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Lucas rasteja na lama, tenta se equilibrar em cima do tronco de árvore tombado. Há um tênis destroçado ao seu lado. É o indício que o leva a crer que pode haver alguém ali debaixo. Enfia o braço no barro, vasculha o mais fundo que pode. Avança um pouco mais, engatinha, atola o corpo no rejeito. O caminho é esse, não tem outra forma. No dia anterior, achou uma perna. Ele está em busca de corpos há mais de 48 horas.

De longe, o batalhão de bombeiros de Belo Horizonte que integra é uma imagem turva em meio a escombros. São pequenos pontos vermelhos que se movem lentamente sobre dezenas de quilômetros do lamaçal. De perto, cada homem tem o passo calculado, toda a atenção voltada sobre onde colocar os pés, em que apoiar as mãos. A lama é traiçoeira, prende e puxa para baixo. E há mais de dez metros de profundidade dela neste trecho, na beira do barranco.

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"Nunca vi nada assim", diz o soldado Lucas Antunes, de 30 anos. Com máscara e óculos de proteção, responde às perguntas que faço, mas não se distrai. Tem os olhos fixos no barro mole. Dessa vez, não encontrou nada. "É desse jeito. Tem de ter paciência, é um trabalho lento."

Nos cinco anos dedicados ao Corpo de Bombeiros, o rapaz de João Monlevade, um dos tantos municípios mineiros forjados na exploração do ferro, passou por várias missões, mas, como a maior parte dos jovens que entraram para a profissão, não coleciona grandes tragédias no currículo. Então, vem Brumadinho. "Não dá para esquecer nunca disso aqui. É uma lição para a vida."

Ainda não há data de ir para casa, mas ele quer uma. A mulher e o pequeno Lucas Antonio esperam pelo bombeiro em casa, em BH. "Meu filho faz dois anos no dia 3. Se Deus quiser, estarei com a minha família pra comemorar." Difícil saber.

Sem prazo

Os funcionários públicos de Minas, incluindo bombeiros, estão com o 13º salário de 2018 atrasado e receberão o benefício parcelado ao longo do ano. O fim do trabalho em Brumadinho ainda é uma incógnita. Calcula-se o número de mortos e desaparecidos, multas e doações e projeta-se a extensão dos danos. O fim das buscas, porém, ainda é tarefa de prazo indeterminado e assunto proibido para milhares de parentes que esperam resposta.

Tampouco é possível prever exatamente quanto tempo custará a retirada de toda a lama podre que encobriu a cidade. E esta será, de fato, uma exigência da população e do poder público aos culpados pela enxurrada de crimes que cometeram.

São assuntos que, no momento, não passam pela cabeça de Lucas e dos companheiros que vasculham a lama. Apoiados em madeiras, canos, galões de combustíveis e tudo o mais que encontram pela frente, brigadistas e voluntários seguem pelo barro, em busca de sinais de vítimas. É a missão. Lucas volta ao trabalho. Uma chuva forte está a caminho, para dificultar um pouco mais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O número de animais resgatados em Brumadinho até a noite desta quarta-feira (30) aumentou para 57. A Brigada Animal acolheu 27 cães, 14 pássaros, oito galinhas, dois galos, dois bovinos, dois patos, um gato e um cágado. Todos foram encaminhados para o hospital de campanha montado em uma fazenda da região indicada pela Vale, empresa responsável pela barragem que se rompeu.

A estrutura para os procedimentos com os animais ocorre em duas fazendas. O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais coordena a equipe de profissionais, estudantes da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), auxiliares e ONGs, como a Federação Humanitária Internacional Fraternidade e a Arca da Fé resgate animal. As ações também contam com a participação da Anclivepa Minas.

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Inicialmente, todos são tratados no hospital improvisado e serão encaminhados aos donos. Caso os tutores não sejam localizados, serão disponibilizados para adoção. A Brigada Animal ainda não soube dizer se conseguirá localizar os responsáveis pelos bovinos.

Desde os primeiros instantes após a tragédia, ocorrida na sexta-feira (25), equipes de veterinários e peritos fazem o trabalho de buscas, salvamento e cuidados dos animais encontrados. Em alguns casos, como o resgate de bois e vacas, há a utilização de equipamentos específicos.

Na terça-feira (29), animais em área de risco foram mortos por agentes na região. A apresentadora Luisa Mell publicou, nas redes sociais, um vídeo criticando a situação. "Não há eutanásia em cima de um helicóptero, atirando, isso é assassinato", declarou.

De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária, uma vaca e um cavalo, que estavam atolados há quatro dias em um local de difícil acesso, tiveram de ser abatidos por meio de rifle sanitário na segunda-feira (28).

A Vale divulgou nota na manhã desta quinta-feira (31) atualizando o número de mortos identificados no desastre do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), ocorrido na sexta-feira (25) passada.

Eram 57 identificados e agora são 67. O número total de fatalidades continua em 99 e o de desaparecidos, em 259. O número de vítimas resgatadas está em 192 e o de localizados, em 393.

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O juiz Ordenisio Cesar dos Santos, titular da 5ª Vara do Trabalho de Betim, determinou na manhã desta quinta-feira, 31, o bloqueio de mais R$ 800 milhões da mineradora Vale. O valor congelado visa assegurar a reparação dos danos morais coletivos dos atingidos pelo rompimento da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). Ao todo, os valores bloqueados da mineradora no âmbito trabalhista somam R$ 1,6 bilhão.

Na segunda-feira, 28, a juíza plantonista Renata Lopes Vale determinou o bloqueio de R$ 800 milhões da Vale para assegurar as indenizações necessárias às famílias atingidas pelo rompimento da barragem. No domingo, 27, a Ministério Público do Trabalho em MG solicitou o bloqueio de R$ 1,6 bilhão da mineradora a fim de garantir o pagamento de eventuais indenizações às famílias das vítimas e dos sobreviventes da tragédia.

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O procurador do trabalho Geraldo Emediato explicou ao jornal O Estado de S. Paulo que os R$ 800 milhões bloqueados nesta quinta para o pagamento de danos morais coletivos podem servir para subsidiar ações sociais, amparar hospitais, bombeiros, polícia civil, comunidades, entidades filantrópicas e assistenciais.

Em sua decisão, o juiz afirmou que o "se trata de desastre reincidente, de proporções bem maiores do que o ocorrido na barragem do fundão, em Mariana/MG, em novembro de 2015, também de propriedade da requerida (Vale), com perdas de centenas de vidas, dentre as quais empregados diretos e terceirizados da requerida, e repercussões inestimáveis na vida e na saúde, física e mental, dos seus familiares".

O titular da 5ª Vara determinou ainda que a Vale apresente, no prazo de 10 dias úteis, a relação de todos os seus empregados diretos, indiretos, avulsos, e terceirizados, e os documentos correspondentes, sob pena de multa diária.

Ao todo, a Justiça já decretou bloqueios de R$ 12,6 bilhões à mineradora. Na própria sexta-feira, 25, dia do rompimento da barragem, o juiz de plantão da Vara de Fazenda Pública de Belo Horizonte, Renan Carreira Machado, determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão nas contas da Vale, após solicitação da Advocacia Geral do Estado de Minas Gerais.

O ministério Público do Estado de Minas Gerais ajuizou uma ação civil pública cautelar na Vara Cível da Comarca de Brumadinho pleiteando R$ 5 bilhões para reparações emergenciais nas comunidades atingidas e obrigações de fazer para garantia de estabilidade de uma das barragens. O pedido foi acolhido.

Uma segunda ação do Ministério Público resultou no bloqueio de outros R$ 5 bilhões para danos ambientais, arquitetônicos, e relativos aos equipamentos públicos e às moradias atingidas.

Todas as plantações e chácaras que estavam ao lado da Vale, no Córrego do Feijão em Brumadinho (MG), foram tragadas pela lama no momento em que a Barragem 1 se rompeu, no dia 25. O cenário é de catástrofe. Foi na beira deste mar de lama que a ação desesperada de uma família chamava a atenção.

Vanderson Geraldo da Fonseca, de 31 anos, lavrador, buscava o cunhado, Paulo Giovani dos Santos, de 40 anos, agricultor, desaparecido desde o dia da tragédia. “A expectativa é só encontrar o corpo para dar um basta. [Encontrá-lo] com vida, a gente não acredita mais.”

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Na busca desesperada, parentes usam pás, enxadas e até cavam com as próprias mãos. O motorista Pedro Ferreira dos Santos, de 43 anos, é um dos 10 irmãos de Paulo Giovani.        

Paulo Giovani era caseiro de uma chácara que ficava ao lado da Vale. Com o rompimento da barragem de rejeitos, a piscina, a área verde e a casa onde Paulo morava foram arrastados pela lama. Tereza Ferreira do Nascimento, de 41 anos, dona de casa, é uma das irmãs de Paulo e também auxiliava nas buscas.

Ela conta, emocionada, da angústia de seguir sem respostas. “Se a gente encontrar o corpo, a gente vai pelo menos fazer o enterro e dar um ponto final na história”.

Genro de Paulo, Gean Carlos Soares buscava não só o sogro desaparecido, mas também o tio, que trabalhava na Vale. Desde sexta-feira, ele vai até a região em busca de informações. “Só quem tá vendo de perto, viu que estrago que fez aqui. A chance de estar vivo pode descartar”. 

Depois de cinco dias seguidos, Gean conta que seria a última vez que iria até o local.

A menos de dez minutos do centro da pequena Rio Acima, cidade de 10 mil habitantes na Grande Belo Horizonte, a barragem Mina Engenho foi dominada pelo mato e está abandonada. Inativa há sete anos, a mina de ouro - que pertencia à Mundo Mineração, do grupo australiano Mundo Minerals, hoje em estado falimentar - não emprega ninguém nem produz um real em royalties para o município. Deixou para trás, porém, uma herança perigosa: as barragens de maior risco de Minas Gerais, segundo avaliação da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão regulador do setor.

Conforme o relatório mais recente da ANM, de janeiro, a barragem Mina Engenho foi a única do Estado a ser considerada de "alto risco" de vazamento. Para se ter ideia, as barragens da mineradora Vale em Brumadinho - na unidade onde houve o rompimento - eram consideradas de baixo risco. Outras foram classificadas de "risco médio" - uma delas está em Itabirito, perto de Rio Acima.

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O jornal O Estado de S. Paulo ouviu moradores de Rio Acima que relatam abandono total e que as duas barragens da mina de ouro - uma com a superfície sedimentada e outra cheia de água - não recebem manutenção desde que as atividades foram encerradas, de um dia para outro, no fim de 2011. A interrupção foi tão abrupta que fábrica, caminhões e carros usados no transporte de funcionários foram deixados para trás. A maioria dos trabalhadores não recebeu seus direitos, diz o Sindicato dos Trabalhadores de Extração de Ouro de Nova Lima e região.

Muito do que ficou para trás foi depredado ou furtado. Caminhonetes acabaram "depenadas" - pneus, motores e peças foram carregados e os vidros, quebrados. A estrutura de escritórios e refeitório está destruída - a privada do banheiro só não foi levada porque a louça quebrou no momento da retirada. Até hoje, "visitantes" da área abandonada aproveitam para achar canos, pedaços de ferro e mais itens que possam ser usados em construções.

O material depositado nas barragens é altamente tóxico - placas alertam para risco de contaminação, mas ninguém controla o fluxo de pessoas. Tampouco há cerca ou portão. Fontes do setor de mineração dizem que o potencial de contaminação da exploração do ouro é superior ao do trabalho com minério de ferro - sedimentos acumulados nas montanhas de Rio Acima teriam arsênico e mercúrio, entre outros metais.

Perigo

Além de Rio Acima, a Mina Engenho também tem o potencial de afetar um município bem maior, de quase 90 mil habitantes: Nova Lima. A prefeitura da cidade diz já ter acionado o Ministério Público para cobrar providências sobre a área. A administração ressalva, porém, que a obrigação da fiscalização é de órgãos estaduais e federais. Outro ponto que preocupa moradores é que, diferentemente da Vale, a Mundo Mineração não tem dinheiro para pagar eventuais indenizações.

Presidente do sindicato do setor de exploração de ouro em Nova Lima, Marcelino Antônio Edwirges diz que houve tentativa de buscar o ressarcimento dos funcionários. Mas ao pedir o arresto de máquinas e equipamentos, descobriram que a maioria deles era alugada. "Só conseguimos captar recursos para pagar dois trabalhadores."

A Mundo Mineração atuava em atividade de risco. A empresa australiana comprou uma mina cujo potencial primário de exploração já havia sido exaurido por outra empresa. Segundo Edwirges, a empresa comprou a área por preço baixo, em busca de ouro na "sucata", pelo reprocessamento dos sedimentos acumulados nas barragens. É uma aposta difícil, já que o potencial de mineração é de, no máximo, 10% do total original.

Além do potencial de dano humano, Edwirges e os moradores veem potencial de contaminação do Rio das Velhas, afluente do São Francisco, e responsável por boa parte do abastecimento da Grande BH. Após as tragédias de Mariana e Brumadinho, a população de Rio Acima pensa cada vez mais nas barragens ao redor. "Não dá para confiar", afirma Rayane Luana Marques, de 26 anos. Já Ivone Rebuitti, de 64 anos, diz que "se a gente parar para pensar, não consegue dormir". "Depois de Brumadinho, ficamos com medo, diante de tanta tragédia, sofrimento. É ganância. Estamos nas mãos podres dos homens."

Na Justiça

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que o "empreendedor é responsável pela segurança da barragem". Disse ainda que o Estado obteve na Justiça decisão contra a empresa, que não foi cumprida. Em 2017 e 2018, segundo a pasta, foram tomadas medidas emergenciais cabíveis. Uma licitação será contratada para fazer o descomissionamento da estrutura, o que inclui a retirada dos rejeitos. A reportagem não localizou representantes da Mundo Mineração e procurou a advogada da empresa por telefone, mas não teve sucesso. A ANM também não foi encontrada pela reportagem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

No sétimo dia de buscas por vítimas do desastre causado pelo rompimento da barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, nos arredores de Belo Horizonte, as autoridades contabilizam 99 mortos e 259 desaparecidos. O número de vítimas aumenta na proporção que a esperança diminui. Bombeiros experientes relatam que há dificuldades devido ao mar de lama que tomou conta da região.

Os trabalhos de resgate começam diariamente, por volta das 4h, e vão até a noite. A barragem B6, com água, segue monitorada 24 horas, sem risco de rompimento. Um plano de contingência, entretanto, foi elaborado de forma preventiva.

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Buscas

Nos dois últimos dias, segundo o Corpo dos Bombeiros, as buscas se concentraram onde ficava o antigo refeitório da Vale. É realizado monitoramento na área por onde os rejeitos se espalharam, coberta a partir de grupos distribuídos em 18 pontos. Há locais em que a lama se acumula a 10 metros de profundidade.

Na quarta-feira (30), tropas enviadas de São Paulo começaram a atuar em seis pontos de monitoramento. As atividades também foram reforçadas por 58 voluntários, que ficam nas imediações e contribuem na verificação de vestígios de corpos.

Barragens

A Defesa Civil de Minas Gerais divulgou ontem um “plano de contingência” no caso de riscos relacionados às barragens da região de Brumadinho que não se romperam. Mas, de acordo com o porta-voz da corporação, tenente-coronel Flávio Godinho, a medida é preventiva, pois não há barragens com risco de rompimento.

Segundo Godinho, as demais barragens estão no nível de segurança 1. O risco aumenta quando a classificação passa para níveis superiores, como 2 ou 3. Contudo, acrescentou o porta-voz, não há situações desse tipo ainda na região.

Em nota, a Defesa Civil designou locais para os quais moradores e pessoas que estiverem na área devem se dirigir em uma situação hipotética. “A Defesa Civil divulga pontos como medida preventiva em caso de elevação do risco”, destacou o comunicado.

“As polícia Civil e Militar estão monitorando as barragens em tempo real para, em caso de mudança na situação, haja aviso por meio de sirenes para que a população possa se deslocar de forma organizada e ordeira”, afirmou Godinho.

Após a queda da barragem em Brumadinho (MG), além da triste realidade das vítimas e familiares da tragédia, diversos animais morreram ou ficaram à deriva em meio à lama que cobriu a região.

Nesta terça-feira (29), animais em área de risco foram mortos por agentes na região. A apresentadora Luisa Mell publicou, nas redes sociais, um vídeo criticando a situação. "Não há eutanásia em cima de um helicóptero, atirando, isso é assassinato", declarou.

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De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), uma vaca e um cavalo, que estavam atolados há quatro dias em um local de difícil acesso, tiveram de ser abatidos por meio de rifle sanitário nesta segunda-feira (28).

Os animais estavam em um lugar sem condições de segurança para serem içados, presos em uma área de risco aos socorristas e sem possibilidade de acesso para intervenção de outra técnica de eutanásia.

Ainda de acordo com o CFMV, com base na resolução nº 1000/2012, a decisão da equipe envolvida foi estritamente técnica, uma vez que os animais já estavam debilitados, desidratados e em sofrimento. A eutanásia animal pode ser indicada quando o "bem-estar do animal estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor ou o sofrimento, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, de sedativos ou de outros tratamentos".

Em nota, o Conselho Federal de Medicina Veterinária explica que a escolha do método dependerá da espécie envolvida, da idade e do estado fisiológico dos animais, bem como dos meios disponíveis para a contenção.

O CFMV reitera que o momento é delicado e que requer uma deliberação profissional complexa, envolvendo preceitos técnicos e éticos. "Realizar a eutanásia é uma decisão difícil para os veterinários, que escolheram a profissão por amor aos animais".

A equipe do CFMV de Minas Gerais que está em Brumadinho atuou no resgate em 2015, após o rompimento da barragem em Mariana. Até esta quarta-feira (30), 36 animais foram salvos em Brumadinho. Segundo a Brigada Animal, eles foram encaminhados para uma fazenda, onde passam por triagem e recebem os primeiros tratamentos.

Ela foi resgatada com vida dos escombros na área da pousada Nova Estância, perdeu o bebê, o marido, Robson, enterrado no domingo, uma irmã, Pâmela, mas sobreviveu puxada por um socorrista que usou uma corda para o resgate na lama. Paloma Cunha, de 22 anos, disse nesta terça-feira (29), ao sair do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, que não quer recordar o pavor do dia em que o estouro da barragem em Brumadinho levou parte da vida dela e da família. "Vocês me desculpem, mas prefiro não relembrar porque é muito difícil", contou, caminhando amparada pelo pai, Lucimar, no fim da tarde. Ela disse que, por enquanto, não quer voltar a Córrego do Feijão, onde vivia.

Apresentando as marcas da tragédia espalhadas pelo corpo, ela e o pai criticaram a mineradora. "Até agora, a Vale não proporcionou nada pra nós", afirmou Lucimar. "Estamos dependendo de amigos", contou. Paloma disse que a "perda é muito grande". Ela lembrou que ainda tem esperança de que seu bebê esteja com vida e lamentou a morte de Robson, já sepultado no domingo. Segundo ela, o marido morreu por "causa de imprudência" da Vale. "Estou indignada", afirmou. "Eu estava todo o tempo consciente."

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Também internada no mesmo hospital, outra sobrevivente, Talita Cristina, de 15 anos, passou por cirurgia na tarde desta terça-feira. A menina foi resgatada dos escombros da pousada Nova Estância, em Brumadinho, arrasada pela avalanche de lama. Alessandra Pereira, que trabalhava na pousada, também está hospitalizada por ter aspirado o lodo de minério da barragem. A filha dela, Laís Gabriela, de 14 anos, está desaparecida.

"Ainda não sei como está a Talita, que foi operada agora", contou José Antonio Pereira, marido de Alessandra, que também trabalhava na pousada, mas não estava no local na hora do desastre. "Vou subir agora para saber." Pereira contou ao jornal O Estado de S. Paulo que a mulher, que tem o rosto muito inchado e está com problemas respiratórios pela inalação de lama, estava com as meninas quando a casa desabou. A filha dele, Lais Gabriela, até hoje não foi encontrada.

O resgate de Alessandra e Talita foi feito por um amigo da família, que arrancou as duas da lama, usando os próprios braços. Abalado, Pereira contou ainda que a pousada foi arrastada pela lama. Alessandra estava na parte da casa que tinha telhado. Talita e Laís Gabriela estavam na parte da construção na qual havia uma laje de concreto, o que, segundo a família, provocou as fraturas na menina.

Até o fim da tarde, Talita ainda se recuperava de cirurgias corretivas na UTI. Alessandra, segundo o marido, poderia ser transferida para outra unidade médica ainda nesta terça-feira. Segundo o Hospital João XXIII, além delas foram internados um homem, de 55 anos, com fratura na perna. Há ainda outro internado, de 59 anos, afetado pela perda de um parente na tragédia.

Resgate

O major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar, informou que quadruplicará o efetivo responsável pelas buscas e pela proteção das áreas afetadas. Já são 250 PMs na região e o total deve chegar a quase mil até hoje, segundo ele.

Equipes de São Paulo, Goiás, Espírito Santo e Santa Catarina também chegam nesta quarta-feira, 30, para ajudar. Serão mais 80 militares e 4 aeronaves, além de cães farejadores. Os grupos de resgate serão distribuídos em 16 regiões diferentes. "Cada pelotão fará a atividade de varredura da área, ampliando o serviço, fazendo a abordagem e manutenção da ordem para que ninguém acesse as 'área quentes' (locais de buscas)", disse o major. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As águas do rio que passa perto da casa de Helton ficaram marrons no sábado (26). Alguns peixes começaram a morrer, trazendo até a sua porta o rastro de uma tragédia que já o atingira duramente no dia anterior.

Sua mulher e sua irmã trabalhavam no refeitório dos funcionários da Vale na mina de Córrego do Feijão, sepultado na sexta-feira passada pela maré de barro que arrasou a pequena cidade mineira.

Desde então, o tempo parou na humilde casa às margens do Paraopeba, cujas águas marrom-avermelhadas lembram o tempo todo de uma tragédia que deixou, por ora, 84 mortos e 276 desaparecidos.

"Dizem que as buscas estão frequentes, mas o ponto de acesso onde elas estavam é muito crítico. São 15 metros de profundidade de barro", explica, abatido, esse operador de cargas de 28 anos, que ainda não sabe como dizer a seu filho de 8 anos onde está sua mãe.

Seus olhos inchados observam o rio passando, bem diante de sua casa, em uma ponte suspensa que conecta a estrada regional com uma exuberante mata atlântica.

Há apenas cinco dias, essa água era cristalina, como mostram as fotos no celular de Helton Adriano, e onde se pode ver seu filho brincar com o Paraopeba ao fundo.

Pouco depois do meio-dia de sexta-feira, a cerca de 20 quilômetros dali, a barreira I do Córrego do Feijão arrebentou. Expeliu 12,7 milhões de metros cúbicos de resíduos tóxicos sobre a área administrativa da mina, onde muitos dos funcionários da Vale almoçavam, e prosseguiu com sua onda de destruição.

Servindo a comida, como todos os dias, estavam Carla - a irmã 35 anos de Helton - e Samara, sua esposa, de 28. Com um fio de voz, Helton recorda de quando lhes dizia para arranjar outro emprego, porque ouvia rumores sobre os perigos da represa. 

Mas não é fácil arrumar trabalho nesta região em que a economia depende principalmente das minas da Vale. "Eu pedi para elas saírem, e elas falavam: não, porque precisamos do emprego".

Cercado por inúmeras barreiras que ninguém sabe exatamente em que condição estão, muitos sempre ouviram rumores sobre os riscos das represas que armazenam os rejeitos da mina do Córrego do Feijão. Mas ninguém fazia nada.

"Eles sabiam que ia arrebentar. Sabiam. Os meninos que trabalham lá tinham medo de denunciar (as mineradoras) e serem mandados embora", lamenta Vanderlei Alves, um caminhoneiro de 52 anos, que perdeu vários amigos.

- Até o São Francisco -

A camada superficial da água arrasta sedimentos leves, enquanto o barro vai se acumulando na parte inferior. Chuvas fortes poderão aumentar o potencial nocivo que ainda está sendo avaliado, mas já salta aos olhos.

Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil), foram perdidos aproximadamente 125 hectares de matas, o equivalente a 125 campos de futebol, e a maré avança a 1 km/h.

A Agência Nacional de Águas (ANA) avalia que a onda de resíduos e barro chegará entre 5 e 10 de fevereiro até a hidroelétrica Retiro Baixo, a 300 km do Córrego do Feijão.

O temor é que alcance o São Francisco, 30 km abaixo de Retiro Baixo.

- Peixes mortos -

A poucos metros da casa de Helton, uma equipe de especialistas ambientais toma notas e quebra o silêncio apenas para perguntar a um menino se viu peixes mortos. "Muitos!", responde o garoto.

O nível do desastre ainda tem de ser determinado, mas os moradores locais temem pelo pior. "A maioria das pessoas aqui são muito rurais, ribeirinhos. Então usamos o rio Parapeba como alimento, pela pesca, e para canalizar a água e regar a horta, e agora não se pode mais fazer isso", lamenta Leda de Oliveira, uma cuidadora de idosos de 31 anos.

A família de Helton também será afetada, apesar de, no momento, ele não estar pensando nisso. "Dizem que é perigoso, que há um alto risco de contaminação. Mas a gente não está tão preocupado com a questão dos peixes, porque a gente está com o foco nas buscas", completa ele, conformado em continuar olhando as águas marrons do rio.

Em entrevista à Rádio Eldorado nesta quarta-feira (30) o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, disse que ainda está cedo para determinar uma data limite para o encerramento das buscas por vítimas do rompimento da Barragem 1, na última sexta-feira (25), na Mina do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais.

De acordo com o tenente, o avanço na decomposição dos corpos pode fazer com que a operação de resgate seja encerrada, mas, segundo ele, ainda não é a hora. "Evidentemente chega um momento que pelo estado de decomposição dos corpos com a lama fica impossível encontrá-los, mas isso está associado a uma série de variáveis".

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Aihara também explicou que o tempo de decomposição dos corpos varia de acordo com o estado em que eles se encontram, se estão diretamente na lama ou envoltos em alguma estrutura como, por exemplo, um ônibus.

"Nesse momento, que não é agora, essa operação tem que ser analisada, se ela tem que ser encerrada. Nesse tipo de tragédia a gente não trabalha com recuperação de 100% dos corpos. Embora seja o desejo, isso é impossibilitado pelas características físicas da situação".

Até a manhã desta quarta-feira, 30, 276 pessoas ainda estavam desaparecidas e 84 mortes foram confirmadas. Desde o último sábado, 26, um dia após a tragédia, não foi encontrada mais nenhuma pessoa com vida em meio à lama.

O tenente também afirmou que, embora seja remota a possibilidade de encontrar sobreviventes, o Corpo de Bombeiros trabalha com "esperança infinita e considerando todas as possibilidades".

Para isso, a corporação age em conjunto com as forças militares de Israel, que chegaram a Brumadinho no domingo, 27. Segundo Aihara, as equipes estão coordenadas e o efetivo israelense concentra a sua ação na área próxima ao refeitório da Vale, onde centenas de pessoas almoçavam quando a barragem se rompeu.

Até o momento, estão envolvidos na operação 280 bombeiros, sendo 220 de Minas Gerais e o restante dos Estados do Espírito Santo, Goiás, Santa Catarina e São Paulo. O tenente também declarou que reforços de agentes, cães e apoio aéreo de outros Estados chegarão nesta quarta-feira a Brumadinho.

Dezenas de familiares se aglomeram todos os dias em busca de informações. A cena se repete desde a última sexta-feira (25), quando a Barragem 1 de rejeitos da mineradora Vale se rompeu e deixou um rastro de lama e mais de 270 desaparecidos em Brumadinho, no interior mineiro. O número de mortos chega a 84.  

Na porta de um dos centros de atendimento montados no município, encontramos dois irmãos que buscavam, com fotos nas mãos, qualquer notícia da irmã Gislene, de 53 anos. Edir Lazaro do Amaral é comerciante e conta que ela estava dentro do refeitório da empresa Vale na hora do rompimento da barragem. “Ela passou mensagens às 12h21 para algumas amigas. [Poucos minutos depois], uma vizinha viu a notícia e me avisou lá no restaurante. Até pediu para não avisar a minha mãe. Aí entrei em desespero”, relembra.    

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Gislene é uma das 276 pessoas consideradas desaparecidas até o momento. Ela trabalhava há 17 anos na Vale e, segundo o irmão, comemorava a compra de um carro novo e ainda cuidava da mãe idosa. “A gente está muito chateado, chorando muito. Está uma tristeza danada. Nem estou abrindo o meu restaurante. Estamos neste sofrimento. Minha mãe é acamada, nós não tivemos condições de avisá-la de imediato, ela ficou sabendo pela televisão”, conta.               

Apesar da saudade e da tristeza, para Edir, o mais importante agora é conseguir enterrar a irmã. “A esperança nossa é encontrar pelo menos o corpo dela para a gente ter um enterro digno, porque ela não merecia essa morte”, acrescenta emocionado.

Do outro lado da cidade de Brumadinho, aos pés do que já foi um riacho, encontramos o mecânico Nelson José da Silva Junior. De olhar perdido, observando o mar de lama, ele relembra que nasceu e foi criado ali. São 36 anos aqui, ao lado da barragem. “Não imaginava [isso], né, porque é tudo fiscalizado. Não sabia que a situação era dessa forma. Muita gente que trabalhava lá próximo dizia que tinha perigo [de rompimento], que estava vazando, mas eu mesmo não sabia disso”.

Todos os moradores da região onde vivia Nelson precisaram sair do local assim que a barragem de rejeitos se rompeu. Ele estava trabalhando longe dali. A esposa e o filho, que estavam em casa, conseguiram fugir. Mas, a irmã que trabalhava na Vale continua desaparecida. “Ela trabalhava na medicina do trabalho. E até hoje não temos notícia, nada, nada. Já fomos a hospital, IML, já andei essas matas todas e não encontrei nada’’.

A busca é pela irmã mais nova Fernanda, de 32 anos. Ela comemorava a conclusão recente da tão sonhada faculdade de psicologia. Mas, infelizmente, não poderá participar da Colação de Grau. “Ela estava tão feliz. Chegou a tirar todas as fotos. O pessoal da faculdade ligou pra nossa família, nós ficamos sem saber o que dizer. É muita tristeza.’’

A cada helicóptero que sobe e desce ali, fazendo resgates e buscas, Nelson fala, com lágrimas nos olhos: “Será que é a minha irmã?”.

O Brasil não tem estrutura para garantir a segurança de todas as barragens em operação em seu território. A Agência Nacional de Mineração (ANM), responsável pela fiscalização, tem apenas 35 fiscais capacitados para atuar nas 790 barragens de rejeitos de minérios - semelhantes às do Córrego do Feijão, em Brumadinho, e à do Fundão, em Mariana - em todo o País.

O governo federal usa só laudos produzidos pelas próprias mineradoras ou por auditorias contratadas. São elas que atestam a segurança das suas estruturas. A autorregulamentação é definido na Lei Federal 12.334, de 2010, e é adotado também em outros países. São previstos dois tipos de inspeção: a regular, feita pela própria empresa, e a especial, realizada por equipe multidisciplinar contratada pela empresa, de acordo com orientações da ANM.

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O risco é potencialmente mais alto se não houver fiscalização, dizem especialistas. "É claro que não dá pra fazer nem uma fiscalização por ano em cada uma", diz o geólogo Paulo Ribeiro de Santana, da ANM. Segundo ele, os 35 fiscais não trabalham exclusivamente com barragens de rejeitos. "Há outras atividades relacionadas à mineração também, como fiscalização de minas, pesquisa mineral, muitas coisas."

As raras fiscalizações in loco são feitas quando há discrepância grave nos documentos apresentados pelas empresas à agência ou seguindo rodízio esporádico dos técnicos. "O corpo de funcionários é tão pequeno que eu, geólogo, respondo pela assessoria de comunicação."

Conflito de interesses

O problema já começa no licenciamento ambiental. O documento necessário é elaborado por empresa contratada pela mineradora a - e feito com dados e informações repassados por ela. "Obviamente há conflito de interesses claro aí, porque essa empresa não vai querer que o licenciamento não seja aprovado", avalia o especialista em geomorfologia Miguel Felippe, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). "Esses documentos são extremamente complexos, com uma infinidade de dados, milhares de páginas. Não há corpo técnico no governo para avaliar isso tudo. Não há contraprova. O jeito é confiar nas informações fornecidas pelas empresas."

Quando a barragem entra em operação, a dona da estrutura é responsável pelo monitoramento da estabilidade do depósito. Eventualmente, como no caso de Brumadinho, outra empresa pode ser contratada para atestar estabilidade. Mas esse laudo é feito com base em dados fornecidos pela mineradora.

O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de Planejamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), diz que, "sob quaisquer circunstâncias, a responsabilidade é do dono da obra". "Pode ocorrer de ali haver um início de processo de instabilidade não ter sido captado." Mas, pondera ele, um acidente desse porte não acontece de repente. "Dá avisos, que podem ser detectados visualmente ou por instrumentação." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A plataforma de voluntariado Transforma Brasil, em parceria com a ONG mineira E-Missão, abriu as inscrições para cadastro de voluntários para ajudar as vítimas do rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG). A ação procura por psicólogos, médicos, assistentes sociais e pessoas para ajudar na limpeza e separação de donativos. Para realizar cadastro, é necessário acessar portal.transformabrasil.com.br.

Mais de 4 mil voluntários já estão prestando atendimento médico e psicológico às vítimas resgatadas, além de oferecer suporte aos desaparecidos, e auxílio às pessoas que tiveram suas casas atingidas pela lama.

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Além disso, foi criada uma campanha de arrecadação de recursos financeiros, por meio do www.cidadedobem.com, em que é possível realizar doações a partir de R$ 10. O dinheiro angariado será usado para compra de remédios, água, material de limpeza, reabilitação das comunidades atingidas, redução de danos ambientais e ações sociais na cidade.

A empresa Vale publicou comunicado dizendo que também estão cadastrando voluntários. Os interessados podem ligar nos números 0800 285 7000 (Alô Ferrovia – prioritário) e 0800 821 5000 (Ouvidoria da Vale). Por esses mesmos números, a empresa recebe os dados de sobreviventes encontrados, reporte de desaparecidos, solicitação de apoio emergencial (abrigo, água, cesta básica, roupa, medicamento, transporte etc.) e reparação.

O secretário-geral de privatizações, Salim Mattar, disse nesta terça-feira que a Vale não pode ser sacrificada pela sociedade, mas sim os responsáveis pela tragédia de Brumadinho (MG) com o rompimento da barragem. "Neste desastre terrível, estou vendo a sociedade sacrificando a companhia, quando deveriam ser sacrificadas as pessoas que tomaram as atitudes", disse Mattar, durante abertura de conferência do Credit Suisse na capital paulista

"A companhia não fez mal a ninguém, o CNPJ não fez mal a ninguém", afirmou o executivo. "Os erros foram cometidos por seres humanos e essas pessoas é que devem pagar e não a companhia", disse ele, destacando que é favor das empresas, que são grandes geradoras de emprego.

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O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou nesta terça-feira, 29, que o governo federal vai aguardar a investigação das causas do desastre ocorrido com o rompimento de uma barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), para decidir sobre uma eventual intervenção na diretoria da empresa. "Não há condição de haver nenhum grau de intervenção agora. Isso não seria uma boa sinalização para o mercado", afirmou Onyx em uma entrevista coletiva realizada após a reunião semanal do conselho ministerial do governo.

O encontro tratou nesta terça-feira exclusivamente sobre o ocorrido em Minas Gerais.

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O governo federal possui a chamada golden share, que dá poder especial para o Estado, além de ser representado por outros acionistas. Por isso, ele poderia convocar a reunião do conselho de administração da empresa e pressionar pela saída da atual diretoria. O governo brasileiro possui 12 ações do tipo na Vale.

Questionado sobre se o governo pretende fazer tal convocação ou se apoia a cúpula da empresa, o ministro afirmou apenas que "não cabe ao governo ficar atuando diretamente no comando das empresas que não são de sua responsabilidade direta".

"Se as investigações mostrarem que há dolo, que há falha, o governo vai exercer o seu direito (de convocar o conselho de administração. ... Mas o governo tem de ter humildade para saber que não pode tudo e prudência para saber que está em jogo um setor muito relevante para o País. Tem de haver equilíbrio", afirmou Onyx.

Na segunda-feira, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, afirmou que o gabinete de crise do governo estava estudando tal possibilidade.

A Defesa Civil de Minas Gerais atualizou por volta das 12h desta terça-feira (29) os números de vítimas do desastre de Brumadinho.

O órgão informou que são 65 mortes confirmadas e 288 pessoas desaparecidas (eram 279 no final da noite desta segunda-feira, 28). De acordo com a Defesa Civil, já foram localizadas 390 pessoas.

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Policiais militares prenderam na noite desta segunda-feira, 28, dois suspeitos que estariam tentando saquear imóveis vazios em Brumadinho (MG). Os suspeitos foram flagrados na frente de uma casa no bairro Parque da Cachoeira, uma das áreas atingidas pela lama que vazou no rompimento da barragem da Vale e que precisou ser evacuada.

A polícia foi chamada por volta das 20h, após receber denúncias de que equipamentos eletrônicos e objetos de valor estariam sendo saqueados. Os envolvidos estavam em motocicletas e um casal foi flagrado no local. Dois homens conseguiram fugir correndo para dentro de uma mata.

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Foram apreendidas três motos, uma delas com queixa de furto na cidade de São Joaquim das Bicas (MG). O caso foi levado para a delegacia de Polícia Civil de Brumadinho e os dois detidos, um homem de 29 anos e uma mulher de 39, tinham entre outros objetos, uma furadeira elétrica, materiais de construção e ferramentas.

O homem alegou ter encontrado tudo na rua e que não conhece os outros dois que fugiram pelo mato. A mulher disse que estava na área com um irmão procurando uma parente desaparecida. Segundo ela, o irmão fugiu porque no passado já teve problemas com a polícia e ficou com medo ao ver as viaturas. Após prestar depoimento, o casal detido foi liberado para responder em liberdade.

Policiamento

Para conter os saques, a polícia informou ter reforçado o policiamento nas áreas evacuadas pelos moradores. Mais de 250 policiais civis e militares de várias cidades de Minas Gerais foram deslocados nos últimos dias para Brumadinho visando ajudar na segurança pública.

"Além de melhorar o policiamento, temos uma base comunitária perto da rodoviária para receber denúncias dos moradores", explicou o major Flávio Santiago. O objetivo é evitar crimes como os saques após o rompimento da barragem.

Os helicópteros que cortavam o céu de Brumadinho (MG) na tarde destas segunda-feira (28), não estavam ocupados apenas em apoiar a retirada de corpos dos escombros e da lama, ou encontrar sobreviventes em meio à destruição. Ao menos uma das aeronaves tinha a missão de executar, com tiros, animais ilhados, presos na lama ou feridos.

Eram 14h37. Um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) fazia voos rasantes em uma área devastada do Córrego do Feijão, numa região isolada e mais próxima da barragem de rejeitos. Um agente armado com fuzil mirava, de dentro do helicóptero, locais onde enxergava animais na lama. E disparava.

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Do meio da mata, o jornal O Estado de S. Paulo acompanhou a movimentação da aeronave. Foram mais de 20 disparos, até o que o helicóptero partiu. O sacrifício dos animais ocorreu numa área próxima do local onde mais de 20 brigadistas tentavam abrir um ônibus coberto pela lama, com vítimas dentro. Há muitos bois ilhados ao longo de todo o trecho da cidade que foi varrido pelo barro. Outros estão com parte do corpo presos na lama.

Sacrifício

A decisão de executar os animais foi confirmada à reportagem pelo chefe da Defesa Civil de Minas, coronel Evandro Geraldo Borges. "O que vamos fazer? Deixar o animal sofrendo? Estamos sim, com equipe em campo executando esse trabalho, mas essa decisão só é tomada nos casos em que não há outra opção."

Outra parte da equipe, disse o coronel, está empenhada em socorrer animais "em condições de serem retirados" da lama. Mas em muitas situações, declarou, só resta o tiro de misericórdia. "Não tem jeito. Tem animal preso, outro com perna quebrada. Temos de fazer escolhas, de retirar as pessoas, ir atrás de sobreviventes. Tudo que está sendo feito foi pensado. É isso."

Próximo da equipe de brigadistas que tenta abrir o ônibus tomado pelo barro, um boi cansado, sobrevivente da tragédia, foi batizado de Resistente pelos agentes. Um helicóptero se aproxima da área onde Resistente está. Não veio executá-lo, mas carregar o primeiro corpo de uma vítima que os agentes conseguiram retirar do ônibus.

Durante as oito horas em que o Estado acompanhou a operação, Resistente chegou a receber um pouco de feno e água. Nesta terça-feira (29), disseram os brigadistas, o boi deverá ser sedado, para que seja retirado dali. Com vida. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As barragens que se romperam em Mariana e Brumadinho, em 2015 e na semana passada, foram erguidas com a mesma técnica, considerada obsoleta e de maior risco por especialistas. No modelo de alteamento à montante, mais econômico, a construção de novas etapas da barragem é feita sobre os rejeitos depositados, na parte interna da estrutura. É o formato mais comum de depósitos de rejeitos na mineração.

Minas Gerais, palco dos dois desastres, tem registro de outras 53 barragens com essa tecnologia na mineração (27 de propriedade da Vale), segundo balanço da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad) de 2016. O próprio documento do Estado indica que esses tipos de barragem têm "maior risco de ruptura".

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Segundo Bruno Milanez, professor do Departamento de Engenharia de Produção e Mecânica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UF-JF), esse é um modelo "bem mais arriscado". Como a barragem cresce sobre o próprio rejeito, não é tão estável. A alternativa mais segura, diz, é o reservatório à jusante, erguido do lado de fora.

"No País, ainda há muitas dessas, e as que já existem têm de ser reforçadas. É preciso que os novos empreendimentos usem outros métodos, mais seguros. É um processo mais caro, mas de custo insignificante se comparado ao prejuízo que decorre de um rompimento", afirma Roberto Kochen, do Instituto de Engenharia de São Paulo.

Nesse tipo de depósito, o maciço da barragem é formado com camadas de rejeito seco. "Faz o primeiro dique e vai lançando o rejeito, até atingir a altura, quando se faz novo alteamento. É como fazer uma escada, com vários degraus. Há sempre o risco de acumular água e, sem boa drenagem, a possibilidade de acidente é maior."

Em agosto de 2016, após a tragédia de Mariana, a Vale anunciou que reduziria o uso de barragens e produziria menos 700 milhões de toneladas de rejeitos até 2025. Na época, a empresa disse ter reformulado o plano de lavra de suas minas e que pretendia adotar cada vez mais o processamento a seco, que não utiliza barragens e costuma encarecer o preço do minério. Procurada, a empresa não informou se levou o plano adiante.

Nesta segunda-feira, 28, o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Vale destacou o fato de as duas tragédias envolverem esse método. "Até agora, a única informação relevante que liga os dois acidentes (de Mariana, em 2015, e Brumadinho) é que foram duas barragens construídas com método de alteamento à montante, mais antigo"

Para Willy Lacerda, professor de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio (UFRJ), essas barragens são bombas-relógio. Ele explica que, em barragens úmidas, é preciso tomar cuidados extras, como instalar aparelhos que medem a deformação da barragem em todas as profundidades. "São tocos ocos, que se deformam junto com a barragem, e permitem detectar direitinho onde tem movimento."

Além disso, ele diz que é necessária a instalação de um "dam break", aparelho que mostra o alcance da lama num eventual rompimento, o que poderia ter evitado muitas mortes.

Proibições

Em reação ao desastre de Mariana, Minas proibiu, em decreto de 2016, novas licenças para barragens com essa tecnologia. Para estruturas já existentes, não exigiu desativação, mas auditorias técnicas. A barragem de Brumadinho tinha laudo de garantia de estabilidade, do ano passado.

O decreto também não suspendeu processos já em andamento que pediam liberação ou ampliação de barragens com essa tecnologia. Em novembro de 2016, o Ministério Público de Minas entrou com ação civil pública contra o Estado para também suspender esses solicitações. Segundo a Promotoria, na época havia ao menos 37 pedidos em andamento que propunham esse método. Na Justiça, o processo está parado desde outubro de 2017.

Em nota, a Semad informou que o decreto sobre barragens é "importante mudança na legislação" sobre o tema e destacou a exigência de auditorias. Disse ser favorável a ampliar a medida e estudar a "descaracterização" das barragens existentes com essa tecnologia, além de fomentar técnicas alternativas.

Em 2016, o Ministério Público Federal também pediu à União que não aprovasse mais planos de lavras com barragens de contenção de rejeitos de mineração por este método. Procurada nesta segunda-feira, a Agência Nacional de Mineração não informou se mudou a orientação sobre isso. No Chile, o modelo já foi proibido. Na Europa e nos Estados Unidos, também tem sido menos usado nas últimas décadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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