A presidente Dilma Rousseff afirmou ao jornal espanhol El País que o problema da Europa é a aplicação de "soluções inadequadas para a crise", cujo resultado será um empobrecimento das classes médias. "Neste ritmo, se produzirá uma recessão generalizada", afirmou ao jornal, em entrevista publicada neste domingo (18) pela edição impressa e concedida em Brasília às vésperas da 22.ª Cúpula Ibero-Americana, que ocorre em Cádiz, sul da Espanha, e da qual Dilma participa.
"Nós já vivemos isso. O Fundo Monetário Internacional (FMI) impôs um processo que chamaram de ajuste, agora dizem austeridade. Tínhamos de cortar todos os gastos. Asseguravam que assim chegaríamos a um alto grau de eficiência. Esse modelo levou a uma quebra de quase toda a América Latina nos anos 80", disse a presidente. "As políticas de ajuste por si só não resolvem nada se não há investimento, estímulos ao crescimento. E se todo o mundo restringe gastos de uma vez, o investimento não chegará."
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Neste sábado (17), em discurso durante a Cúpula Ibero-Americana, Dilma criticou a política de austeridade em curso na Europa e enfatizou o "risco de agravamento" da recessão. Na ocasião, a presidente já havia evocado a influência do FMI na economia brasileira nos anos 80.
Na entrevista publicada pelo El País, Dilma disse já ter feito as mesmas críticas nas reuniões do G-20. "A Europa passa por algo que conhecemos na América Latina. Há uma crise fiscal, uma crise de competitividade e uma crise bancária", afirmou.
De acordo com a presidente, as medidas que estão sendo aplicadas levarão a uma "crise brutal". "Claro que você precisa pagar as dívidas, a consolidação fiscal é necessária, mas é preciso tempo para que os países o façam em condições sociais menos graves. Não só por uma questão ética, como também por exigências propriamente econômicas", afirmou. Ela reiterou posteriormente que distribuir renda é uma exigência moral, mas também é uma premissa para o crescimento.
De acordo com a presidente, a recessão europeia está "alargando os prazos" para uma maior recuperação das economias que não têm problemas fiscais nem financeiros, estão em crescimento positivo e praticam políticas anticíclicas, como o Brasil. "Estamos fazendo de tudo para impulsionar de novo nosso crescimento", disse. "Reduzimos os custos de capital, os de trabalho também, e baixamos muitos impostos para impulsionar o consumo."
Sobre a situação brasileira, a presidente comentou que o tripé macroeconômico que tem sustentado a ação do governo é composto por contas públicas austeras, inflação controlada e acumulação de reservas cambiais para proteger a moeda de especulação. "Mas, ao mesmo tempo, nos pusemos a construir um mercado interno, sobretudo combatendo o déficit habitacional", afirmou.
Dilma comentou que o euro "é um projeto inacabado" e que a Europa precisa "completá-lo", mediante supervisão e união bancária. "A moeda única europeia é uma das maiores conquistas da humanidade, precisamente de um continente tão castigado por guerras e disputas internas. Trata-se de um fenômeno econômico, social, cultural e político que significa um avanço formidável, mas está incompleto", disse a presidente, ressaltando a importância de se ter uma liderança para construir os consensos. Com relação à China, Dilma afirmou na entrevista que o melhor que o país asiático sabe fazer é "definir suas metas".
De acordo com a agenda oficial da Presidência da República, Dilma passa este domingo em Madri sem compromissos oficiais e na segunda-feira (19) pela manhã se encontra com o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, para discutir uma possível flexibilização da imigração entre os dois países.