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No último dia 9 de maio, a banda Devotos fez um show na abertura da exposição A arte é um manifesto - 30 anos de Devotos, no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), no Recife. O que 'chamou atenção' na apresentação, foi a presença de uma tradutora de Libras, que acompanhou e traduziu todo o show para o público com deficiência auditiva presente.

Os recursos que oportunizam pessoas cegas ou com baixa visão, e surdas ou ensurdecidas, a terem acesso a atividades e bens culturais com autonomia e independência têm sido cada vez mais presentes na produção cultural da atualidade. Esse crescimento está ligado não só ao aumento do interesse e conhecimento do próprio público consumidor destes recursos como de produtores e artistas. Porém, ainda é preciso maior atenção e zelo no que diz respeito à inclusão desse público nas atividades culturais e artísticas dos espaços públicos e privados das cidades para que haja uma inclusão, de fato, plena.  

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O show que marcou a abertura da exposição A Arte é um manifesto, do artista plástico Neilton, foi apenas um dos pontos da mostra com acessibilidade. Lá também é possível encontrar recursos de audiodescrição, que descreve as obras expostas, e textos em braile, para pessoas cegas. Já para as pessoas com deficiência auditiva, haverá visitas guiadas com tradutores de Libras nos dias 16 de junho e 7 de julho. Mas, apesar de tais recursos serem ações positivas e de inclusão, a pequena agenda de eventos para aqueles com deficiências denuncia uma das dificuldades com as quais este público ainda precisa lidar.

É o que denuncia o intérprete de Libras e youtuber Carlos di Oliveira: "Existem projetos lindos (de acessibilidade), mas é um dia no cinema. Então, a pessoa com deficiência não tem nem a opção de estar em casa em um domingo e resolver ir ao cinema, ela tem que ir em um dia específico. Isso não é inclusão de verdade".

Carlos é criador e apresentador no canal Janela dos Dias, que discute acessibilidade comunicacional na cultura. Para ele, o acesso à arte, por parte de deficientes, tem aumentado mas ainda é preciso mais: "A gente está só no início. Já houve um avanço grande, se falarmos em 10 anos atrás, até porque acessibilidade é a palavra da moda. Mas está na hora de sair da palavra da moda para se tornar a ação da moda. A necessidade da acessibilidade já está entrando no inconsciente popular, até mesmo dos gestores dos espaços públicos, mas as ações são bem pontuais", analisa.

Em Pernambuco, foi possível sentir um grande avanço na questão da acessibilidade na área do audiovisual, nos últimos anos. Os produtores da área concordam que o Funcultura, fundo de incentivo do Governo do Estado, foi um dos grandes impulsionadores para isso. Desde 2014, o edital atribui pontuação máxima aos projetos que garantem alternativas de acessibilidade. "Isso foi um grande avanço. Todos produtores tiveram que começar a incluir isso nos projetos, mas muitos não fazem ainda", diz Liliana Tavares, psicóloga, doutoranda em Comunicação com ênfase em audiodescrição no cinema, audiodescritora e realizadora do VerOuvindo: Festival de Filmes com Acessibilidade Comunicacional do Recife.

Liliana coloca que uma parcela de produtores do audiovisual não se preocupa com recursos de acessibilidade, como audiodescrição, janela de libras e legendagem, por acreditar que são produtos que encarecem o projeto e, também, que o público a que se destina não vai aos cinemas. "Isso é um mito, uma falta de conhecimento. Existe um público grande que quer frequentar esses espaços e precisa ser convidado. Hoje em dia a gente já vê muito mais pessoas com deficiência visual ou auditiva frequentando teatro, cinema e exposições". Sobre os custos, ela também diz ser uma inverdade: "Muitos reclamam que a acessibilidade é cara e isso também é infundado. A acessibilidade é o valor de qualquer outro produto, muito mais barato do que a maioria das coisas do audiovisual".

Em sua experiência com o festival VerOuvindo, Liliana viu crescer o interesse das pessoas e, também, profissionais por esses recursos. Realizada desde 2014, a mostra de filmes, segundo ela, se propõe a formar público, inclusive com as atividades itinerantes - que já passaram por várias cidades brasileiras -, além de se preocupar com a capacitação de trabalhadores para atuar no segmento, com oficinas e debates: "Isso faz com que o público fique fortalecido e que mais pessoas se interessem pelos recursos"

O objetivo é fomentar o mercado da audiodescrição e discutir como fazer melhor esse trabalho. "Nesse momento atual do mercado existem muitos aventureiros que fazem dublagem por exemplo, que acham que fazer audiodescrição é só falar as coisas que estão vendo. Mas existe uma técnica de leitura de imagem, de organização e tradução das frases. É preciso passar por uma formação. Os produtores também precisam saber isso. Não adianta você fazer um filme lindo e uma péssima audiodescrição, vai destruir seu filme", explica Liliana.  

Inclusão plena

Para sensibilizar os produtores do audiovisual foi criada, há 14 anos, a campanha Legenda para quem não ouve, mas se emociona. A proposta é conscientizar as pessoas sobre o direito dos não ouvintes à acessibilidade comunicacional no mundo das artes. O criador da campanha, Marcelo Pedrosa, esteve na abertura da 22ª edição do Festival Cine Pe, no último mês de maio, para falar um pouco dessa luta. "A gente pensa a acessibilidade como custo, mas a gente precisa entender que se trata de investimento público".

Coincidentemente, foi durante o Cine PE do ano de 2004 que a campanha teve início. De lá para cá, houve algumas vitórias, como a do Funcultura, e o próprio festival, que hoje conta com legendagem eletrônica e tradutores de Libras durante as cerimônias de abertura, encerramento e homenagens. Passos para que haja, de fato, inclusão social e para que estes recursos deixem de 'chamar atenção', como dito no início desta matéria, e passem a ser tidos como comuns para todos, sobretudo para quem mais precisa.

*Fotos: Reprodução/Facebook

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