Qualquer cidadão que esteja ao menos um pouco atento ao cenário político já deve ter ficado surpreso ou ter a atenção voltada, nem que seja por um momento, para um político que extrapolou em seu discurso ou que falou sem receio sobre temas polêmicos beirando ao sensacionalismo. Muitos nem sabem, mas essa é uma estratégia utilizado por muitos deles em busca de se tornarem mais conhecidos entre a população e, consequentemente, barganhar alianças mais poderosas aumentando a chance de conquistarem mais votos.
Quando se trata de falar em políticos polêmicos é quase automático vir à mente o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Se para muitos a sua forma “sincera” e “despojada” choca e traz repugnação, também há quem acredite que esse perfil do tipo que “fala tudo na cara” fez Bolsonaro se tornar cada dia mais conhecido, odiado e amado.
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O próprio, que vai disputar a presidência da República, falou sobre o assunto. Durante entrevista concedida, nesta semana, afirmou que para “mudar o Brasil” não tem que ficar “cheio de dedos”, nem tampouco ser “educadinho”, e muito menos de mimimi. “Não dá mais para ficar nessa vaselina que está não”, disparou sem medo das interpretações que suas falas provocam. Vale ressaltar que Bolsonaro, em um cenário de disputa sem Lula, lidera com 18% a 20%, de acordo com a pesquisa do Instituto Datafolha.
O deputado federal Silvio Costa (Avante) é outro que não fica atrás quando se trata de causar. Os discursos, no plenário da Câmara dos Deputados, são conhecidos por elevar o tom de voz ao fazer críticas diversas. Em entrevistas concedidas, ele também não titubeia ao opinar sobre qualquer assunto que for questionado.
Entre as últimas declarações mais polêmicas, Silvio disparou sem pensar afirmando que “quem vota em Bolsonaro é idiota”. O parlamentar, que pretende disputar uma vaga no Senado Federal, também não poupa o governo Paulo Câmara e já detonou a atual gestão dizendo que “Pernambuco virou casa da mãe Joana”. “O assaltante, o bandido, olha para a cara de Paulo Câmara, aí fala que Pernambuco não tem governador”, criticou.
O colega de bancada Jean Wyllys (PSOL) é outro que, não raro, expõe suas opiniões de forma direta. Ele chegou a ser vaiado pelos colegas de bancada, durante uma sessão, por defender a exposição Queermuseu, em Porto Alegre, no ano passado, que foi acusada de fazer apologia à pedofilia e zoofilia. Ele, que também defende abertamente a regulamentação do aborto e segurança jurídica para as prostitutas, vira e mexe fala que é vítima de preconceito por ser homossexual. “Eu sei o que é ser gay e atravessar esses corredores. Eu sei o que é ser gay e ser olhado pelos homens héteros, inclusive pela polícia legislativa aqui e a maneira como eu olho para eles é, o tempo inteiro, julgada”, desabafou em texto no seu Facebook.
O senador Magno Malta (PR) não se intimida ao falar. Ele, que se diz defensor das crianças e adolescentes, e faz um trabalho de combate à pedofilia, já chegou até criticar menores de idade afirmando que eles também podem “estuprar e matar”. Também comenta, em muitos vídeos publicados em seu Facebook, a questão de identidade de gênero chegando a dizer que estão querendo “erotizar as crianças brasileiras”. Magno, que já foi cogitado para ser o vice de Bolsonaro, também já falou sobre a corrupção. “Ficar rico roubando dinheiro público é fácil”, disparou.
Um caso curioso envolve o deputado federal Marco Feliciano (PSC) que, nos últimos meses, decidiu seguir uma nova tática: quase que diariamente o também pastor publica em seu Facebook um vídeo abordando algum tema polêmico como homossexualismo, religião e afins. Já virou marca a frase que utiliza “a nossa família merece respeito”. Ele também sempre pede com veemência que os internautas compartilhem suas publicações já ganhando grande repercussão em algumas delas.
Demarcação de espaço
A cientista política Priscila Lapa, em entrevista ao LeiaJá, destacou que a corrida eleitoral já começou e que, neste momento de pré-campanha, é a hora em que os candidatos demarcam o seu espaço. Alguns não irá se lançar como candidato, mas visam “barganhar” apoio político. “Por exemplo, um Marco Feliciano já é uma pessoa conhecida, tem uma legião de seguidores e, provavelmente, o que ele está tentando é aumentar o seu espaço de atuação para ele poder barganhar alianças mais poderosas e mais consistentes para a eleição deste ano".
“É muito comum nesse período pré-campanha, nessa arrumação dos partidos, saber quem vai coligar com quem, quem vai fazer chapão, quem não, e esse espaço que eles vão ganhando nas redes sociais é uma maneira de ganharem o apoio e visibilidade. A gente sabe que, hoje, as redes sociais potencializa muito essa exposição dos candidatos. Eles ganham força para possíveis alianças e ganham espaço dentro do seu partido também”, declarou.
Lapa ainda explicou que, quando a campanha começar efetivamente, a tendência é que se amenizem essas discussões sobre temas polêmicos. “Neste momento, os políticos estão querendo se firmar, mas quando começar a campanha propriamente dita, nas ruas, aí começam a recuar um pouco nessa temática e procuram agradar o eleitorado com temas mais gerais fugindo dessas polêmicas, mas agora a estratégia é fidelizar os eleitores que já são seguidores e demarcar esse espaço”, reiterou.
A cientista ressaltou que as redes sociais são o principal espaço para o debate político e que a campanha de rua perdeu muito espaço devido a essa ascensão. “Existe toda uma cobrança por parte dos que utilizam as redes sociais para que os políticos se posicionem. As pessoas querem saber o que eles pensam sobre determinados temas. Essa cobrança aumentou a partir das redes sociais sobre o posicionamento. Não dá mais para fugir e ficar em cima do muro”.