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O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou nessa quarta-feira (24) a delação firmada pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, com a Procuradoria-Geral da República.

O empreiteiro firmou acordo com a PGR no dia 13 de março em troca de um abrandamento de pena. Pessoa é acusado de coordenar o "clube vip" das empreiteiras na formação de um suposto cartel que atuou no esquema que desviou recursos da Petrobras.

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A delação do empreiteiro deverá ser usada para reforçar indícios de envolvimento de políticos já investigados na Operação Lava Jato ou ainda para que novos inquéritos, envolvendo outras pessoas, sejam abertos. Entre os citados, está o senador Edison Lobão (PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia, como publicou o Estado. O nome do senador já havia sido mencionado por outros delatores da Lava Jato. Ele é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal por ter supostamente solicitado recursos para a campanha da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney.

A delação de Ricardo Pessoa tem cerca de 80 páginas e menção a alguns nomes já investigados na Operação Lava Jato. De acordo com fontes ligadas à investigação, o empreiteiro fez menção, por exemplo, ao senador peemedebista Romero Jucá (RR), que é um dos 39 investigados no inquérito que apura perante o STF suposta formação de quadrilha. O nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com fontes que acompanham o caso, chegou a ser levantado no curso dos depoimentos, mas sem qualquer sinal mais concreto que o ligue ao escândalo de corrupção na Petrobrás. As menções a Lula teriam sido superficiais, segundo fonte da investigação, e a delação de Pessoa, portanto, não deve gerar uma investigação do ex-presidente petista.

O dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, está depondo nesta terça-feira (26) na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR). O empreiteiro, que é réu da Operação Lava Jato, firmou há duas semanas um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

O executivo prometeu falar o que sabe sobre o esquema de corrupção envolvendo a Petrobras em troca de abrandamento de sua pena. Depois de ter passado quase seis meses em prisão preventiva, Pessoa está sob medidas cautelares que restringem sua liberdade. O relaxamento da prisão se deu por decisão da 2ª turma do Supremo Tribunal Federal (STF) no fim de abril.

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Como publicou o jornal O Estado de S. Paulo, entre os nomes citados por Pessoa está o do senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA). O empreiteiro tem autorização do juiz Sérgio Moro, que cuida da Lava Jato na 1ª instância, para permanecer em Brasília entre ontem e sexta-feira (29).

Contratos ativos da Petrobras com a UTC Participações - tanto individuais como em consórcios - somavam R$ 10 bilhões em novembro de 2014, quando o dono da empresa, Ricardo Pessoa, foi preso pela Operação Lava Jato. Apontado como coordenador do cartel de empreiteiras que fatiava obras na estatal mediante pagamento de propinas, ele assinou na semana passada acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e, nos próximos dias, começa a colocar no papel o que aceitou falar em troca de redução de pena.

O acordo de delação de Pessoa faz parte dos inquéritos que investigam políticos no Supremo Tribunal Federal. Mas a força-tarefa da Lava Jato que atua em Curitiba considera o dono da UTC peça fundamental também para a produção de novas provas sobre o cartel.

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Para os investigadores, Pessoa pode trazer à tona informações sobre outras áreas e obras da Petrobras, como a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e os contratos do setor naval envolvendo estaleiros e plataformas, além de contratações de outras estatais.

Ao todo, a UTC fechou contratos com a Petrobras entre 2005 e 2014, individualmente ou integrando consórcios, de R$ 14,6 bilhões e US$ 48 milhões, segundo levantamento da Procuradoria Geral da República. Em novembro de 2014, no momento da prisão de Pessoa, estavam ativos contratos individuais no valor de R$ 4,2 bilhões, além de R$ 5,8 bilhões referentes a obras e serviços feitos por consórcios.

Serviços

Nesta semana, os trabalhos da Lava Jato em Curitiba se concentram nos processos relacionados à Diretoria de Serviços, que foi comandada por Renato Duque e da qual teriam saído os principais repasses ao PT, por meio do ex-tesoureiro João Vaccari Neto. Ambos estão presos pela Polícia Federal em Curitiba. Parte dos R$ 10,1 bilhões em contratos da UTC com a Petrobras envolvia a área em que Duque atuava.

Segundo denúncias apresentadas à Justiça Federal, 16 empresas formaram um cartel que pagava propinas de 1% a 5% em contratos com a Petrobras para PT, PMDB e PP, por meio de diretores indicados pelas legendas. Pessoa, que só deixou a presidência da UTC após ter sido preso pela PF em 14 de novembro, seria o responsável por coordenar o grupo de empreiteiras.

Há 20 dias, o dono da UTC foi para prisão domiciliar, monitorado por tornozeleira eletrônica, por decisão do relator da Lava Jato no Supremo, ministro Teori Zavascki.

Antes da delação, Pessoa negava as acusações. Procurada após a assinatura do acordo, a assessoria de imprensa da UTC disse que a empresa "vem adotando todas as medidas para preservar sua capacidade de produção e competitividade".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apontado como coordenador do "clube" de empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras, o dono da UTC, Ricardo Pessoa, assinou na quarta-feira (13) um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, em Brasília. O acordo prevê que o executivo conte o que sabe aos procuradores da Operação Lava Jato sobre o envolvimento de políticos no caso e pague multa pelos danos causados, em troca de um abrandamento da futura pena. Na reunião com os procuradores, Pessoa citou o senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA) como um dos envolvidos no esquema.

O empreiteiro, réu em ações criminais da Lava Jato, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, viajou na quarta-feira de São Paulo a Brasília, onde esteve reunido com procuradores que atuam na Lava Jato por cerca de quatro horas. Também participaram do encontro os advogados de Pessoa. Novas reuniões devem ocorrer nas próximas semanas para os depoimentos do executivo.

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Ao fim do processo, o acordo terá de ser homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, relator da Lava Jato na Corte. A colaboração premiada foi firmada no âmbito da Procuradoria-Geral da República porque envolve autoridades com foro privilegiado.

A expectativa no Ministério Público Federal é de que a contribuição do dono da UTC ajude a chegar a nomes de outros políticos suspeitos de participação no esquema, além de trazer novos indicativos e esclarecer indícios sobre outros investigados. A delação implica confissão de crime pelo investigado e que ele revele novos fatos e nomes das atividades criminosas.

A viagem de Pessoa a Brasília foi autorizada na terça-feira pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na 13ª Vara Federal Criminal no Paraná. A decisão de Moro tem como base um pedido encaminhado ontem pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Negociação

A delação de Pessoa já era esperada. No dia 28, quando os ministros da 2ª Turma do Supremo reverteram a prisão preventiva do executivo em medidas cautelares restritivas de liberdade, o advogado de Pessoa, Alberto Toron, disse que, mesmo com a soltura, não estava descartada a possibilidade de um acordo de delação.

Desde que foi preso, em 14 de novembro de 2014, Pessoa conversava com os investigadores da Lava Jato sobre a possibilidade de um acordo de delação.

Além de ser apontado como coordenador do grupo de empreiteiras que se reunia em cartel com regras de um torneio, ele firmou sociedade formal com o doleiro Alberto Youssef em um investimento imobiliário de R$ 5 milhões na Bahia.

Apesar das tratativas, as negociações nunca avançaram a ponto de um acordo ser fechado porque os benefícios que Pessoa buscava seriam incompatíveis com as informações que ele oferecia aos investigadores da Lava Jato. Em depoimento perante o juiz Sérgio Moro, na semana passada, ele ficou calado.

Antes de Pessoa fechar o acordo, outros executivos do setor - Dalton Avancini e Eduardo Leite, da Camargo Corrêa - fizeram delação premiada que foi homologada por Moro. Eles ganharam o direito de cumprir prisão em regime domiciliar.

O nome de Lobão já havia sido mencionado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, também em acordo de delação premiada. Segundo o ex-diretor, Lobão teria recebido R$ 1 milhão para ajudar na campanha da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB). O ex-ministro já é alvo de dois inquéritos no Supremo solicitados pela Procuradoria-Geral da Repúblico. Em um deles, Roseana Sarney também é investigada.

Procurado, o advogado de Pessoa, Alberto Toron, disse ontem que está "contratualmente proibido de se manifestar".

'Desconfiança'

A defesa de Edison Lobão, representada pelo criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse ver "com muita desconfiança uma delação feita por um empresário que já esteve preso". Kakay disse ainda que contatou Lobão e que o senador está "tranquilo". (Colaboraram Fausto Macedo e Fábio Fabrini)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O nome do senador Edison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia, foi citado por Ricardo Pessoa, dono da UTC, a investigadores da Operação Lava Jato. O nome do senador já havia sido mencionado por outros delatores da Lava Jato. Lobão é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter supostamente solicitado recursos para a campanha da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney.

Os depoimentos de Lobão e de Roseana estão previstos para a próxima semana, na sede da Polícia Federal em Brasília. Eles deverão esclarecer a investigadores a suposta participação no esquema de corrupção envolvendo a Petrobras.

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Pessoa, considerado chefe do "clube vip" das empreiteiras, está sendo ouvido nesta quarta-feira, 13, na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília.

A viagem do empreiteiro foi autorizada na terça-feira, 12, pelo juiz Sérgio Moro, que cuida da Lava Jato na 1ª instância judicial, em Curitiba (PR). A viagem foi solicitada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Pessoa está prestes a firmar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.

A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por maioria revogar a prisão preventiva de Ricardo Pessoa, dono da UTC e recluso no Paraná desde novembro na 7ª fase da Operação Lava Jato. Três dos cinco ministros do colegiado entenderam que a prisão deve ser substituída por outras medidas, com recolhimento domiciliar e uso de tornozeleira eletrônica.

O relator da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki, argumentou que os fundamentos sustentados pelo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, não existem mais atualmente, cinco meses após o decreto da prisão preventiva. "A prisão preventiva não é o momento de formular juízos condenatórios. É a sentença final, e não a decisão da preventiva, o momento adequado para, se for o caso, aplicar as penas correspondentes", disse Teori, ao fundamentar seu voto.

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Gilmar Mendes e Dias Toffoli seguiram o entendimento de Zavascki. Já os ministros Celso de Mello e Cármen Lúcia divergiram da decisão. Pessoa é considerado por investigadores como o chefe do "clube das empreiteiras", como ficou conhecido o suposto cartel formado pelas construtoras investigadas na Lava Jato, e suspeito de ter praticado crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa entre os anos de 2006 e 2014.

Entre os argumentos para liberar o executivo, Zavascki sustentou que não houve indicação concreta de risco de fuga, que não há que se falar em ameaça a testemunhas já que a instrução do processo já foi "praticamente concluída" e que não se justifica a prisão preventiva com base apenas nos indícios de que o executivo praticou crimes graves. Além de ter lembrado que o executivo está afastado da direção da empresa e que a empreiteira está proibida de contratar com a Petrobras.

Além do uso de tornozeleira e do dever de permanecer em casa, o executivo fica proibido de manter contato com outros investigados, deve entregar o passaporte em 48 horas, fica afastado da direção de empresas envolvidas nas investigações e deve comparecer quinzenal em juízo e comparecer em todos os atos do processo.

"A sociedade saberá também compreender que a credibilidade das instituições, especialmente do poder judiciário, somente se fortalecerá na exata medida em que for capaz de manter o regime de estrito cumprimento da lei, seja na apuração e julgamento desses graves delitos seja na preservação dos princípios constitucionais da presunção de inocência, ampla defesa e devido processo legal", disse Zavascki.

Zavascki citou o caso de executivos da Camargo Corrêa, investigados também na Operação Lava Jato e segundo ele em situação semelhante à de Pessoa, que tiveram a prisão preventiva substituída por outras medidas após firmarem acordo de delação premiada. Segundo o ministro do STF, seria uma medida "medievalesca" e arbitrária manter investigados em prisão preventiva para firmar colaboração.

O advogado de Pessoa, Alberto Toron, fez longa sustentação na 2ª Turma e disse que o juiz Sergio Moro tem "pendor autoritário" e disse que, se a empresa não pode mais celebrar contratos com a Petrobras, "não há como se pensar na continuidade" do delito.

Extensão

Até hoje, os pedidos de liberdade dos empreiteiros investigados na Lava Jato vinham sendo negados pelos ministros do STF, sob a justificativa de que os recursos ainda tinham de passar pela análise das instâncias inferiores, como o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Este é o primeiro julgamento de mérito no caso dos executivos de empreiteiras presos analisado pela Suprema Corte.

Normalmente frequentada por poucos advogados, a sessão da 2ª Turma desta terça-feira ficou lotada de criminalistas de peso, envolvidos também em defesas da Lava Jato.

Estiveram presentes durante a sessão, por exemplo, o criminalista Antônio de Almeida Castro, o Kakay, advogado do senador Edison Lobão (PMDB-AM) e outros políticos investigados; o advogado Nélio Machado, que defende o lobista Fernando Soares; Augusto Botelho, advogado da Odebrecht; Antonio Fernando de Souza, advogado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); e Roberto Podval, advogado do ex-ministro José Dirceu.

Procuradoria

Enquanto a 2ª Turma dava início ao julgamento do pedido de habeas corpus de Ricardo Pessoa, dono da UTC preso pela Operação Lava Jato, a Procuradoria-Geral da República (PGR) divulgou uma nota à imprensa reforçando posição contrária à concessão dos pedidos de liberdade de envolvidos na Lava Jato. Em parecer no caso, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou a existência de pressão por acordo de delação premiada e sustentou a necessidade de manter a prisão.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou nesta quinta-feira um pedido de habeas corpus da defesa do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, dentro do processo da operação Lava Jato. A defesa pediu que Pessoa fosse posto em liberdade, mas por unanimidade, os cinco ministros da Turma que analisou a solicitação seguiram o relator, ministro Newton Trisotto, e negaram o pedido.

O argumento do STJ é a dimensão do delito e o fato de Pessoa ser acusado pelo Ministério Público Federal de coordenar o cartel de empreiteiras que conquistariam obras na Petrobras mediante pagamento de propina. Pessoa estaria negociando com o MPF realizar uma delação premiada. Pessoa está preso desde novembro na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Esta não foi a primeira vez que os advogados de Pessoa tentaram libertar o empreiteiro da prisão, sem sucesso.

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O juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato na Justiça Federal do Paraná, autorizou o pedido da defesa do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, de ouvir como testemunhas o ministro de Defesa, Jaques Wagner (PT), o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim (PPS), além de quatro deputados federais da base aliada e da oposição.

São eles: Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP); Arlindo Chinaglia (PT-SP); Paulo Pereira da Silva, conhecido como Paulinho da Força (SD-SP); Jutahy Magalhães Junior (PSDB-BA).

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No despacho, o magistrado decidiu autorizar que as testemunhas sejam intimadas a prestar depoimento mesmo sem explicações mais claras da defesa do executivo, apontado como presidente do cartel de empreiteiras que atuava na Petrobras, sobre o porquê de ter elencado os políticos como testemunhas. "Apesar da Defesa não lograr justificar a prova, resolvo, somente para evitar alegações de nulidade, deferir a oitiva das referidas autoridades", assinala Moro na decisão.

Grampos telefônicos da Polícia Federal revelam que em 12 de novembro de 2014 - dois dias antes de ser preso - o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, jantou com Mário Góes, novo foco da Operação Lava Jato acusado de ser o maior operador de propinas na Diretoria de Serviços da Petrobras no esquema de cartel e corrupção na estatal.

"Você esteve com nosso amigo em comum?", pergunta Pessoa, ao telefone, para "Mário". Era 12h28 do dia 12 e o celular do executivo estava grampeado, com autorização judicial. A PF monitorava os últimos passos do executivo antes de sua prisão, no dia 14. Ele foi denunciado em dezembro acusado de coordenar o cartel de 16 empreiteiras que corrompia funcionários e fraudava contratos na Petrobras.

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"Tô tentando, que dificuldade, viu? Já mandei gente… vão ver se hoje eu consigo", responde o interlocutor. Era Mário Frederico de Mendonça Góes, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), apontado como carregador de "mochilas de dinheiro" para o ex-diretor de Serviços Renato Duque e seu ex-braço direito, Pedro Barusco, que era gerente de Engenharia.

No diálogo que se segue, Pessoa reclama com o operador: "Tô tentando tomar seu vinho, não consigo tomar seu vinho".

"Vai tomar meu vinho sim, com fé em Deus. Está bom?", responde Góes, em busca de acalmar o amigo. Pessoa insiste e sugere se o "vinho" não poderia ser no mesmo dia.

"Hoje? Não sei, eu te confirmo. Se possível… Eu te confirmo! Por mim, a gente pode sair para tomar um vinho hoje à noite", responde o operador de propinas. "Tem um outro…, que quer te ver também. Tem um amigo que quer te ver, pô", completa Góes, que acabou preso no dia 5 de fevereiro. Ambos estão na carceragem da PF, em Curitiba.

Pessoa é um apreciador de vinhos, segundo interlocutores próximos, mas os diálogos e o encontro são considerados suspeitos. Documentos que foram apreendidos nas buscas na casa e nas empresas de Góes, no dia 5 de fevereiro, indicando a atuação do cartel via operadores de propina, mesmo após a deflagração da operação, em março de 2014, reforçaram as necessidades de aprofundamento das apurações envolvendo o elo entre o executivo da UTC e o operador de propinas.

Jantar

Em uma segunda conversa grampeada entre Pessoa e Góes, às 18h34, o operador relata sua tentativa frustrada de localizar o "amigo", mas fecha o "vinho" para um jantar em sua residência, no Rio, naquela mesma noite.

"Olha não consigo achar de jeito nenhum, rapaz, já tentei de tudo (o 'amigo'). Agora você querendo tomar um vinho tenho um vinho bom esperando por você, pô", afirma Góes. "A casa estará sempre aberta para recebê-lo."

Seria o penúltimo jantar do executivo antes de ser preso, na manhã do dia 14. Em conversa monitorada às 19h40, o executivo da UTC confirma que chegou ao Rio e está à caminho da residência de Góes.

Contratos

Mário Góes foi o único de um grupo de 11 operadores que atuava na área de Serviços preso na nona fase da Lava Jato, batizada de Operação My Way, deflagrada dia 5. O nome foi uma referência ao codinome usado para identificar Duque na contabilidade paralela da propina.

No dia que os agentes federais foram até sua casa e a sede de duas empresas suas de consultoria, a Riomarine e a Mago, ele não foi encontrado. Encurralado, Góes, que tem 74 anos, acabou se entregando três dias depois.

Nos seus endereços, a PF encontrou a prova do elo formal entre a UTC e o homem considerado o mais graúdo dos operadores da diretoria que era controlada pelo PT. São 14 notas fiscais emitidas pela empresa de Góes, a Riomarine Empreendimentos Marítimos Ltda., para a empreiteira que totalizaram R$ 9,7 milhões. Há ainda contratos assinados entre 2004 e 2013 e uma minuta contratual de abril de 2014 da UTC, ou de consórcios integrados por ela, com a Riomarine.

Sem qualquer funcionário no período em que mais emitiu notas para seis empreiteiras do cartel nem "relatórios de consultoria ou assessoria que denotassem o efetivo cumprimento" dos serviços prestados, as suspeitas dos investigadores da Lava Jato são que a Riomarine fosse uma fachada usada para "esquentar" o dinheiro da propina.

"Foram apreendidos apenas, e em grande número, documentos que simplesmente atestam intenso fluxo financeiro entre os ‘clientes’ e a Riomarine, entre ela e seus sócios e outras pessoas jurídicas, a exemplo de cheques, notas fiscais, transferências bancárias, etc."

Ao todo, as notas indicam que UTC e outras empreiteiras do cartel pagaram R$ 39,7 milhões para a Riomarine.

Defesa

Os criminalistas Rogério Marcolini, Marco Moura e Lívia Novak, que defendem Mário Góes, sustentam que o cliente está "com 74 anos de idade e saúde precária" e que foi o único entre os 11 nomes apontados pelo ex-gerente Pedro Barusco como operadores de propina que teve prisão cautelar decretada.

A Riomarine, segundo a defesa, foi fundada em 1987 no período que foi presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena) - 1987 a 1989 -, permanecendo hoje como membro permanente do conselho superior da entidade.

"(Góes) jamais se dedicou a atividade de câmbio no mercado negro, não conhece as pessoas referidas e não integra qualquer dos quatro grupos identificados na chamada Operação Lavajato", informam os advogados.

Em resposta às denúncias feitas pela Procuradoria à Justiça Federal, a defesa do presidente da UTC, Ricardo Pessoa, preso em Curitiba há cerca de 2 meses, afirmou que precisa de pelo menos 30 dias para analisar as acusações contra o executivo. Ele é suspeito de liderar o cartel de empreiteiras alvo da Operação Lava Jato, que investiga corrupção e propina na Petrobras.

Os criminalistas Alberto Toron e Carla Vanessa Domenico, que defendem o executivo, afirmam que até o momento não tiveram acesso à íntegra de interceptações telefônicas, quebras de sigilo bancário e pedidos de busca e apreensão. No documento de 12 páginas, eles dizem ainda que não estão conseguindo identificar e localizar documentos juntados pelo Ministério Público Federal na denúncia.

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"Após a disponibilização integral de todos os autos e documentos requeridos, requer-se a intimação da defesa para que responda a acusação no prazo de 30 dias para responder à acusação, considerando o volume e complexidade de documentos que necessitam ser examinados e em nome do principio da igualdade, uma vez que não só o Ministério Público Federal tem acesso integral a tudo desde o momento de sua produção, como também não se limitou a produzir as denúncias em 10 dias", afirmou a defesa de Pessoa.

Para os advogados, este seria um tempo razoável para estudar todos os autos relacionados à acusação. Segundo eles, Pessoa teve ciência das investigações instauradas contra a UTC em outubro de 2014.

"Até 18 de novembro de 2014, ele sequer tinha sido intimado para prestar depoimento, apesar de ter se colocado à disposição deste MM. Juízo. E, mesmo quando ouvido em novembro, não foi indiciado, tendo sido ouvido em declarações. Foi indiciado somente em 12 de dezembro de 2014, quando apresentado o relatório das investigações pela Polícia Federal.

De acordo com os criminalistas, é injusto obrigar a defesa a apresentar resposta à acusação em prazo que eles consideram inferior ao tempo que a acusação precisou para analisar os autos relativos às operações que deram origem à denúncia.

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