Quase 100 pessoas morreram em um ataque noturno contra um vilarejo da etnia dogom em Sobane-Kou, no centro do Mali, no último episódio de violência comunitária que atinge a frágil região, disseram as autoridades nesta segunda-feira (10).
Não houve reivindicação imediata do massacre, mas este ocorreu em um vilarejo habitado pela comunidade dogom, e carrega a marca dos ataques étnicos "olho por olho" que já cobraram centenas de vidas na zona.
"Não é um ciclo de vingança, para o qual este país deve ser levado", declarou à televisão pública ORTM o presidente malienese, Ibrahim Boubacar Keita, que está na Suíça para as celebrações do centenário da Organización Internacional do Trabalho (OIT), de onde anunciou que retornaria acortaría su estancia.
O presidente pediu que o povo do Mali "se reenconntre", para "renascer e permitir que nossa nação sobreviva. Pois isto é uma questão de sobrevivência", considerou.
Anteriormente, um funcionário do distrito de Kundu, onde se encontra a aldeia de Sobane-Ku que tinha cerca de 300 habitantes, havia declarado à AFP que "agora mesmo temos 95 civis mortos. Os corpos estãon queimados, seguimos buscando outros".
Segundo o governo, muitos animais foras massacrados, e as casas, incendiadas.
"Homens armados, suspeitos de ser terroristas, lançaram um ataque assassino contra este vilarejo pacífico", disse o governo em um comunicado.
Uma fonte de segurança maliense no local do massacre disse que o "vilarejo dogom foi quase inteiramente destruído".
Um sobrevivente que deu seu nome como Amadou Togo explicou que "cerca de 50 homens fortemente armados chegaram em motocicletas e caminhonetes". "Primeiro rodearam a aldeia e depois atacaram, e qualquer um que tentava escapar era assassinado".
"Algumas pessoas tiveram o pescoço cortado ou foram estripadas, celeiros e gado foram queimados. Ninguém se salvou... mulheres, crianças, idosos".
Togo acrescentou: "Contabilizamos 95 mortos e 38 feridos, e cerca de 20 desaparecidos".
O norte do Mali vive desde 2012 episódios regulares de violência ligados a grupos jihadistas. Zonas inteiras do país ainda escapam ao controle das forças malinenses, francesas e da ONU, apesar da assinatura em 2015 de um acordo de paz para isolar os extremistas.
A violência se concentra sobretudo no centro do país, com conflitos intercomunitários, um fenômeno vivido igualmente por Burkina Faso e Níger.
Em 23 de março, em Ogossagou, perto da fronteira com Burkina Faso, 160 pessoas da etnia peul foram mortas supostamente por grupos de caçadores dogons.
A associação de caçadores dogom Dan Nan Ambassagou, oficialmente dissolvida pelo governo em 24 de março, após o massacre de Ogossagou, condenou o "ato terrorista e genocida intolerável", afirmando que "considera este ataque como uma declaração de guerra".
O grupo, que havia negado qualquer participação no massacre de Ogossagou, mas que rejeitou sua dissolução e se negou a "abandonar as armas", reitera sua "disponibilidade" às populações para "garantir sua segurança" perante as carências do Estado e da comunidade internacional.
Desde o surgimento em 2015 no centro do Mali do grupo extremista islâmico de Amadou Koufa, recrutando prioritariamente pessoas da etnia peul, tradicionalmente criadores de animais, os confrontos aumentaram entre esta comunidade e as etnias bambara e dogom, praticantes de agricultura, que criaram seus próprios "grupos de autodefesa".