O Facebook enfrentou nesta segunda-feira (4) uma crise dupla: precisou resolver uma interrupção global de sete horas de suas redes sociais, ao mesmo tempo em que lutava contra as revelações condenatórias de uma denunciante.
Muitos temores e críticas de longa data sobre a plataforma parecem ter sido respaldados por uma pesquisa do próprio Facebook, que foi entregue pela ex-funcionária Frances Haugen às autoridades e ao Wall Street Journal.
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Porém, enquanto os senadores dos Estados Unidos se preparavam para seu altamente esperado depoimento sobre os documentos na terça-feira (5), o Facebook enfrentava um apagão de várias horas que potencialmente afetou dezenas de milhões de usuários em suas plataformas, incluindo o Instagram e o WhatsApp.
O site Downdetector disse que recebeu 10,6 milhões de informes de problemas que iam desde os Estados Unidos e Europa até a Colômbia e Cingapura, com as falhas surgindo pela primeira vez por volta das 15h45 GMT (12h45 de Brasília).
Cerca de sete horas depois, os serviços começaram a voltar ao ar. “Temos trabalhado duro para restaurar o acesso aos nossos aplicativos e serviços e estamos felizes em informar que eles estão voltando a ficar online”, escreveu o Facebook em sua conta no Twitter.
O Facebook se "reconectou à internet global" às 22h28 GMT (19h28 de Brasília), mas espera-se que demore um pouco para que a família de serviços da empresa retorne completamente ao normal, indicou a firma de segurança na web Cloudflare em seu blog.
O Facebook não revelou a possível causa da paralisação, mas especialistas em segurança cibernética disseram que encontraram sinais de interrupção nas rotas que conectam as pessoas à rede social.
"O Facebook e suas propriedades relacionadas desapareceram da Internet em uma enxurrada de atualizações do BGP (sigla em inglês para Protocolo de Porta de Entrada)", tuitou John Graham-Cumming, diretor de tecnologia da Cloudflare.
Durante o apagão, Mike Schroepfer, diretor de tecnologia da companhia, ofereceu no Twitter suas "mais sinceras desculpas a todos os afetados pelas interrupções nos serviços fornecidos pelo Facebook neste momento".
- "Pioram a insatisfação corporal" -
O Facebook tem resistido fortemente à indignação sobre suas práticas e impacto, mas esta é apenas a mais recente crise a atingir seus negócios.
Há anos, legisladores americanos ameaçam regulamentar o Facebook e outros gigantes da tecnologia, apontando as críticas de que essas plataformas atropelam a privacidade, fornecem um megafone para informações erradas e perigosas e prejudicam o bem-estar dos mais jovens.
Depois de anos de crises nas mídias sociais sem grandes reformas legislativas, alguns especialistas duvidam que mudanças estejam por vir. "Esta é uma situação em que haverá muita fumaça e muita fúria, mas pouca ação", opinou Mark Hass, professor da Universidade Estadual do Arizona.
As ações “virão essencialmente das plataformas, quando sentirem pressão de seus usuários, sentirem pressão de seus funcionários”, acrescentou, e ressaltou que as autoridades não serão capazes de regular o conteúdo de forma eficaz.
Haugen, uma especialista em dados de 37 anos de Iowa, trabalhou para empresas como Google e Pinterest, mas disse em uma entrevista ao programa de notícias "60 Minutes", da CBS, que o Facebook era "substancialmente pior" do que tudo que já tinha visto.
O vice-presidente de política e assuntos globais do Facebook, Nick Clegg, rejeitou veementemente a alegação de que seus serviços são "tóxicos" para os adolescentes, dias após uma audiência tensa de várias horas no Congresso em que congressistas americanos interrogaram a empresa sobre seu impacto mental na saúde dos usuários jovens.
Na semana passada, os senadores pressionaram Antigone Davis, chefe de segurança do Facebook, por conta de um relatório da própria empresa sobre possíveis danos dos aplicativos.
Davis disse aos legisladores que uma pesquisa mostrou que o Instagram geralmente é muito benéfico para crianças de 12 anos com ansiedade, tristeza ou distúrbios alimentares.
No entanto, o senador Richard Blumenthal leu em voz alta no tribunal trechos de documentos da empresa, que disse ter recebido de alguém do Facebook, que a contradizia.
"Provas substanciais sugerem que as experiências no Instagram e no Facebook pioram a insatisfação corporal", afirmou ele, observando que essa alegação não veio de um funcionário descontente do Facebook, mas de um estudo da própria empresa.