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Produtores do Vale do São Francisco garantem qualidade dos vinhos da região - Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

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Banhadas pelo Rio São Francisco, cinco cidades nordestinas fomentam a produção de frutas e fortalecem a economia regional. Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco, e Casa Nova e Curaçá, na Bahia, são os motores financeiros do Vale do São Francisco. Entre as atividades, se destaca o tradicional cultivo de uvas de mesa e para a fabricação de vinhos e espumantes.

De acordo com a Prefeitura de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, considerada a principal cidade do ciclo produtivo, o Vale do São Francisco produz 10 milhões de litros de vinhos por ano e comporta 400 hectares de área plantada, além de ser responsável por 15% do mercado nacional. É considerado o segundo maior polo vinícola do Brasil, ficando atrás apenas da região Sul.

O Vale contempla, ao todo, oito vinícolas. Na indústria, existem 250 trabalhadores, enquanto que no campo há mais de 3 mil profissionais em empregos diretos e 9 mil em funções indiretas. Além disso, há, aproximadamente, 50 rótulos de vinhos reconhecidos no Brasil e no exterior.

Vale conta com oito vinícolas - Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

Neste ano, o setor de produção de vinhos e espumantes do Vale do São Francisco deve movimentar cerca de R$ 40 milhões; para 2020, a estimativa de crescimento é na ordem de 5%. “É uma região que muita gente do país não espera produzir vinho, mas temos um clima convidativo para a produção, devido à escassez de chuva e à disponibilidade de água através da irrigação. Conseguimos dar a quantidade de água que a planta precisa. A fruticultura irrigada no Vale é a maior produtora de frutas do país. Realmente a gente não sente a crise porque a produção não para. Temos água e clima suficiente. Levamos nossa produção para fora do país, saem vôos diretos para a Europa”, comenta o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Petrolina, Emício Júnior.

Ausência de chuvas, ironicamente, pode ser benéfica para a produção de uvas. A afirmação é do representante da Vinícola Terranova, localizada no município de Casa Nova, na Bahia, Adauto Quirino. Como as fazendas da região são irrigadas pelo Rio São Francisco e pela Barragem de Salgadinho, os produtores conseguem manipular a quantidade de água necessária para que as uvas brotem.

“Como a gente não tem inverno e manipulamos a irrigação, então meio que controlamos a planta. A diferença, na comparação com o Sul do país, é você chegar ao campo e ver podando, brotando, perto de colher e colhendo, tudo ao mesmo tempo. Isso no Sul não existe. Aqui você consegue ver todo o ciclo da uva. A estiagem para a gente é benéfica; precisamos ter irrigação para alimentar as plantas. Uva não se dá muito com chuva; dá doença, racha a fruta”, justifica Adauto.

Segundo o gerente da Terranova, a vinícola é capaz de produzir 3.200 toneladas de uvas por ano, além de 3 milhões de garrafas de vinhos e espumantes. De 2016 até este ano, Adauto confessa que a companhia registrou queda de 30% nas vendas de vinhos, em decorrência da crise econômica. “Crise já não é novidade. O vinho nacional sofre muito com a entrada do vinho internacional. Outro grande problema é o brasileiro preferir tomar um vinho chileno ao vinho nacional. É um paradigma a pessoa achar que o produto de fora é melhor. É um preconceito achar que vinho bom é o importado”, opina o gerente.

A queda nas vendas de 2016 até hoje, contudo, não corresponde à baixa na produção. A Vinícola Terranova dobrou a quantidade de fabricação de produtos nesse período, chegando aos 3 milhões de litros. “O bom do vinho é que podemos guardar”, comenta o enólogo Hernane Pereli, ressaltando a importância de se fazer estoque para apurar a qualidade da bebida.

De acordo com o especialista, a Terranova possui conhaques, feitos a base de vinhos, guardados há dez anos em 450 barricas. “Um produto desses é vendido de R$ 50 a R$ 60”, conta o enólogo. Já os vinhos variam de R$ 11 a R$ 110, enquanto os espumantes custam de R$ 25 a R$ 28.

O enoturismo é outra vertente que fortalece o Vale do São Francisco. Além do turismo de negócios, que conta com empresários ao longo dos dias de semana, há os passeios em embarcações pelo Rio São Francisco até as principais vinícolas da região, onde os turistas podem acompanhar as belezas naturais e o processo de fabricação de vinhos. “Ano passado a gente recebeu entre 20 mil e 25 mil pessoas. E este ano a gente espera entre 30 mil a 35 mil. O que motiva esse turismo é a curiosidade do brasileiro por uma região que produz vinho e não é no Sul do Brasil. O que chama a atenção é o nosso potencial produtivo”, analisa Adauto.

Suco na mira dos produtores

Além do cultivo de uvas de mesa, vinhos e espumantes, empresários do Vale do São Francisco apostam na produção do suco de uva. Desde 2015, a GrandValle, situada em Casa Nova, passou a investir no produto, chegando a uma capacidade de fabricação de 1 milhão de litros por ano.

Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

“Está sendo muito boa a aceitação do suco, tudo que vai para o natural e ecologicamente correto sai bem. A gente não precisa fazer propaganda, ele mesmo se vende. A cada litro de suco, usamos dois quilos de uva”, destaca o representante da GrandValle, Evandro Mascarelo (Foto). O suco é comercializado no varejo entre R$ 14 e R$ 15.

A empresa produz 2,5 milhões de uvas por ano, principalmente a de mesa. Desse total, 85% são para exportação destinada à Europa.

Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Bento Gonçalves (RS) avançaram na exploração de estruturas moleculares que, se alteradas, facilitam a produção de uvas sem semente. Chamada de uva apirênica de mesa, essa variedade difere da espécie vinífera, adequada para a fabricação de vinhos finos.

A estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jaiana Malabarba é uma das autoras de um artigo, publicado no Journal of Experimental Botany, da Universidade de Oxford, que foi fundamental para os trabalhos da equipe do Centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho, coordenado pelo pesquisador Luís Fernando Revers.

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Os pesquisadores observaram o gene VviAGL11 de duas uvas: a Chardonnay e a Sultanina, que não possui sementes e também recebe o nome de Thompson Seedless. A Sultanina é a responsável por originar a maioria das variações de uvas de mesa comercializadas.

“Nos últimos dez anos de investigação, existiam hipóteses sobre a formação da semente na uva, mas não comprovações. Nós não inventamos a roda. O que nossa equipe conseguiu fazer foi uma estratégia de investigação que comprovou que o gene é importante para a formação da semente. Nas videiras com fruto normal, quando a baga da uva está do tamanho de uma ervilha, a camada ao redor da semente cresce e endurece. Quando o gene não funciona, o rudimento da semente para de crescer", resumiu Revers.

Após dominar as diferenças genéticas entre o gene que compõe a fruta com semente e o da fruta sem semente, o próximo passo é repassar os resultados ao setor de melhoramento da Embrapa, para que elaborem ferramentas de biotecnologia.

“Agora a gente vai usar o conhecimento que utilizou para entender o processo, no desenvolvimento de novas produções de novas cultivares de uvas [uvas melhoradas a partir de uma interferência do ser humano], para ter um cultivo mais acelerado. Usar essas características para fazer cruzamentos e ter uma produção antecipada, uma planta com bases em testes de DNA”, disse Revers.

O estudo foi desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade de São Paulo e apresentou, além das análises moleculares e genéticas, fotos e ilustrações. “Esse conjunto de provas foi aceito pelos editores da revista e deu essa repercussão”, comentou o pesquisador.

Histórico

Revers tem se debruçado sobre o tema desde 2004, quando passou a contar com o auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e, posteriormente, da Embrapa. Na primeira etapa do estudo, encerrada em 2007, ele e dois estudantes contavam com um aporte de R$ 90 mil, divididos em dois projetos.

O ingresso de Jaiana na Embrapa marcou a retomada de Revers nas investigações, há cerca de três anos. Para essa etapa, os cientistas contaram com R$ 50 mil.

De acordo com a Embrapa, os primeiros registros brasileiros de aprimoramento genético datam do final do século 19, mas somente em 1940 essa prática passou a ser desenvolvida por instituições públicas. O estado de São Paulo foi o primeiro, seguido pelo Rio Grande do Sul. A Embrapa Uva e Vinho reúne, em Bento Gonçalves (RS), 166 colaboradores, dos quais 41 são pesquisadores.

De acordo com o levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em abril deste ano o Rio Grande do Sul concentrava 71,8% de toda área destinada ao cultivo de uvas no país. Na comparação com o mesmo mês de 2016, houve expansão de 8,7% da área plantada e de 115,2% na produção, que atingiu 890 mil toneladas em abril de 2017.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), citada pela equipe no artigo, mostra que, nas últimas duas décadas, o mercado internacional de uvas de mesa tem crescido cerca de 26% a cada ano.

O programa de adaptação de novas variedades de uva de mesa no Médio São Francisco será analisado. O Secretário de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Marcelino Granja, viaja para Petrolina, Sertão do Estado, onde será realizada a inspeção.

A ação pretende implantar para teste e avaliação pelo menos 68 novas variedades de uvas sem semente e duas variedades com semente. Destas, serão selecionadas 30 novas variedades com maior probabilidade de adaptação às condições agro-ecológicas do vale do médio São Francisco.

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A iniciativa é fruto de convênio, assinado em 2011, entre a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia e o Ministério da Integração Nacional, através da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF). O valor do acordo é de R$ 2,9 milhões – sendo R$ 2,4 milhões provenientes da CODEVASF e R$ 492,8 mil da SECTEC. O convênio tem validade até novembro de 2015.

A busca pela introdução de novas variedades pretende reduzir os impactos da queda na comercialização das uvas, que decorre basicamente da dependência dos produtores das três espécies cultivadas e que se adaptaram há mais de 15 anos ao clima e ao solo da região. Essas variedades possuem um alto custo de produção, dependem de reguladores de crescimento e são muito suscetíveis às chuvas. Nesse sentido, essa ação procura adaptar novas variedades que superem essas dificuldades.

Medida espera que as 30 novas variedades que conseguirem se adaptar tenham produtividade de 30 toneladas por hectare, além de apresentar alta qualidade de sabor e aparência, resistentes a longos períodos de armazenagem e tenham resistência à chuva, oferecendo duas safras por ano.

Com informações da assessoria

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