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Você já deve ter lido nos livros de História sobre o 13 de Maio, dia da abolição da escravatura no Brasil, quando foi assinada a Lei Áurea. Entretanto, a data também é o Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo. A mudança, iniciada na década de 1970 pelo Movimento Negro, resiginificou a data para torná-la um marco de luta e protesto.

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“A sociedade brasileira achava, e alguns ainda acham, que não existia racismo aqui. Que racismo era nos Estados Unidos. Que aqui era uma perfeita democracia racial. Então nós utilizamos o 13 de Maio para denunciar a existência do racismo”, explicou a professora emérita da Universidade Federal do Pará (UFPA) Zélia Amador de Deus, membro fundadora do Grupo de Estudos Afro-Amazônico (GEAM) e assessora de Diversidade e Inclusão Social da UFPA.

A mudança no significado ocorreu também porque a data não representava a população preta. Segundo o professor de História Diego Pereira Santos, da UNAMA Universidade da Amazônia, quando foi assinada a Lei Áurea “houve uma apropriação do 13 de Maio como uma data monárquica, que passava a ideia de que a monarquia teria sido a grande responsável pela abolição, esvaziando a luta dos negros”.

As pessoas pretas são as mais afetadas pela pobreza, mostrou a Sínteses dos Indicadores Sociais (SIS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em 2019. De acordo com a SIS, entre os que se declararam pretos e pardos, 32,3% eram pobres e 8,9% eram extremamente pobres.

Eles também são os mais atingidos pela violência policial, apontou o estudo realizado em 2020 pela Rede de Observatórios de Segurança Pública. Em cinco Estados, a maioria dos mortos pela polícia são pretos e pardos. São eles Bahia, onde 96,9% das, Ceará (87,) Pernambuco (93,2), Rio de Janeiro (86,0) e São Paulo (62,8).

Eles também são minoria nas universidades: segundo o Censo de Educação Superior realizado em 2019 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas 7,12% dos universitários são pretos.

Para Marcelina Pinto, assistente social da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), tudo isso dificulta o acesso de pessoas pretas a posições de liderança, na política e pesquisa acadêmica, por exemplo. E quando pretos conquistam isso, causa espanto. A servidora contou que, durante um evento de trabalho, uma secretária municipal disse a ela que nunca tinha visto uma assistente social preta.

“Ela estava abismada porque eu estava ocupando um espaço de poder, fazendo a palestra, passando conhecimento para aquele público e eu era uma pessoa preta. Normalmente, quem ocupa esses espaços de poder são pessoas brancas”, disse. "No mesmo evento, uma menininha preta me disse: ‘Quando eu crescer, eu quero ser poderosa igual a senhora'. Quando as pessoas percebem que a gente tem potencial, uns ficam frustrados (como ela está aí e eu não?) e outros se sentem representados (se ela conseguiu, eu consigo).”

Segundo a assistente social, formada pela UNAMA, muitas escolas não trabalham a questão racial de forma eficaz. “Na escola, o que a gente diz? É bullying. Utiliza-se o termo para encobrir o racismo. Eu estou sendo xingada por ser preta, pelo meu cabelo ser ‘cri-cri’, pelo meu nariz ser chato, pelos meus lábios serem grossos. A gente tem que falar sobre o racismo, sobre essa forma de nos negar determinados espaços pelo simples fato de sermos pretos”, afirmou.

É isso que o Coletivo Casa Preta faz: debate a questão racial e identidade das pessoas negras, explicou Anderson Ferreira, mais conhecido como Don Perna, coordenador da entidade social que já atendeu cerca de dois mil jovens pretos na capital paraense e quilombos no interior. “Tinham discussões políticas, rodas de conversa, rodas de tambores, atuação junto com grupos culturais. Foram diversas ações nos últimos 12 anos. A gente procura incentivar a questão da identidade negra, que elas recuperem seus vínculos familiares ancestrais”, contou.

De acordo com o coordenador, o trabalho em bairros como a Terra Firme, onde moram muitas pessoas pretas, ajuda a despertar um olhar crítico para a desigualdade racial. “Uma juventude que passa a pensar politicamente sobre a questão racial, social e cultural, assume o protagonismo de fazer melhores escolhas”, afirmou.

Por Sarah Barbosa.

 

 

 

 

 

 

No dia em que a abolição da escravidão no Brasil completa 132 anos, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, intensificou a estratégia de tentar desqualificar a figura que dá nome à instituição criada justamente para promover e preservar valores históricos e culturais da influência negra no Brasil. Neste 13 de maio, data que marca a assinatura da Lei Áurea em 1888, Camargo publicou artigos no site oficial da instituição que mostrariam "a verdade" sobre Zumbi dos Palmares, cuja morte motiva a celebração da Consciência Negra.

Zumbi é reconhecido como um dos líderes do Quilombo dos Palmares, o principal núcleo de resistência negra à escravidão no País. Os detalhes de sua vida, no entanto, são pouco conhecidos e objeto de divergência entre historiadores.

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Entre os textos publicados nesta quarta-feira, 13, pela Fundação Palmares, está "Zumbi e a Consciência Negra - Existem de verdade?", do professor Luiz Gustavo dos Santos Chrispino. No artigo, o autor fala sobre um processo que chama de "endeusamento de Zumbi". Chrispino afirma que a corrente do Movimento Negro tinha influência do processo Marxista Cultural de separação social e precisava de "um ícone", que viria a ser Zumbi dos Palmares. "Começava aí a Luta Esquerdista usando o povo negro como massa de manobra", diz o texto.

Ao longo do dia, Sérgio Camargo também usou as suas redes sociais para atacar Zumbi, a quem afirma não ser um "herói autêntico", e sim "uma construção ideológica de esquerda". Para Camargo, a verdadeira heroína seria a Princesa Isabel, responsável pela assinatura da Lei Áurea em 1888, após o Brasil ser pressionado pela Inglaterra desde a primeira metade do século 19 a abolir o comércio negreiro. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão.

"Zumbi é herói imposto pela ideologia que a grande maioria dos brasileiros repudia. Negros, questionem, critiquem e não o aceitem passivamente!", escreveu Camargo nas redes sociais. "Herói da esquerda racialista; não do povo brasileiro. Repudiamos Zumbi!", disse em outra publicação.

No final do ano passado, o atual presidente da Fundação Palmares teve a nomeação suspensa por já ter defendido a extinção do movimento negro e dizer, entre outras coisas, que o Brasil tem um "racismo nutella". Ele também já afirmou que a escravidão foi "benéfica para os descendentes" e atacou personalidades como a ex-vereadora do Rio Marielle Franco e a atriz Taís Araújo.

Em fevereiro deste ano, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, reverteu a decisão e, a pedido da Advocacia-Geral da União, liberou a nomeação de Camargo para o comando da Fundação Palmares.

A postura de Camargo, no entanto, não é totalmente isolada no governo. Assim como ele afirma que a sua gestão busca "reconhecer a importância da Princesa e resgatá-la do ostracismo histórico a que foi relegada", a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), segue discurso semelhante. Em resposta a um texto de Camargo contra Zumbi, a Secom compartilhou publicação que enaltece a Princesa Isabel como símbolo do fim da escravidão. "Em 1888, a princesa Isabel promulgava a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no Brasil. Seus anos de intenso empenho em favor da liberdade foram coroados com uma lei cujo nome deriva da expressão latina para 'ouro', representando o valor insuperável da dignidade da vida humana", afirma trecho do texto, acompanhado de uma imagem da Princesa Isabel.

Quem acessa diariamente o Túnel da Abolição, no bairro da Madalena, na Zona Oeste do Recife, se surpreendeu com uma nova interdição na manhã desta quinta-feira (14). Por conta de um alagamento, uma equipe da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) está no trecho e coordena os motoristas na tentativa de desafogar o trânsito.

Em nota, o Grande Recife Consórcio de Transporte - entidade responsável pela gestão do túnel - informou que uma equipe de manutenção está no local para verificar o que houve no funcionamento das bombas de drenagem. Com histórico de vandalismo, há a suspeita da possibilidade de roubo do equipamento.

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Com a restrição, os condutores que acessam a Rua Real da Torre devem pegar a via local da Avenida Caxangá e desviar pelas ruas Dezenove de Novembro ou Manuel Bezerra para retomar a Real da Torre.

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O dia 13 de maio é celebrado no Brasil como a data que marca a Abolição da Escravatura. Foi neste dia, no ano de 1888, que a Lei Áurea foi sancionada pela princesa Isabel, regente do país à época. A medida libertava os escravos e colocava fim na escravidão. O tema é recorrente no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o LeiaJa.com preparou uma lista com as principais obras que abordam o período.

O Cortiço (1890); Aluísio Azevedo 

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Da escola naturalista, a obra retrata, não só as peculiaridades do comportamento humano, mas também um período de transição, onde a luta pela abolição se intensifica. O professor Diogo Xavier destaca que o livro discute também a sobrevivência do mais forte frente ao mais fraco e a sobrevivência do livre frente ao escravo.

Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Machado de Assis 

Na famosa obra de Machado de Assis as consequências da escravidão são mostradas de forma clara. O romance conta a história de Brás Cubas e, além da escravidão, retrata as diferenças entre as classes sociais.

O Navio Negreiro (1880); Castro Alves

A obra descreve o drama vivido por milhares de africanos que, tirados de suas terras, eram trazidos ao Brasil para servir de escravos nas fazendas e propriedades.

 Casa Grande e Senzala (1933); Gilberto Freyre

Na obra o pernambucano trata da construção da sociedade brasileira, com detalhes sobre raça e classe, separação e miscigenação. O livro é considerado um clássico da antropologia moderna. 

Lembramos que o Enem não cobra nenhuma obra específica. Porém, devido o grande número de questões que abordaram o tema em edições anteriores, a leitura de obras que explorem o tema sobre diferentes pontos de vista é de extrema importância.

O Vai Cair No Enem dá dicas de conteúdo para que você possa se preparar da melhor forma possível para o maior vestibular do país.

Neste dia 13 de maio, data que lembra a abolição da escravidão no Brasil, figuras políticas do país lembraram a representatividade da data e fizeram menção à luta negra dentro da atual conjuntura do país.

 O senador Paulo Paim (PT) lembrou do elevado índice de assassinato de pessoas negras no Brasil. “Grilhões que não se rompem e feridas que não cicatrizam: a cada 23 minutos um negro é assassinado no Brasil; negros recebem, em média, R$ 1,2 mil a menos que os brancos; a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior que a de um branco”, enumerou o parlamentar.

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Já a deputada federal Carla Zambelli (PSL) foi mais contida com a homenagem do dia. A parlamentar lembrou uma frase da Princesa Isabel: “Mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil”, escreveu a deputada.

 O ex-candidato à Presidência da República pelo PSOL, Guilherme Boulos, afirmou que é necessário lutar contra o racismo no Brasil. “De cada três desempregados no Brasil, dois são negros. 71% das pessoas assassinadas são negras. As marcas da escravidão não se abolem apenas com leis. O racismo é estrutural. A luta contra ele é imprescindível”, pontuou.

 A deputada federal Erika Kokay (PT) trouxe à tona a problemática do tráfico negreiro. “É assustador imaginar que temos uma dívida social com o povo negro de mais de 450 anos. O tráfico negreiro iniciou em 1550. Somente em 2002 iniciaram as primeiras políticas de ações afirmativas voltadas aos negros no Brasil. A igualdade racial é uma utopia do presente”, lamentou.

 Kokay ainda aproveitou para trazer dados de causas negras e alfinetar o Governo Federal. “De cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Das 726 mil pessoas encarceradas, 64% são negras. Negros são 78% entre os mais pobres. E Bolsonaro ainda tem a desfaçatez de dizer que o racismo é algo raro no Brasil?”, questionou.

 O deputado federal pelo PSOL Marcelo Freixo utilizou-se de uma poesia para mencionar a data. “Brasil, o teu nome é Dandara. E a tua cara é de cariri. Não veio do céu. Nem das mãos de Isabel. A liberdade é um dragão no mar de Aracati. Brasil, chegou a vez. De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês", homenageou.

Há 130 anos, os quase quatro séculos de escravidão chegaram ao fim no Brasil, último país ocidental a aderir o movimento que vinha acontecendo em todo o mundo. No dia 13 de maio de 1888 assinava-se a Lei Áurea, que após sua outorga determinou que todos os escravos na época fosse libertados. Mas essa liberdade acabou não proporcionando aos negros tudo o que haviam perdido com tantos séculos de servidão - sem direito ou acesso ao básico. Por conta dessas dificuldades, algumas dessas pessoas, atingidas pela desigualdade, viram na união e na luta política a forma de conseguir mudar o que está posto - ou pelo menos tentar.

“Nós surgimos no intuito de montarmos nossas próprias pautas e levantar as bandeiras da juventude negra; nada de nós sem nós”, diz Biatriz Santos, uma das integrantes do Coletivo Cara Preta. Ela pontua ainda que o povo preto sofreu um processo de silenciamento grande na história e agora é hora de reivindicar o lugar de fala “erguendo nossa voz”, diz.

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“A gente precisa ocupar os espaços de poder”. É o que afirma Anna Karla, integrante do Frente Favela Brasil, um partido político em formação, que pretende alçar os negros favelados na política. 

Por conta de tantos séculos tendo os negros como objetos de trabalho e nada mais, muita coisa acabou se instalando no Brasil contra esse povo, principalmente o racismo, e a Anna Karla acredita que para uma perspectiva de melhoria a sociedade deve reconhecer que o racismo existe e que ele foi um projeto de Estado. "Só a partir desse reconhecimento que muita coisa será garantida”, diz.

 

Desde o período escravocrata, a necessidade de união para vencer as dificuldades foram percebidos e com isso nasceram os quilombos. E engana-se quem acredita que essas comunidades não se fazem mais presentes para o auxílio na luta contra as opressões. No Pátio de São Pedro, no Centro da capital pernambucana, por exemplo, é possível encontrar o Núcleo Afro do Recife, uma espécie de reduto para o encontro e discussão do que se enfrenta o povo de terreiro. “Trabalhamos para que as religiões de matriz africana e manifestações do povo negro tenham visibilidade; o trabalho é para juntar”, garantiu Chacon Viana, gestor do Núcleo e babalorixá.

Com suas diferentes formas de luta, os três acabam unindo os seus ideais para que o que não foi garantido desde a escravidão, possa ser reparado para sua população. “Desde a abolição o negro foi marginalizado e até hoje encontramos resquícios disso na sociedade”, afirma Biatriz. Anna Karla complementa dizendo que “quando evoluímos tendo os negros num patamar de ascendência social, a gente melhora o país como um todo”. Chacon Viana acredita que é na escola onde esse trabalho deveria ganhar mais força, municiando as crianças negras sobre sua ancestralidade e mostrando perspectivas de saídas para a desigualdade que vem se perpetuando. “Em 95% das escolas do Brasil não respeita-se a lei 10.639, que obriga o ensino da história e cultura afro brasileira e africana”, lamenta.

Desde a última quarta-feira (9), nossa série de reportagens trouxe ao centro do debate quais foram as dificuldades que os negros libertos na época tiveram que enfrentar no período pós escravidão, sem suporte do Estado que não proporcionou uma política de reparação e, sem amparo social, continuaram na mesma luta pela sobrevivência. Neste domingo (13), tentamos dar luz aos movimentos que se levantam todos os dias para a perspectiva de um melhor futuro para ele, seus filhos e da sociedade.

“Os governantes precisam olhar para a sociedade na medida de sua desigualdade. Não adianta eu dar um Fusca para o povo preto e uma Ferrari para o povo branco, porque aí, quem vai chegar primeiro? Está se proporcionando igualdade?”, interroga Biatriz Santos. Anna Karla continua dizendo que “ainda existe muita luta, não podemos acreditar que conquistamos muita coisa, mas a tendência é que consigamos nos unir cada vez mais”, espera.

Mesmo encontrando percalços pelo caminho, o povo negro continua de pé e seguindo avante nas suas lutas e cada vez mais tentando se organizar e, como dito, erguer sua voz. Uma frase que bastante ecoa é: “nada de nós sem nós”.

Os negros ainda precisam ocupar seus espaços dignamente e o Estado, causador dessa desigualdade (como foi discutido na primeira matéria do especial) deve se mobilizar para plenamente atender as demandas de quem é maioria no Brasil mas vive como minoria.

O 13 de maio representou ou representa a liberdade plena dos negros? Quais as condições diárias de maioria dessa população? O que a abolição não aboliu?

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-> 130 anos do fim da escravidão:O que a abolição não aboliu?

-> Resquícios da escravidão: as dificuldades diárias do negro

 

  No próximo domingo (13), marcam-se exatos 130 anos da abolição da escravidão no Brasil. Por isso o LeiaJá preparou uma série de reportagens especiais na tentativa de mostrar "O Que a Abolição Não Aboliu?" no Brasil. Na primeira matéria publicada, nossa equipe de reportagem conversou com a professora da UFRPE Denise Botelho e a socióloga Rosa Marques; num debate que levantou a questão: o 13 de maio não é tido como um dia de glória para os negros mas, sim, como um dia de luta. Hoje (11), a segunda parte desse especial traz "os resquícios da escravidão" em forma de mini documentário.

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Para esta gravação, visitamos as comunidades da Vila do Vintém e Alto do Capitão, ambos da Zona Norte do Recife; a comunidade do Chié, localizada no Pina, Zona Sul - gravando também com vendedores ambulantes que trabalham de sol a sol na Agamenon Magalhães, uma das vias mais movimentadas do Recife. Confira agora as dificuldades diárias dos entrevistados que, sem assistência do Estado, sem emprego e sem pespectiva de vida, se arriscam pela sobrevivência.

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-> 130 anos do fim da escravidão: o que a abolição não aboliu? 

 

No dia 13 de maio de 2018 marcam-se exatos 130 anos da Abolição da Escravidão no Brasil. No entanto, essa data não é comemorada pelo povo negro, que resiste nesse dia e o alça como mais um dia de luta contra o racismo institucionalizado no Brasil, contra as opressões, desigualdades e outros percalços colocados no caminho do povo preto desde o período colonial. Para refletir sobre a data, o LeiaJá resolveu elaborar uma sequência de matérias especiais: "O Que a Abolição Não Aboliu?"; "Resquícios da Abolição (minidocumentário)" e "A Luta do Povo Preto Para um Futuro Melhor". Passado, presente e futuro.

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A seguir você lerá a primeira parte deste especial - que culminará num debate ao vivo no Facebook do LeiaJá, na próxima segunda-feira (14) de maio.   

Brasil, segunda-feira, 14 de maio de 1888: o país amanheceu "livre" da escravidão. Na tarde do dia anterior, 13 de maio, a Princesa Isabel sancionou a lei que “pôs fim” aos mais de 300 anos desse que era um processo político e econômico vigente no Brasil - o último país do ocidente que aboliu a escravidão.  Na história, ficou cristalizado que esse processo abolicionista foi uma vitória para o povo preto escravizado por tanto tempo. No entanto, segundo alguns historiadores, pesquisadores e professores negros, a realidade não foi bem assim. Por isso, o dia 13 de maio não é festejado como um dia de glória – “é um dia de luta para que os nossos direitos sejam garantidos e de combate ao racismo que ainda existe no Brasil”, exclama Rosa Marques, Socióloga e coordenadora do Núcleo de Mulheres Negras de Pernambuco.

Pesquisadores relatam que apenas a liberdade do ir e vir dos escravos, na época, foi garantido pelo Estado. Nenhuma política de inclusão social daquela população, que por quase quatro séculos tiveram os seus direitos humanos negados, foi instituída pelo poder público. Os negros ficaram entregues à própria sorte, não tendo moradia, trabalho, acesso à saúde, educação; sem cidadania. Denise Botelho, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e líder do grupo de estudos e pesquisas em educação, raça, gênero e sexualidade, nos confirma que: “esse processo de pseudo abolição efetivamente não libertou homens e mulheres escravizados porque a lei só previa a interrupção do processo econômico da escravidão, mas não previu uma inserção dos negros na sociedade de classes”.

Isso se tem confirmado também pelo Jornal do Senado, datado em 14 de maio de 1888, que é possível ser encontrado no site oficial do Senado Federal. Nele lê-se que negros como Luiz Gama e José do Patrocínio - dos poucos pretos que conseguiram ter destaques na época - reivindicavam juntamente com Joaquim Nabuco e Ruy Barbosa a necessidade de oferecer oportunidades para integrar os ex-escravos à sociedade de forma digna. O jornal traz a discussão dizendo que era inevitável diante de séculos de domínio sobre as populações negras que não foram contempladas com nenhum tipo de compensação. Mas esse debate não ganhou força na câmara. Enquanto isso, os libertos foram mantidos de forma subalterna e marginalizados - totalmente à margem da sociedade.

Linha do tempo

Antes da Lei Áurea, em 1845, surgiu a lei que previa sanções contra o tráfico negreiro. Em 1871, foi adotada a Lei do Ventre Livre, que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir da sua promulgação, mas os manteve na tutela dos seus senhores até os 21 anos. Em 1885 instaurou-se a lei do sexagenário, que garantia liberdade aos que completassem 60 anos, com a obrigação de prestarem serviços a título de indenização ao senhor por três anos. Essas medidas, porém, não trouxeram os resultados esperados, pois a contrapartida geralmente exigida inviabilizava seu cumprimento ou a lei era simplesmente desrespeitada pelos donos dos escravizados.

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Em arquivo federal, consta que o peso para que a abolição acontecesse também se deu porque com a proibição do tráfico negreiro (1845), houve uma redução do interesse econômico pelo negro, que com o tempo passou a apresentar custo maior que a mão de obra livre competitiva - culminando na aceitação dos parlamentares pela abolição total dos ainda escravos. Um pouco antes da proibição desse tráfico, o preço do escravo já subia no mercado com a previsão de que não seriam mais trazidos negros para o Brasil. Essa alta manteve-se até 1880, em especial pela forte demanda das lavouras cafeeira. Quando se assina a Lei Áurea, boa parte da mão de obra escrava já havia sido substituída.

Denise Botelho afirma que após a abolição, o Estado se encarregou de trazer europeus na condição de cidadãos (brasileiros) com direito a trabalho, moradia, manutenção familiar, ficando os negros sem nenhuma proteção. “ Durante muito tempo ficamos num quadro de desigualdade gerada pelo próprio Estado. Foi ele quem criou isso quando não deu respaldo à população afro brasileira firmando um processo de fortalecimento dos europeus que vieram pra cá”, corrobora. Ela aponta ainda que “muito tardiamente nós viemos a ter leis ou ações afirmativas para o povo negro”, mais precisamente no século 21, no início dos governos democráticos.

Só em 2003, com a ascensão do governo Lula, que foi instalada a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Uma ação tida como importante para a perspectiva de criação da agenda promotora do lugar de situação dos negros e negras do Brasil. Hoje, a SEPPIR, que inicialmente tinha sido criada com status de ministério, está vinculada ao Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, unindo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a Secretaria de Direitos Humanos, e a Secretaria de Políticas para as Mulheres.

Numa alusão do antigo ao novo, Rosa Marques explana que “quando a gente trata de uma abolição inacabada, estamos falando dos resquícios da escravização. E quais as consequências? Uma população que não consegue entender a estrutura do racismo, que não reconhece a beleza e a diversidade do povo negro”.  Rosa, que é socióloga, traz à discussão o crescimento desordenado das favelas que, segundo ela, é muito por conta dessa escravização do povo negro e de sua liberdade sem pensar o que poderia ser feito para a inclusão digna dos libertos na época. “Já se passaram 130 anos e quase nada mudou”.

(FOTO: Oswaldo Corneti/FotosPúblicas)

“O que aconteceu lá traz se perpetua até hoje. As favelas (muitas delas) sem saneamento, sem água, sem lazer; a nossa juventude sem possibilidades e sendo mortas. Se pensou no término da escravização, mas não se pensou nos direitos que essa população teria que ter”, ratifica Rosa. Ela aponta que a postura do Estado sempre foi de exploração e de ausência com os afro brasileiros.

A abolição foi importante para o Brasil (nação) que vinha sofrendo sanções comerciais por conta da manutenção desse processo de escravidão. Circunstâncias levaram à assinatura da lei, mas não um processo consciente, de reflexão da desumanidade que era a escravidão das pessoas negras. “Se precisava desse marco legal, que é a abolição, mas se precisava ter um projeto para essa população. Nós não temos um projeto para a ascensão real dos afro brasileiros”, finaliza Denise.

O espetáculo Tragédia no mar: O navio negreiro de Castro Alves exalta o nome e a obra do poeta romântico baiano Castro Alves, defensor da liberdade do povo negro. A apresentação será feita neste sábado (14), às 20h, no Teatro Hermilo Borba Filho.

Tragédia no mar: O navio negreiro de Castro Alves nasce de uma iniciativa de comemoração dos 125 anos de abolição da escravidão no Brasil. A performance cênico-musical do poema, apoia-se nas imagens e trilhas dadas pelo próprio texto, em seu imenso repertório de palavras e significados filosóficos, históricos, antropológicos e sociais.

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O espetáculo é composto pelos artistas pernambucanos contemporâneos Carlos Ferrera, ator, cantor, compositor e diretor musical; Leonnardo Melo, violinista, compositor e diretor musical); Sebastião Simão Filho, que assina a direção Cênica, juntamente com os músicos instrumentistas convidados, Thiago Fournier (contrabaixo acústico) e Tomás Melo (percussão).

Serviço

Tragédia no mar: O navio negreiro de Castro Alves

Sábado (14) | 20h

Teatro Hermilo Borba Filho (Rua do Apolo, 121 - Recife Antigo)

R$ 20 e 10 (meia entrada)

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