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Segundo maior colégio eleitoral do país, o Nordeste concluiu o primeiro turno das eleições deste ano com quatro governadores eleitos. Cinco das nove disputas serão definidas apenas no segundo turno. Com o resultado impresso nas urnas e as projeções para a próxima etapa do pleito, a tendência é de que a maioria dos Estados da região siga governada por políticos de esquerda. O PT, por exemplo, já tem o comando de três deles e disputa outros dois, mas mesmo que não saia vitorioso desses, já é o partido com o maior número de chefias dos executivos nordestinos a partir de 2023.  

O quadro eleitoral

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Dos gestores estaduais eleitos ou reeleitos, os três do PT são - Elmano de Freitas, do Ceará, que recebeu 54,02% dos votos válidos; Rafael Fonteles, do Piauí, que conquistou 1.115.139 votos e Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, que recebeu 58,31% da preferência dos eleitores. Além deles, Carlos Brandão (PSB) foi reeleito para governar o Maranhão com 51,29% dos votos válidos. 

Já entre os que voltam para o embate nas urnas dia 30 de outubro, estão Paulo Dantas (MDB) e Rodrigo Cunha (União) em Alagoas; Jerônimo Rodrigues (PT) e ACM Neto (União) na Bahia; João Azevêdo (PSB) e Pedro Cunha Lima (PSDB) na Paraíba; Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco;  e Rogério Carvalho (PT) e Fábio (PSD) no Sergipe.  

Um fato que chamou a atenção é que todos os que venceram no último dia 2 ou ficaram em primeiro lugar para a segunda etapa da disputa eram apoiados ou apoiavam a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para à Presidência.  

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A busca por proteção e do lulismo 

Amargando historicamente os altos índices de desigualdade, o Nordeste tem como marca uma votação que vai além das ideologias e viu, durante os governos de Lula, os investimentos chegarem com mais força para a região. O que, segundo o cientista político Arthur Leandro, reforça o argumento de que o voto entre a maioria dos nordestinos não tem origem em questões ideológicas. 

“[No Nordeste] temos uma questão que não é originalmente ideológica, o que temos é uma necessidade histórica da presença do poder estatal de proteção no sentido de certos benefícios e direitos sociais. Existe uma população historicamente carente, temos uma tradição da grande propriedade e do latifúndio... O Nordeste é uma região dos coronéis no Brasil e a vida da população sempre precisou da mediação do Estado dada a assimetria de poder entre as poucas oligarquias que detém quase tudo e o a maioria da população que não detém quase nada. O Estado funciona como um ponto de equilíbrio. As lideranças políticas fortes terminam representando uma instância de mediação nessa disputa e elas tendem a ser reconhecidas como mediação do conflito político com muito poder”, observou o estudioso.

Leandro deu o exemplo da Bahia que por muitos anos viveu o carlismo, mas com a morte de Antônio Carlos Magalhães (ACM), a tendência terminou perdendo forças. “Tivemos na Bahia o período do carlismo, com a morte dele e o declínio do carlismo de modo geral, a Bahia passou a adotar o lulismo. A figura de Lula passou a ser identificada como essa liderança popular que trazia os benefícios e investimentos para Bahia, detalhe que Lula não é baiano, mas o PT governa lá há diversos mandatos”, lembrou. 

Crescimento do PT e da esquerda

O PT e seus aliados vêm crescendo cada vez mais no Nordeste. Em 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez, os petistas conquistaram apenas um governo nordestino, mas a partir da disputa seguinte tanto os candidatos da legenda quanto aliados do líder-mor da agremiação ganharam espaços nos nove Estados.  

Segundo o cientista político Arthur Leandro, essa força pode ser reverberada nas urnas dia 30, com os demais candidatos que disputam os pleitos, mas “não existem tendências irreversíveis no mundo político”.

“A preferência pela esquerda se dá pela força política de Lula. O governo fez com que ele fosse muito popular no Nordeste e o PT, como consequência, herda essa popularidade. Se uma liderança de direita, como Antônio Carlos Magalhães, passa a desempenhar esse papel é possível que esse quadro se inverta. Não existe tendências irreversíveis no mundo político”, declarou. 

O desafio dos candidatos apadrinhados por Bolsonaro

Para se ter uma ideia, Lula recebeu 21.753.139 de votos quando o recorte trata dos nove estados nordestinos, enquanto isso Jair Bolsonaro contabilizou 8.787.394 apoios depositados nas urnas. Se por um lado, viu-se a ascensão de diversos bolsonaristas da região ao Congresso Nacional, por outro nos Executivos o quadro desenhado não é este.

Bolsonaro é um líder político rejeitado no Nordeste. É difícil você fazer uma campanha majoritária tendo como referência máxima, como padrinho da sua candidatura alguém que é rejeitado. Sendo Bolsonaro rejeitado por quase 70% da população é muito difícil você se eleger governador dizendo que é o candidato de Bolsonaro, porque eles pensam, se eu não quero Bolsonaro também não vou querer esse cara que é a presença dele na minha região”, ponderou o especialista.  

No Nordeste você tem um ambiente propício para os candidatos proporcionais, representantes de valores ou bandeiras que estão presentes no discurso de Bolsonaro, mas fica difícil de uma candidatura majoritária que ganhe para governador no Nordeste dizendo que o negro mais leve tinha sete arrobas. O Nordeste concentra a maior população negra do país e isso não cola”, complementou Arthur Leandro. 

Com 92% das seções totalizadas, às 21h deste domingo (2), Rafael Fonteles (PT) estava matematicamente eleito governador do Piauí, com 1.012.240 votos (56,65% dos votos válidos). O professor universitário e ex-secretário estadual da Fazenda venceu a disputa e foi eleito ainda no 1º turno. Silvio Mendes (União Brasil) perdeu a disputa, tendo recebido 751.731 votos válidos (42,07%). 

Foi registrado o comparecimento de 1.938.571 eleitores (82,28%) às urnas. O total de votos em branco foi de 17.959 (0,92%), e os votos nulos contabilizaram 47.051 (2,43%). O índice de abstenção foi de 17,72%. 

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Rafael Fonteles é natural de Teresina (PI) e formado em Matemática com mestrado em Economia. Foi presidente do Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz) até março de 2022. Ele renunciou ao cargo para concorrer ao governo do Piauí (PI) em 2022. Sua candidatura foi apoiada pelo ex-governador Wellington Dias (PT). É o candidato nestas eleições da coligação A Força do Povo (Federação Brasil da Esperança – FE Brasil/MDB/PSD/Solidariedade/PSB/Pros/Agir). Tem como vice Themistocles Filho (MDB).

*Do TSE 

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