Talvez nenhuma história tenha merecido tantas versões para balé quanto Romeu e Julieta. Inspirados pelo texto de William Shakespeare e pela música do compositor russo Prokofiev, vários coreógrafos já se arriscaram a criar suas leituras: Leonid Lavrovsky assinou a coreografia dançada pelo Balé Kirov, John Cranko conseguiu projetar o Stuttgart Ballet com seu olhar sobre os trágicos amantes, Kenneth MacMillan valeu-se da mesma base para conceber sua obra para o Royal Ballet.
O espetáculo que a São Paulo Cia. de Dança leva aos palcos do teatro Sérgio Cardoso, até o dia 1.º/12, surge para aumentar ainda mais essa lista: sob encomenda do grupo paulista, o italiano Giovanni di Palma recriou o enredo shakespeariano para ser dançado na ponta dos pés. "Existem os mestres que já se debruçaram sobre esse balé. Não copiei nada, até porque seria impossível. Mas todos eles me influenciaram", conta o coreógrafo, que está no Brasil há quase três meses para acompanhar os ensaios.
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Dedicada aos clássicos desde sua criação, em 2008, a São Paulo Cia. de Dança dá um passo significativo com esse Romeu e Julieta - trata-se do primeiro balé narrativo de seu repertório. A primeira vez em que os bailarinos têm a missão de contar uma história e encarnar personagens, com sentimentos e conflitos bem delineados. "Como é nosso contato inicial com um balé narrativo, tinha a sensação de que essa deveria ser uma história contada por todos nós, pensada sob medida para a cia. Não adiantava apenas remontar um balé que já existe", comenta a diretora da SPCD, Inês Bogéa.
Para conseguir alcançar as emoções que atravessam a criação, os dançarinos não tiveram apenas aulas e exercícios técnicos, mas também lições de dramaturgia e interpretação, além de treinos de esgrima para as cenas de batalha entre os Montecchio e os Capuleto.
Ainda que convoque sua visão particular para compor a coreografia, Di Palma tem como base o balé clássico e seu vocabulário de movimentos. "A técnica clássica é o alicerce do trabalho, ainda que eu tenha buscado aproveitar as características de cada bailarino na hora de compor a coreografia", observa ele, professor do ArchiTanz Ballet Studio, de Tóquio, e remontador das obras de importantes coreógrafos contemporâneos, como Marco Goecke.
A busca por uma estrutura mais enxuta norteou o coreógrafo, que selecionou excertos da música de Prokofiev para alcançar um espetáculo com 90 minutos de duração, dividido em dois atos. Na primeira parte, o idílio amoroso do par principal. Na segunda, o enfrentamento entre as famílias inimigas e o triste desfecho. "Queria fazer algo mais compacto e que fosse acessível ao público", diz Di Palma. "Não precisava estar preso às palavras de Shakespeare. Poderia me ater à essência." Para ele, a intensidade dos sentimentos e suas bruscas oscilações são o traço mais significativo da obra. Para alcançar tal intento, o processo foi acompanhado pela dramaturga Nadja Kadel, que fez os ajustes necessários à trama. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
ROMEU E JULIETA
Teatro Sérgio Cardoso (Rua Rui Barbosa, 153, tel. 3288-0136). 5ª e sáb., 21 h; 6ª, 21h30; dom., 18 h. R$ 12,50/R$ 25. Até 1º/12.