A morte de Freddie Gray, um jovem negro que morreu uma semana após ser detido em Baltimore, desencadeando uma série de confrontos diários na cidade, foi homicídio e seis policiais foram acusados pelo crime nesta sexta-feira.
A promotora-geral do estado do Maryland, Marilyn Mosby, uma mulher negra que se apresentou como filha e neta de policiais, antecipou que seu gabinete já emitiu as ordens de prisão dos seis policiais envolvidos na morte de Freddie Gray, de 25 anos, que gerou violentos distúrbios nos últimos dias em Baltimore.
"Os resultados da nossa ampla investigação independente, somados ao boletim do exame médico que determinou que a (causa da) morte do senhor Freddie Gray foi um homicídio, nos levam à convicção de que temos causas prováveis para apresentar acusações criminais", declarou Mosby em coletiva de imprensa.
Os policiais terão que responder por vários crimes, inclusive homicídio culposo, lesões corporais graves, prisão irregular e indisciplina, antecipou a promotora.
Um advogado do sindicato dos policiais de Baltimore, Michael Davey, condenou a pressa da promotoria em anunciar processos criminais contra os agentes.
"Nunca vi semelhante pressa para apresentar acusações criminais", disse, expressando sua convicção de que "estes agentes serão absolvidos, já que não fizeram nada de errado".
O presidente americano, Barack Obama, disse que considerava "absolutamente vital" que as investigações cheguem ao fundo do episódio que levou à morte de Freddie Gray.
"Deve ser feita justiça", acrescentou.
"Os habitantes de Baltimore querem, mais do que qualquer coisa, a verdade. É o que também esperam todos no país", acrescentou.
Enquanto isso, a prefeita de Baltimore, Stephanie Rawilings-Blake, disse à imprensa que cinco dos seis agentes envolvidos no caso já estavam presos.
Prisão ilegal
Segundo Mosby, os agentes "prenderam ilegalmente" Gray, pois "nenhum crime tinha sido cometido".
Para a promotora, os agentes não tinham nenhum elemento concreto para deter o jovem e, além disso, ignoraram reiteradamente seus pedidos de ajuda médica.
Segundo a promotora, Gray "sofreu ferimentos graves e críticos no pescoço como resultado da operação para algemá-lo e controlá-lo" dentro da viatura policial onde foi colocado.
O veículo, que devia levar Gray para uma delegacia de Baltimore, fez três paradas durante o trajeto, e em uma destas ocasiões, os agentes embarcaram outro jovem, suspeito de um caso não relacionado.
A sargento da polícia Alicia White, no entanto, percebeu que Gray estava inconsciente no assoalho do furgão da polícia, "mas não fez nada".
Gray morreu em 19 de abril devido a lesões na coluna vertebral, uma semana depois de ter sido preso.
Depois de seu funeral, violentos protestos foram registrados em Baltimore, motivando a mobilização da Guarda Nacional e a implementação de um toque de recolher na cidade.
Alegria pelo anúncio
O anúncio de Mosby foi recebido com gritos de alegria e buzinaço por manifestantes que acompanhavam a coletiva de imprensa em uma praça em frente à sede municipal, que nos últimos dias foi o cenário principal dos protestos.
A maioria dos moradores de Baltimore esperava que Mosby anunciasse que o caso ainda estava sendo investigado, já que o chefe de polícia, Anthony Batts, tinha apresentado seu relatório apenas na véspera.
Dexter Dillard, de 47 anos, disse à AFP que "já era tempo de que isto ocorresse. Isto não está apenas começando, isto tem sido desta forma durante anos". Durante o contato com a AFP, Dillard chegou a sugerir que a promotora Mosby deveria ser a próxima prefeita da cidade.
Chris Taylor, de 39 anos, observou que as declarações de Mosby significam que Baltimore finalmente admitiu que convive com o problema da violência policial.
"Passei por muitas coisas nesta cidade. E eles (os policiais) têm nos tratado como loucos, como se não fôssemos nada", lamentou. Outro jovem comentou: "dizem que todos nascemos e morremos por uma razão. Talvez Freddie Gray morreu para que isto possa acontecer".
Enquanto isso, em Nova York, centenas de pessoas marcharam nesta sexta-feira pedindo "justiça para Freddie Gray".
A morte de Gray se tornou o último capítulo de um intenso debate nos Estados Unidos sobre casos de violência policial contra cidadãos negros, especialmente jovens.