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O traficante Wellington Cardoso dos Santos, de 26 anos, considerado o traficante mais procurado do estados do Amazonas, foi preso na manhã desta sexta-feira (18), na cidade de Rio das Ostras, a 169 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro.

Também conhecido como “Mano Kaio” ou “Kaio da 40 “, Wellington é apontado como um dos líderes da facção FDN (Família do Norte) e responsável pela rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, no Amazonas, em janeiro de 2017, motim que durou mais de 17 horas e foi considerado o maior massacre do sistema prisional do estado com 56 detentos mortos.

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Wellington também é acusado como um dos responsáveis pelo início de uma violenta guerra entre facções na zona sul de Manaus, que deixou um saldo de mais de 60 mortes apenas no primeiro semestre desse ano.

Após fugir de penitenciárias do Amazonas e do Ceará, Mano Kaio veio para o estado do Rio de Janeiro para negociar armas, munições e drogas com membros do “Comando Vermelho” na favela do Jacarezinho na capital do Rio. Em depoimento, Kaio afirma que fugiu para o estrado do Rio de Janeiro com medo de ser morto por outras facções no Amazonas.

Mesmo estando no Rio, Kaio ordenava execuções no Amazonas.

Kaio ainda é procurado por pelo menos 25 homicídios, roubo de carga e ligações com o traficante Gélson Carnaúba, conhecido como “Mano G”, que também é apontado como líder da FDN.

A prisão de Wellington só foi possível graças a um trabalho de inteligência entre a DESARME (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos do Rio de Janeiro) e da DEHS (Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros do Amazonas), com o apoio da Força Nacional. A operação durou cerca de dois meses e contou com 10 policiais em ação.

Durante a ação, um homem e uma mulher foram presos em flagrante por tráfico de drogas. O casal ainda não foi identificado. 

Documentos e conversas interceptadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público revelaram a facilidade que o Primeiro Comando da Capital (PCC) tinha para conseguir celulares e ordenar crimes de dentro de presídios em Roraima já em 2014, quando a Operação Weak Link avançou sobre a ramificação da facção no Estado. Além disso, exigiam a saída de rivais da cadeia - o que teria motivado a fuga de pelo menos 145 detentos. Investigadores de combate ao crime organizado acompanham o crescimento do PCC em Roraima há pelo menos cinco anos.

Entre os alvos da operação à época, 75 atuavam de dentro dos presídios e apenas 17 tiveram de ser detidos fora do sistema. A operação também detectou a expulsão de integrantes de outras facções da Penitenciária Agrícola Monte Cristo, promovida pelo PCC. Maior penitenciária do Estado, a Monte Cristo foi palco da morte de 33 presos na sexta-feira. O massacre é atribuído ao PCC e visto como um desdobramento da disputa entre a facção paulista e o Comando Vermelho que resultou na morte de 56 detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj, em Manaus.

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Taylor e Sumô

Em Roraima, as duas principais lideranças do PCC são Ozélio de Oliveira, o Sumô, e Diego Mendes de Andrade, o Taylor. Sumô é apontado como o mentor do grupo e comanda o crime no Estado de dentro da Casa de Custódia de Piraquara, no Paraná. Por sua vez, Taylor cuida do aliciamento de novos integrantes e da divulgação da doutrina, enquanto cumpre pena na Penitenciária Federal de Mato Grosso do Sul.

No dia 2 de maio de 2014, as duas lideranças do PCC participaram de um conferência com outros traficantes interceptada pela PF. Na conversa, Sumô faz uma explanação sobre a situação do sistema prisional em Roraima e conta o início da facção e um episódio de quando o PCC começou a "pregar" a sua "ideologia". Naquele momento, diz Sumô, os detentos de outras facções tiveram o "direito" de pular o muro da Monte Cristo. Segundo o criminoso, em 40 dias foram 145 fugas.

Em outra conversa no fim do mês de março daquele ano, Sumô fala com Wax Nunes de Lima, um "salveiro" do PCC, responsável pela transcrição, transmissão e salvaguarda dos "salves" emitidos pelo comando da facção. Os dois falam sobre como conseguir celulares nas prisões. Sumô comenta a facilidade para se conseguir telefone nos presídios de Roraima e diz que onde está preso, no Paraná, são "somente" dois celulares por galeria.

"Eu morro de inveja de vocês aí que todo mundo tem um, isso aqui custa 5 mil real (sic) um aqui dentro moleque", explica Sumô. "Caro que só né! Padrinho, aqui 5 mil é que nós paga pro cara comprar pra nós aparelho", responde Wax.

Outra conversa de maio, de um integrante da facção criminosa apontado como "Vandrinho", revelou a negociação de armas de dentro da cadeia. Segundo a PF, o traficante usa os termos "abacaxi" e "canetas" para se referir a granada e pistolas, respectivamente.

Na mesma interceptação, Vandrinho afirma que a facção criminosa precisa medir forças com a polícia. "Porque parceiro nós tem de somar contra a opressão, contra esses bota preta aí parceiro (sic)", afirma o traficante.

Weak Link

O nome da operação da Polícia Federal e Ministério Público contra o PCC em Roraima faz referência ao termo em inglês que significa elo fraco. A escolha faz alusão ao objetivo da operação que, segundo a PF, era evitar que outros criminosos entrassem para a organização e servissem de sustentação de sua estrutura, como elo mais fraco.

CRONOLOGIA

Semana fatal nos presídios

1º de janeiro

Detentos iniciam uma rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, e matam 56 internos, em crimes marcados pela crueldade e destruição dos cadáveres. Autoridades atribuem assassinatos à disputa entre a facção Família do Norte (FDN) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) no Estado.

2 de janeiro

Quatro morrem na Unidade Prisional do Puraquequara, na zona oeste de Manaus, em crimes também ligados a facções e com decapitação das vítimas.

4 de janeiro

Dois presos morrem no presídio de Patos, a 300 quilômetros de João Pessoa, Paraíba. O governo local descartou ligação com a briga de facções no Amazonas e disse que os crimes aconteceram durante o banho de sol na unidade. Líderes do PCC no Estado já estariam isolados.

6 de janeiro

33 presos morrem na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista, Roraima. Governo fala em acerto interno do PCC. Em outubro, dez já haviam sido mortos na maior unidade do Estado, em crimes também atribuídos a disputas entre facções.

8 de janeiro

Cadeia que havia sido reativada para receber membros ameaçados do PCC tem ao menos quatro mortes confirmadas. Motins haviam marcado a primeira semana de reativação da Cadeia Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus. No mesmo dia, três corpos são encontrados nas proximidades do Compaj e polícia apura ligação com o massacre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Os detentos da Família do Norte fizeram pelo menos quatro vídeos com celulares mostrando os corpos de seus desafetos do Primeiro Comando da Capital (PCC) e de outras vítimas da rebelião que deixou 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Com até 3 minutos de duração, os vídeos são acompanhados pela narração dos bandidos, chamando as vítimas de "nego safado" e "canalha". A maioria está com a cabeça cortada ou gravemente mutilada.

As imagens da decapitação de rivais - prática que era uma das marcas do PCC - seriam uma forma de a facção demonstrar força. "Cortar as cabeças é uma forma de intimidar os inimigos e isso ficou mais fácil com as mídias sociais, com as imagens transmitidas por meio dos telefones celulares", afirmou o procurador de Justiça, Márcio Sérgio Christino, especializado no combate ao crime organizado.

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Em outro dos vídeos é possível ver um dos presidiários reunindo as cabeças das vítimas e descrevendo uma a uma quem seriam, todas acusadas de pertencer ao PCC. Uma terceira sequência exibe um bandido cortando a cabeça de um dos mortos. O responsável pela decapitação veste luvas cirúrgicas.

De acordo com Christino, a primeira facção que adotou a prática de cortar a cabeça dos desafetos foi o PCC. "Foi uma das lideranças, o preso Jonas Mateus, que começou com isso. Ele era açougueiro."

No caminho para consolidar seu monopólio nas cadeias paulistas, o PCC decapitou em 1999, durante uma rebelião na Casa de Custódia de Taubaté, os presos Max Luis Gusmão de Oliveira, o Dentinho, Ademar dos Santos, o Da Fé, e Antonio Carlos dos Santos, o Bicho Feio, fundadores da facção rival CRBC. Uma das cabeças foi atirada nos pés do magistrado que negociava o fim da rebelião.

Mateus chegou a ser considerado o segundo homem na hierarquia da facção e tinha 30 anos quando foi morto na Penitenciária de Araraquara, em 30 de novembro de 2001, durante a série de mortes na cúpula que consolidou o poder de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Mateus acabou com a cabeça cortada. "Essa prática agora se generalizou. É muito provável que nas próximos rebeliões outras decapitações sejam filmadas e distribuídas pelo WhatsApp", disse Christino. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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