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Pessoas com altas habilidades, comumente chamadas de “superdotados”, representam cerca de 10% do todo da população, mas apenas 0,3% são efetivamente identificadas e recebem o acompanhamento educacional mais adequado, de acordo com a professora, psicóloga e especialista em educação especial e psicologia Thiane Araújo. A declaração foi dada na Bienal do Livro de Pernambuco, realizada no Centro de Convenções dpo Estado.

Thiane Araújo trabalha no Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAHS), que presta apoio a esta população no sistema de educação do Recife. Ela explica que, apesar de não serem pessoas com deficiência, os estudantes com altas habilidades se encaixam nos grupos que têm direito ao atendimento de educação especial. Araújo ainda faz questão de destacar que, ao contrário do que se pensa, não são apenas os “alunos brilhantes” que se enquadram na superdotação. 

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De acordo com a especialista, a identificação de uma pessoa com altas habilidades/superdotação se dá através da constatação de capacidades acima da média, fácil aprendizagem e velocidade de pensamento, além de uma alta criatividade e grande envolvimento com as tarefas, que consiste não apenas em fazer algo muito bem mas no desejo de fazer bem feito e se dedicar ao acabamento do trabalho. Além do perfil de altas habilidades acadêmicas, há também outros tipos de superdotação e, segundo a psicóloga, o desafio está em identificar e apoiar o desenvolvimento dos que têm um perfil criativo/produtivo, que seria aquele ligado à dança, música, artes e outras áreas. 

            O processo de avaliação para identificação por meio dos NAAHS é feito através de encaminhamento. A partir do momento em que se suspeite que a criança ou adolescente pode ter altas habilidades, deve ser realizado um relatório pedagógico que é enviado à Gerência de Educação Especial para, aí sim, chegar ao NAAHS. Lá, os pais e a criança passam por entrevistas antes de se iniciar um processo de avaliação e observação qualitativa de até seis meses e, constatando-se a superdotação, inicia-se o processo de atendimento de educação especial. 

            Além do NAAHS, que atende crianças de 1 ano e meio a 16 anos e 11 meses na rede pública de ensino e com 20% de vagas para estudantes de escolas privadas. Thiane recomenda o acompanhamento de um(a) profissional de psicologia para melhor avaliar o desenvolvimento do fenômeno da superdotação e altas habilidades no caso particular de cada criança ou jovem. 

Acompanhamento gratuito é direito

Thiane lembra também que todo estudante com altas habilidades tem direito assegurado pela Lei 13.234 de 29 de dezembro de 2015, ao serviço de educação especial prestado gratuitamente tanto em escolas públicas quanto privadas. No entanto, explica que é comum ver escolas cobrarem taxas extras para oferecer o serviço aos estudantes, mesmo se dizendo inclusivas. 

Ela aconselha os pais ou responsáveis pelos estudantes a buscar a construção de um diálogo com a escola, mas salienta que o direito é legítimo e legalmente garantido, sendo possível partir para a briga por ele não apenas dentro dos espaços de educação mas também na justiça, através, por exemplo, de denúncias ao Ministério Público. 

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A partir do ano vem, a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) oferecerá cotas para transexuais, travestis, quilombolas, ciganos, pessoas com deficiência, autismo e altas habilidades. Com a novidade, haverá um acréscimo de 5% no total de vagas oferecidas na graduação e na pós-graduação para cada um desses segmentos. A universidade foi uma das primeiras do país a adotar cotas sociorraciais, em 2002. 

A regra não afetará as vagas destinadas à ampla concorrência (60%) e as reservadas a candidatos negros (40%). A cota de candidatos autodeclarados indígenas, que também segue a mesma lógica das novas cotas (sobrevagas), também permanecerá inalterada.

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Desde 2012, a legislação brasileira prevê sistema de cotas para egressos de escolas da rede pública e negros que concorrem a vagas em universidades federais e institutos federais de ensino.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2000, dois anos antes da sanção da Lei nº 12.711 - que instituiu as cotas, somente 2,2% da população negra tinham diploma de nível superior. Em 2017, a proporção chegou a 9,3%.

Com a nova decisão da Uneb, a expectativa é ampliar o acesso dos povos romani, conhecidos como ciganos, ao ensino superior. De acordo com a Associação Internacional Maylê Sara Kalí, a Bahia é o segundo estado com o maior número de acampamentos das três etnias que hoje vivem no Brasil - calon, rom e sinti -, perdendo apenas para Minas Gerais. 

Segundo a pró-reitora de Ações Afirmativas da Uneb, Amélia Maraux, a medida é inédita no país e tem como objetivo corrigir a exclusão desses povos. "A justificativa é a reparação histórica e política", diz. 

Combate à discriminação a transgêneros

Para Soraya Nogueira, vice-presidente do Instituto Brasileiro Trans de Educação, que desenvolve atividades de combate à transfobia no ambiente escolar, a iniciativa significa um grande avanço. Ela faz, porém, algumas ressalvas, pontuando que a equipe da organização que dirige, ao realizar entrevistas com travestis e transexuais para uma pesquisa que será divulgada em breve, tem constatado que muitos deles associam a sala de aula a traumas.

Soraya lembra que a hostilidade e a violência contra os transgêneros, vivenciadas nas primeiras séries escolares, estão por trás de muitos casos de evasão e que a universidade também precisa se preparar para receber esse alunos e ajudar na inclusão deles no mercado de trabalho.

"Eu já alfabetizei dentro da garagem de uma escola, porque falar em sala de aula causou pânico entre os alunos. O ambiente continua sendo um motor de exclusão. Não adianta só ter a cota. É que nem a politica de nome social. Não adianta nada, se agentes públicos não chamarem por esse nome", relata. "Eu consegui ingressar [no mercado de trabalho], mas foi pela via do concurso público, e fui perseguida dentro da escola [onde era professora], durante meu estágio probatório", diz a geógrafa graduada em 1999.

Levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), que tem sede em Salvador, aponta que 95 pessoas trans foram assassinadas em todo o Brasil até 21 de julho deste ano. Dos casos notificados, oito foram registrados na Bahia.

A pró-reitora Amélia Maraux destaca que a Uneb tem buscado se antecipar e preparado, já este ano, a comunidade dos seus 24 campi para atender às demandas específicas dos alunos contemplados pelas novas cotas. 

"Temos feito um diálogo grande com a coordenação de educação especial da secretaria estadual [de educação], que já tem ação de muito tempo com pessoas com essas especificidades. Temos também um centro de estudos e já estamos encaminhando ao Conselho Universitário uma política de acessibilidade, que, obviamente, deve incluir a formação de professores e também do corpo técnico e administrativo da universidade. Sabemos que não é uma ação que vamos dar conta só nesse momento. É um desafio enorme que a universidade está colocando agora, para que a gente possa caminhar nesse processo de inclusão, e temos que pensar nossas políticas em geral".

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"Eu só gostaria de proporcionar o melhor para o meu filho, como uma boa instituição de ensino e orientação que atenda as suas necessidades. Muitas vezes, o observo pensativo e não sei o que fazer", desabafa Marinete de Souza, mãe de Gabriel da Silva, de 15 anos, estudante de escola estadual. O jovem detém altas habilidades, ou como denominam popularmente, é superdotado. Ainda de acordo com a genitora, Gabriel poderia ter mais assistência e incentivo. 

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Essa reflexão é um dos inúmeros dilemas relatados por dezenas de pais e responsáveis de crianças e adolescentes superdotados. Muitos não sabem lidar com a situação imposta pelos anseios da sociedade e da educação fornecida. Além dos filhos serem tidos como "diferentes", outros estigmas surgem na vida dos pequenos intelectuais, como preconceito, incompreensão, desenvolvimento precoce e até a perda da infância.

Quem pensa que essa angústia e insegurança são comuns apenas à rede pública de ensino, se engana. Escolas particulares também passam por sérios desafios para atender os alunos superdotados. De acordo com Nielson Bezerra, genitor de Victor Bezerra, de 9 anos, que possui alta habilidade e estuda em uma escola particular, há uma dificuldade dos educadores em receber e lidar com as especificidades dos estudantes.

“Nem os professores e nem as escolas estão qualificados! Muitas dos profissionais sugerem que as crianças pulem etapas, mudando de série, por exemplo. Isso, querendo ou não alimenta um problema social, que afeta, indiscutivelmente, a criança”, opina o pai. Ele lembra também que só permitiu que o filho avançasse de turma apenas uma vez. "Ele é uma criança, acredito que deve conviver com estudantes da mesma faixa etária de idade. Desejo que o meu filho tenha uma vida normal”, comenta.

Bezerra, que é educador do Instituto Federal de Pernambuco, da cidade de Barreiros, no interior pernambucano, ainda declara que a maioria da população acredita que só há pontos positivos em ser precoce ou superdotado. Não é bem assim. O pai elenca várias dificuldades: “A pior coisa para mim foi ver o meu filho sem querer ir ao colégio. Sem gostar de frenquentar, sem ter interesse. Além disso, eles enfrentam os desafios do anseio, da competitividade e de intuitivamente querer assumir o controle da situação, por considerarem mais inteligentes”, lamenta o pai.

Segundo a coordenadora do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) - entidade que atende 78 estudantes superdotados, de 3 a 16 anos de escolas públicas e particulares -, Jussara Vieira, a formação dos educadores está ultrapassada. "Os professores devem estar preparados para receber alunos com várias especificidades. Estudantes com qualquer tipo de situação, como deficiência cognitiva ou física e os que possuem altas habilidades", ressalta.

Em entrevista ao Portal LeiaJá, a pedagoga e especialista em educação de alta habilidade, relatou quais as principais dificuldades dos estudantes. Assista ao vídeo abaixo:

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Durante a conversa, Jussara alertou os pais e docentes. “Antes de tudo, as crianças devem ter infância. Esse é a principal preocupação e preservação que os pais devem proporcionar aos filhos. Quanto aos professores, eles precisam reforçar de forma equilibrada as habiliadades de cada criança, além de trabalhar os ascpectos do conhecimento e diferenças", finaliza Jussara.

Convivendo com essa realidade, o estudante com estatura de adolescente e olhar intrínseco de um adulto, Gabriel da Silva, de 15 anos, fala com maturidade das séries que precisou pular, das perspectivas futuras e como ele enfrenta isso. “Na verdade já me acostumei a passar por várias turmas e a realizar atividades com mais agilidade que os colegas. Simplesmente as coisas foram acontecendo e hoje encaro tudo com mais maturidade e firmeza e penso em seguir a área de exatas”, explica o estudante, que atualmente está participando da Olimpíada Brasileira de Robótica, que será realizada no mês de agosto.

A tranquilidade do garoto não é a mesma da mãe. Marinete de Souza explica que se preocupa com as evolução do filho. “Esse ano ele termina o terceiro ano e sinceramente não sei o que fazer. O menino quer trabalhar, mas não pode, por causa da idade, quer fazer algum curso, mas não tenho condições. Sinto-me de mãos atadas!”, fala a genitora que ainda relembra quando e como tudo começou. “Meu filho começou a ler com um ano e quatro meses. O desenvolvimento dele sempre foi excelente, inclusive, em uma das vezes que fui buscá-lo na escola, ele estava dando aula. O governo deveria olhar mais para eles”, opina a mãe.

De acordo com a Secretaria de Educação e Esportes (SEE) de Pernambuco, o Estado dispõe de 500 instituições de ensino voltadas para atendimento de estudantes especiais, que abrangem alunos com deficiência especiais e de altas habilidades. Ainda conforme o órgão, a Secretaria detém 1.072 profissionais especializados nessa área. Conforme dados do ano de 2013, aa rede estadual registrou as matrículas de 25 alunos com altas habilidades. 

Segundo a SEE, convém ressaltar que os professores do ensino regular são orientados a estimular a pesquisa e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Além disso, o educador precisa ser sensível e perceber de que maneira se manifesta o talento do estudante, e usar isso em favor do desenvolvimento do próprio aluno. Quanto à existência de um programa específico para os estudantes de altas habilidades, a Secretaria informou que esse tipo de projeto ainda não existe.  

O adolescente Jorge Tinoco, de 13 anos, foi um dos destaques da tarde desta sexta-feira (19), na Campus Party, o menino que já é programador ministrou uma palestra sobre Educação X Altas habilidades. Problemas na educação do Brasil e o investimento do governo na área foi um dos temas tratados por Jorge.

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“A educação no nosso País não atende às necessidades das pessoas que possuem altas habilidades, por isso, vim discutir quais podem ser os principais investimentos do governo na área para ajudar os autodidatas”, conta o programador, que trabalha na rede social Estou Jogando, desde 2012.  

“O Brasil precisa se adequar aos padrões do outros países, em relação a educação, como por exemplo, nos Estados Unidos, onde os estudantes com altas habilidades tem o direito de estudar em casa ou podem pular de série quando estão mais adiantados”, completa o estudante que cursa o 7° ano no colégio.

Jorge Tinoco sempre cria jogos e sites no seu estágio, mas também realiza algumas programações em casa, como hobby. “O meu incentivo na área foi através da minha curiosidade, por isso comecei a estudar e conhecer do assunto, sempre crio alguns jogos para eu mesmo jogar. Futuramente penso em montar uma empresa de desenvolvimento de jogos”, diz o adolescente.

 

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