivos e um biológico- e de uma neta. Todos são acusados de envolvimento no crime.

Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, responde pelos mesmos crimes de Marzy. Rayane dos Santos Oliveira, filha de Simone e neta de Flordelis, é acusada de homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada. André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis, foi denunciado pelo uso de documento falso e associação criminosa armada.

O julgamento é presidido pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3.ª Vara Criminal de Niterói., e deve se estender até a próxima quarta ou quinta-feira, segundo estimam advogados que atuam no processo. O julgamento começou às 11h, duas horas após o previsto inicialmente.

Choro

Flordelis e os filhos choraram ao ver parentes que acompanham o júri. A mãe da ex-deputada, Carmozina Mota, chegou a se aproximar do local onde ela e os outros réus aguardavam o início da sessão. Os advogados dos acusados fizeram uma barreira para evitar que eles fossem fotografados.

O julgamento começou com a leitura da denúncia apresentada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). Após a leitura, a delegada Bárbara Lomba depôs. Anderson do Carmo foi morto em 16 de junho de 2019. Foi baleado mais de trinta vezes, na garagem da casa onde morava com sua mulher, Flordelis.

Dois filhos da pastora e ex-deputada federal Flordelis dos Santos Souza começam a ser julgados na tarde desta terça-feira, 23, pelo assassinato do pastor Anderson do Carmo, marido da ex-parlamentar. Flávio dos Santos Rodrigues, de 38 anos, e Lucas Cézar dos Santos de Souza, de 20 anos, respondem por homicídio triplamente qualificado: por motivo torpe, usando meio cruel e sem dar chance de defesa à vítima. Serão submetidos ao Tribunal do Júri de Niterói, na região metropolitana do Rio onde o crime ocorreu, em 16 de junho de 2019.

Flavio e Lucas são os primeiros acusados do crime a serem julgados, dois anos, cinco meses e uma semana após o homicídio. Outras dez pessoas, inclusive a própria Flordelis, também respondem pelo mesmo assassinato, mas esses julgamentos ainda não têm data marcada. Ela recorre ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra a acusação.

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Filho biológico da ex-parlamentar, Flávio é acusado de ser ter dado os tiros que mataram Anderson. Lucas, que foi adotado por ela, responde por ter supostamente ajudado o irmão na compra da arma usada no crime. O julgamento será presidido pela juíza Nearis dos Santos Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói. Deve se estender por dois ou três dias.

Quem vai decidir pela condenação ou absolvição dos dois serão sete jurados. Eles serão sorteados a partir de uma lista de 25 cidadãos, composta pela Justiça. São pessoas comuns moradoras de Niterói, não necessariamente com conhecimentos jurídicos. Na audiência, dezessete pessoas serão ouvidas como testemunhas.

Pai de Anderson diz que espera justiça

O pai de Anderson do Carmo, Jorge de Souza, chegou ao fórum de Niterói por volta das 12h45. Emocionado, afirmou que espera que seja feita justiça. Souza é assistente de acusação, representado pelo advogado Ângelo Máximo.

"Nossa expectativa é de que Flávio finalmente aponte a mãe como mandante do crime", afirmou o advogado. O filho biológico confessou ter sido autor dos tiros que mataram Anderson do Carmo, em vídeo gravado na delegacia. Depois ele negou o crime e afirmou ter sido obrigado a confessar.

"No vídeo ele pede água e um funcionário (da delegacia) pergunta se ele quer gelada ou natural. Como pode depois afirmar que foi torturado, se até a temperatura da água ele pode escolher?", questionou o advogado.

O advogado de Flordelis, Rodrigo Faucz, também foi ao fórum para acompanhar o julgamento. Ele afirmou que nada do que se debata pode envolver sua cliente, que segundo ele é inocente. "Estamos aguardando os recursos ao STJ, para que se faça justiça", disse.

Flordelis teve o mandato cassado pela Câmara dos Deputados, em agosto de 2020. Desde o início das investigações, alega que não teve nenhum envolvimento com o assassinato do marido.

A filha biológica da deputada Flordelis (PSD-RJ), Simone dos Santos Rodrigues, negou nesta segunda-feira (26) que a parlamentar soubesse do planejamento do assassinato de seu marido, o pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019, em Niterói (RJ).

O depoimento de Simone, que está presa, foi dado por videoconferência ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. A deputada Flordelis é acusada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de ser a mandante do crime. Ela nega e aponta Simone como responsável pelo assassinato.

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“[Flordelis] não sabia de nada, não tinha ciência de nada do que estava acontecendo”, disse Simone. Ela respondeu a perguntas do relator do caso, deputado Alexandre Leite (DEM-SP), e da advogada de Flordelis, Janira Rocha.

Na videoconferência, Simone confirmou o que Flordelis já havia dito aos parlamentares: a filha sofreria assédio sexual do pastor. Por esse motivo, Simone teria dado R$ 5 mil a Marzy Teixeira, que os entregaria a Lucas dos Santos de Souza, para que "resolvesse a questão". Ambos são filhos adotivos da deputada.

“Eu estava em desespero. Não aguentava mais as investidas dele [de Anderson do Carmo]. Ele queria ficar comigo de qualquer forma. Ele ameaçava cortar o dinheiro da minha medicação, do meu tratamento de câncer. Eu não conseguia falar com a minha mãe. No desespero, comecei a ter síndrome de pânico, ansiedade, infelizmente usei drogas por causa disso. Fiquei atordoada, desorientada”, relatou Simone, que foi arrolada como testemunha pela defesa de Flordelis.

Segundo Simone, Anderson do Carmo “fazia bem” para Flordelis, mas a maior parte da família não gostava dele, nem de suas atitudes. A filha descreveu situações em que Anderson entrava em seu quarto, no banheiro quando ela tomava banho ou na lavanderia, para tentar agarrá-la e violentá-la.

“Ele [Anderson do Carmo] me dava dinheiro. Ele me chamava muito de B, ‘fica com esse dinheiro aqui’, às vezes R$ 1 mil, às vezes R$ 500, eu ia guardando”, contou Simone. “Todas as vezes que ele me dava um dinheiro e pagava um tratamento, alguma medicação, ele mandava mensagem no meu telefone, ‘B, olha como estou sendo bom com você, como estou sendo legal, sua mãe não precisa saber. Se você me olhar diferente, você vai ter tudo a seu favor, você não vai precisar trabalhar nunca’. Eu aceitava o dinheiro, mas não aceitava as palhaçadas que ele fazia para mim.”

Simone também contou que não tinha coragem de falar com Flordelis “por amor, respeito”. Segundo ela, sua mãe era “apaixonadíssima” pelo pastor e jamais acreditaria.

Outros depoimentos
Lucas dos Santos de Souza, o irmão adotivo que teria recebido dinheiro para matar Anderson do Carmo, já depôs ao Conselho de Ética e disse que, não havia como Flordelis não saber do assassinato.

Por sua vez, a delegada Bárbara Lomba Bueno, que iniciou as investigações do assassinato e também falou ao conselho, declarou que a parlamentar exercia influência sobre os envolvidos no crime e apontou disputa de poder como a causa do assassinato.

Simone dos Santos Rodrigues negou que houvesse disputa entre os filhos biológicos e adotivos de Flordelis. Segundo ela, havia tratamento igualitário para todos. Mesmo assim, ela acredita que por ingratidão alguns dos irmãos dizem que Flordelis sabia da trama. “Minha mãe pegou para criar com carinho, com amor. Infelizmente sangue conta muito. Eu tenho filhos adotivos, mas eu crio meus filhos sabendo que sangue pode falar mais alto," disse.

Ao fim do processo, o Conselho de Ética da Câmara poderá propor o arquivamento ou punições, como advertência, suspensão ou cassação do mandato da deputada Flordelis. São necessários 257 votos favoráveis à cassação no Plenário para que a deputada perca o mandato.

*Da Agência Câmara de Notícias

 

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