Tópicos | Profissionais da voz

Uma pesquisa mostra que 86% dos profissionais da voz apresentam algum problema vocal. O levantamento foi realizado pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Fonoaudiólogas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os sintomas mais frequentes são rouquidão e perda de voz, afetando vários trabalhadores como, por exemplo, os professores. 

A saúde vocal por vezes é negligenciada. Profissionais como cantores, vendedores, professores, operadores de telemarketing e outros acabam tendo a voz como ferramenta de trabalho. A falta de cuidado com ela pode resultar em diversos problemas, incluindo rouquidão, nódulos e edemas nas cordas vocais, disfonia crônica com alterações na qualidade do som produzido, e até mesmo perda de voz temporária ou permanente.

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Caso o profissional apresente algum sintoma, ou também queira fazer tratamento preventivo, deve-se procurar um fonoaudiólogo. “Existem algumas medidas que os profissionais que dependem de suas vozes podem adotar para a saúde vocal, como a hidratação regular, o descanso vocal, a realização de exercícios de aquecimento da voz, o uso de técnicas para a produção saudável do som, como a postura e respiração, além de evitar fatores de risco”, é o que aponta a fonoaudióloga da Clínica Três Marias, Dra. Taciana Amorim.

Sentido que define uma particularidade de cada ser humano, a voz, lembrada nesta quinta-feira (15), Dia Mundial da Voz, é também um instrumento para muitos profissionais que dependem de uma boa saúde vocal para manter suas rotinas.

Amanda Mazo, 26 anos, utiliza a voz em duas situações: a primeira em seu hobby, como cantora em uma banda religiosa, e a segunda em sala de aula, pois é professora de inglês. "Ano passado tive uma carga horária muito alta de aulas e desenvolvi um calo nas cordas vocais. Desde então tenho recebido acompanhamento por professores de canto e de uma fonoaudióloga", comenta. "Minha voz praticamente sumiu e tive episódios de rouquidão por meses. Depois de manter a rotina de exercícios, minha voz foi voltando ao normal, e agora estou bem melhor", complementa.

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Amanda Mazo usa a voz para cantar e dar aulas | Foto: Arquivo Pessoal

O ventríloquo e apresentador do programa "Tá Certo" (Cultura), Warley Santana, 42 anos, conta que, mesmo tomando água e fazendo aquecimentos vocais, já perdeu a voz durante um espetáculo. "Como gravo muitos programas por dia, quando estou no quarto programa, a voz costuma falhar. Mas ali [na gravação], ainda consigo disfarçar, já que contraceno com os atores. Porém, no teatro é mais difícil, pois estou sozinho", conta.

O ventríloco e apresentador Warley Santana| Foto: Ricardo Pepeliskof

O ator, Vinicius Pieri, 11 anos, enfrentou um grande drama em sua carreira ao descobrir que tinha uma fenda vocal. "Foi exatamente nessa época que eu estava ensaiando para um grande musical na minha carreira, 'A Noviça Rebelde', onde eu interpretei o personagem Kurt e precisava alcançar grandes agudos. Com a fenda, eu não poderia ter feito isso", declara Pieri, que se recuperou após um tratamento de seis meses com uma fonoaudióloga.

O ator Vinicius Pieri caracterizado para o musical "A Noviça Rebelde" | Foto: Divulgação

Profissionais que precisam da voz em seu ofício precisam ficar atentos aos sinais de ajuda que a própria voz emite. A fonoaudióloga mestre e especialista em voz Fernanda de Morais, alerta as pessoas a tomarem cuidado com alguns sintomas, como rouquidão por mais de 15 dias ou cansaço após falar por um longo tempo. "É fundamental tomar água durante o uso intensivo da voz, além de aquecer a voz antes de usá-la profissionalmente", explica.

Fernanda também orienta o uso de exercícios vocais, que podem ser feitos em todos os segmentos e profissões. "Pode-se usar a técnica de vibração de língua 'trrrrr' bem suave ou a de vibração de lábios 'brrrr', sempre observando se não há esforço ao emitir os sons. Essas práticas podem ser feitas minutos antes de começar a falar".

Além dos exercícios, a alimentação é um fator que pode influenciar na saúde vocal. A fonoaudióloga orienta as pessoas a terem uma alimentação leve, para garantir maior conforto na hora de falar. "Outro alimento indicado é a maçã, que tem uma fibra chamada pectina que ajuda a limpar as cavidades da boca e garganta, facilitando a emissão vocal", finaliza.

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Quem passa pelas ruas do centro do Recife já deve ter visto ou ouvido os chamados locutores de rua. Com apenas um microfone em mãos e uma caixinha de som, eles usam a voz para divulgar as promoções e produtos das lojas. São vozes ouvidas praticamente de domingo a domingo, mas poucas pessoas sabem quem são ou o quem os levou a usar a fala pública como principal instrumento de trabalho.  

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Apesar de terem uma lábia invejável, os especialistas em locução publicitária precisam usar muito mais que o gogó para conquistar o patrão e, principalmente, clientes. Os candidatos têm que ser criativos, verdadeiros artistas de rua para atrair a atenção do público.  

Cláudio Batista, 58 anos, por exemplo, já trabalha há mais de 22 anos com o anuncio em frente de lojas. Apesar de ser contratado para trabalhar na área de serviços gerais em uma rede de lojas de roupa no Recife, desde o início do emprego, ele aproveita as horas vagas para realizar um sonho desde pequeno: ser locutor.   

"Essa minha voz é desde pequeno, eu sempre tive o desejo de ser locutor, de falar com as pessoas. É um dom. Eu tinha uns oito, dez anos quando comecei a me dedicar a minha voz", relembra Cláudio. Para ele, a arte de trabalhar com sua voz sempre foi motivo de alegria e orgulho. Apesar de nunca ter feito nenhum curso para se profissionalizar, o auxiliar de serviços gerais ainda sonha em ser um grande locutor. Em entrevista ao LeiaJá, o homem conta mais da sua história: 

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O que muita gente não sabe também são os desafios que esses profissionais enfrentam todos os dias. Seja em pé durante todo o expediente, sob sol ou até mesmo sem fazer nenhum preparo físico, esses trabalhadores reclamam muitas vezes do esforço que precisam fazer para realizar suas atividades. 

Em pé durante quase oito horas do seu expediente, Eduardo Marques, 39, reclama do cansaço. "É muito puxado trabalhar como locutor de rua. A nossa carga horária não é uma coisa de quatro horas. A nossa carga horária são oito. Ficando em pé na maioria das vezes e ainda falando o tempo todo, sem parar", relata o locutor. Mas ainda assim, ele diz se sentir feliz com a profissão. "Eu amo o que faço porque me identifico bastante com locução. Eu me encontrei nessa profissão e sou feliz por isso", diz Eduardo.  

 

Com 20 anos nas costas de tanta experiência e com o gogó afiado, o locutor de rua pensa em abandonar a profissão. Para ele, tudo já está muito desgastado. "Tenho em vista que daqui a mais ou menos um ano eu não quero trabalhar com isso mais. Já faz um bom tempo que atuo nessa área, trabalho com voz... Para mim, já está na hora de dar uma paradinha. Está muito desgastante. A função em si é desgastante", finaliza Eduardo. 

Voz recente na atividade 

Enquanto uns pensam em desistir da carreira, há aqueles que começaram recentemente a trabalhar com a voz. Fazem apenas oito meses que Mayra Eduarda, 23, resolveu vender chips de celular no meio da rua. Trabalhando de domingo a domingo, ela aproveita sua simpatia para chamar a atenção dos clientes e sair na frente da concorrência. Só na Rua Nova, Centro do Recife, onde a encontramos, pelo menos três pessoas estavam vendendo a mesma mercadoria.  

Ela ainda conta que para aguentar ficar falando o dia todo, tem que beber muita água e de vez em quando sentar um pouco. "Aqui a pessoa fica em pé o tempo todo, andando para lá e para cá, gritando, chamando o cliente. Tem que ter jogo de cintura. Mas com muita paciência, vendo tudinho e saio do trabalho satisfeita".  

Os cuidados com a voz 

Uma coisa é certa entre Cláudio, Eduardo e Mayra. Se não forem feitos os cuidados necessários, o instrumento de trabalho pode falhar a qualquer instante. Para isso, eles se preparam tomando bastante água e sempre procurando hidratar a garganta com vitaminas e sucos. 

"Quando eu falo muito, sinto um pouco de cansaço na garganta. Tento relaxar, tomar bastante água. Em casa eu sempre tomo leite, suco natural, algo assim para aliviar. Acho que a única coisa que não faço são exercícios para aquecer o gogó", comenta Cláudio, de forma descontraída. 

"Nunca cheguei a ter problemas com as cordas vocais. Até porque eu não faço esforço para falar. Graças a Deus, a minha voz já é assim. Mas é preciso fazer exames e se prevenir. Eu mesmo não tomo nada gelado e sempre bebo muita água durante o expediente. Falo tanto que a garganta seca rapidinho", diz Eduardo. 

Enquanto não consegue se especializar na área, Cláudio dá um conselho para quem deseja seguir a carreira de locutor. "Estudar é a melhor maneira de aproveitar bem a profissão. Eu queria ter estudado, feito curso. Um dia eu ainda vou fazer, mas quando a gente é novo tudo fica mais fácil, não é mesmo?".

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