Tópicos | síndrome de burnout

Mudar de carreira é algo desafiador e exige muita organização para iniciar esse processo. Porém, quando se é mulher, a dificuldade é ainda maior, devido a toda sobrecarga que elas são expostas diariamente. Segundo pesquisas do relatório Protegendo o Futuro do Trabalho, cerca de 53% da população deseja mudar de carreira ainda em 2022. E as grandes motivações para isso são a busca por qualidade de vida pessoal e aumento de rentabilidade, além da procura por mais prazer no trabalho e por funções mais significativas.

A auditora de hotelaria, Carla Guerra, atualmente com 43 anos, começou a sua carreira na administração, na qual tem bacharelado e PhD, há 20 anos. Foi nessa época que houve a primeira mudança de carreira, onde se formou em radiologia, com especialização em controle de infecção ambiental, além de outras demandas de cursos que foram surgindo no decorrer da trajetória de vida, entre mestrado, pós-graduação em hotelaria, controle de qualidade e auditoria.  

##RECOMENDA##

Após 20 anos na área hospitalar, em que ainda atua, a administradora passou por mais uma mudança na vida profissional, onde se especializou em auditoria de motéis, hotéis e resorts “Tem sido um desafio maravilhoso. Normalmente se vê muito homem cuidando do negócio e aí entra uma mulher para tocar, mostrar que ela veio para garantir aquela qualidade e segurança. Isso trouxe um rendimento para minha vida financeira muito bom, no qual eu pude investir no estudo das minhas filhas e na minha pessoa como profissional” afirmou Carla. Ela explica que se sente desafiada por entrar na área de motelaria e muitas vezes se sentiu julgada pelo olhar dos colegas da área de saúde, por escolher atuar em um ramo tão diferente. Mas mesmo diante das dificuldades a auditora não se sentiu abalada e continua essa jornada de autoconhecimento e perseverança.

A auditora Carla Guerra presta serviços para dezenas de empreendimentos. 

A profissional afirma que tem uma rotina muito pesada, mas consegue organizar com maestria suas atividades, além de guardar um tempo para a sua vida pessoal “Tenho uma vida com uma rotina que se inicia às 5h da manhã e termina às 22h, de segunda a sexta. Escolho um final de semana para viagem a trabalho, um para atividades dos clientes e dois para minha vida pessoal” conclui a auditora.  

A empresária, Thais Souza, de apenas 26 anos, foi mãe solo na adolescência e encontrou dificuldades para alcançar seus objetivos como profissional. Formada em contabilidade resolveu mudar de profissão após problemas na vida pessoal e profissional. “Terminei os estudos e ingressei na faculdade, tinha que conciliara casa, a educação do meu filho, a faculdade e o emprego de call center. Então, eu ia para a faculdade pelo horário da manhã, mesmo horário da escola do meu filho. Após a faculdade eu ia para o trabalho e chegava em casa por volta das onze horas da noite. Graças a Deus eu tive o apoio da minha mãe, se não fosse isso seria uma missão impossível” explicou Thais.  

“Todos os dias da minha vida me sinto sobrecarregada, porque é muito difícil ter que conciliar empresa, casa, educação de filho e vida pessoal. Mas o momento que me senti mais sobrecarregada foi na época da faculdade, em que eu estava estagiando, onde meu filho estava se desenvolvendo e ele precisava muito da minha atenção, como tarefas da escola e apresentações, que eu não conseguia comparecer e isso me deixava muito triste” afirmou a administradora.

Por conta da rotina corrida, a empresária não tinha tempo para ver seu filho, foi nesse momento que ela fez uma escolha na sua vida profissional e buscou abrir sua própria empresa no ramo de beleza. Devido a formação em contábeis, ela afirma que teve facilidade em gerenciar seu negócio. A escolha de abrir seu salão de beleza trouxe resultados positivos, especialmente na sua relação como mãe e na sua vida pessoal “Tenho tempo pro meu filho e tenho uma rentabilidade boa. Hoje eu tenho tempo para viajar e  flexibilidade de horário” disse a empresária. 

A empresária Thais Souza participa de feiras de beleza anualmente.

Mesmo com tantos resultados positivos, a administradora afirma que no início teve medos e inseguranças sobre abrir sua empresa e ter que mudar tudo na sua vida, mas ressalta que tudo faz parte do processo e vale a pena quando alcançamos o resultado esperado.

Síndrome de Burnout

A pesquisa da Woman in the Workplace de 2021 explica que cerca de 42% das mulheres sofrem com os sintomas da síndrome de Burnout. A síndrome é caracterizada por estado de tensão, estresse, desgaste emocional, físico e geralmente conectados aos problemas no trabalho. Isso se dá pelas responsabilidades e tarefas excessivas em que as mulheres são submetidas todos os dias. Além das responsabilidades no trabalho, muitas tem que organizar seu tempo para cuidar da casa, dos filhos e a sobrecarga acaba sendo quase que inevitável para todas elas.  

A psicóloga clínica, Elisa Passavante, explica que a síndrome de Burnout é apresentada pela exaustão física e emocional do trabalho, que acomete muito mais as mulheres do que os homens “A mulher além de ter um trabalho corporativo, ela tem muitas atividades voltadas para o lar e o conjunto dessas atividades faz com que a mulher se sinta esgotada, principalmente pela frustração de não conseguir tomar conta de tudo” explica.

Segundo Passavante, a busca por um profissional de saúde é muito importante para que a mulher lide com os problemas de exaustão e sobrecarga emocional. A psicóloga destaca também a importância do descanso, como forma de evitar os sintomas da síndrome, como viajar, tirar férias ou simplesmente relaxar em casa sem se preocupar com as atividades. 

A mudança de carreira também pode acarretar a síndrome de Burnout, afinal, passar por uma mudança gera ansiedade e inquietação “É como se a mulher estivesse saindo de uma zona de conforto, onde ela está estabelecida, mas ao mesmo tempo ela não se satisfaz com aquela área e acaba causando a insegurança em ter te mudar de carreira” afirma Passavante.

Para Elisa, a pandemia também teve grande influência nos casos de esgotamento, onde grande parte das profissionais ficaram em home office e muitas mulheres não estavam preparadas psicologicamente para trabalhar remotamente. Além da necessidade de ser eficiente na empresa, ficar dentro de casa acarretava, muitas vezes, em uma grande quantidade de afazeres domésticos, onde a mulher se preocupa 24 horas por dia com tudo e todo. 

Exaustão emocional, despersonalização e insatisfação intensa com o trabalho são alguns sintomas ligados à síndrome de burnout, que desde 1º de janeiro de 2022 passou a ser considerada doença ocupacional. Nem sempre o diagnóstico é fácil. Muitas vezes, os sintomas são confundidos com depressão ou ansiedade. Por isso, é necessário a opinião de um especialista.

"[a síndrome de burnout] é produzida a partir da relação entre a subjetividade da pessoa e os fatores estressores recorrentes do ambiente laboral, além de também ser atravessado pelas construções culturais estabelecidas coletivamente sobre a temática laboral", explica a psicóloga Bianca Barbosa Fonsêca.

##RECOMENDA##

Sem conhecimento do burnout, a jornalista Marta* só tomou conhecimento do diagnóstico durante uma sessão de terapia. "Eu já estava com a síndrome há algum tempo e não sabia. Ao descobrir, já estava com os sintomas mais acentuados como: exaustão física e mental, sentia muita dor na cabeça e na nuca, insônia, desânimo, sentimentos de fracasso, insegurança, derrota e incompetência, dificuldade para me concentrar e pensamentos negativos", relatou à reportagem.

Com sintomas mais atenuados, a jornalista, além do tratamento terapêutico, procurou tratamento psiquiátrico e iniciou também o medicamentoso para sanar os sintomas. "Também procurei tratamento espiritual e tive que me afastar do trabalho para me tratar", ressalta.

Os reflexos da síndrome ainda marcam o vida pessoal e profissional de Marta*. Ao LeiaJá, ela aponta que tem dificuldade de concentração, ansiedade e dificuldade de se readaptar ao ambiente de trabalho, onde tenha que atuar sob pressão. “ Tenho muito receio de passar por tudo isso novamente e, por isso, inconscientemente, tenho me sabotado. Acredito na minha capacidade e competência na atuação como profissional de comunicação, mas sempre me cobro muito. Tudo que faço acho que tem que ter a aprovação e aval de uma ou duas pessoas, mesmo que eu não enxergue nenhum defeito ou falha”, expõe.

O ambiente de trabalho

Levar essa questão, provocada, muitas vezes, pelo ambiente corporativo até os gestores nem sempre é uma tarefa fácil. Falar sobre saúde mental, para alguns trabalhadores, gera medo, vergonha e receio de uma possível demissão.

“A saúde mental ainda é um tema tabu em muitas organizações, mas creio que, para mudar, a honestidade deve vir em primeiro lugar. O colaborador precisa se sentir confortável em ser honesto. E isso vem com a construção de um ambiente de trabalho bom e saudável”, aponta Gabriel Kessler, CGO da Diolog.

O medo, de acordo com Bianca Fonsêca, é um meio de analisar a situação e entender a melhor forma como se dará o diálogo entre o trabalhador e o gestor. "Após esse momento, poderá se entender singularmente como o profissional melhor pode movimentar-se para buscar o suporte necessário", salienta.

Questionados sobre a responsabilidade da empresa diante de colaboradores diagnosticados com síndrome de burnout, os especialista reforçam que os trabalhadores e trabalhadores devem ser priorizados pelas instituições e, esta última, responsabilizar-se ofertando suporte e mudança. 

"Os colaboradores devem ser a prioridade das organizações. Tendo isso em consideração, é fundamental entender quais as razões que levaram esse colaborador a ter uma síndrome como o burnout (...) muitos dos trabalhadores tem de pagar condução, por horas, para chegar ao trabalho, podem ter problemas familiares, dificuldades externas, algum tipo de transtorno no ambiente laboral pode ser a gota d'água para que o cansaço e o estresse se transformem em burnout. É fundamental, nesse contexto, que as empresas façam uma análise concreta da situação de cada colaborador e não uma análise transversal", argumenta Kessler.

Na análise da psicóloga, também se faz necessário responsabilizar a esfera política e coletiva "para perceber que o burnout é uma das expressões subjetivas em resposta às práticas neoliberais estabelecidas como a forma hegemônica de organização do trabalho".

Diante do diagnóstico, qual deve ser a postura da empresa?

Com o diagnóstico de síndrome de burnout e o diálogo estebelecido com a liderança da empresa é esperado, como aponta Bianca Fonsêca , que os primeiro cuidados adotados sejam o apoio institucionalizado à saúde do colaborador pelo tempo que for necessário, como também,  "a criação de um projeto de reestruturação das normas e cultura da empresa para a prevenção e redução de danos ligados ao burnout". 

O CGO da Diolog pontua, como estratégia a ser adotada pelo ambiente corporativo: "afastamento temporário, acompanhar o colaborador de perto, oferecer tratamento profissional, reavaliar atividades, entre outros".

Em caso de afastamento das atividade laborais, o trabalhador deve ser mantido no quadro de funcionários, ou seja, a demissão não deve ser cogitada. "Esse é um momento crucial para a empresa mostrar que apoia o colaborador em todos os momentos, inclusive nos mais delicados", alerta Gabriel Kessler.

A influencer e coach de emagrecimento Mayra Cardi surpreendeu seus fãs, na última quarta-feira (2), ao anunciar que vai se afastar das redes sociais por um tempo. No Instagram, publicou um longo desabafo onde diz estar sofrendo com Síndrome de Burnout, um distúrbio emocional causado por exaustão extrema, estresse e esgotamento físico relacionado ao trabalho.

Mayra começa o desabafo descrevendo sua situação atual: "Eu sempre fui aquela que só vai até mesmo porque quando o nosso mundo está sempre em perigo, sempre instável ou caindo a todo momento... Você tem duas escolhas, sentar e ver tudo desabar enquanto se reclama e chora, ou simplesmente correr e seguir o mais rápido que puder e sem olhar para trás pela primeira vez na minha vida o meu mundo está estável, estável até demais e eu me dei conta que tá tudo tão estável que eu nem sei viver assim, não aprendi nem a viver e nem a gostar."

##RECOMENDA##

Em seguida, a influencer relata sofrer de burnout e se sentir extremamente cansada, o que a leva a reconsiderar suas decisões e desacelerar o ritmo de sua vida.

"Não sei andar, não aprendi andar, só sei correr, bem rápido! Então percebo agora que chegou a hora de parar, parar mesmo! É preciso. Avaliar tudo, ver o que faz sentido e o que não faz mais. Zerar a vida, e pela primeira vez decidir com calma para onde serão meus próximos passos! Afinal quando estamos em reforma, tudo parece bagunçado, sem sentido, sem fim e ninguém consegue estar confortável!", disse

A coach, que sempre foi muito ativa nas redes sociais, afirma também que no momento não se sente mais confortável em mostrar sua rotina diária e compartilhar este tipo de conteúdo.

"Tenho me sentido muito desconfortável por aqui, como vou mostrar a vocês algo que está em construção? Sabe uma casa que você sempre amou mas do nada ficou pequena para sua nova vida? Essa sou eu! Não sei se vou mudar de casa ou se eu vou reformar essa, mas nesse período de reforma ou até mesmo de mudança, é tijolo poeira ou caixa para todo lado. Vim aqui pedir licença para finalizar a minha mudança sem plateia, deixa eu decidir para onde e que móveis vão ou ficam. E no final quando tudo estiver pronto para recomeçar de novo, eu convido vocês para participarem da minha nova versão", frisou.

Por fim, compreendendo a necessidade de parar para descansar, a coach pede um tempo para os fãs e anuncia o afastamento das redes sociais: "Vocês merecem o melhor que eu posso entregar sempre, sou muito grata a vocês por tudo que sou e tudo que tenho, e exatamente por isso esse cuidado e carinho de me retirar com minha bagunça! Até breve! Preciso de pelo menos alguns dias sem celular! E como SEMPRE nunca mentirei a vocês, porque mentir para Vocês é mentir a mim, me fazendo escrava de um personagem que não banco. Bjos."

[@#video#@]

Exaustão, dificuldades para se concentrar e lembrar das coisas, irritação, ansiedade e desmotivação. Esses são alguns dos sintomas que alguns profissionais podem desenvolver e que são um alerta para o diagnóstico de Síndrome de Burnout.

No Brasil, 72% das pessoas sofrem estresse no trabalho, segundo a Associação Internacional de Manejo do Estresse (Isma). Entre elas, 32% sofrem com a Síndrome Burnout. Em agosto, a jornalista Izabella Camargo, ex-Globo, foi diagnosticada com a doença, porém, desde 2014 ela sentia alguns sintomas de esgotamento físico e mental.

##RECOMENDA##

A doença costuma atingir profissionais que atuam diretamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como por exemplo, policiais, bombeiros, profissionais de saúde, professores, entre outros. "Os principais sintomas da Síndrome de Burnout são esgotamento emocional, redução da realização pessoal no trabalho, insônia, taquicardia, tristeza permanente, falta de vigor, apatia social e despersonalização do profissional", explica a psicóloga especialista em saúde mental Andrea Chaves.

A síndrome tem os sintomas muito parecidos com a depressão. "Dúvidas sobre a definição diagnóstica de Síndrome de Burnout, suas diferenças e correlações com a depressão ainda estão em estudo", esclarece Andrea.

A enfermeira Thays Nadja de Oliveira, 37 anos, também foi diagnosticada com a doença no ano passado. Alguns de seus sintomas foram insônia, tristeza, cansaço, ansiedade e irritabilidade. "Eu fui ajudada pelos meus amigos. Eles insistiram e me fizeram entender que precisava de ajuda", conta.

Ela começou o tratamento em outubro do ano passado com medicações e acompanhamentos psiquiátricos. Desde então ela se sente muito mais disposta, animada e consegue dormir bem. "Antes do tratamento, eu estava irreconhecível, não tinha ânimo e vontade de fazer nada. Não me alimentava bem. Parei com as atividades que me davam prazer. Só queria ficar isolada", lembra Thays.

Thays de Oliveira faz tratamento da Síndrome de Burnout | Foto: Acervo Pessoal 

Segundo a especialista Andrea Chaves, algumas das maneiras de prevenir a doença é praticar atividades de lazer com os amigos e familiares, evitar contato com pessoas negativas, fazer atividades físicas regulares e evitar o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e outras drogas. "Condutas saudáveis evitam o desenvolvimento da doença, assim como ajudam a tratar sinais e sintomas logo no inicio", orienta.

O tratamento para pessoas com Síndrome de Burnout é feito com auxílio psicoterápico e de médicos especializados, jamais é recomendado a automedicação. "Se necessário, o especialista indicará intervenção medicamentosa adequada. Além disso, o ideal é que hajam iniciativas de manejo do ambiente opressor nas empresas sempre proporcionando o bem-estar dos funcionários", conclui Andrea.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando