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Um segundo pedido de investigação contra o procurador-geral da República, Augusto Aras, chegou nesta sexta-feira, 20, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Depois dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Fabiano Contarato (Rede-ES), a Comissão Arns também entrou com uma representação contra o chefe do Ministério Público Federal. A entidade atribui ao PGR crime de prevaricação.

A comissão afirma que Aras atua deliberadamente para embargar investigações que possam atingir o presidente e vê na atuação do procurador-geral uma ‘cumplicidade’ com Bolsonaro.

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"Sua omissão é axiomática, utilizando de subterfúgios para justificar crimes que deveria estar apurando, mesmo diante de evidências que preferiu desprezar", diz um trecho do documento enviado ao gabinete do ministro Luiz Fux, presidente do STF. A peça é assinada pelo presidente da comissão, José Carlos Dias, e pelos advogados Belisário dos Santos Jr. e Juliana Vieira dos Santos.

Formada por personalidades do mundo jurídico e ex-ministros de Estado, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, ou Comissão Arns, defende que a suposta omissão do procurador-geral precisa ser investigada. A entidade cita duas frentes em que Aras teria poupado o governo: a gestão da pandemia e as ameaças à democracia.

"O Sr. Procurador Geral da República não tem cumprido seu papel de guardião da constituição e das leis. Ao contrário, tem instrumentalizado politicamente a ampla discricionariedade que lhe é conferida pela Constituição, de forma a subverter as funções de seu cargo, atuando mais como um guardião do próprio governo e de seus integrantes, do que efetivamente cumprindo com seus deveres institucionais", afirma a entidade.

O pedido deve ser distribuído ao ministro Alexandre de Moraes, que já é relator da notícia-crime enviada pelos senadores contra Aras. Nos últimos meses, ele entrou em atrito com a PGR ao autorizar operações e diligências que atingiram a base de apoio de bolsonarista sem receber o posicionamento do órgão. É o caso da prisão do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e das buscas contra o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles.

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, conhecida como Comissão Arns, divulgou na noite desta quinta-feira (6) nota com "seu mais veemente repúdio" à operação realizada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro na favela do Jacarezinho.

"É inaceitável que esta chacina aconteça em meio à pandemia", afirma o texto. "O que se está vendo no Rio - uma ação desastrosa contra centenas de pessoas, autorizada pelo atual governador, Cláudio Castro, sob o pretexto difuso de investigar o aliciamento de crianças e jovens pelo tráfico de drogas - configura claramente uma situação de violência do Estado, inspirada por instintos sádicos e executada com grande brutalidade. Corpos ensanguentados estão nas ruas e becos do Jacarezinho, casas foram invadidas, celulares confiscados, moradores vivem horas de desespero. É preciso reagir à matança!", segue a nota.

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"Que o governador do Rio, empossado há apenas cinco dias, assuma responsabilidades nesta malfadada operação. Que as autoridades competentes garantam a preservação dos locais onde as mortes se deram. Que o trabalho de perícia do IML seja feito dentro dos critérios técnicos exigidos, sob o olhar vigilante de toda a sociedade. E que a decisão do STF, suspendendo essas operações, seja plenamente respeitada", conclui a Comissão Arns.

A Polícia Civil do Rio nega abusos durante a operação e diz ter seguido os protocolos exigidos em decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público fluminense vai investigar o caso.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, voltou a ser cobrado a investigar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pela condução da pandemia de covid-19. Na terça-feira, 30, a representação enviada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pedindo que o presidente seja denunciado ao Supremo Tribunal Federal e responda criminalmente pela gestão da crise sanitária foi endossada formalmente pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Comissão Arns.

Em manifestação endereçada ao procurador-geral, o grupo de personalidades do mundo Jurídico e ex-ministros de Estado pede para entrar como terceiro interessado (amicus curie) no caso. "A Comissão Arns ratifica os termos da representação oferecida pela Ordem dos Advogados do Brasil e aguarda o oferecimento de denúncia crime contra o Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro", diz a petição.

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No documento, a comissão critica o atraso da compra e distribuição de vacinas, os episódios de desabastecimento de oxigênio hospitalar que levaram pacientes internados com coronavírus à morte por asfixia, o incentivo ao descumprimento das medidas de isolamento social e a defesa de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 e com potencial para causar outras doenças se usados com prescrição equivocada.

"Atitudes e condutas absolutamente incompatíveis com a gravidade da situação que envolve a saúde do povo brasileiro", afirma a comissão. "As suas falas denotam descaso para com a saúde do povo; insensibilidade em face da morte de milhares de brasileiros; intolerância com os contrários; ausência de respeito pelo querer social. Ademais, revelam o dolo com que agiu ou deixou de agir, consistente no consciente desprezo pelas prescrições médicas e científicas e pela assunção de posicionamentos pessoais que instigam e induzem à desobediência dessas mesmas prescrições."

A representação da OAB foi enviada a Aras duas semanas após o conselho da entidade se reunir em uma sessão extraordinária para pautar o assunto. Na ocasião, o presidente da Ordem, Felipe Santa Cruz, disse Estadão haver 'muita pressão' de conselheiros e ex-presidentes por medidas duras contra o governo. No documento, imputam ao presidente crimes de perigo para a vida ou saúde de outrem, infração de medida sanitária preventiva, emprego irregular de verbas ou rendas públicas e prevaricação.

Uma nota técnica da Comissão Arns critica o pacote anticrime, a principal aposta do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, para o combate à corrupção, violência e crime organizado. O documento, subscrito pelos criminalistas José Carlos Dias e Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, analisa o texto do projeto, ponto a ponto, e afirma que "a sociedade deve ser alertada de que é uma ilusão entender-se que leis mais punitivas, repressão policial de maior intensidade e prisões indiscriminadas são modos e meio de se combater o crime".

"O crime se combate com o combate às suas causas e não agindo nos seus efeitos", diz o texto, que será encaminhado à Câmara e ao Senado, onde o projeto é examinado. Os advogados avaliam que quase todos os dispositivos do pacote anticrime são voltados exclusivamente para dificultar o exercício, por parte do acusado, de institutos usados pela defesa.

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Eles questionam, por exemplo, a prisão em segundo grau, defendida por Moro. "Ao declarar que a presunção de inocência vige até o trânsito em julgado da decisão condenatória, o constituinte instituiu uma cláusula pétrea. Portanto, tornou impossível, à luz da Constituição, a prisão antes do trânsito em julgado."

Sobre outro ponto crucial do pacote, a comissão afirma que "a excludente (de ilicitude) ampliada incentivará ainda mais a utilização de armas, já estimulada pelo decreto que as liberou". Para a comissão, o pacote é "um arcabouço legislativo que, ao contrário de proteger a vida, estimula a sua destruição". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Comissão Arns, formada por 20 lideranças políticas e lançada em fevereiro, anunciou nesta terça-feira, 9, que vai exigir investigações sobre as 15 mortes ocorridas no Morro do Fallet, no Rio, e sobre as consequências da construção de uma linha de transmissão entre as cidades de Manaus e Boa Vista que terá impacto na comunidade indígena Waimiri-Atroari, que vive no sul de Roraima e norte do Amazonas.

Em evento com a imprensa em São Paulo, eles informaram que o grupo vai se dedicar a ação policial que deixou 15 mortos na chacina do Morro do Fallet. Na ocasião, policiais cercaram uma residência após denúncia de que criminosos estariam escondidos ali. A PM diz que eles "reagiram à voz de prisão", mas a mãe de um deles diz que não houve reação. Houve uma homenagem na Alerj aos policiais responsáveis pela ação. Segundo o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, é necessário sensibilizar a sociedade em campanhas contra esse tipo de violência.

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"É a repetição do que já ocorreu e o prenúncio do que pode vir a ocorrer com mais intensidade. É algo de altíssima gravidade, uma barbárie social". "É algo de altíssima gravidade, uma barbárie social". A Comissão está em contato com a OAB-RJ, com parlamentares, com a Procuradoria da Justiça do Rio e o MP para apurar.

Os integrantes da Comissão também criticaram o pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e disseram que homenagens públicas de líderes políticos a autoridades de segurança pública que mataram criminosos não são positivas.

"O pacote anticrime contém elementos que podem isentar uma pessoa das suas responsabilidades e, de outro lado, causar vítimas entre nós, entre as pessoas", disse o advogado Belisário dos Santos Júnior e ex-secretário de Justiça de São Paulo. "É praticamente uma licença para matar".

Ele afirmou, ainda, que as forças de segurança não devem ser tratadas com ideologia, quando falava sobre o caso de integrantes do Exército que atiraram 80 vezes em um veículo e mataram um músico. "Precisam de experiência, inteligência, comando. E não de discurso", disse.

Em relação à questão indígena, o grupo entende que as reservas e o processo de demarcação têm sido alvo de críticas de diferentes setores da sociedade, notadamente políticos. Além disso, há relatos de ataques em comunidades, com destruição de estruturas e plantios. "Tudo isso faz com que haja um discurso que recoloca o índio como um entrave ao desenvolvimento. Um discurso regressivo, passadista e carente de fundamentos", disse a jornalista Laura Greenhalgh. Os membros da Comissão vão monitorar, dar visibilidade e cobrar providências junto aos diferentes níveis de poder para que haja resposta.

Especificamente, a Comissão abordará a interligação elétrica entre Boa Vista e Manaus, que já existe e vem sendo implantada, e vai impactar a etnia Waimiri-Atroari. Na extensão dos 3.000 quilômetros do linhão, há 120 km pertencentes ao grupo. O empreendimento foi classificado pelo governo como de interesse da defesa nacional, já que hoje algumas cidades da região dependem de energia elétrica vinda da Venezuela.

Apartidária

O diplomata e ex-secretário de Direitos Humanos Paulo Sérgio Pinheiro, que lidera o grupo, ressaltou que a Comissão não é um movimento de oposição ao governo e é apartidária. "A centralidade da nossa comissão é defender a manutenção de uma política de direitos humanos que prevaleceu nos 30 anos depois da Constituição de 1988. E outro braço é impedir o retrocesso. O Estado é um interlocutor natural", afirmou. Pinheiro ressalta que o foco da Comissão será atuar no direito à defesa das vítimas, sejam civis ou militares.

Na avaliação da cientista política Maria Hermínia Tavares de Almeida, a Comissão integra um movimento da sociedade que vai tratar de barrar os "desatinos" do governo federal. Ela identifica que há "falta de entendimento da diversidade do País". "Somos parte de um movimento maior em que existem organizações de defesa de direitos humanos, de setores da sociedade, que atuam há muito mais tempo".

O que é

O nome da Comissão é uma homenagem ao cardeal arcebispo d. Paulo Evaristo Arns, que em 1972, durante a ditadura militar, criou a Comissão Justiça e Paz de São Paulo. A iniciativa foi lançada oficialmente em 20 de fevereiro com o objetivo de "dar visibilidade e acolhimento institucional a graves violações da integridade física, da liberdade e da dignidade humana, especialmente as cometidas por agentes do Estado contra pessoas e populações discriminadas".

Entre os integrantes do grupo há outros ex-ministros como Cláudia Costin e José Gregori, do governo de Fernando Henrique Cardoso, e o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, que foi ministro de José Sarney.

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