O resultado negativo do comércio varejista em agosto ante julho pode ter sido causado por uma queda na confiança do consumidor, devido ao agravamento da crise internacional e ao desaquecimento da economia brasileira, segundo o gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Reinaldo Pereira.
O recuo de 0,4% nas vendas do varejo em agosto ante julho, conforme divulgado mais cedo pelo IBGE, foi a maior queda vista desde março de 2010, quando o varejo caiu 0,8%.
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"Apenas duas atividades mostraram taxas positivas em agosto", disse Pereira. "Acredito que esse desaquecimento da economia, com resultados mais moderados, possa estar começando a ser representado aqui."
Na série com ajuste sazonal, as duas entre dez atividades que compõem o varejo que tiveram variações positivas foram equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (7,3%) e livros, jornais, revistas e papelaria (1,6%).
As demais apresentaram variações negativas: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,1%); combustíveis e lubrificantes (-0,1%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,1%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,3%); móveis e eletrodomésticos (-0,4%); material de construção (-2,0%); tecidos, vestuário e calçados (-2,8%); veículos e motos, partes e peças (-4,6%).
"Pelos resultados deste mês, a pesquisa mostra uma desaceleração no comércio. Se isso vai se manter daqui para frente até o final do ano, a gente vai ter que esperar os resultados de setembro e outubro", ponderou o gerente do IBGE.
Veículos
O aumento de preços dos automóveis também pode ter prejudicado o desempenho das vendas do setor em agosto. A queda na venda de veículos e motos, partes e peças, acelerou para 4,6% em agosto ante julho, após já ter recuado 1,7% na leitura anterior e 0,3% em junho. "O governo anunciou o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e isso pode estar impactando o preço", disse Reinaldo Pereira.
Na comparação com agosto de 2010, a alta na venda de veículos e motos, partes e peças foi de apenas 3,7%, após registrar uma taxa de expansão de 8,9% em julho e de 12,6% em junho. "O aumento de automóveis novos medido pelo IPCA de setembro de 2010 até agosto foi de 9,6%. Já a inflação acumulada nesse período foi de 7,2%. Então, os preços dos automóveis aumentaram mais do que a inflação. Por isso, acredito que é preço e aumento de impostos (a causa da desaceleração nas vendas)", afirmou Pereira. No ano, o setor cresceu 10,2%, e, em 12 meses, teve expansão de 12,2%.
Incerteza
Além dos preços mais altos dos automóveis, a maior cautela dos consumidores antes de assumir dívidas com materiais de construção ajuda a explicar o desempenho negativo das vendas no varejo ampliado em agosto ante julho, de -2,3%, segundo o IBGE. As vendas de materiais de construção recuaram 2,0% em agosto, após já terem registrado queda de 0,1% na leitura anterior.
"A venda de material de construção pode estar sendo afetado por conta da crise internacional, da expectativa do consumidor. Como são investimentos de longo prazo, a incerteza está inibindo esses investimentos, como a construção de casas e reformas. Há uma expectativa de agravamento de crise. O consumidor ainda não sabe como essa crise da Europa e dos Estados Unidos vai influenciar o Brasil", explicou Pereira.
Segundo ele, o atraso na entrega de imóveis pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, também pode estar por trás dessa desaceleração nas vendas do setor de construção. "Esse investimento do Minha Casa Minha Vida também não está indo como esperava. No início do ano, o governo entregou muita casa, e esse sujeito que assumiu a casa foi comprar material de construção para botar do jeito dele. Ele vai trocar o espelho da luz, vai quebrar o banheiro para fazer do jeito que quer. Mas esse projeto eu não tenho visto notícia que tenha entregado residência, que não tenha sido no início do ano", disse o gerente do IBGE.
Na comparação com agosto de 2010, houve alta de 6,6% nas vendas de materiais de construção. No ano, o volume vendido de materiais de construção cresceu 10,8%, e, em 12 meses, 12,0%.