Dez pré-candidatos vão disputar as eleições primárias da Argentina, no domingo, inclusive a presidente Cristina Kirchner. As primárias abertas, obrigatórias e simultâneas entre os partidos, habilitarão as candidaturas às eleições presidenciais de 23 de outubro.
Teoricamente, as eleições primárias serviriam para que os partidos definissem seus candidatos. No entanto, todas as legendas selecionaram seus candidatos previamente, mediante acordos ou primárias internas. Por isso, as primárias de domingo vão funcionar como o grande teste eleitoral para ver quem tem mais apoio popular.
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"Será uma grande pesquisa que indicará a tendência do eleitorado com vistas ao pleito de outubro", disse Fabián Perechodnik, diretor da consultoria Poliarquía. Para ser habilitada, a candidatura presidencial precisa obter 1,5% dos votos totais. A regra praticamente exclui os pequenos partidos do jogo e polariza as eleições. De acordo com os dados da Câmara Eleitoral Nacional (similar ao Tribunal Superior Eleitoral), 28,8 milhões de argentinos maiores de 18 anos estão aptos a votar nas primárias que vão escolher os candidatos a presidente e vice-presidente em todo o país, 130 deputados federais em todas as províncias e Capital Federal, 24 senadores em oito províncias e quatro governadores, entre elas o de Buenos Aires, o maior distrito eleitoral do país, com 37,5% dos eleitores.
O calendário e o sistema eleitoral da Argentina são mecanismos de difícil compreensão para um brasileiro porque é totalmente diferente do Brasil. O calendário é determinado por legislação provincial, permitindo que cada distrito escolha a data de suas eleições. A disputa na província de Buenos Aires, por exemplo, ocorrerá também no dia 23 de outubro. Porém, desde o início do ano, nove províncias e a cidade de Buenos Aires (capital federal), já tiveram eleições. As demais vão ocorrer ao longo do ano, até outubro.
O governo de Cristina Kirchner saiu vitorioso em sete províncias, mas sofreu derrotas esmagadoras em Córdoba, Capital Federal e Santa Fé, segundo, terceiro e quarto maiores distritos eleitorais do país, respectivamente. Esse resultado começou a colocar dúvidas sobre a invencibilidade de Cristina Kirchner, que passou a permear a campanha depois da morte do marido dela, o ex-presidente Néstor Kirchner, em outubro. Até então, havia dúvidas sobre qual dos Kirchner seria candidato.
Luto - O rigoroso luto somado ao crescimento econômico do país, mais uma série de medidas populares, colocaram Cristina no topo da lista da preferência do eleitorado, com mais de 41% da intenção dos votos. Em segundo lugar, está o deputado Ricardo Alfonsín (União Cívica Radical-UCR), com cerca de 19,6%. Pelas pesquisas, Cristina sairia vitoriosa no primeiro turno. "Até o momento, não vemos nenhuma agrupação política capaz de derrotar a presidente, que vem recuperando a imagem junto à opinião pública desde o ano passado", afirmou a socióloga Graciela Romer, da consultoria Romer e Associados.
O analista político Carlos Fara observou que a recuperação de Cristina começou no início de 2010, com o bom desempenho da economia, elevado consumo e aumentos de salários. "A morte do marido apenas capitalizou essa imagem positiva", disse ele à Agência Estado. Segundo Fara, o cenário atual aponta para uma vitória de Cristina no primeiro turno. Para isso, ela precisa ter 10 pontos porcentuais acima do segundo colocado, conforme a Constituição.
A maior ajuda à Cristina parte da própria oposição, que se mostra fragmentada desde o começo da campanha. Além de Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente Raúl Alfonsín, o líder opositor mais importante é o ex-presidente Eduardo Duhalde, do peronismo dissidente, com 14,3% das intenções dos votos. Os números de intenção de votos mencionados são da Management & Fit, publicados nesta semana, mas todas as consultorias trabalham com porcentagens similares. O ministro do Interior, Florencio Randazzo, disse que os primeiros resultados eleitorais serão divulgados às 21 horas (de Brasília).
Eis a lista de pré-candidatos à presidência da Argentina:
- Cristina Fernández de Kirchner (Frente pela Vitória / FPV, um dos braços Partido Justicialista, peronista)
- Ricardo Alfonsín (União Cívica Radical / UCR, social-democrata com coligações sob a legenda União pelo Desenvolvimento Social)
- Eduardo Duhalde (União Popular, peronista)
- Alberto Rodríguez Saá (Compromisso Federal, peronista)
- Hermes Binner (Partido Socialista, socialista)
- Elisa Carrió (Coalizão Cívica, centro-esquerda)
- Alcira Argumedo (Projeto Sul, esquerda)
- Jorge Altamira (Frente de Esquerda, esquerda)
- José Bonacci (Partido do Campo Popular, direita)
- Sergio Pastores (Partido de Ação de Vizinhos)