"Kimota!" - grita um jovem jornalista ao descobrir que o mundo é invadido por vilões do futuro. Um raio atinge o rapaz, ele vira o herói conhecido como Miracleman e parte em defesa da humanidade. Opa. O grito não era "Shazam!" e o herói, o Capitão Marvel? A versão britânica do personagem da DC Comics era apenas um plágio até passar a ser roteirizada pelo escritor mais celebrado dos quadrinhos mundiais, Alan Moore, em 1981. O personagem ganhou personalidade própria, estrelou uma das obras-primas do gênero de super-heróis e suas aventuras estiveram inéditas nos últimos 25 anos. Mas as histórias ganharam novas versões impressas no final de 2013 e é prometida para chegar às bancas brasileiras "o mais breve possível", segundo os editores nacionais.
"É um clássico que transformou o gênero", explica ao jornal O Estado de S.Paulo o editor do principal site de notícias de quadrinhos do mundo, Bleeding Cool, o jornalista inglês Rich Johnston. Segundo ele, as edições de Miracleman assinadas por Moore são ainda mais impressionantes que seu trabalho em Watchmen: "Miracleman é provavelmente sua melhor história de super-heróis".
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O retorno do personagem às lojas especializadas marca o fim de uma batalha jurídica de duas décadas de duração vencida pela Marvel Comics e o escritor de Sandman, Neil Gaiman. No entanto, as origens do personagem em 1954 surgem de outra disputa: considerado plágio do Super-homem, o Capitão Marvel teve sua revista cancelada nos Estados Unidos e na Inglaterra. Insatisfeitos, os britânicos deram novos nomes, uniformes e uma continuidade própria ao personagem. "Shazam!" virou "Kimota!", Billy Batson passou a ser Micky Moran e os coadjuvantes também foram rebatizados.
Em 1981, Moore assumiu o roteiro da fase hoje sendo republicada. "Foi a primeira tentativa de imaginar o que realmente aconteceria caso heróis existissem no mundo real e provavelmente ainda é o melhor exemplo desse conceito", conta o jornalista irlandês Pádraig Ó Méalóid, especialista na obra do escritor.
O enredo das histórias de Moore mostram o protagonista já adulto, sonhando com um passado no qual podia voar e tinha superpoderes. Aos poucos, o sonho começa a parecer realidade e suas habilidades retornam.
Após a editora que publicava a série na Inglaterra falir, Moore pôde encerrar suas histórias em uma editora dos Estados Unidos. A fase foi sucedida por Neil Gaiman, que não conseguiu concluir seu trabalho após a nova empresa também fechar as portas. Desde então, o final está em aberto após anos de disputas sobre os direitos do herói contra a Image Comics, que comprou o personagem da detentora anterior dos direitos.
"É a fase mais aguardada pelos fãs, escrita pelos dois maiores autores britânicos. Tudo será recolorizado e reletreirado. E é com grande entusiasmo que o público recebeu a notícia de que Neil Gaiman concluirá a história que deixou incompleta", conta o futuro editor do título no Brasil, Levi Trindade.
Créditos Incompletos
No expediente das duas edições de Miracleman publicadas até o momento pela Marvel, ao lado do nome do ilustrador Garry Leach, é creditado como autor da história "o escritor original". Alan Moore exigiu que seu nome não constasse na revista. "Se alguém pode exigir o direito de ser creditado como autor, com certeza uma pessoa também pode exigir o contrário, certo?", brinca o jornalista Rich Johnston.
Em 1985, quando o personagem chegou aos Estados Unidos, a Marvel proibiu que o personagem usasse seu nome original, Marvelman então Moore avisou que jamais trabalharia para a editora. "Ele não gosta da Marvel e não quer ela vendendo quadrinhos com o nome dele", explica o biógrafo de Moore, o jornalista americano Lance Parkin.
Nas edições digitais vendidas pela Marvel, outra polêmica: uma arte da segunda edição foi modificada para esconder o corpo da esposa do protagonista, que aparecia nua de costas. "Acho meio bobo e não é a primeira vez que acontece na Marvel. Não faço ideia como vão fazer na edição em que o herói faz um parto", diz o editor do site Bleeding Cool.
Amigo de Moore e autor de uma entrevista recente que o quadrinista afirmou provavelmente ser sua última, Pádraig Ó Méalóid defende a postura do escritor, mas recomenda a leitura de Miracleman: "Pois ele é um gênio e tem coisas importantes a dizer para todos nós, não importa o meio para o qual ele escreva. Simples assim". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.