Botsuana celebra nesta quarta-feira (23) as eleições gerais mais disputadas de sua história, que ameaçam a posição do partido que governa o país desde a independência há mais de meio século.
Elogiado até agora por suas práticas democráticas e sua estabilidade exemplares, este país da África austral, rico em diamantes e elefantes selvagens, sofreu um abalo com a disputa acirrada entre o atual chefe de Estado e seu antecessor.
Como estipula a Constituição, Ian Khama entregou o poder em Botsuana há 18 meses a seu vice-presidente, Mokgweetsi Masisi, do Partido Democrático de Botsuana (BDP). Mas desde então eles entraram em conflito.
Em maio, Khama acusou Masisi de viés autoritário. A disputa adquiriu tamanha proporção que debilitou a posição eleitoral do BDB, que governa desde a independência, em 1966.
O partido no poder obteve o pior resultado de sua história nas eleições gerais de 2014, abaixo da marca simbólica de 50% dos votos. Sua principal adversária na oposição, a Coalizão pela Mudança Democrática (UDC), espera tirar vantagem nesta quarta-feira.
"As eleições serão disputadas e a balança pode se inclinar tanto para um lado quanto para o outro", confirmou o analista Peter Fabricius, do Instituto Sul-Africano de Estudos de Segurança (ISS).
Ian Khama não poupou esforços para prejudicar seu ex-partido, inclusive pedindo votos publicamente na UDC em várias regiões do país.
Filho do cofundador do BDP e primeiro presidente do país Sertse Khama, o ex-chefe de Estado manteve poderosos aliados e uma influência indiscutível no país.
Ele afirma que o sucessor deu as costas a seu legado, sobretudo ao suspender a proibição da caça de elefantes.
Masisi alega que a política de seu antecessor prejudicou a imagem do partido governista e acredita que vencerá as eleições.
"Somos fortes, mas mão arrogantes", declarou na terça-feira. "Espero uma esplêndida demonstração de confiança.
O líder da UDC, Duma Boko, está convencido de que chegou o momento da alternância. "Acredito que venceremos estas eleições", disse.
Com um Produto Interno Bruto (PIB) por habitante de mais de 8.000 dólares, em grande parte alimentado pelos diamantes, Botsuana é um dos países mais ricos do continente. Mas também é um dos mais desiguais, com taxa de desemprego de 18%.
Mais de 930.000 eleitores estão habilitados a votar em Botsuana, que tem uma população de 2,2 milhões de habitantes. Além do BDP e da UDC, outros dois partidos apresentaram candidatos para os 57 assentos do Parlamento local.
O partido que obtiver o maior número de representantes vai escolher o chefe de Estado. Os resultados serão anunciados antes do próximo fim de semana.