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A Vale anunciou nesta terça-feira (20) o início de uma nova etapa da remoção da lama que vazou após o rompimento da barragem ocorrido na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). Trata-se de uma dragagem no Rio Paraopeba, desde o ponto em que ele recebe o Ribeirão Ferro-Carvão até dois quilômetros à jusante dessa confluência. A mineradora estima que estão depositados nesse trecho entre 300 mil e 350 mil metros cúbicos de rejeitos.

O rompimento da barragem ocorreu em 25 de janeiro deste ano e, além da poluição ambiental, causou mais de 200 mortes e destruiu diversas edificações. Conforme o planejamento, as atividades de dragagem que estão se iniciando devem ser concluídas até julho de 2020.

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"Todas as ações realizadas no rio contam com um plano de monitoramento previamente validado pelos órgãos ambientais e diariamente reportado a eles. Para o processo de dragagem foram instalados oito pontos de monitoramento de água e sedimentos na área de influência da atividade", informou a Vale em nota.

Em junho, a mineradora já havia divulgado detalhes do plano de recuperação ambiental e de remoção dos rejeitos da área atingida pela tragédia. Ele traz, além da retirada da lama, uma lista de obras e intervenções para garantir a segurança de estruturas remanescentes na Mina Córrego do Feijão. Para levar adiante todas as medidas previstas, foi anunciado um aporte de R$1,8 bilhão até 2023.

Estima-se que a barragem armazenava 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Mais da metade desse volume teria ficado depositado, segundo a mineradora, nos 10 quilômetros que separavam a estrutura do Rio Paraopeba. Neste primeiro trecho, onde o escoamento da lama se deu principalmente pelo Ribeirão Ferro-Carvão, cerca de 750 mil metros cúbicos de rejeito já foram removidos. Também estão em curso ações para evitar que a lama espalhada nessa área continue a ser carreada para o Rio Paraopeba.

O plano apresentado em junho pela Vale leva em conta ainda outros dois trechos. O segundo, que vai do local onde o Ribeirão Ferro-Carvão encontra o Rio Paraopeba até o município de Juatuba (MG), é exatamente onde a dragagem ocorrerá. Já o terceiro vai até a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, no município de Pompéu (MG). Neste trecho, as ações terão como objetivo reduzir o carreamento dos rejeitos mais finos ao longo do curso do Rio Paraopeba.

Tratamento

Na dragagem, a água será bombeada por tubulação para bolsas geotêxteis. Nelas, o rejeito é retido e a água atravessa por pequenos poros, sendo submetida na sequência aos processos de precipitação, filtragem e adsorção química. Esses procedimentos têm como objetivo separar os pequenos sólidos que podem ter passado pelos poros.

Em seguida, uma Estação de Tratamento de Água Fluvial (ETAF) implantada pela Vale permitirá reduzir a turbidez da água antes de devolvê-la ao Rio Paraopeba. A ETAF Lajinha, como foi batizada, tem capacidade para tratar 2,25 milhões de litros por hora e 54 milhões de litros por dia.

 

A contaminação do Rio Paraopeba pela onda de rejeitos de minério de ferro da Vale, causada pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas, há um mês, elevou a concentração de metais pesados a níveis muito acima dos limites fixados pela legislação e do tolerável à saúde. É o que revelam os resultados das análises feitas em expedição da Fundação SOS Mata Atlântica. O relatório será apresentado nesta quarta-feira, 27, na Câmara dos Deputados.

Nos 22 pontos analisados em 305 km do rio, desde o Córrego do Feijão, em Brumadinho, até Felixlândia, no Reservatório de Retiro Baixo, todos apresentaram níveis elevados de ferro, manganês, cobre e cromo. Em altas concentrações, o cobre, por exemplo, pode causar náuseas e vômitos. O manganês está associado a rigidez muscular e tremores nas mãos.

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"São elementos que não fazem mal à saúde em pequenas quantidades, tanto que os vemos em suplementos, mas em altas concentrações podem trazem problemas à saúde humana e dos animais", afirmou a bióloga Marta Marcondes, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (SP), que fez as análises laboratoriais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Na série de reportagens "Brumadinho - O que restou depois da lama", o LeiaJá viajou pela cidade de Brumadinho ouvindo relatos de pessoas afetadas pelo rompimento da barragem.

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Letreiro fica na entrada da cidade. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Há um mês, a pacata cidade de Brumadinho se tornava palco da maior tragédia humana da história da mineração no Brasil. Era o horário do almoço para alguns moradores e para outros o momento do descanso, que só seria cessado com os gritos por todos os lados. "A barragem da Vale estourou", diziam aos prantos sem entender o que estaria acontecendo a poucos quilômetros do centro da cidade, na área urbana. O rompimento da Barragem I da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, no último dia 25 de janeiro durou alguns minutos e foi suficiente para devastar um município, que aos poucos busca se reinventar.

Depois do choque dos primeiros dias após o que muitos identificam como o maior "crime" da Vale na região, a lama e as perdas deixaram a população desnorteada, sem saber para onde ir. A rotina se transformou e aos 40 mil habitantes, agora se somam, centenas de bombeiros, policiais militares e muitos voluntários vindo de todas as regiões do Brasil. Pela estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os trabalhos deverão se estender por três a quatro meses após o rompimento.

Os dados oficiais do poder público contabilizam 179 mortos já identificados e 131 pessoas desaparecidas após a tragédia. Desses, 102 corpos identificados são de funcionários da Vale, enquanto outros 77 pertencem à comunidade e empresas terceirizadas. Quanto aos desaparecidos, 29 são da Vale e outros 102 do outro grupo. O balanço foi divulgado na noite deste domingo (24) pelo tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).

Pela estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, os trabalhos deverão se estender por três a quatro meses após o rompimento. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Já são 31 dias depois da tragédia e a força tarefa que investiga o caso ainda não chegou a uma conclusão sobre o que gerou o rompimento da barragem, apesar de já se ter o conhecimento de que alguns funcionários da Vale sabiam dos problemas. Em entrevista à imprensa, o promotor de Justiça de Brumadinho, William Garcia Pinto afirmou que a barragem rompeu com toda a sua fúria num evento que representantes da Vale insistem em afirmar que foi acidente. "Mas o Ministério Público e as polícias de Minas Gerais têm hoje a convicção de que ocorreu a prática de um crime doloso e um crime de homicídio, por meio do qual diversos atores assumiram o risco de produzir centenas de mortes".

Luto, lama e a tentativa de seguir um futuro diferente distante das atividades mineradoras. É sobre o que muitos brumadinhenses têm debatido nas últimas semanas. No último dia 12 de fevereiro, a Câmara Municipal da cidade sediou a primeira reunião oficial dos moradores para debater o futuro da cidade, levando em consideração as inúmeras consequências do tsunami de lama que manchou a história de Minas Gerais.

Falta de informações, tristeza, baixa nas vendas, incerteza sobre o futuro e soluções pensadas pelos próprios moradores colocam em dúvida se a atividade mineradora ainda será bem vinda na região. O encontro foi organizado pelo Movimento Somos Todos Atingidos de Brumadinho, Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB e a Frente Brasil Popular de Brumadinho e contou com a presença de dezenas de participantes.

Passado um mês da tragédia, o que pensam os moradores da cidade sobre o futuro?

Moradores de Brumadinho participam de reunião para pensar sobre o futuro da cidade. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Para a moradora Junia Viana, 53, a dor é grande e vai demorar a passar, mas é preciso que a gestão municipal se preocupe com o psicológico das pessoas que seguirão habitando na região. Ela destaca ainda que cidades atingidas por catástrofes têm alto índice de alcoolismo, por exemplo. "Vamos ter que pensar em dar mais qualidade de vida para a nossa população. Brumadinho necessita de praças, parques e espaços de lazer. Podemos fazer a história diferente e isso seria bom tanto para os turistas, quanto para nós, não custa caro", afirmou.

João Sérgio, 26, também acompanhou o debate e decidiu expor a opinião contra o funcionamento de mineradoras em sua cidade. "Aqui nós crescemos ouvindo que no dia que a Vale fechasse, seria um desastre em Brumadinho. Sabemos que a conta não fecha sem os impostos pagos pela mineração. Mas até quando vamos viver disso?", questionou. Ele alertou que nesse primeiro momento, as câmeras do Brasil todo estão voltadas para a cidade e, por isso, devem cobrar do poder público políticas públicas para minimizar a dependência do extrativismo.

Para o morador, o turismo é apenas um dos caminhos, já que o Instituto Inhotim, referência internacional no mundo das artes, fica localizado na cidade. "Sabemos que o turismo gerado por Inhotim é bom, mas não dá conta da cidade toda. Precisamos de mais empresas investindo aqui, temos cachoeiras e trilhas e porque não utilizamos o turismo ecológico. Não somos organizados e muitas vezes o turista nem sabe dessas outras coisas. É o momento de se reinventar porque mesmo que a barragem não tivesse estourado, em um momento esse minério vai acabar e aí o que vai acontecer?", perguntou.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a principal atividade de Brumadinho é a mineração seguida pela agricultura de pequeno porte. Dos 20,5 mil hectares de lavoura, 17 mil são de produtores individuais, que utilizam da agricultura de subsistência e comercial para alimentar a família. Avimar Barcelos (PV), prefeito da cidade, disse que sem a mineração, a cidade não conseguiria pagar pelos serviços essenciais. Ele estima que 35% da arrecadação da cidade venha dessa atividade.

Raphaela Pereira, integrante do MAB, questionou a interpretação da Vale de quem são os atingidos. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

Diante dos números, Raphaela Pereira, integrante do MAB, questionou a forma como a Vale e a Prefeitura da cidade estão interpretando quem são os atingidos. Já que além das mortes, a lama também ceifou o espaço de produção de muitos agricultores, o que também afeta o comércio local. Durante a reunião, representantes da CDL local apontaram uma queda de até 70% nas vendas.

"O que é ser atingido? Como é que eles estão avaliando isso? Não existe essa afirmação de diretamente e indiretamente atingido. Todos nós tivemos um pedaço de nós levados pela lama. Isso abala a vida de todos. Precisamos parar de depender da Vale para tudo. É o momento de pensarmos no fomento de outras formas de renda e união vai ser mais que necessária", apontou a militante.

O Ministério da Saúde anunciou no último dia 18 a liberação de mais R$ 4 milhões para a cidade de Brumadinho e a região. De acordo com o ministro Henrique Mandetta, que assinou os documentos para os repasses na Cidade Administrativa, a pasta vai acompanhar por pelo menos cinco anos as consequências do desastre, com atenção especial para a saúde mental dos moradores.

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Além do dano social e psicológico, o mar de rejeitos de minério também contaminou o Rio Paraopeba, ao longo de 300 quilômetros do curso d'água. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, peixes morreram e mais de 270 hectares de vegetação nativa foram devastados. A entidade estima que o ecossistema na região levará pelo menos 300 anos para se recuperar totalmente.

O vereador do município Professor Caio fez um alerta sobre o futuro do Rio Paraopeba. Ele diz que se chover, a cidade vai alagar e será mais um transtorno para se preocupar, já que o rio está com um contingente de tóxicos alto. Se chover, a lama de rejeitos vai afetar todo o centro da cidade e poluir tudo.

"A Vale precisa acelerar isso. Temos dragas em Brumadinho e eles podem alugar esses equipamentos com facilidade. Essa limpeza deve ser feita em caráter emergencial, é uma empresa irresponsável. Essa tragédia não pode ficar impune, perdemos muito mais do que o aspecto financeiro. Eu pescava nesse rio, muitas pessoas precisavam dele para se alimentar e agora a gente nem sabe se ele está vivo. O aspecto ecológico acabou. Eles dizem que estão dando o máximo, mas a gente sabe que é mentira, mataram o nosso rio", contou.

Antônio Paulorinho afirmou que a Vale acabou com a nascente dos rios na região. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O aposentado Antônio Paulorinho, 69, morador do Córrego Feijão também criticou a forma como a Vale subtrai os recursos da natureza e não devolve. Na ocasião, ele lamentou que não pode mais produzir seus alimentos porque as nascentes dos rios estão secando. "Trabalhei, economizei, lutei e deixei de comer bem para comprar uma terra para mim. Agora não posso mais produzir porque as minhas águas todas secaram. Estou morrendo aos poucos", contou o morador que também perdeu familiares no rompimento da barragem.

Ele criticou a falta de preocupação da empresa com o futuro dos recursos hídricos já que as hortas e as criações dependem da água. "Eles roubam as nossas águas com esses poços artesianos e não devolvem tudo de boa qualidade, extraem até a última gota. Eu não sou minerador, vou produzir o que? Se minha horta está morrendo e minha casa não chega mais água?".

O governo de Minas Gerais reiterou a proibição do uso da água do Rio Paraopeba, que abastece a região. Não foi informado por quanto tempo valerá a determinação. Em nota, divulgada pelas secretarias de Saúde, Meio Ambiente e Agricultura, o alerta é para evitar o uso em quaisquer circunstâncias. “A orientação de não se utilizar a água bruta do rio, sem tratamento, é válida para qualquer finalidade: humana, animal e atividades agrícolas”.

Para Jarbas da Silva, da Coordenação Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, o rompimento da barragem da Vale, no dia 25 de janeiro, alertou mais uma vez a sociedade brasileira sobre a necessidade de ter mais informações acerca das Barragens de Rejeitos de Mineração que se encontram ao redor de suas casas e cidades. "Somente neste século, ocorreram oito rompimentos de barragens de rejeitos minerais no estado de Minas Gerais, isso demonstra que existe algum grande problema com o processo de extração mineral.

Governo de Minas Gerais recomenda que população não use mais a água do Rio Paraopeba. Foto: Eduarda Esteves/LeiaJáImagens

O ativista ressaltou ainda questionamentos de como está estruturado o setor mineral brasileiro e quais são os motivos dessas tragédias. "Não podemos negar que os rompimentos ocorridos nos últimos anos, que causaram cerca de 400 mortes de trabalhadores, contaminações de pessoas, mortes de rios e destruição da fauna e flora, nos revelou que existem graves limites nos processos de fiscalização e manutenção das barragens de rejeitos no país. Ainda assim, ocultam o verdadeiro problema que necessita ser enfrentado com muita seriedade e responsabilidade: o modelo mineral que mata, mutila, enlouquece, sonega, evade divisas, recebe incentivos de diferentes caráteres, compra parlamentares e possui uma autarquia do Estado para garantir os seus interesses", revelou Jarbas.

Após o desastre, o poder público entrou em alerta. Por conta disso, mais de 1000 pessoas já foram retiradas de casas que ficam abaixo de barragens de risco, em quatro cidades próximas a Belo Horizonte. Assim como em Brumadinho, essas famílias que residem nas cidades de Barão de Cocais, Nova Lima (em dois pontos) e Ouro Preto e Itatiaiuçu, onde há um complexo da ArcelorMittal.

No último dia 18, foi publicada resolução no Diário Oficial da União por recomendação da Agência Nacional de Mineração (ANM). O Ministério de Minas e Energia definiu uma série de medidas de precaução de acidentes nas cerca de mil barragens existentes no país, começando neste ano e prosseguindo até 2021. A medida prevê a extinção ou descaracterização das barragens chamadas "a montante", exatamente como a que se rompeu em Brumadinho, até 15 de agosto de 2021.

Confira mais reportagens clicando nas fotografias abaixo:

A Fundação SOS Mata Atlântica, organização não governamental (ONG) que atua em defesa do meio ambiente desde 1986, divulgou hoje (14) dados de análises realizadas no Rio Paraopeba. De acordo com a entidade, uma análise de 22 pontos permitiu concluir que a água está contaminada, com qualidade péssima ou ruim, ao longo de pelos menos 305 quilômetros.

Os resultados foram obtidos após uma expedição que durou 10 dias e terminou no último sábado (9). Na semana seguinte ao rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG), eles começaram a percorrer rodovias federais e estaduais e estradas rurais, sempre perseguindo o leito do rio. A cada 40 quilômetros, uma amostra foi coletada.

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No último ponto analisado, no reservatório de Retiro Baixo, a situação da água foi considerada ruim com índices de turbidez de 329,6 NTU. "Isso equivale a três vezes mais do que o permitido pela legislação. Desde a região de Córrego do Feijão, onde os rejeitos encontraram o Rio Paraopeba, até o reservatório de Retiro Baixo, em Felixlândia (MG), a equipe não encontrou água em condições de uso", informa a Fundação SOS Mata Atlântica.

Relatório

A entidade planeja apresentar no dia 27 de fevereiro um relatório completo com todos os indicadores obtidos. "A ideia é entregá-lo a autoridades, contribuindo para que as melhores decisões sejam tomadas, e também para a sociedade, principalmente para quem ainda precisa viver daquele e naquele rio, para que tenham informações concretas sobre a situação local".

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM), estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, também tem avaliado a turbidez no Rio Paraopeba e divulgado boletins diariamente desde o rompimento da barragem. O último deles mostra que ontem (13) os índices aferidos foram 371 NTU na altura do município de Mário Campo (MG), 244 NTU em São João de Bicas (MG) e 165 NTU em Juatuba (MG). Segundo a Federação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (Feam), o limite legal para curso d’água de classe 2, como é o Rio Paraopeba, é de 100 NTU.

No dia 31 de janeiro, resultados preliminares de análises realizadas por técnicos da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) levaram a pasta a recomendar que não se utilize a água bruta do Rio Paraopeba para qualquer finalidade e que se mantenha distância de 100 metros de suas margens.

Vale

Em nota divulgada hoje (14) em sua página virtual, a Vale informa que também está monitorando a qualidade da água em 48 pontos e diz que tomará todas as medidas cabíveis para garantir o abastecimento humano e para as atividades agropecuárias. De acordo com a mineradora, produtores rurais de nove municípios estão recebendo água para consumo humano, dessedentação animal e irrigação.

Até a última terça-feira (12), teriam sido disponibilizados cerca de 5,1 milhões de litros de água. "O atendimento é voltado para as cidades de Brumadinho, Florestal, Mario Campos, São Joaquim de Bicas, Betim, Igarapé, São José da Varginha, Pará de Minas e Esmeraldas", diz o comunicado da Vale.

Mata Atlântica

Outro levantamento realizado pela Mata Atlântica diz respeito a abrangência da devastação florestal. A entidade aponta que houve perda 112 hectares de mata nativa, das quais 55 hectares eram áreas bem preservadas. Informa ainda que, antes do rompimento da barragem, Brumadinho tinha 15,4 mil hectares remanescentes de Mata Atlântica. Essa área representa 24% do que havia originalmente no município, de acordo com o Atlas da Mata Atlântica, publicado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Um mapeamento preliminar divulgado há duas semanas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apresenta números similares. De acordo com o órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, foram desvatados 133,27 hectares de vegetação nativa de Mata Atlântica e 70,65 hectares de áreas de proteção permanente ao longo de cursos d'água. O cálculo foi feito a partir de imagens de satélite.

A cerca de 40 km abaixo do ponto em que a onda de rejeitos da barragem da Vale encontrou o Rio Paraopeba, uma pequena nascente, limpa, tenta se misturar ao rio e seguir seu curso. Em vão. O rio virou um tijolo líquido. Parece chocolate derretido.

A comparação é de Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica, que lidera expedição iniciada ontem para monitorar a qualidade da água do rio após o acidente na barragem e trazer pistas sobre impactos ambientais.

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Ali, porém, não há indicador de qualidade a ser medido. A turbidez é tão alta e densa que tirou todo o oxigênio - principal indicador de vida. Não é possível checar quantidades de nitrato, fosfato ou quaisquer outros parâmetros porque a água virou uma lama só. "A única coisa que podemos dizer aqui é que esse rio está morto", diz Malu.

O plano da expedição, acompanhada pela reportagem, é coletar água em vários locais a partir do marco zero, onde o rio foi contaminado, e checar as condições ao longo de seu curso em direção ao São Francisco, por 356 quilômetros. A previsão é de seguir até a hidrelétrica de Três Marias, já no São Francisco.

Há três anos, Malu e a equipe encararam cenário semelhante no Rio Doce, no maior desastre ambiental do País. "Lá o rejeito era mais fino e ficava sobre a água, não decantava, aqui tomou tudo. É lama mesmo. A corredeira vai movimentando como se fosse uma batedeira de bolo", explica. Outra diferença importante, diz, é o local atingido primeiramente, que é de cabeceira. "Aqui a lama ficou depositada em várias nascentes que abastecem o Paraopeba. Vai continuar descendo constantemente com a água."

O primeiro dia de expedição teve coleta em três pontos. Análises anteriores feitas pelo Estado apontavam que o local tinha qualidade de água em nível regular. Nesta quinta-feira (31) já era ruim. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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