Os personagens que ficam escondidos durante o filme, aqueles que só ganham aplausos em grandes prêmios e que a maioria dos telespectadores desconhece, são os verdadeiros responsáveis pelo sucesso de uma grande ou pequena produção cinematográfica. Por trás das câmeras, ilhas de edição, roteiros e direções, eles são formados para trabalhar duro e raramente recebem o mérito dos grandes artistas - mas o sentimento de uma obra bem feita é o suficiente para a equipe de produção.
Os adeptos do cinema ou cinéfilos são muitos: em sua maioria, pessoas apaixonadas pela sétima arte que assistem todos os tipos de filmes e não se restringem às grandes produções. Mas uma coisa é gostar e outra é estudar cinema. A profissão que está se expandindo no Brasil, devido à grande demanda de longas e curtas-metragens, está entre os cursos mais procurados nas grandes universidades. Os estudantes têm um vasto campo de estudo e de trabalho, o que não se resume em apenas dirigir ou escrever uma cena.
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Os jovens que optam em se formar em cinema se deparam com disciplinas como direção, fotografia, língua portuguesa, ética do cinema, história do cinema brasileiro, redação, expressão oral e iluminação. Eles planejam e elaboram ideias para um filme e as põe em prática; muitas vezes, a divulgação também fica por conta desse profissional.
No Recife, o curso de cinema é oferecido em duas vertentes: bacharelado e técnico. A Faculdade Metropolitana oferece o curso técnico de Produção Audiovisual, inaugurado em 2001.1. Já a Faculdades Integradas Barros Melo (Aeso) disponibiliza o bacharelado em Cinema de Animação, uma área mais específica do campo cinematográfico que está atraindo muitos adeptos.
Entre elas, o mais novo é o bacharelado em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), inaugurado em 2009. O coordenador Rodrigo Carreiro explica que a UFPE viu um “buraco” no mercado de trabalho que estava carente de profissionais específicos nesta área e teve a iniciativa de criar a formação para suprir esta necessidade. “Já existia um grupo generoso de pessoas que pesquisavam sobre cinema. E vimos que existia uma lacuna de profissionais no mercado. Então, os professores da casa elaboraram o curso. Logo no primeiro vestibular teve uma concorrência de oito pessoas por vaga”, afirma.
Ainda de acordo com Carreiro, o curso está entre os 15 mais concorridos no vestibular da UFPE. O coordenador declara que as disciplinas procuram dar um suporte pedagógico aos alunos. “A gente tenta equilibrar os assuntos em um tripé: teoria, prática e crítica”, conta. Os estudantes, no decorrer do curso, produzem curtas e têm a oportunidade de atuar nos vários campos do cinema.
Alan Tonello, estudante do 7° período do curso, se declara fã de cinema e das produções audiovisuais desde muito cedo. Após três anos tentando vestibular e não ingressar nos cursos de Publicidade e Rádio e TV, o estudante entrou na primeira turma de Cinema da instituição. Tonello garante que mergulhou no curso sem pretensões e deixou que as disciplinas lhe mostrassem as possibilidades de trabalho na área. “Diferente de muitos alunos que chegam aqui sonhando em ser diretor, eu comecei a me identificar com o campo da edição de imagens e som. Grande parte dos estudantes muda totalmente a visão sobre algumas disciplinas depois de ingressar no curso”, declara.
O estudante diz que é preciso muita força de vontade para se destacar no mundo da produção audiovisual. Então, o segredo, como disse o futuro cineasta, é “produzir, produzir e produzir”. O empenho dos alunos em gravar, editar e divulgar seus trabalhos individuais é que traz o reconhecimento. Alan Tonello já fez participação em trabalhos como “Avenida Brasília Formosa”, de Gabriel Mascaro, e “Tatuagem”, de Hilton Lacerda. Tonello diz que trabalhar nas várias vertentes da sétima arte traz mais experiência e segurança para o estudante.
As diversas possibilidades de atuação no mercado são um dos pontos positivos da carreira. Há oportunidades em várias empresas de comunicação: televisivas, publicitárias e agências de pesquisa. Mas quem se propõe a fazer o curso tem sempre a expectativa de atuar com longas-metragens. O tão sonhado cargo de diretor não é fácil como muitos pensam. De acordo Marcelo Pedroso, diretor dos longas Pacific, de 2009 e KFZ – 1348, de 2008, o trabalho para este profissional é dobrado.
“Participamos desde a criação, passamos para o papel, inscrevemos em editais públicos, apresentamos o projeto e só depois começamos a filmar. É um trabalho que vem da pré-produção até a finalização”, assegura. A viabilização de um projeto requer custos e nem sempre conseguir um patrocinador é tão simples. O segredo é recorrer a editais públicos de cultura. O Governo do estado disponibiliza, em média, 12 milhões de reais por ano para viabilizar projetos como os de Pedroso.
Os estudantes interessados pela profissão devem saber, de antemão, que nem tudo são flores, e o glamour é restrito para poucos sets de filmagem (principalmente os hollywoodianos). Apesar de muitos diretores optarem por usar, nos créditos, a frase "um filme de" para destacarem seu papel na produção, o cinema é, antes de tudo, uma arte coletiva. Com essa consciência, aprendizes e profissionais da área podem colher bons frutos.